Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Relatório do CPqD aumenta
a polêmica sobre a TV Digital


Leia abaixo os textos desta sexta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 16 de fevereiro de 2006


TV DIGITAL
Humberto Medina


Relatório sobre TV digital contraria ministro


‘O ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB-MG), afirmou ontem que o relatório final do CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações) sobre TV digital tem ‘incoerências’.


De acordo com o documento, que foi divulgado ontem pelo noticiário especializado Teletime (www.teletime.com.br), o preço de venda do aparelho conversor (que será utilizado para que os atuais aparelhos de televisão no país recebam sinais digitais) será mais caro, caso seja escolhido o padrão japonês (ISDB), e mais barato, caso seja escolhido o europeu (DVB). O ministro e as maiores redes de televisão defendem o padrão japonês.


Na quarta-feira, havia a expectativa de que o governo divulgasse o relatório. Naquela ocasião, Costa disse que o documento não seria divulgado porque era exclusivo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ontem o ministro retrocedeu.


‘Eu recebi a solicitação de divulgar tudo. Nós vamos divulgar tudo, desde que autorizados por aqueles que fizeram as pesquisas. A nossa preocupação é não cometer nenhuma imprudência em relação aos direitos de propriedade e aos direitos intelectuais’, afirmou.


‘É obrigatório divulgar, agora, me dêem espaço, por favor, até nós sabermos direitinho o que nos mandaram. Tem ministro que ainda não leu o relatório’, disse Costa.


Questionado se estava satisfeito com o relatório final do CPqD, o ministro disse que o documento possuía incoerências. Costa se referia ao preço do aparelho conversor, fundamental para que a população tenha acesso à televisão digital. De acordo com ele, esse aparelho poderia ser produzido por valores entre US$ 43 e US$ 53 (aproximadamente R$ 91 e R$ 112 ontem).


‘Eu vejo que em uma determinado lugar do relatório nós estamos analisando uma caixa [conversor] de US$ 400. Essas incoerências… é que eu preciso estar muito seguro de que isso está certo, se é isso mesmo que eles pretendiam falar. Confesso que não entendo determinadas partes’, afirmou.


Relatório


O relatório do CPqD tem 141 páginas e não conclui especificamente por nenhum padrão de TV digital: norte-americano (ATSC), europeu (DVB) ou japonês. São feitas várias simulações tratando de diversos aspectos da implantação da TV digital no Brasil, mas sem apontar exatamente qual o melhor modelo para ser escolhido no país.


O preço do aparelho conversor, no entanto, é uma questão-chave para o grau de penetração da televisão digital. Segundo o próprio CPqD: ‘quanto menor o preço, melhores os resultados em termos de adesão da população, de níveis de produção e de balança comercial’ (é o que consta da página 45 do documento).


Na página 72 do relatório, é feita uma comparação de preços de venda de cada conversor (chamado de URD no texto). Os conversores do padrão japonês variam de R$ 276 a R$ 761, dependendo do grau de complexidade. Os do padrão europeu, entre R$ 233 e R$ 662 e os do padrão americano, de R$ 256 e R$ 715.


Baseado em um custo médio de R$ 400 no conversor, o CPqD estimou que a transição para a TV digital custará aproximadamente R$ 14 bilhões aos consumidores, em um prazo de 15 anos (página 89). Ainda de acordo com o relatório, nos primeiros seis meses da TV digital, apenas as regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro teriam acesso à nova televisão.


Realidade brasileira


Entre os aspectos que, segundo o CPqD, devem ser levados em conta para a adaptação dos sistemas à realidade brasileiras, consta que devem-se levar em conta ‘perspectivas de mercado, para gerar maior fator de escala de produção, o que influencia diretamente no investimento necessário no setor produtivo e no preço final ao consumidor’. Nesse caso, o padrão europeu, adotado atualmente em 57 países, teria mais vantagens que o japonês, adotado apenas naquele país.


Leia a íntegra do relatório na Folha Online’


JK & JQ
Nelson Motta


Os anos JQ


‘Todo mundo só fala em JK, todos os políticos querem ser JK, nunca haverá ninguém como JK. Mas… e depois de JK?


Depois foi Jânio Quadros, que era o oposto do otimismo, da simpatia, da tolerância e do desenvolvimentismo de JK. Provinciano, moralista, autoritário e deselegantíssimo, Jânio foi levado ao poder pela vassoura -para limpar o Brasil do mar de lama e de corrupção em que se transformara o governo JK, segundo as campanhas da imprensa e da oposição. Não se falava mais em progresso, em desenvolvimento, em futuro, só se pensava em investigar e punir o passado.


Ao eleger um demagogo como Jânio, os brasileiros aparentemente não estavam satisfeitos com Brasília, a bossa nova, o cinema novo, a Copa do Mundo, a indústria automobilística, o clima de 50 anos em cinco que o Brasil vivera com JK. A opinião pública estava indignada com as denúncias de roubalheira na construção da nova capital -e a urgência era pegar os ladrões, limpar o país da bandalheira oficial.


Inquéritos, demissões, perseguições, funcionalismo em polvorosa, Jânio proibiu biquínis nas praias, maiôs cavados para misses, corridas de cavalos em dia de semana e lança-perfume. O governo JQ veio -nos braços do povo- para colocar ordem na administração, austeridade na economia e moral nos lares brasileiros. Deu no que deu.


É impossível não lembrar disso quando se vê o que está acontecendo agora. Ações, pirações e conspirações de políticos corruptos de quase todos os partidos provocaram uma tal indignação, pelo cinismo, pelas mentiras, pela certeza da impunidade, que hoje a maior preocupação de milhões de eleitores é apenas ‘limpar a casa’. Assim se elegeu Collor, o caçador de marajás. Cuidado com eles: oportunistas, demagogos e malucos adoram surfar nas ondas bravias da indignação moral.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Jeitinho e tapetão


‘O Brasil deu os parabéns ao escolhido. Pelo telefone, René Préval sugeriu até visitar Lula antes da posse.


Em canais de notícias e jornais pelo mundo, porém, as reações ao anúncio da eleição no Haiti foram constrangidas.


A BBC, por exemplo, em meio às imagens da festa na capital, lembrou que ‘a controvérsia vai se manter’.


O ‘New York Times’, em apoio subliminar, desde cedo destacou a decisão na manchete de seu site, com o enunciado ‘Um acordo é alcançado para a nomeação de um vitorioso no Haiti’. O jornal registrou como ‘o Brasil liderou um esforço de diplomatas para descartar os votos em branco e declarar René Préval presidente’.


O apoio aparente do ‘NYT’ -sempre crítico da intervenção americana- se reproduziu no site do ‘Washington Post’, em submanchete, sublinhando que o ‘acordo acabou com a crise de nove dias’. O espanhol ‘El País’ foi a mesma linha, com foto e submanchete.


O britânico ‘Financial Times’, por outro lado, não destacou em sua home page -e abriu o texto dizendo que, apesar de criticar a decisão, o segundo colocado no pleito ‘declarou que nada fará para romper com a autoridade eleitoral’ haitiana.


O francês ‘Le Monde’ evitou também destacar na home e procurou se restringir à simples informação, com o enunciado ‘Após a semana de confusão, Préval é proclamado eleito para presidente do Haiti’.


Por toda parte, o quadro foi dado por definido. A publicação que lamentou mais abertamente foi a revista ‘The Economist’, britânica:


– Uma eleição crucial desce para a confusão e desconfiança, sujando desnecessariamente a vitória eleitoral de Préval.


Logo apelidada de ‘jeitinho brasileiro’ no Globo Online, a saída encontrada para encerrar a crise pós-eleitoral no Haiti, a certa altura, era mais atacada no Brasil que no exterior.


Em particular, nos blogs de oposição a Lula. Sites noticiosos e telejornais pareciam satisfeitos com ‘o fim do impasse’. Nas manchetes da Record:


– No Haiti, René Préval é o novo presidente.


Do ‘Jornal Nacional’:


– Préval é declarado o novo presidente e a população vai às ruas para comemorar.


Só o SBT criticou:


– Eleição no tapetão.


FESTA


A BBC mostrou o anúncio do resultado na TV haitiana e, de imediato, a festa dos partidários de René Préval, de madrugada na capital, Port-au-Prince


PONTES


Em meio a especulações de um racha sul-americano, Argentina e Uruguai voltaram ontem a trocar acusações por conta da fábrica uruguaia supostamente poluidora às margens do rio Uruguai, que banha aos dois países. O governo argentino, como se lia na manchete do ‘Clarín’, ameaça apelar à ONU -e pontes entre os países seguem fechadas. O governo uruguaio, como se lia na BBC Brasil, quer a intervenção do Mercosul.


E o Brasil entrou na história. Aos jornais argentinos, a diplomacia brasileira, em meio às entrevistas sobre o Haiti, se dispôs a ‘ajudar’ -ainda que não ‘mediar’, como questionaram os correspondentes.


De todo modo, o mesmo ‘Clarín’, o mais vinculado ao isolacionismo de Néstor Kirchner, já trata de apontar que uma fábrica brasileira em São Borja, também no rio e na fronteira, estaria levando políticos argentinos a uma situação de ‘alerta’, preocupados com ‘o respeito às normas ecológicas’.


Penas voando


Tasso Jereissati tem pressa, FHC critica. Geraldo Alckmin quer prévia, FHC critica. E até o ‘JN’ já percebeu:


– Lado a lado, José Serra e Alckmin pouco se olharam.


Na saída


O racha tucano levou o blog coletivo E-Agora ao limite. Eduardo Graeff, Augusto de Franco e Antonio Fernandes, três tucanos, andam trocando adjetivos -de ‘covarde’ para baixo. Já andaram chamando até para um ‘olho no olho’.


‘License to kill’


Reuters e demais agências questionavam ontem, por todo lado na internet, a impunidade no massacre do Carandiru, sob títulos como:


– Licença para matar?


Já a cobertura local sumia com o tema do ‘SPTV’, dos demais telejornais e sites.


A rádio Jovem Pan, além de destacar entrevistas em favor da decisão do Tribunal de Justiça, dizia que o Ministério Público de São Paulo pode nem recorrer a Brasília.’


GUERRA DAS CHARGES
Folha de S. Paulo


Papa apóia atos contra charges, afirma libanês


‘O primeiro-ministro libanês, Fuad Saniora, foi ontem recebido pelo papa Bento 16 no Vaticano, e as caricaturas sobre o profeta Muhammad publicadas na Europa foram um dos temas discutidos.


De acordo com o premiê, o pontífice apoiou os protestos pacíficos realizados contra a publicação das charges. A posição do Vaticano é que os desenhos, alguns dos quais associam a imagem de Muhammad ao terrorismo, são uma ‘provocação inaceitável’.


Segundo Saniora, muçulmano, o papa disse que ‘a liberdade não pode de maneira nenhuma ultrapassar a liberdade dos outros’.


Saniora disse que o governo do Líbano está investigando casos de protestos violentos no país.


No Paquistão, cerca de 50 mil pessoas participaram ontem de um protesto contra as charges. O evento, ocorrido na cidade de Karachi, foi pacífico.


Liberdade de expressão


A controvérsia sobre as charges levou o Parlamento Europeu a analisar uma proposta para limitar a liberdade da mídia. A medida foi rejeitada, ontem, diante do argumento de que há leis para tratar de eventuais excessos.


‘Liberdade de expressão e independência da imprensa como direitos universais não podem ser ultrapassadas por nenhum indivíduo ou grupo que se sinta ofendido pelo que é falado ou escrito’, disse a resolução do Parlamento.


Os confeiteiros iranianos usaram ontem sua liberdade para mudar o nome dos pães doces conhecidos como ‘dinamarqueses’, batizados agora como ‘rosas do profeta Muhammad’.’


Theodore Dalrymple


Liberdade de expressão, moeda inegociável


‘A reação de ultraje de muçulmanos às charges de Muhammad publicadas em um jornal dinamarquês trouxe à tona uma divisão surpreendente no mundo ocidental. Demonstrando suma hipocrisia, insinceridade e covardia moral, britânicos e americanos, que não hesitaram em ir à guerra contra Saddam Hussein e em ocupar o Iraque, afirmaram compreender e solidarizar-se com os sentimentos muçulmanos. Já os franceses, que se posicionaram contra a Guerra do Iraque, declaram abertamente a defesa da liberdade de expressão.


Manifestantes muçulmanos em Londres ergueram cartazes exigindo que fossem decapitados ou mortos de outra forma os que ‘insultaram o islã’. Um dos cartazes afirmava que nós, na Europa, ainda não vimos ‘o holocausto VERDADEIRO’, ou seja, o massacre de infiéis pelos crentes. Esse slogan de gelar o sangue também deixou implícito que o genocídio de judeus nunca aconteceu e não passa de engodo sionista, cometido com finalidades de propaganda. Trata-se de uma crença inteiramente irracional, mas que é largamente difundida entre muçulmanos, do Irã até o Reino Unido.


O incitamento à morte constitui crime no Reino Unido, mas a polícia assistiu às manifestações sem fazer nada, aparentemente por receio de criar uma perturbação civil. Com isso, deu-se aos extremistas muçulmanos a impressão de que, se forem suficientemente intimidadores, eles, na prática, serão extraterritoriais -ou seja, não sujeitos às leis britânicas.


Na França, em contraste, dois semanários satíricos, o ‘Le Canard Enchainé’ e o ‘Charlie Hebdo’, voltaram ao ringue e zombaram inequivocamente dos islâmicos. A ‘Charlie’ trouxe em sua primeira página uma grande charge de Muhammad, fazendo careta e cobrindo os olhos com as mãos e dizendo: ‘Ser amado por todos esses tolos não é fácil’. Na terceira página havia uma grande charge de Muhammad olhando as charges e dizendo: ‘Essa é a primeira vez em que os dinamarqueses me fizeram rir’.


Sob circunstâncias normais, eu consideraria errado ou falta de cortesia ofender as sensibilidades religiosas de outras pessoas, por mais absurdas que eu considere suas crenças. Certamente é condição necessária a uma sociedade tolerante que as pessoas estejam preparadas, embora não sejam obrigadas, a aturar as convicções das outras em silêncio, na esperança de encontrar outras coisas em comum com elas e em nome da paz e das boas relações.


Mas as circunstâncias criadas pelas charges dinamarquesas não são normais. Um grupo de muçulmanos dinamarqueses desonestos e agindo de má-fé levou as charges ao Oriente Médio especificamente para provocar problemas com seu país de adoção, e acrescentou três charges que não haviam saído no jornal dinamarquês e que eram muito mais ofensivas do que qualquer coisa publicada pelo jornal. É quase desnecessário observar que manifestações de protesto como a que terminou com a queima da embaixada dinamarquesa em Damasco não aconteceram sem a aprovação oficial, já que a Síria não é um país dado a manifestações espontâneas de livre expressão.


Tampouco pode ser dito que a objeção fundamental feita às charges foi que fossem desrespeitosas em seu tom ou abordagem. Afinal, a crítica ou rejeição respeitosa do islã (decorrente de uma crença filosófica na inexistência de Deus, e, assim, na crença de que Muhammad não pode ter sido seu profeta) não é bem-vinda nós países islâmicos. No caso de um muçulmano, uma declaração pública nesse sentido seria vista como apostasia, que, pelas leis islâmicas, poderia ser punida com severidade.


Em outras palavras, muçulmanos -e não apenas os extremistas- não querem que o assunto das máximas de sua religião seja mencionado, simplesmente. Os jordanianos, que não costumam ser fanáticos, detiveram e encarceraram um jornalista que exortou os muçulmanos a reagirem de maneira razoável às charges dinamarquesas. E é difícil pensar em um único país muçulmano que tolere o questionamento religioso público e livre ou a rejeição de todas as afirmações religiosas. Na medida em que isso é fato, os muçulmanos vivem em um mundo mental anterior ao Iluminismo, como se Voltaire nunca tivesse vivido. Ademais, os extremistas entre eles procuram impor essa mentalidade ao Ocidente. Os britânicos e americanos -mas não os franceses- já mostraram estar dispostos a aceitá-la, pelo menos no que diz respeito ao islã.


Se as coisas fossem diferentes -se muçulmanos em todo o mundo saudassem o questionamento religioso e filosófico livre, e se a liberdade de expressão fosse uma característica notável das sociedades islâmicas-, as charges dinamarquesas e aquelas que apareceram posteriormente nas publicações francesas teriam sido gratuitamente ofensivas. Em outras palavras, não teriam tido outro objetivo senão o de causar ofensa.


Na realidade, porém, as caricaturas dinamarquesas foram encomendadas precisamente porque o jornal considerou que os dinamarquesos estão praticando a autocensura com relação a Muhammad e ao islamismo -não por um desejo louvável de serem corteses com os muçulmanos, mas pelo medo covarde deles. E a reação muçulmana em muitas partes do mundo comprovou que os jornais estavam certos.


É claro que o confronto encerra grandes perigos, mas existem perigos igualmente grandes em se evitar o confronto quando este se faz necessário. Pode-se ceder em pontos de importância menor: por exemplo, no Reino Unido os motociclistas sikhs não são obrigados a usar capacetes, como o são os outros. Mas, quando se trata de um princípio fundamental, tal como a liberdade de expressão, para cuja conquista a Europa já derramou tanto sangue, não pode haver conciliação, mesmo que o não conciliar implique no risco de conflito.


Entretanto sou um homem tolerante. Pelo bem das boas relações estou disposto a abrir mão da exigência de que os muçulmanos peçam desculpas à Dinamarca pelo comportamento primitivo dos extremistas que existem entre eles. Águas passadas: esqueçamos o que já passou.


Theodore Dalrymple, psiquiatra e escritor inglês, escreve no ‘City Journal’, de Nova York


Tradução de Clara Allain’


CENSURA NA NASA
Folha de S. Paulo


Nasa recebe mais denúncias de censura


‘Membros indicados pelo governo no escritório de imprensa da Nasa exerceram forte pressão durante a campanha presidencial americana de 2004 para reduzir as notas à imprensa relativas a geleiras, clima, poluição e outros temas de ciências da Terra, segundo representantes do escritório de relações públicas da agência.


A revelação surge cerca de duas semanas depois que o administrador da Nasa, Michael Griffin, pediu por ‘abertura científica’ na agência. Em resposta a esse pedido, pesquisadores e funcionários de relações públicas revelaram como indicados políticos alteraram ou limitaram notas à imprensa em descobertas científicas que poderiam entrar em conflito com as posições do governo de George W. Bush.


Alguns exemplos foram reportados a cientistas e gerentes seniores que estão reunindo reclamações como parte de uma revisão de política exigida por Griffin, que se tornou administrador da Nasa em abril do ano passado. (DO ‘NEW YORK TIMES’)’


TELEVISÃO
Daniel Castro


SBT quer cortar metade do ‘custo Gugu’


‘Está chegando ao fim o ‘reinado’ de Gugu Liberato nos domingos no SBT. A relação entre o apresentador e o ‘patrão’ Silvio Santos nunca esteve tão tensa. Metade da equipe de produção do ‘Domingo Legal’ deverá ser demitida já nos próximos dias, antes mesmo da definição da renovação ou não do contrato de Gugu.


O SBT propôs a Gugu um novo contrato, a partir de abril, que prevê a redução do salário do próprio apresentador, o ‘confisco’ das receitas de todos os merchandisings que ele faz, o corte de metade dos custos de produção e a diminuição do ‘Domingo Legal’ (hoje no ar das 16h às 20h20).


Entre salário e merchandising, Gugu ganha cerca de R$ 1,5 milhão. Mas seu programa, em queda no Ibope e com a imagem arranhada desde o ‘caso PCC’, não fatura hoje nem R$ 2,5 milhões. Para dar lucro, seus custos teriam que ser cortados em 50%.


Silvio Santos demonstrou a assessores que não faz questão de manter Gugu e já deixou ‘vazar’ que tem um ‘plano B’ para os domingos _que incluiria ele mesmo. Anteontem, Gugu mandou um funcionário esvaziar seu camarim, o que Silvio Santos teria interpretado como ‘encenação’.


Na semana passada, em encontro com executivos da Record no Rio, Gugu manifestou que está insatisfeito e inseguro no SBT. A Record, que estuda a sua contratação, deve fazer uma proposta financeira na próxima semana.


OUTRO CANAL


Cassino Silvio Santos resolveu exibir no SBT um torneio internacional de pôquer, a partir deste domingo, às 23h30. Não há nenhum brasileiro no campeonato, que será dublado.


Escalado Henri Castelli (‘Celebridade’, ‘Como uma Onda’, ‘Belíssima’) engatará mais uma novela. Ele será o vilão de ‘Cobras e Lagartos’, próxima novela das sete da Globo.


Genteeem A atriz Cissa Guimarães chegou até a almoçar com uma diretora da Rede TV!, mas recusou a proposta da emissora para dividir a apresentação do ‘TV Fama’ com Nelson Rubens.


Tumulto Notícia de ‘OFuxico’, site sobre celebridades mantido por Gugu Liberato: ‘Raul Gil pode estar na mira do SBT’. Band, SBT e o próprio Raul Gil negam. Dizem que é ‘plantação’.


Banda 1 Em reunião que tiveram com os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Hélio Costa (Comunicações), anteontem, donos das principais redes de TV se propuseram a irradiar programação educativa caso o sistema de TV digital a ser adotado pelo Brasil seja o que eles querem, com o padrão de modulação japonês.


Banda 2 Durante boa parte do dia, quando não terão programação de alta definição, as grandes redes se dividiriam em dois canais: um passaria seus programas de sempre; outro, telecursos.’


CRÔNICA
Carlos Heitor Cony


Favas contadas e recontadas


‘É raro o dia em que, ao abrir a caixa eletrônica, não encontre, ao lado de esculhambações diversas e merecidas, o pedido de gente aflita, recorrendo ao cronista em busca de uma solução para as coisas que estão acontecendo no Brasil e no mundo.


Gente mal-informada, mas não custa atendê-la. Aprendi no ‘Grande e Verdadeiro Livro de São Cipriano’ uma receita para momentos calamitosos como o atual. É necessário não confundir as bolas e os livros. Há o ‘Livro de São Cipriano’, que é sucinto, embora eficaz. Há ‘O Grande Livro de São Cipriano’, um pouco maior e de mais vasto alcance. Há ainda ‘O Verdadeiro Livro de São Cipriano’, que tem sobre os demais a vantagem de ser mais confiável.


Nenhum deles, contudo, se compara ao meu, que, além de ser livro, ser grande e ser verdadeiro, é ‘O Grande e Verdadeiro Livro de São Cipriano’. Contém os demais e contém a fórmula mais consagrada das receitas que fizeram o santo famoso, embora sua existência real, como a dos extraterrestres que são gasosos por natureza e necessidade, seja admitida por uns e contestada por outros.


Após o necessário preâmbulo, vamos à Grande Mágica das Favas, publicada não faz muito na página dois da Folha e que transcrevo junto à informação que me enviou leitora talvez desesperada como eu.


‘Pega-se meia dúzia de favas, verdes ainda, coloca-se num tacho de cobre com duas corujas defumadas, uma raiz de salgueiro bravo, cinco dúzias de cantáridas, grãos de incenso indiano à vontade e, como peça de resistência, um corcunda passado num ralador de coco.


O mais difícil é o último ingrediente, convencer um corcunda a ser ralado deve ser problemático, mas há um benefício suplementar: quanto mais o corcunda berrar, maior será a eficácia da mágica. Outro ingrediente complicado é colocar na mistura um fio da barba de algum personagem envolvido na questão. Neste particular, a oferta é abundante, temos gente barbada demais por aí, dentro e fora dos diversos escalões da República.


Isto posto, derrama-se o conteúdo numa encruzilhada, à meia-noite de uma sexta-feira, e espera-se o resultado. São Cipriano garante que o esconjuro é eficaz. A Grande Mágica das Favas são favas contadas. Tudo se resolve e o que não for resolvido, resolvido está, pois nada mais é possível resolver. Acho que atingimos este ponto, não de desespero, mas de esperança. Acreditar no maravilhoso é preciso. Pelo menos, é mais prático do que acreditar nos depoimentos, nas acusações disso e daquilo e, sobretudo, na promessa de que tudo será apurado, doa a quem doer.’


Recebi esta semana a seguinte mensagem:


‘Caro senhor Cony (em tempo: não sou caro, senhora, sou barato mesmo):


Dei início, por absoluta necessidade, ao procedimento da receita ‘Grande Mágica das Favas’. Tendo o circunspecto colunista (muito menos sou circunspecto, nem sei direito o que seja isso) já a mencionado mais de uma vez, deve ser uma receita eficaz, talvez a última alternativa para nós, brasileiros desesperados e mal informados. Há de haver uma solução!


As favas, contadas, foram complicadas de achar -são produto ora raro nos supermercados e shoppings da vida-, mas deu-se um jeito.


As corujas, entretanto, implicariam em crime contra a natureza. Foi preciso autorização especial do Ibama, após comprovação documentada de que eram resultado de criação controlada para consumo. Ufa! Defumá-las foi o de menos.


Quanto à raiz de salgueiro (bravo?!), às vesicatórias cantáridas e aos grãos de incenso indiano, demandaram tempo e esforço, mas nada que dinheiro e o bom jeitinho brasileiro não resolvessem. O conceito de bom, no caso, é muito discutível.


O corcunda -ah, o corcunda! Depois de muita negociação, rodadas e rodadas de cerveja, argumentação convincente de ambos os lados, ele, com a voz boêmia dos noctívagos não-abstêmios, convenceu-me por A mais B de que a receita está errada: deve-se ralar apenas a corcunda, não o corcunda. E saímos ambos em vantagem, madrugada afora, à procura de um bom cirurgião plástico. Quanto aos berros, garantia de eficácia da mágica, dispôs-se o geboso senhor a ralar a ignóbil bossa, enquanto (prometeu-me) faria soarem os mais altos gritos de que fosse capaz.


Tudo providenciado, encruzilhada escolhida, data e hora marcadas, lembrei-me em tempo do imprescindível e derradeiro ingrediente, o fio de barba do personagem devidamente implicado na questão. E aí foi que a receita desandou. Os que eram do ParTido apressaram-se todos, dadas as circunstâncias, em raspar a barba. Alguns barbudos renitentes, quando interpelados, juraram sem exceção serem PDS desde pequenininhos.


Portanto, tem esta o objetivo de solicitar ao caro colunista, freqüentador contumaz de rodas sociais e políticas com personalidades as mais variadas, o envio, se possível e sem demora, de um fio de barba legítimo e confiável.


Antecipadamente grata, (a) Rosa Maria de B. Fabri Mazza’.’


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O Globo


Sexta-feira, 16 de fevereiro de 2006


TV DIGITAL
Mônica Tavares


Relatório sugere transição em 6 anos


‘BRASÍLIA. Os aspectos técnicos não devem ser os únicos a orientar a escolha do padrão de transmissão de TV digital que será implementado no Brasil. O governo federal, para garantir qualidade, competitividade e inclusão social, deverá considerar as contrapartidas oferecidas pelos grupos que detêm as tecnologias japonesa (ISDB), americana (ATSC) e européia (DVB), como vantagens comerciais, transferência de tecnologia e capacidade de adaptação a soluções brasileiras. É o que afirma a equipe do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (CPqD), responsável pelo relatório que analisa os modelos disponíveis e norteará a decisão do governo. O documento foi divulgado ontem pelo jornal especializado ‘Teletime’.


O CPqD defende que a transição da TV analógica para a digital seja feita em seis anos (72 meses). Seis meses depois da escolha do padrão, as regiões metropolitanas de Rio e São Paulo poderiam estar atendidas, o que ocorreria em 12 meses no caso de cidades com mais de dois milhões de habitantes e no Distrito Federal. Todas as capitais e municípios com mais de 300 mil moradores poderiam estar cobertas em dois anos, e as cidades com mais de cem mil habitantes, em quatro anos. As demais teriam TV digital ao longo dos dois anos seguintes.


Concluído no dia 13, o relatório reuniu os trabalhos de 20 consórcios de universidades e institutos. Outra recomendação do relatório é a criação de um fórum para coordenar as ações de implantação, composto por governo, emissoras, fabricantes de equipamentos, universidades e institutos de pesquisa e desenvolvimento.


O custo de digitalização das emissoras e retransmissoras das TVs será de R$ 5,567 bilhões, a maior parte arcada pelas TVs privadas (R$ 4,307 bilhões). Do lado dos usuários, estão previstos gastos de R$ 14 bilhões em 15 anos, levando-se em conta um conversor de R$ 400 e toda a programação gerada de forma digital a partir do primeiro ano.


Segundo os estudos, quanto menor o preço do conversor, maiores a adesão da população, os níveis de produção de equipamentos e os ganhos para a balança comercial (devido à necessidade de importação de componentes). O relatório mostra que, a preços de 2006, o conversor básico (áudio estéreo e sem interatividade) no sistema americano custaria R$ 256; no europeu, R$ 233; e no japonês, R$ 276. Para o mais avançado (som surround, interatividade com canal de retorno), os valores seriam respectivamente de R$ 715, R$ 662 e R$ 761.


O ministro das Comunicações, Hélio Costa, discorda de alguns itens do relatório. Para ele, os pesquisadores estão enganados em relação ao custo dos conversores, mas se trata apenas de uma imprecisão:


– Os americanos disseram publicamente que fazem uma caixa por US$ 53 (cerca de R$ 114). Uma empresa coreana ou japonesa, sediada no Brasil, disse que faz por US$ 43. Em determinado lugar do relatório estamos analisando uma caixa de US$ 400. Eu preciso estar muito seguro de que isso (o cálculo dos pesquisadores) está correto.


O governo divulgará o relatório nos próximos dias. Costa ressaltou que o CPqD não indica o padrão a ser implantado, apenas mune o governo de informações. Ele disse que o governo precisa indicar primeiro o padrão da modulação (transmissões), o que deve ocorrer até 10 de março, antes de outros passos: o modelo de negócios e o período de transição.’


TELES NAS RÁDIOS
Carlos Vasconcellos


Rádio Cidade vai virar Oi FM


‘A Rádio Cidade FM, do Rio, vai dar lugar no dial à Oi FM. Será a sexta emissora de rádio da rede controlada pela operadora de celulares do Grupo Telemar. O contrato foi assinado esta semana e a troca deve acontecer em março, mas ainda faltam detalhes operacionais para a estréia. O dono da Cidade FM, José Antônio Nascimento Brito – que arrendou a marca ‘Jornal do Brasil’ para a Docas Investimentos – manterá no ar a JB FM.


A rede Oi FM é gerada a partir de Belo Horizonte, em uma parceria entre a Oi e o Grupo Bel, de Minas Gerais, que transmite a MTV fora do eixo Rio-São Paulo. A rede não usa satélite, mas a própria linha de fibra ótica da Telemar, para transmitir sua programação para Belo Horizonte, Uberlândia, Recife, Fortaleza e Vitória. A transmissão é adequada às características de cada cidade, com alguns programas locais e música adaptada ao público-alvo regional.


Segundo a gerente-geral de Marketing do Grupo Telemar, Flávia da Justa, a rede de rádio faz parte da estratégia da operadora desde 2002, de trabalhar o chamado marketing de conteúdo. Ou seja: posicionar a marca da Oi gerando conteúdo próprio, seja por meio de revistas ou programas de TV e rádio.


– A música é importante, pois está associada a serviços que podemos oferecer, como videoclipes para download ou ringtones (toques para celular).


Depois do Rio, a Oi FM quer chegar a Salvador, fechando, ao menos por ora, sua expansão. A nova rádio tem um número menor de anunciantes, trabalhando mais com patrocinadores, pois a principal intenção é veicular a marca Oi e gerar tráfego para a operadora.


– Em Belo Horizonte, já estamos entre os líderes de nossa faixa de público – disse Flávia, explicando que o alvo são homens e mulheres de 20 a 40 anos, das classes A e B.


A Rádio Cidade, que sairá do ar, foi uma das FMs que revolucionaram o padrão do rádio brasileiro no fim dos anos 70. Nos últimos anos, mantinha uma programação voltada para o rock – e, ironicamente, deixará o dial poucas semanas depois dos megashows de Rolling Stones e U2 no país.’


GUERRA DAS CHARGES
Osias Wurman


A difamação travestida de informação


‘São três os pilares que sustentam a Humanidade, segundo os sábios do judaísmo. Aplicados ao debate sobre a liberdade de expressão, que domina, neste momento, os principais centros de opinião mundial , trazem uma ampla visão do equilíbrio que deve haver entre direito e dever.


Verdade é a matéria-prima de qualquer órgão de imprensa, falada, escrita ou televisiva, que deseja exercer o direito inalienável de livremente expressar suas idéias. Justiça é o poder maior que coloca o divisor de águas entre o que informa e o que difama. Paz é o produto final da mistura dos dois primeiros itens e que traz o equilíbrio para o tripé.


Baseados nesta verdade é que tomamos a iniciativa recente de encaminhar representação junto à Procuradoria Geral de Justiça do Rio de Janeiro contra a editora do livro ‘Protocolos dos Sábios de Sião’, que foi acatada pela Justiça Criminal. Vale lembrar que a obra em questão é uma montagem falsificada e mentirosa, encomendada pela polícia secreta do czar Nicolau da Rússia, para ser usada como justificativa aos rompantes anti-semitas que precediam os famigerados e sanguinários pogroms do ditador russo. Obras que historiam as épocas mais nebulosas da História, mesmo que os personagens principais não mereçam ser lembrados, devem ser produzidas livremente para que sirvam de informação e cultura a nossos cidadãos. Mas este não é, certamente, o caso do livro ‘Minha Luta’, de Adolf Hitler, por ser panfletário, racista e indesejável – uma manifestação ordinária em favor da segregação entre seres humanos.


Um exemplo de liberdade de expressão usada fora dos limites da justiça foi o jornal ‘Der Sturmer’ – O Tufão – criado e dirigido pelo alemão Julius Straicher no final dos anos 20, que muito antes do nazismo já caricaturava os judeus alemães nas formas mais indignas e deploráveis. Os historiadores não negam a importância da malignidade provocada na opinião do povo alemão pela ampla divulgação dos ‘Protocolos’ e do jornal de Straicher, que posteriormente foram adotados pelos nazistas como instrumentos de destruição moral de seus eleitos inimigos.


Aqui no Brasil, no ano passado , um episódio misto de violência e intolerância demonstrou o perigo de estarmos indiferentes à difamação travestida de informação. Um grupo de dez ‘skinheads’, o grupo neonazista conhecido por suas cabeças raspadas, atacou três jovens judeus no centro de Porto Alegre, causando graves ferimentos no mais jovem deles. A polícia gaúcha foi eficiente e, em menos de 24 horas, prendeu quatro dos agressores, sendo que em suas residências apreendeu farto material racista, onde se encontravam ‘Os Protocolos’ e apostilas com as caricaturas anti-semitas.


No caso das caricaturas publicadas do profeta Maomé, estamos lamentando a verdadeira guerra entre os que defendem a liberdade de imprensa e os que desejam a preservação da inviolabilidade dos valores religiosos a toda força. É urgente achar um lugar-comum para ambos os pleitos, que convergem na essência: liberdade e religião.


A melhor colocação para a complexa polêmica atual vem do nosso Rui Barbosa, quando em um de seus artigos definiu: ‘Imprensa e liberdade, jornalismo e consciência são termos de uma só equação. Onde a manifestação de consciência não for independente, não há jornalismo. Onde a imprensa existir, a independência no escrever é irrecusável.’


Já em seu discurso intitulado ‘Palavras à Juventude’, Rui deixa clara a sua concordância com o controverso em questão, onde se coloca a importância da inviolabilidade da religião, ao menos, no mesmo nível do direito da livre expressão: ‘Desde 1876 que eu escrevia e pregava contra o consórcio da Igreja com o Estado; mas nunca o fiz em nome da irreligião: sempre, em nome da liberdade. Ora, liberdade e religião são sócias, não inimigas. Não há religião sem liberdade. Não há liberdade sem religião.’


Importante fixarmos estes conceitos, de um dos mais brilhantes filhos da pátria brasileira, como diretrizes para nossa conduta em busca da verdade, da justiça e da paz.


A iniciativa do jornal norueguês já foi considerada infeliz pelo próprio editor, que pediu perdão pela prática. Agora, espera-se que no mundo islâmico apareça um líder, carismático e iluminado, que oriente seus seguidores a trocar a violência pelo entendimento. A destruição de embaixadas e igrejas, a violência anticristã e antijudaica, não servirão para engrandecer ou enaltecer a memória do profeta Maomé, nem diminuirão o repugnante sentimento anti-islamico numa minoria européia xenofóbica.


OSIAS WURMAN é jornalista e presidente da Federação Israelita do Rio de Janeiro, que pediu a apreensão das edições de ‘Protocolos dos Sábios de Sião’ e ‘Minha Luta’, da editora Centauro (São Paulo).’


O Globo


Europa rejeita limite à liberdade de imprensa


‘ESTRASBURGO, França. Enquanto dezenas de milhares de paquistaneses saíam ontem às ruas da cidade de Karachi para mais um furioso protesto contra as charges do profeta Maomé, o Parlamento Europeu rejeitou ontem uma proposta de limitar a liberdade de imprensa no continente devido à crise causada pelos cartuns.


‘A liberdade de expressão e a independência da imprensa como direitos universais não podem ser minadas por qualquer indivíduo ou grupo que se sinta ofendido pelo que está sendo dito ou escrito’, diz uma resolução aprovada pelos legisladores europeus. O documento pede, porém, a jornalistas que exerçam a liberdade de expressão com respeito aos direitos humanos e às religiões.


Em Karachi, 50 mil manifestantes protestaram contra as charges pedindo morte àqueles que ofenderam Maomé. Alguns queimaram retratos do presidente George W. Bush e de Anders Fogh Rasmussen, premier da Dinamarca, país onde os cartuns foram publicados primeiramente. A multidão se dispersou sem violência, diferentemente de protestos anteriores.’


LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Adalmir Caparros Fagá


Querem restaurar a censura no Brasil


‘O Brasil é signatário de diversos acordos e declarações internacionais sobre direitos humanos, posando de paladino de direitos, liberdades e garantias individuais. Entretanto, somente o faz em seara alheia, pois em território pátrio a práxis é outra.


Se é verdade que ‘a liberdade de expressão é um direito humano inalienável e sua proteção, um elemento essencial para as sociedades democráticas’; e que ‘não há pessoas nem sociedades livres sem liberdade de expressão e de imprensa’; e ainda que ‘o exercício dessa não é uma concessão das autoridades, é um direito inalienável do povo’ – nos termos das convenções das quais o Brasil é signatário -, também é verdade que a censura e apreensão de obras polêmicas se tornaram corriqueiras nos últimos tempos.


É constrangedor e preocupante, sob a ótica da estabilidade jurídica e da respeitabilidade das instituições, observar a empáfia com que certas entidades supostamente representantes de alguma etnia ou grupamento humano, quando melindradas em suas autoconcedidas e duvidosas intocabilidades históricas, exigem e obtém, das autoridades públicas, o deferimento de medidas draconianas, visivelmente inconstitucionais, para cercear, quando não impedir definitivamente, a liberdade de expressão e divulgação preconizadas na ‘Carta Magna’.


Ora, a liberdade de expressão é um conceito adotado pelas modernas democracias liberais, em contraposição à censura e ao amordaçamento cultural. Seu exercício é defendido pela Declaração Internacional dos Direitos Humanos e pela Convenção Européia de Direitos Humanos, em diversos de seus artigos. E não é uma ‘concessão das autoridades’ e, sim, direito constitucionalmente assegurado.


A veiculação de obras intelectuais, como o livro, desfruta de proteção constitucional, como irradiação de conhecimentos indispensáveis à formação de uma cultura geral humana e sem preconceitos. Não representa, porém, apologia, apoio ou concordância da linha editorial com a ideologia dos autores.


As editoras se limitam a veicular as obras, trazendo-as a público, e divulgando as informações sociais e históricas a que todos os cidadãos têm direito (Constituição Federal, art. 5, XIV). Ao editor não cabe emitir juízos de valor sobre as obras veiculadas; este julgamento fica ao exclusivo critério de leitores e estudiosos.


Se é certo que à Constituição repulsa o racismo e a discriminação, não é menos certo que ela igualmente assegura ao cidadão o direito à livre expressão de pensamento, ideologia política e de crenças, bem assim, o direito à divulgação e à exploração comercial de obras literárias. De outra parte, todos os cidadãos têm o direito fundamental de acesso à informação, seja esta conveniente ou não a crenças ou interesses individuais.


Não fora assim, e assistiríamos à insensatez de se proibir a edição dos livros ditos sagrados, como a Bíblia, o Alcorão, o Livro de Mórmon e tantos outros, pois, sob ótica deformada, também poderiam ser acoimados de incitar ao ódio e à discriminação contra alguma etnia.


A Constituição Federal dispõe, soberanamente, que, em solo pátrio:


‘Art. 5:


II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;


IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença ;


LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal ‘ (grifo nosso).


Terá sido a ‘Carta Magna’ revogada sem o conhecimento dos cidadãos?


A recente apreensão do livro ‘Os Protocolos dos Sábios de Sião’ efetuada nos depósitos da Editora Centauro – que o editou sob o pálio constitucional – bem retrata a insegurança jurídica que ronda, ameaçadora, as liberdades garantidas pela ‘Carta Maior’, cujos ditames não foram suficientes para a defesa dos bens constitucionalmente tutelados.


Nós, da Editora Centauro, esperamos que os representantes dos Poderes da República detenham essa tentativa de instaurar (de novo!) a restrição cultural (leia-se: CENSURA!) e adotem medidas enérgicas para devolver aos cidadãos a segurança institucional ora gravemente ameaçada pelo ostensivo desrespeito às liberdades públicas e garantias constitucionais.


ADALMIR CAPARROS FAGÁ é editor e diretor da Editora Centauro.’


TELEVISÃO
Rodrigo Fonseca


Sem censura


‘Jogadores de sinuca da Pavuna talvez até conheçam o currículo cinematográfico de um judeu cinqüentão careca e com o abdômen já acentuado pelo excesso de chope, que vez por outra se arrisca nas tacadas contra eles. Mas, em geral, quando Moisés Abrão Goldszal, de 59 anos, passa, seus vizinhos não se cutucam, dizendo: ‘Olha o cara que ‘passava o rodo’ nas atrizes da pornochanchada!’. Sequer um ‘Ó o Carlo Mossy!’ ele escuta pelas bandas onde vive há oito anos. Mas, hoje, o pavunense que passar pelo Odeon, vai saber direitinho quem ele foi. Ou é.


Às 18h40m, uma sessão de ‘Como é boa nossa empregada’ (1973), de Victor Di Mello e Ismar Porto, abre uma retrospectiva de dez longas-metragens estrelados, produzidos ou dirigidos por Goldszal (quer dizer, Carlos Mossy), que segue até o dia 3. Provavelmente, quem passou pelo Odeon ao longo da semana para ver filmes do chinês Wong Kar-wai (de ‘Amor à flor da pele’), o cult francês ‘Sangue de pantera’, de Jacques Tourner, ou outra iguaria do cardápio-cabeça da sala, um centro nervoso da intelligentsia cinematográfica carioca, vai se perguntar: ‘Carlo Mossy? Aqui?’.


Até ele se surpreendeu:


– Esta mostra é uma virada para alguém que nunca fez filmes para meia dúzia de amigos


O Grupo Estação, que coordena o Odeon, dá sua versão do porquê do tributo a Mossy.


– O Odeon BR está sempre fazendo mostras e retrospectivas de filmes brasileiros de relevância. Os filmes de Carlo Mossy são cinema popular em sua melhor forma – diz Isabela Santiago, coordenadora de marketing e eventos do Estação.


Badalado agora, Mossy desapareceu das telas na década de 90. Mas, desde 2003, quando apareceu como o delegado Santana no longa ‘O homem do ano’, de José Henrique Fonseca, Mossy virou queridinho da mídia. A mesma que nos anos 70 torcia o nariz para seus filmes. Ainda que eles fizessem mais dinheiro do que as mais revolucionárias experiências estéticas dos egressos do Cinema Novo.


– Carlo Mossy falando com O GLOBO? Nos anos 70? Jamais! – diz o ator, que estreou no filme ‘Copacabana me engana’ (1968), de Antônio Carlos da Fontoura, uma crônica sobre relações na Zona Sul carioca que a crítica louvou.


Ator tenta tirar do papel o longa ‘Relações perversas’, baseado em Machado de Assis


No entanto, mesmo resenhistas que nos anos 60 se impressionaram com o filme de Fontoura, e com o galã de olhos de ardósia por ele revelado, não se deixaram contagiar pelos produtos da grife Mossy.


– Nem sei se eu já saí de casa para ver algum filme de Mossy. Sei que pornochanchada sempre me pareceu sexista, cafajeste e precário – diz o crítico Sérgio Augusto, autor de ‘Este mundo é um pandeiro’, sobre as chanchadas, que entende a badalação em torno dos ‘clássicos eróticos’ de Mossy. – Hoje até de Wando esse pessoal gosta. Mas para mim, porcaria sempre foi porcaria.


Se o público que curte Mossy cantarola ‘Você é luz/ é raio, estrela e luar’ para seus iá-iás e iô-iôs, só um censo saberia dizer. Sabe-se que eles engrossam o ainda ralo Ibope do Canal Brasil.


– Sempre que ‘Giselle’ passa, é sucesso – avalia Paulo Mendonça, diretor do Canal Brasil. Agendado para o dia 27, ‘Giselle’ (1981) é um enigma para o cinema brasileiro. Há quem diga que o filme (o mais popular de Mossy) fez 12,5 milhões de espectadores. Número que tiraria de ‘Dona Flor e seus dois maridos’ (1976), de Bruno Barreto, o título de recordista nacional de bilheteria, com seus 12 milhões de ingressos. Não há registros oficiais de sua renda. Fundada há nove anos, a Filme B, o maior banco de dados sobre o mercado cinematográfico nacional, também não tem a informação. Aliás, a carreira comercial de boa parte da produção da pornochanchada não é devidamente documentada. Talvez porque não fosse produzida com incentivos fiscais, e sim com investimentos privados, como explica Pedro Carlos Rovai, que dirigiu Mossy em ‘Lua-de-mel e amendoim’ (1971):


– Ao contrário dos filmes financiados oficialmente, a pornochanchada tinha o público como árbitro. O sucesso de um filme garantia um próximo. Mossy trabalhou assim. Foi um batalhador.


Até Julio Bressane, ícone de um cinema experimental descompromissado com cifras altas, rendeu-se a Mossy. O diretor convidou o astro para atuar em ‘Cleópatra’, ainda em montagem.


– Mossy rende muito bem – diz Bressane.


Até novela – ‘A Lua me disse’ – e série de TV – ‘Carandiru, outras histórias’ – Mossy fez em sua volta. Mas o que mais quer ele não conseguiu: filmar ‘Relações perversas’, uma apimentada adaptação do conto ‘Uns braços’, de Machado de Assis.


– Sinto-me honrado com as homenagens. Mas, financeiramente, nada mudou. Não consigo filmar, porque represento a contramão da elite audiovisual. Não faço filme-cabeça. O brasileiro não nasce com Sartre na cabeça. Ele nasce pensando sacanagem. Por isso, meus longas deram certo.’


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 16 de fevereiro de 2006


TV DIGITAL
Gerusa Marques


TV digital japonesa é mais cara para consumidor


‘O padrão japonês de TV digital é o mais caro para o consumidor, considerando o valor do conversor de sinais digitais em analógicos, que é uma caixinha que permitirá ao telespectador continuar usando o mesmo televisor. Essa é a constatação do relatório da Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (CPqD), contratada pelo governo para coordenar estudos técnicos de universidades e centros de pesquisa sobre a implantação da TV digital no País.


O texto do CPqD, divulgado ontem pela Teletime, mostra que essa caixinha poderá custar neste ano R$ 761,00 se a opção for pelo modelo japonês. O segundo mais caro é o modelo americano, cujo conversor custaria R$ 715,00. O mais barato é o europeu: R$ 662,00.


Essa avaliação considera um conversor com amplas funções, como alta definição de imagens e interatividade, que permitirá usar o aparelho em funções próprias da internet, como acesso a e-mails. O europeu também é o mais barato nas versões mais simples do conversor.


O relatório, de 141 páginas, não sugere a adoção de um padrão. A conclusão do estudo, praticamente repete as diretrizes traçadas no decreto presidencial de 2003, que instituiu o sistema brasileiro de TV digital. O CPqD chama a atenção para a necessidade de levar em conta as perspectivas de mercado e de escala de produção, ‘o que influencia diretamente no investimento necessário ao setor produtivo e no preço final ao consumidor’.


A informação de que o relatório havia sido vazado para a imprensa não agradou ao ministro das Comunicações, Hélio Costa, sobretudo porque os estudos apontam algumas desvantagens do padrão japonês, que tem a simpatia de emissoras de TV e do próprio ministro.


Em entrevista coletiva antes da publicação do estudo, ele disse que relatório ‘não foi feito para agradar ou desagradar a ninguém’, mas deixou claro que tem opiniões divergentes das conclusões da Fundação. ‘Ninguém vai mexer uma linha, mas podemos discordar.’


Costa havia prometido para ontem a divulgação dos relatórios dos institutos de pesquisa que fundamentaram as conclusões do CPqD, mas disse que estava aguardando a autorização deles porque os estudos contêm sigilo industrial. A assessoria da Presidência da República informou ontem que não havia previsão de data para a divulgação dos estudos da Fundação.


INCOERÊNCIAS


Costa chegou a dizer que o relatório do CPqD apresentava ‘incoerências’ e ‘imprecisões’. Ele citou o exemplo do conversor de sinais que estaria no relatório, segundo ele, a um preço de US$ 400, enquanto há promessa de ‘uma empresa’ de fazer esse conversor por US$ 43.


O estudo aponta ainda as prioridades do sistema brasileiro de TV digital. No que se refere à inclusão social, o baixo custo é o item de maior peso, com nota 9, seguido da robustez (garantia de que o sinal chegará ao televisor), com nota 6, e da interatividade, com nota 4. O CPqD propõe que em seis anos toda a transmissão de TV seja digital.


A implantação começaria pelas regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro, onde as cinco maiores emissoras comerciais (Globo, Record, SBT, Bandeirantes e Rede TV) e a maior emissora pública (Radiobrás) teriam seis meses de prazo para iniciar a transmissão digital. Nas demais capitais, o prazo é de um ano.


A estimativa é que o gasto do consumidor chegue a R$ 14 bilhões em 15 anos, considerando um valor médio de R$ 400 por conversor de sinais. A previsão da Fundação é de, após 15 anos, 81% dos domicílios terem conversores, considerando um valor de R$ 200 por aparelho.


O CPqD foi contratado em 2004 e foram gastos nas pesquisas R$ 56 milhões, com recursos do Fundo de Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel).’


INCLUSÃO DIGITAL
Michael Kanellos


PCs para os pobres têm muitos projetos e nenhuma definição


‘THE NEW YORK TIMES – É fácil enumerar os benefícios de se levar computadores baratos aos bilhões de pessoas que vivem em vilas rurais e centros urbanos no mundo em desenvolvimento.


Computadores em vilas permitem que crianças estudem em áreas onde escolas foram fechadas e adultos aprendam estratégias de preço para seus produtos agrícolas. Um furgão equipado com uma conexão via satélite e impressoras produz livros baratos para as crianças em Uganda. Em alguns países, como o Egito, uma crescente base tecnológica traz as promessas de uma classe média em ascensão e da eventual estabilidade política.


Apenas cerca de 1 bilhão, ou 16% das 6,5 bilhões de pessoas no mundo, usam a internet, diz uma contagem em andamento na Advanced Micro Devices.


Mas a tarefa de projetar máquinas resistentes, poderosas e baratas o suficiente para alcançar quem ainda não está online mostrou-se bem mais difícil que o esperado. O Simputer, computador de mão barato da Índia, fracassou. O Brasil trabalhou anos num PC Linux para os pobres, sem sucesso.


‘Iniciativas desse tipo precisam da consideração séria de todo mundo. As nações em desenvolvimento precisam começar a ensinar tecnologia cedo nas escolas’, disse Luis Anavitarte, analista da Gartner. ‘Mas a realidade, de certo modo, muda quando olhamos para os custos e a funcionalidade desses dispositivos.’ Recentemente, algumas idéias novas atraíram atenção. A seguir, um resumo de seus prós e contras.


A MÁQUINA DE NEGROPONTE


O que é: esta máquina de US$ 100 de Nicholas Negroponte e do Centro de Mídia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) roda o sistema operacional Linux. As máquinas podem conectar-se à internet via rede mesh (malha), na qual os aparelhos ajudam uns aos outros na comunicação de dados. Idealmente, o sistema permitirá que as pessoas se conectem à internet mesmo que os sistemas sem fio, de fibras e/ou telefônico não estejam bem disseminados. O fornecimento de eletricidade será inovador: há uma manivela nas unidades, que possivelmente seriam alimentadas também por bicicletas ou energia solar.


Prós: vários parceiros adotaram a idéia. A Red Hat produzirá o software. A Quanta, de Taiwan, vai fabricar as máquinas. E a AMD fornecerá os processadores. Quando surgirem, no fim do ano, as primeiras 5 milhões a 15 milhões de unidades serão enviadas para a China, Brasil, Índia, Argentina, Egito, Nigéria e Tailândia.


Contras: para conseguir o preço baixo, os fabricantes da máquina têm de deixar algumas coisas de fora. A unidade vem apenas com um processador de 500 MHz e 500 MB de armazenagem local (na forma de memória flash – os laptops não incluirão drives). As unidades não suportam os principais aplicativos em voga. Mesmo com essas medidas de corte de custos, ainda não se sabe se o preço de US$ 100 pode ser obtido na fabricação em massa. ‘É um número extremamente otimista’, afirmou Anavitarte, da Gartner. É provável que o dispositivo custe mais, acrescentou ele. Isso significa que os governos terão de subsidiá-lo. Infelizmente, os presidentes que deram as boas-vindas ao programa não apresentaram seus planos fiscais.


Além disso, historicamente, computadores sem disco rígido fracassaram por causa do fraco desempenho. As telas pequenas também atrapalharam. E existe pelo menos o acesso nominal a PCs, por meio de cibercafés, em alguns desses países. Também não se sabe se a rede mesh funcionará bem.


THIN CLIENT


O que é: thin clients são terminais baratos e leves que dependem de servidores para armazenar dados e processar números. São usados por bancos, companhias aéreas e empresas de seguro no Ocidente.


Empreendedores como Rajesh Jain e acadêmicos como Deepak Phatak e Ashok Jhunjhunwala, da Índia, promovem as máquinas para o uso rural.


Prós: como não precisam de um processador rápido nem de disco rígido, os thin clients podem ser fabricados por cerca de US$ 100, incluindo um monitor usado. Alguns projetos usam uma TV já existente para cortar ainda mais os custos. O fato de o software estar centralizado num servidor também facilita atualizações e controle de vírus.


Curiosamente, líderes locais, e não multinacionais, estão por trás do projeto.


Contras: como o thin client depende de um servidor, se este sai do ar, os terminais o acompanham. Usuários também disseram que os thin clients podem ficar lentos se muitas pessoas se conectarem ao servidor, mas seus defensores afirmam que a tecnologia tem melhorado continuamente.


PC UTILITÁRIO ESPORTIVO


O que é: esses PCs são feitos para ambientes hostis. Eles funcionam com baterias de carro ou energia solar e são selados hermeticamente para impedir a entrada de poeira. A Intel e a Via Technologies já apresentaram protótipos.


Prós: as máquinas enfrentam os enormes problemas da poeira e da eletricidade e é fácil encontrar peças de reposição. Além disso, o fato de serem PCs convencionais significa que a população rural, ao usá-las, ganha qualificações à altura do mundo real. Num programa em Kerala, Índia, crianças aprendem a usar o PC na escola e então ensinam os pais em casa. Cibercafés em mercados emergentes também já tornaram o PC familiar para os moradores. Visite um cibercafé em praticamente qualquer lugar e você verá pessoas fazendo chamadas VoIP com vídeo.


Contras: o preço. O PC da Via provavelmente custará cerca de US$ 250.


Os defensores prevêem unidades compartilhadas em vilas. E esses PCs, como alguns outros na lista, não enfrentam diretamente o problema da conectividade. Na Índia, banda larga significa 128 kbps, e na África ela praticamente não existe. A WiMax (tecnologia de banda larga sem fio) poderá ajudar algum dia.


CELULAR MICROSOFT


O que é: a Microsoft desenvolve um protótipo de dispositivo celular que pode servir como computador.


Prós: o telefone celular é um aparelho bastante familiar. Em lugares como China e Índia, o número de usuários de celulares é muito maior que o de computadores. Mesmo em países ricos, como Emirados Árabes Unidos, a propriedade de telefones está na casa dos 90%, enquanto a propriedade de PCs gira em torno de 20% (e, para cortar custos, alguns moradores dos Emirados assinam o serviço celular de companhias do Irã). A conectividade está garantida em grandes áreas do planeta.


Contras: a conectividade pode ser cara. Além disso, embora sejam bons para receber informações, os telefones celulares não são necessariamente tão eficazes para fazer a lição de geometria ou manter a contabilidade doméstica. Os dispositivos precisariam de teclados, telas e aplicativos. O problema da tela pequena prejudicou outros dispositivos para os pobres, semelhantes a computadores.


QUÁDRUPLO


O que é: a Hewlett-Packard desenvolveu um computador chamado 441 System na África do Sul (a HP também tem impressora e câmera alimentadas por energia solar para estúdios fotográficos móveis). O 441 poderia suportar quatro usuários ao mesmo tempo, em línguas diferentes, por meio de múltiplos teclados e telas. Ao todo, disse a HP, o 441, baseado no Linux, reduziu em até 50% os custos de aquisição de hardware para o mesmo número de usuários e em até 65% os custos de manutenção e operação.


Prós: um híbrido do PC utilitário esportivo e do thin client, o 441 aceitava mais usuários simultâneos do que um PC comum, mas sem alguns dos problemas de desempenho associados aos thin clients. A multiplicidade de línguas também é uma preocupação vital em vários países.


Contras: a HP o cancelou.


SISTEMA LINUX


O que é: o Brasil tentou durante anos promover um desktop baseado no Linux. O programa foi, em grande parte, paralisado pela burocracia governamental.


Prós: o uso do Linux no lugar da Microsoft claramente diminui o preço de aquisição do PC. O Starter Edition XP da Microsoft, uma versão do Windows XP para o mundo em desenvolvimento, reduz algumas das vantagens de custo. Os críticos, no entanto, observam que o Starter Edition não é tão flexível quanto o Windows XP padrão.


Contras: é o Linux. Ele funciona, mas a falta de aplicativos e problemas de compatibilidade tendem a empurrar os usuários em direção ao Windows. Até os comerciantes de PCs chineses lhe dirão que muitos clientes instalam cópias piratas do Windows em seus computadores com Linux depois de comprá-los.


COMUNICADOR PESSOAL VIA INTERNET


O que é: projetados pela AMD, esses dispositivos portáteis rodam uma versão do Windows CE e um processador que economiza energia. As máquinas custam cerca de US$ 180 sem monitor. A maioria das pessoas os compra acompanhando serviços de internet por meio de provedores.


Prós: ele já está no mercado e operadoras de telecomunicações o vendem, o que significa que alguns dos grandes obstáculos foram superados. Em termos de design e funcionalidade, ele é similar ao laptop de US$ 100, mas roda software da Microsoft, o que reduz problemas de compatibilidade. Ele é portátil e tem uma tela embutida.


Contras: o preço não é muito menor que o de um PC completo com monitor. As máquinas foram lançadas na Índia e no Caribe, mas as vendas têm sido mornas.’


LIBERDADE DE EXPRESSÃO
José Nêumanne


Elba Ramalho critica obra e vira alvo de cruzada


‘A importância dada à transposição do Rio São Francisco e o grau de violência a que chegou o debate político pré-eleitoral em torno do tema no Nordeste podem ser medidos pela retirada do convite feito pelo bloco carnavalesco Muriçocas do Miramar, de João Pessoa, à cantora Elba Ramalho. Os organizadores da mais concorrida associação de foliões da capital paraibana desistiram de ter seu desfile de abertura do carnaval puxado pela mais popular cantora do Estado por não se considerarem aptos a garantir a sua integridade física.


O radialista Rui Dantas tem usado seu programa diário, de grande audiência, para convocar a organização de um bloco para atirar ovos em Elba, por ter ela tornado pública sua posição contrária à obra execrada pelos Estados banhados pelo rio, mas vendida à população nordestina pelos políticos locais como a redenção da região, o fim da sede dos sertanejos.


A polêmica teve início em 26 de outubro, quando Elba, militante ecológica, fez emocionada defesa do São Francisco num show da ONG Onda Azul, liderada pelo baiano Gilberto Gil, ministro da Cultura. Em novembro, repercutindo intenso noticiário contra a cantora, nascida em Conceição do Piancó, no sertão, e criada em Campina Grande, o comunicador Marcos Marinho assumiu uma vaga na Câmara Municipal e propôs moção pedindo explicações da cantora, que é cidadã campinense. Alegou que ela estaria ‘cuspindo no caneco em que bebeu’.


A polêmica caiu como uma luva no debate político-eleitoral da Paraíba. Notória amiga do governador Cássio Cunha Lima (PSDB), Elba passou a ser vítima preferencial do jornal e das emissoras de rádio e TV do Grupo Correio da Paraíba, de Roberto Cavalcanti, suplente do senador José Maranhão (PMDB), candidato de oposição, favorito nas pesquisas.


O jornal do grupo noticiou na primeira página que o Comitê Estadual de Defesa do Projeto de Transposição de Águas do Rio São Francisco protocolou terça-feira ofício ao gabinete do governador solicitando a ‘suspensão de qualquer pagamento para a senhora Elba Ramalho através dos organizadores das festividades carnavalescas da cidade de João Pessoa’.


Avisada sobre o clima de animosidade, Elba cancelou a apresentação e anunciou que em junho não fará espetáculos no São João de Campina Grande, tradição nos últimos 13 anos: estará nos palcos rivais de Caruaru (PE). ‘Após 35 anos nos palcos da vida, é a primeira vez que vejo meu direito de cantar cerceado’, reclamou Elba, puxando o coro de jornalistas e artistas revoltados contra a politização, o ‘fundamentalismo’ e a violência no caso.’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Band exibe Ginga


‘Sete histórias apaixonantes sobre futebol. Esse é o enredo de Ginga, documentário de Fernando Meirelles que a Band exibe hoje, com exclusividade, às 22h50. Produzido pela O2, de Meirelles, para a Nike, Ginga traz sete personagens e sua relação estreita com o esporte.


Captadas em São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus, Jaraguá do Sul, Salvador e Santos, as histórias têm entre os seus personagens os ilustres Robinho, do Real Madrid, e Falcão, da seleção brasileira de Futsal. Entre os demais enfocados estão potenciais craques como Romarinho, morador da favela da Rocinha que é rejeitado pelos clubes de futebol por ser muito magrinho, e Wescley, exemplo de persistência no futebol. Em comum entre esses jovens está a ginga com a bola, nome que batiza a produção.


Premiado em festivais internacionais, Ginga foi exibido no Brasil só em uma mostra especial em São Paulo. Com 44 minutos de duração, a produção foi alvo da TV paga e de outras emissoras de TV aberta, mas acabou ficando com a Band no pacote que a rede fechou para produção do reality show Joga 10, no ano passado, parceria com a Nike.’


Cristina Padiglione


SporTV justifica ausência do Paulista na tela


‘Sobre nota publicada ontem neste espaço, o SporTV justifica que só não exibiu a estréia do Paulista de Jundiaí na Taça Libertadores porque os direitos de transmissão da partida pertenciam ao FX com exclusividade. Na divisão do bolo da Libertadores, há jogos destinados à Globo, que tem prioridade na escolha das fatias, ao FX e ao SporTV.


Porta-voz do canal rebate assim que a omissão ao Paulista nada teve a ver com bairrismo. Relata inclusive que a emissora recebe, no Rio, as mesmas pedradas que aqui estilhaçam sua vidraça porque lá, como cá, a torcida também se acha preterida.’


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