Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Renato Cruz

‘Desta vez, parece mesmo que a crise da TV paga começa a ficar para trás. Boa parte dos problemas de endividamento das grandes empresas do setor está resolvida e o mercado voltou a crescer nos últimos 12 meses, refletindo, em parte, a recuperação da economia do País. Para sustentar a recuperação, as companhias apostam em novos serviços, como a TV digital interativa, a telefonia e a internet rápida. ‘Os fatos positivos estão se somando’, afirmou Alexandre Annenberg, diretor-executivo da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA). ‘Se tudo continuar no ritmo que está, o crescimento ficará em pelo menos 3% no ano.’

Depois de quase três anos de estagnação, o setor registrou avanço de 3,8% nos 12 meses encerrados em junho, quando alcançou 3.591 milhões de clientes.

Parte do problema era a situação econômica do País e parte a dívida dos grandes grupos, que havia tirado das empresas sua capacidade de investir e cortado o acesso ao crédito.

A situação começa a mudar. A Net, maior empresa do setor, anunciou em junho a proposta final para renegociação de sua dívida de R$ 1,5 bilhão e o acordo para entrada de um novo acionista, a mexicana Telmex, dona da Embratel e da Claro. A TVA, segunda maior de TV a cabo, encerrou em 2003 um forte programa de ajuste e seu controlador, o Grupo Abril, foi a primeira empresa de mídia a atrair um investidor estrangeiro, ao vender 13,8% de seu capital por R$ 150 milhões para fundos americanos de investimento, da Capital International.

A retomada dos investimentos se reflete nos anúncios preparados para o evento ABTA 2004, que começa amanhã, em São Paulo. Durante a feira, a TVA lança a TV digital interativa e o serviço de telefonia via cabo, que usa a tecnologia de voz sobre protocolo de internet (IP, na sigla em inglês). A voz sobre IP permite usar a mesma tecnologia empregada na internet para chamadas telefônicas. Para isso, a voz é transformada em dados, o que reduz a capacidade de rede exigida para cada chamada e, em conseqüência, diminui os custos para a empresa que opera o serviço. Com a internet de alta velocidade, a qualidade do serviço para o cliente pode ser a mesma do sistema tradicional, com preços menores. Serviços – A estratégia das empresas serão pacotes três em um, unindo TV, internet rápida e telefonia. Com três serviços em uma só rede, as empresas esperam conseguir oferecer preços menores que a soma de cada mensalidade. Internacionalmente, a estratégia é chamada triple play, e já teve resultados positivos nos EUA e no Chile.

A vantagem para as operadoras é óbvia: o aumento da receita média mensal por cliente e uma barreira maior à perda de assinantes. O cliente que assina TV e internet rápida é mais fiel que aquele que contrata só TV. Com a telefonia, o incentivo a permanecer conectado deve aumentar. Fora isso, as operadoras tornam-se menos vulneráveis a crises, ao atuar em diversos mercados. Uma prova foi o crescimento da internet rápida. O número de clientes de banda larga das empresas de TV paga passou de 59 mil no fim de 2000 para 270 mil em junho deste ano, mesmo com as restrições ao investimento causadas pelas dívidas.

‘O serviço digital alavanca o processo de crescimento’, disse o diretor de Novos Negócios da TVA, Amilton de Lucca. A TV digital aumenta a qualidade de vídeo e áudio e permite o tráfego de mais conteúdo que no sistema analógico.

O grande potencial, porém, deve ser a interatividade. A digitalização possibilita oferecer conteúdos como os da internet, com texto, vídeo e áudio sob demanda, na televisão. ‘Não seria internet na TV, mas alguns conteúdos interativos em que o espectador navega com o controle remoto’, explicou o diretor da TVA. A empresa criou um portal de TV com conteúdos do Grupo Abril. A TVA tem 290 mil assinantes de TV e 25 mil de internet rápida. Competição – Neste novo cenário, as empresas de TV paga se integram à competição entre as operadoras de telecomunicações. Prova disso foi a entrada da Telmex no controle da Net. A rede da Net é uma alternativa à Embratel, controlada pela Telmex, para chegar à casa dos clientes e concorrer com a Telefônica, Brasil Telecom e Telemar no varejo. Durante o evento ABTA 2004, a Net também apresenta seu serviço digital, que deve ser lançado até novembro. A empresa previa lançar a telefonia via cabo só no ano que vem, mas pode antecipá-lo. ‘Os planos estão passando por uma reavaliação interna’, contou Ciro Kawamura, diretor de Marketing e Produtos da Net, que chegou a junho com 1,38 milhão de clientes de TV paga e 131,4 mil de internet rápida.

O mercado de telefonia com voz sobre IP é promissor. Nos EUA, a tecnologia conquistou mais de 2,5 milhões de assinantes em dois anos. No Brasil, o potencial são 10 milhões de residências.

Outro exemplo da recuperação dos investimentos no setor foi a compra da Canbrás, que opera na região do ABC e litoral de São Paulo, pela Horizon, que atua no interior de São Paulo, Manaus e sul do Rio, formando a terceira maior operação de TV a cabo do País, com 265 mil assinantes de TV e 45 mil de internet rápida. O negócio foi anunciado no fim do ano passado. Em setembro, as empresas mudam de nome. ‘Estamos fazendo nossos estudos sobre digitalização e voz sobre IP, mas ainda não existem datas definidas’, afirmou Antônio João, vice-presidente de Operações da Horizon, controlada por fundos americanos e investidores brasileiros.

Na TV via satélite, a Sky informatizou sua rede de mais de 2,16 mil revendedores, com o objetivo de tornar mais eficiente o atendimento.’

***

‘Criar sistema digital brasileiro é perda de tempo, diz especialista’, copyright O Estado de S. Paulo, 9/08/04

‘A escolha do sistema digital para a TV aberta no Brasil não é visto com bons olhos pelo setor de TV por assinatura. O governo propõe desenvolver uma tecnologia brasileira, a ser comparada com sistemas internacionais: o americano ATSC, o europeu DVB e o japonês ISDB. ‘Estão gastando tempo, dinheiro, mobilizando 11 ministérios e dezenas de universidades’, criticou o presidente da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA), Alexandre Annenberg. ‘É uma absoluta perda de tempo.’

Para Annenberg, deveria estar em discussão o modelo de negócios para a TV aberta digital. ‘Temos de criar um modelo tupiniquim, e não uma tecnologia’, afirmou. Ele sugere aproveitar a plataforma digital da TV a cabo para resolver problemas como o do preço dos conversores, usados para receber sinal digital nos televisores atuais, analógicos.

O executivo sugere que o sistema digital de TV paga, que não depende de definições de tecnologia do governo, seja usado para iniciar projeto para baratear decodificadores e criar serviços interativos, para promover inclusão digital e social via TV. ‘Já apresentei proposta por escrito’, contou. ‘Falamos com o Ministério das Comunicações, a Anatel e o CPqD. Mas parece haver forças contrárias.’

O governo pretende criar o sistema brasileiro até março de 2005, compará-lo aos internacionais e implementar a TV digital no Brasil até 2006. Foram liberados R$ 65 milhões para 79 universidades e centros de pesquisa. O governo também criou o conselho consultivo de TV digital, com representantes de associações do setor. ‘Fazemos parte do conselho, mas nunca fomos consultados nem convocados para uma única reunião’, disse Annenberg.’



Cristina Padiglione e Etienne Jacintho

‘TV paga e aberta brincam de espelho, espelho meu’, copyright O Estado de S. Paulo, 8/08/04

‘Em 1996, quando o setor de TV paga se endividava para emplacar seu produto nos hábitos de um consumidor voraz por televisão, estimativas otimistas previam para 2003 uma soma de 11 milhões de assinantes. Hoje, o setor conta com 3,5 milhões de pagantes, nem metade daquela conta, e ainda comemora – ao contrário do telespectador, que não encontra grandes vantagens no custo-benefício do serviço.

É que a indústria de TV paga, que por anos acalentou o sonho de conquistar a classe C, até vem cedendo a estratégias mais populares na programação, mas reposicionou em segundo plano a idéia de criar pacotes mais baratos. A principal meta, hoje, não está na mira dos mais pobres, mas sim dos mais ricos, com serviços adicionais oferecidos pelas operadoras (leia texto ao lado).

Fato é que a nossa TV aberta, em relação à argentina e à mexicana, não é tão ruim assim, a ponto de seduzir o consumidor a pagar o que se cobra por um serviço que, digamos, também não é lá essas coisas. É claro que o assinante tem uma infinidade de chances de assistir a filmes mais recentes na TV paga, com legendas e sem intervalos comerciais, mas a interferência dessa oferta nos hábitos do consumidor brasileiro tem peso questionável.

Por exemplo, o canal TNT, que só exibe filmes dublados, com intervalos comerciais, apresenta títulos nada inéditos e, mesmo assim, é o canal pago mais visto, segundo o Ibope, entre o público com mais de 18 anos (veja ranking na pág. ao lado). A versão em português tanto é atrativo de público que, a partir de 1.º de outubro, a Rede Telecine também lança um canal só com filmes dublados, o Telecine Pipoca, que substituirá o Happy.

No GNT, canal que muito contribuiu para a ampliação do mercado de produtoras independentes, fomentando a criação de documentários e programas de debates e entrevistas, a estrela da programação hoje atende por Beleza Comprada, produção nacional, sim, mas na linha mais fútil dos reality shows, que expõe a insegurança de personagens diante do espelho. Quem se dispõe a pagar pelo menos R$ 60 mensais para assistir a programas facilmente encontrados na TV aberta?

Efeitos do Ibope – Desde que o Ibope passou a medir a audiência da TV paga, também se constata o orgulho de seus executivos em anunciar que programas desse gênero lideram a audiência. A diretora-geral do GNT, Letícia Muhana, acredita em Beleza Comprada, ‘um programa em que os participantes são jovens e bonitos’ – em suas palavras -, e o compara com atrações como Queer Eye for the Straight Guy e Extreme Makeover, ambos realities de sucesso no canal Sony. A diferença: o primeiro é divertido e apresenta dicas de beleza e boas maneiras para homens; o segundo trata a cirurgia plástica como recurso corretivo extremo para pessoas que realmente precisam.

Desde setembro do ano passado, o GNT passa por um ‘reposicionamento’, como diz Muhana, para focar melhor o conteúdo do canal e priorizar o público feminino. Moda, beleza, gastronomia e comportamento passaram a ser o alvo do GNT, em detrimento dos documentários. O resultado foi significativo em ibope e anunciantes. De setembro de 2003 a junho de 2004 houve aumento de 34% em audiência, o que resultou em 81% do crescimento da receita publicitária da emissora no mesmo período. Apesar dos números, Letícia Muhana não acredita que o canal tenha se popularizado e discorda que haja uma tendência de a TV paga se assemelhar à aberta. Para ela, programas como o Beleza Comprada ou o Gente Pop – que apresenta celebridades – podem ter formatos que geram interesse mais amplo, mas ‘não são popularescos’, diz.

Para o diretor do canal Multishow, Wilson Cunha, os números do Ibope só ajudaram a melhorar a programação. ‘É preciso saber ler os números, e não obedecer cegamente aos índices. Reposicionamos vários programas com base nos números do Ibope, agrupando programas de acordo com a faixa etária de cada horário’, argumenta.

De acordo com Cunha, a medição do Ibope só fez bem ao Multishow. ‘Fizemos os ajustes necessários, sem abastardar a programação’, fala. Como exemplo, o diretor cita a faixa Mandou Bem, direcionada ao público jovem, que multiplicou o público do canal em 61% no horário (de segunda a sexta, às 18h30). No entanto, o programa que mais alavancou a audiência do canal, nos períodos em que esteve no ar, foi o Big Brother Brasil. O Multishow exibia 20 minutos diários do reality show, ao vivo, após a edição diária da TV Globo.

Voz do povo – Apesar de ser uma boa ferramenta para descobrir o gosto do público, o Ibope não é o único recurso. Para lançar o Telecine Pipoca, a Rede Telecine se baseou em e-mails de telespectadores, pesquisas qualitativas e grupos de discussão. ‘Recebemos e-mails interessantes com pedidos de mais filmes dublados’, conta o presidente da rede, João Mesquita. ‘Foi uma resposta à Sessão Pipoca (bloco do Telecine Happy), que tem um público mais jovem.’ O novo Pipoca exibirá longas de três canais da rede – Premium, Emotion e Action. Os títulos que hoje entram em cartaz no Telecine Happy passarão para o Telecine Emotion.

O sucesso da versão portuguesa, segundo Mesquita, se deve à cultura nacional e independe de classe social ou do costume do brasileiro às regras da TV aberta. ‘Na França e na Espanha, países já acostumados à TV paga, o telespectador é parecido com o brasileiro e os canais que dublam filmes também têm boa audiência’, explica. Porém, os filmes dublados não tomam o lugar dos legendados. ‘Nos grupos de discussão sentimos que as pessoas não querem deixar de ter filmes com som original, mas querem a opção da versão dublada.’

O Telecine Pipoca competirá com o líder TNT e contará com vantagens e desvantagens em relação ao concorrente. O TNT possui um acervo de filmes mais antigos, porém está nos pacotes básicos de todas as operadoras, vitrine maior que a do Telecine, que por sua vez exibirá blockbusters recentes, mas só chega aos assinantes de pacotes completos – e mais caros – da operadora Net e na Sky.

O fato de estar nos pacotes básicos guiou o TNT no caminho da dublagem. ‘Foi a estratégia do canal’, fala o vice-presidente da Turner no Brasil, Anthony Doyle. A situação privilegiada não exclui a corrida à melhoria da qualidade do canal. ‘O público da TV por assinatura é infiel’, diz Doyle, que não adiantou as novidades que o TNT apresentará em breve, mas garantiu que a emissora não se acomodou. Em algumas operadoras na América Latina, o TNT oferece a opção da tecla SAP ou um canal extra com a versão legendada do canal.

A Turner também engloba outro líder de audiência no setor, o Cartoon Network. A emissora seduz os telespectadores com vinhetas feitas especialmente para o Brasil, assim como os concorrentes Nickelodeon e Jetix.

Apesar de o público de TV paga em geral ser infiel, Doyle sente um progresso. ‘Vejo que a TV paga cada vez mais vai fazendo parte da vida dos telespectadores e que os programas caíram no gosto popular’, diz. ‘O público já sabe em que dia da semana passa determinado programa.’

Para Doyle, a TV por assinatura, apesar de cara, oferece uma variedade muito grande de opções. ‘Há entretenimento, esporte, notícia e atende a quase todos os gostos’, fala. Letícia Muhana destaca também a programação diferenciada: ‘Variedade e diferencial caminham juntos’.

Assinantes preferem TV aberta – É difícil saber o quanto a TV paga vai crescer. Mas fato é que a TV aberta ainda é a grande paixão do brasileiro. Segundo o gerente-geral dos canais Fox e National Geographic no Brasil, Gustavo Leme, os assinantes de TV paga ainda consomem, em média, 60% de seu tempo diante da TV assistindo a programas da TV aberta.

‘É uma relação muito forte’, diz Leme, que acredita ser esse um dos fatores que impedem o crescimento mais rápido do mercado de TV por assinatura. Outro elemento, claro, é o preço. ‘TV paga ainda é artigo de luxo.’

Identificação também pesa. Com o crescimento das produções locais, os programadores esperam chegar mais perto do telespectador – vide audiência dos canais Globosat – e ver o ibope crescer. A National Geographic produziu, com verba da Ancine, documentários sobre a vida animal no Brasil. O canal deve estreá-los em um grande bloco com ampla divulgação. ‘A expectativa é grande’, comenta Leme.

O dinheiro da Ancine continuará sendo usado pelo grupo para alimentar a grade do National Geographic com documentários. Séries, reality shows e outros programas que poderiam ser agregados ao canal Fox estão fora de cogitação. ‘Documentários agregam valor para a cultura. Teríamos condições para fazer séries, mas isso não agregaria tanto valor.’

Parecida ou não em conteúdo com a TV aberta, a TV paga caminha a passos lentos em números de assinantes. Já em relação à forma, afora alguns tropeços, a tendência é fazer com que ela ofereça mais serviços – em pay-per-view, novos canais e banda larga – e fale a língua do telespectador.’

***

‘Indústria cresce graças à banda larga e ao pay-per-view’, copyright O Estado de S. Paulo, 8/08/04

‘O número de assinantes de TV paga no Brasil cresceu 1%, do 2.º semestre de 2003 para o saldo fechado no 1.º semestre de 2004, mas a receita do setor cresceu 7% nesse mesmo período. Aumento de mensalidade? Nem tanto. O milagre da multiplicação dos pães, nesse caso, se explica pelo aumento de outras fontes de renda dessa indústria, em especial a venda de programas via pay-per-view, que aumenta assustadoramente em temporadas de Big Brother Brasil, a compra de pontos adicionais num mesmo domicílios, e serviços para internet em banda larga.

CEO (principal executivo) da Net Serviços e presidente da ABTA – Associação Brasileira de TV por Assinatura -, Francisco Valim não nega que a prioridade do setor, nesse momento, é ampliar a oferta de serviços ao público que já é assinante. A discussão em torno de pacotes mais baratos para conquistar a classe C, admite, ficou em segundo plano.

‘Não se deve mais esperar uma penetração porcentual como a da Argentina’, diz ele. Com situação socioeconômica parecida com a do Brasil, a Argentina exibe 74,8% de penetração de TV paga entre os domicílios com TV, contra apenas 8,7% do Brasil. Mas é preciso ressaltar que o cabo, no país portenho, é antigo, pois sugiu como meio de difundir a própria TV aberta (não é como o sistema de radiodifusão brasileiro, organizado à base de geradoras e retransmissoras). A TV aberta argentina também é muito ruim – a brasileira, em comparação à deles, é ótima -, o que incentiva o consumidor no quesito custo-benefício.

Custo-benefício – O Estado pergunta então a Valim se ele acha que o consumidor brasileiro, com o poder aquisitivo que tem, pagaria o que se cobra pelo serviço aqui, mesmo que a nossa TV aberta fosse tão ruim como a argentina. ‘Não, acho que não pagaria’, reconhece. ‘Mas não adianta a gente achar que vai ganhar com a conquista da classe C, isso é possível, mas tem um custo. Temos que pensar como indústria e o que se tem hoje é uma indústria que cresce com robustez’, diz. ‘Ninguém está esperando uma explosão de números, mas sim um crescimento de acordo com o ritmo do crescimento econômico do País’, completa.

Se criasse pacotes mais baratos para atender não apenas à classe C, mas também a uma parcela de 30% da classe AB, que ainda não assina TV paga, o setor ganharia em adesões, mas também correria grande risco de perder em faturamento. Isso porque muitos dos assinantes que hoje pagam caro por TV poderiam fazer opções mais baratas.

Apesar do baixo índice porcentual, o Brasil ocupa a 6.ª posição entre os mercados considerados mais importantes para o setor. A conta é simples: em números absolutos, mesmo com seus 8,7%, o País alcança 3,59 milhões de lares – mais que Colômbia, que tem 42% de penetração, mas 3,4 milhões de assinantes, e pouco menos que o México, que soma 18,9% de penetração, porém 3,8 milhões de assinantes. O Brasil tem mais de 41 milhões de domicílios com TV, e, mesmo que o avanço sobre todo esse público não seja prioridade, alcançar essa platéia não é estratégia desprezível.

Parte desse público já vê TV paga, mas não paga por ela. O assunto pirataria é tema de uma das coletivas de imprensa que a ABTA realiza na Feira Congresso 2004 que leva seu nome, anual, com início marcado para esta terça-feira, no ITM Expo, em São Paulo. Na ocasião, serão apresentados números estimados de ligações ilegais e programas para tentar combater as infrações. Uma delas, claro, com restrições geográficas a áreas carentes, é oferecer pacotes mais baratos. No caso desses, para o setor, é melhor que eles paguem pouco do que nada pelo serviço.’



Laura Mattos

‘TV paga prepara ‘pacote favela’ a R$ 10’, copyright Folha de S. Paulo, 5/08/04

‘Com a base de assinantes pequena (menos de 4 milhões em todo o país), operadores de TV paga planejam criar pacotes baratos para comunidades de baixa renda, principalmente de favelas. As primeiras atendidas seriam as do Rio, mas o projeto pode se estender para outros Estados.

A idéia é organizar planos de R$ 10 a R$ 15/mês com canais abertos e públicos, como TV Câmara. Em regiões de morro e desenvolvimento caótico de moradias, redes como Globo e SBT nem são sintonizadas ou chegam com baixa qualidade. Logo, a demanda é por boa recepção das redes abertas. A TV paga pretende utilizar pequenas empresas já instaladas nas favelas, muitas delas hoje em situação irregular. Com a parceria, grandes operadoras (como Net) deixariam venda, instalação etc. com pessoas do local, que conhecem, por exemplo, regras impostas por traficantes. E ganham vitrine para vender pacotes mais caros e, principalmente ‘pay-per-view’ (pague para ver) de filmes, ‘reality shows’ e jogos de futebol.

O número de clientes das empresas locais já é grande. Só em Rio das Pedras (Rio) são 11,2 mil assinaturas a R$ 15. A proposta foi desenvolvida pelo Conselho de Comunicação Social (órgão do Congresso), com o apoio da Associação Brasileira de TV por Assinatura e Agência Nacional de Telecomunicações, que quer regularizar as empresas das favelas. Será votada pelo conselho na segunda.

OUTRO CANAL

Autopromoção 1

Luciana Gimenez mandará uma equipe de seu programa, o ‘Superpop’, à porta do Fórum de Santo Amaro (SP) hoje. Motivo: a apresentadora da Rede TV! participará de audiência de conciliação num processo que move contra a mãe de um colega de seu filho, Lucas, que teria vendido fotos do menino a uma revista.

Autopromoção 2

O ‘TV Fama’, programa de fofocas da Rede TV!, também foi orientado a fazer a cobertura do ‘caso’ Luciana Gimenez. Tudo deverá ser transmitido hoje mesmo pela emissora.

Resistência

A Bandeirantes escolheu Otávio Mesquita para apresentar o ‘reality show’ ‘Tá na Mão’, que estréia no início do próximo mês. O programa deverá ser exibido de um shopping de SP e dará um carro a quem ficar mais tempo com a mão no veículo.

Estatueta

O Canal Brasil exibirá a premiação do Festival de Gramado, em 21 de agosto. A transmissão tentará dar ao evento um clima de Oscar, com imagens dos famosos no tapete vermelho.

Animado

O canal infantil Cartoon divulga que, entre crianças de quatro a 11 anos, teve crescimento de 34% de audiência no primeiro semestre de 2004 em relação ao mesmo período do ano passado.’

***

‘Telecine terá independentes e ‘escandalosos’’, copyright Folha de S. Paulo, 4/08/04

‘A rede Telecine (Net/Sky) acaba de adquirir um pacote que inclui filmes independentes e não-americanos inéditos na TV. Alguns deles protagonizaram grandes polêmicas no cinema e foram até considerados escandalosos.

É o caso de ‘Irreversível’, que chocou platéias com cenas de extrema violência, como uma seqüência de dez minutos de estupro, com Monica Bellucci (‘Matrix Reloaded’). Estreou no Festival de Cannes de 2002 e é dirigido pelo franco-argentino Gaspar Noé, que declarou que as histórias são feitas de sangue e esperma.

Outro polêmico do pacote é ‘Dogville’ (2003), estrelado por Nicole Kidman. Do dinamarquês Lars von Trier, faz parte de uma trilogia antiamericana. Entre outros abusos, a heroína (Kidman) é estuprada, obrigada a usar coleira e a realizar trabalho escravo.

Também há títulos mais ‘doces’, mas não menos interessantes, como ‘Encantadora de Baleia’, co-produção neozelandesa e alemã de 2002. Conta a história da garotinha Paikea, herdeira do dom de encantar baleias. Aos 13 anos, Keisha Castle-Hughes concorreu ao Oscar de melhor atriz por esse papel. O alemão ‘Adeus, Lenin’ e o afegão ‘Osama’ também serão exibidos. Há pelo menos mais 30 títulos ‘de grifes’.

O Telecine só definiu data de exibição de dois: ‘Cidade dos Sonhos’, em 20 de setembro (Premium) e ‘Encantadora de Baleias’, em dezembro (Emotion).

OUTRO CANAL

Talento Foi péssima a estréia de Silvia Abravanel e Décio Piccinini em ‘Cor de Rosa’, anteontem, no SBT. Mesmo gravado, o programa de fofocas conseguiu apresentar falhas técnicas. Cópia mal feita do ‘TV Fama’, da Rede TV!, exibiu muitas reportagens frias.

Televisa Filha de Silvio Santos, Silvia estava tensa, desarticulada e sem sintonia com Décio Piccinini. Isso sem falar do coque à la novela mexicana. Com seis pontos de média no Ibope na Grande SP, ‘Cor de Rosa’ não mudou o Ibope que o SBT costuma ter no horário.

Negócio O SBT havia vendido até ontem três cotas de patrocínio nacional de ‘Casa dos Artistas Apresenta Protagonistas de Novelas’, a R$ 9,1 milhões cada uma (para Casas Bahia, Telemar e Niasi). A Telhanorte comprou uma local de São Paulo, a R$ 4 milhões.

Ainda late Na Record, ‘Tudo a Ver’, de Paulo Henrique Amorim, estreou anteontem e, apesar de fugir do sensacionalismo, manteve a audiência da emissora no horário. O programa ganhou da Band até as 18h, quando começa o policial ‘Brasil Urgente’. A partir daí, o mundo cão deu vitória à concorrência. Na média, ‘Tudo a Ver’ registrou seis pontos no Ibope de SP e empatou com a Bandeirantes.

Darlene A atriz Deborah Secco interpretará Sol, a protagonista de ‘América’, a próxima novela das oito, da Globo.’



Arnaldo Comin

‘TV paga cresce 12,5% no primeiro semestre de 2004’, copyright MMOnline, 5/08/04

‘A indústria da TV por assinatura apresentou crescimento de 12,5% no faturamento bruto no primeiro semestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado. O volume de negócios passou de R$ 1,6 bilhão para R$ 1,8 bilhão, segundo a Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA). Até o final do ano, a projeção é a de atingir faturamento de R$ 4 bilhões, 17,6% mais que em 2003. O nível de receita publicitária, que atualmente corresponde a 5% do bolo, não deve mudar.

A base de assinantes continua próxima da estagnação. O número de clientes cresceu apenas 1,2% no semestre, em relação a dezembro do ano passado. A carteira passou de 3,54 milhões para 3,59 milhões de assinantes, em um universo estimado de 14 milhões de espectadores. De acordo com Francisco Valim, presidente da ABTA e da NET, a diferença entre o crescimento do número de clientes e o faturamento se deve a novas fontes de receita. ‘Tivemos um crescimento de 33% nos serviços de banda larga’, afirma. De acordo com a ABTA, o número de assinantes do serviço de acesso à internet de alta velocidade passou de 202,8 mil, em dezembro, para 269,8 mil no final de julho.

Sobre a evolução da base, Valim avalia que o crescimento poderá chegar a 2,5% até o final do ano, resultado bastante satisfatório em relação ao retrospe do setor nos últimos anos e a conjuntura macroeconômica. ‘O nosso crescimento está condicionado à recuperação da renda da população e, se considerarmos o desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, o resultado é bastante razoável’, diz Valim.’