‘Rio supera SP em renda per capita foi a manchete deste jornal na quarta-feira da semana passada, baseada em dados estaduais levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e relativos a 2002. Entretanto, na minha percepção, e conforme argumentarei em seguida, as diferenças econômicas e sociais entre os dois Estados não chegaram ao estágio em que a renda média dos habitantes do primeiro superaria a dos residentes no segundo.
Lendo a matéria, verifiquei que tratava do produto interno bruto (PIB) e da renda dos Estados como se fossem a mesma coisa, mas não é assim. Quando aplicado a um Estado, o conceito de PIB mede a produção de bens e serviços realizada internamente a esse Estado, mesmo se realizada por fatores de produção (essencialmente, capital e trabalho) de outras regiões. Já para medir a renda dos residentes de um Estado é preciso descontar a parte do PIB estadual que constitui renda de residentes de outros Estados e países, bem como somar a renda desse Estado gerada fora de suas fronteiras.
No site do IBGE (www.ibge.gov.br) vi o comunicado à imprensa sobre o assunto. Nele as explicações textuais se referem apenas ao PIB total e per capita dos vários Estados. Contudo, num passe de mágica, apenas no título de uma tabela que mostra dados do PIB per capita estadual este é equivocadamente chamado de renda per capita, daí levando à citada manchete.
No mesmo site encontrei o texto completo da publicação em que se baseou o comunicado à imprensa. Trata-se do volume Contas Regionais do Brasil – 2002 (Rio de Janeiro: IBGE, 2004). Seguindo a correta tradição da instituição nos seus levantamentos de dados, trata-se de relatório que explica os métodos utilizados, sem misturar conceitos, e apenas apresenta os dados como eles são, sem interpretá-los.
No texto está claro que o IBGE fez um levantamento do PIB dos Estados exclusivamente sob a ótica da produção. Do que se depreende dos dados correspondentes e das seções introdutórias do relatório, a elaboração das contas regionais brasileiras ainda não alcançou o estágio de evolução das contas nacionais, em que há também a avaliação do PIB sob a ótica da demanda (consumo, investimentos, estoques, importações e exportações) e da renda (remuneração dos empregados, juros, lucros, etc.).
Aliás, nas contas nacionais sempre houve interesse em conhecer a renda que fatores de produção estrangeiros atuantes na geração do PIB remetem a seus países de origem, a chamada ‘renda de fatores estrangeiros’. Deduzindo-se esta dos valores que entram no País a mesmo título, ou seja, provenientes do trabalho e do capital dos seus cidadãos que atuam no exterior, chega-se à ‘renda líquida de fatores estrangeiros’ (RLFE).
Tomando-se o PIB mais a RLFE (que pode ser positiva ou negativa), chega-se ao produto nacional bruto (PNB), que assim mede a produção nacional, ou seja, a de seus fatores produtivos, independentemente do país em que atuem. Por levar em conta a RLFE, o PNB também pode ser entendido como a renda nacional bruta (RNB). Creio que futuramente o trabalho das Contas Regionais do IBGE poderá levar ao cálculo de medidas equivalentes no âmbito estadual, o que levaria à renda estadual bruta (REB), total e per capita.
Entretanto, mesmo sem ainda dispor dos dados correspondentes se pode especular se, calculada essa renda per capita, o Estado do Rio de Janeiro teria de fato ultrapassado São Paulo, tal como ocorreu nos dados do PIB regional per capita de 2002 (quanto ao PIB total, este continua bem maior no Estado de São Paulo que no do Rio de Janeiro: R$ 438 bilhões e R$ 170 bilhões, respectivamente). Tomando a visão que tenho dos dois Estados e uma informação disponível na citada publicação do IBGE, arrisco-me a dizer que não. Essa informação dá conta de que no Estado do Rio de Janeiro, entre 1999 a 2002, cresceu de 10,9% para 23,9% a participação da indústria extrativa mineral (constituída principalmente pelas atividades da Petrobrás nesse Estado) no valor adicionado bruto estadual (em que se baseia a avaliação do PIB de cada Estado). Em particular, esse crescimento veio da expansão da produção de petróleo na Bacia de Campos (RJ), do preço internacional desse produto e das políticas de preço da empresa, e foi o principal fator a impulsionar o crescimento do PIB estadual.
Entretanto, boa parte da renda correspondente, em forma de lucros da empresa, não é apropriada pelos residentes do Estado. Em particular, vaza também para acionistas que recebem seus dividendos fora do Estado, inclusive o principal deles, a União.
Em síntese, arrisco-me a dizer que, se os dados de renda dos habitantes do Estado do Rio de Janeiro fossem igualmente levantados, a manchete seria SP ainda supera Rio em renda per capita.
Enquanto esses dados não vêm, ao IBGE, que não pode correr o mesmo risco, não cabe concluir do PIB per capita estadual para a renda correspondente, como fez na tabela de seu comunicado, gerando manchetes como a citada. Pode ter sido um simples descuido, mas cheira também a ‘cariocada’ de um redator mais afoito em provocar os paulistas.
Apesar desta crítica, concluo cumprimentando pelo seu trabalho os autores do relatório original e os funcionários da Loja Virtual da instituição, sediada também no Rio de Janeiro. Nela, de passagem pelo site do IBGE no dia 8, encomendei a referida publicação impressa e em CD, tendo recebido o conjunto no dia 10, em São Paulo, num processo que contou também com a colaboração do Sedex.
Se tudo no Brasil funcionasse assim, a história do nosso PIB seria outra.
Roberto Macedo, economista (USP), com doutorado pela Universidade Harvard (EUA), é pesquisador da Fipe-USP e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. E-mail: roberto@macedo.com’
MÍDIA & SAÚDE
‘O controle da mídia’, copyright O Globo, 16/12/04
‘A Agência Nacional de Vigilância Sanitária é um dos mais importantes órgãos do governo, porque lhe cabe fiscalizar o bom desempenho das atividades relacionadas à saúde. Não obstante seus esforços, o sistema continua precário. Hospitais fecham suas portas, por falta de recursos. Temos, todos os dias, notícias de problemas no setor. Isso reclama a competência técnica e o esforço desdobrado dos fiscais e técnicos da Anvisa.
Mas, ao que parece, esse importante órgão público tem outro tipo de preocupações. Agora, por exemplo, decidiu proibir cartazes de medicamentos no interior das farmácias. O argumento é o de que a existência de pequenos cartazes – a que chamamos, no jargão publicitário, de below-the-line – pode incentivar a automedicação. Ora, a automedicação faz parte de nossa cultura, e o que a estimula não são os anúncios, maiores ou menores, in-doors ou out-doors.
O que a explica, e mesmo, em certo sentido, a recomenda, é o difícil acesso a médicos qualificados. Como se sabe, o que se anuncia, no interior das farmácias, são aqueles medicamentos de baixo custo e uso disseminado. Busca-se, com o anúncio, a preferência do comprador por uma ou outra marca, de produtos de fórmula conhecida e livre comercialização, como é o caso dos analgésicos, dos xaropes, dos fortificantes. A tais medicamentos se acrescentam hoje drogas recentes, de apelo irresistível, uso disseminado e difícil controle destinadas – que se perdoe a expressão usual – a corrigir as assim chamadas disfunções eréteis.
Viveríamos em sociedade ideal se, a qualquer sinal de resfriado, pudéssemos consultar imediatamente um médico de grande qualificação científica, capaz de nos dizer se devemos usar o analgésico X ou o analgésico Y; e se tivéssemos, sempre a nosso lado, outro médico que, ao menor sinal de interesse por uma senhora, nos fizesse acurada avaliação clínica, permitindo-nos ou não o uso da droga e a aventura da conquista. Ou, mais ainda, que estivesse de plantão noturno, nos aposentos matrimoniais, com seus aparelhos de medição e as drágeas de apoio e socorro.
Os costumes estabelecem as leis, e as leis não fazem os costumes. A decisão da Anvisa me lembra – sempre recorro a esse exemplo – a proibição da censura da ditadura a discretíssimo anúncio que a minha agência produziu, e visava a incentivar o uso de preservativos masculinos, único recurso que a OMS de então via para combater um mal que, não se sabia ainda, já era a Aids. Na época, e por uma lei de 1946 de autoria de um deputado que era padre, considerava-se crime anunciar todo e qualquer método anticoncepcional, e a camisinha se incluía entre eles. E nem chegávamos a usar o vocábulo camisinha tão vulgarizado hoje, e vulgarizado por necessária iniciativa do próprio governo. De qualquer maneira, os censores proibiram a veiculação do anúncio.
A medida preocupa mais do que sua improvável eficácia. Os que se automedicam continuarão a automedicar-se, provavelmente com a ajuda, tradicional e permitida por lei, dos próprios farmacêuticos. Alguns anunciantes que lançam no mercado novos produtos com efeitos idênticos aos dos tradicionais sofrerão o prejuízo, porque as marcas mais antigas manterão a preferência dos consumidores. Para as agências de propaganda, o prejuízo não é significativo: a criação e produção desses displays representam fração desprezível da receita das agências. O mais grave é que a essa decisão da Anvisa se reúnem outras, recentes, contra a liberdade de expressão.
A liberdade de produzir anúncios e de os veicular é tão antiga quanto a liberdade de imprensa. Os primeiros jornais impressos surgiram em seguida ao aparecimento dos primeiros cartazes de propaganda, antes mesmo de Gutemberg usar os tipos móveis para imprimir a sua Bíblia. Eram impressos em xilogravura, para anunciar espetáculos de teatro e, em seguida, difundir editais e proclamações do governo. Com o aparecimento dos tipos móveis e a impressão de jornais periódicos – a partir de 1605, nos Países Baixos – os anúncios passaram a ser suporte importante da liberdade de imprensa. Na França, o primeiro grande editor de jornal do século XVII ( a ‘Gazette’), Theophraste Renaudot, foi também o criador da primeira agência de publicidade da História, com seu Bureau d’adresses.
Sendo, como foi, aliada do jornalismo impresso, a propaganda – esse velho motor da sociedade política – é um dos mais importantes instrumentos da liberdade e dos grandes avanços políticos e sociais dos tempos modernos. ‘Enfim – conforme resume Henri-Jean Martin em seu grande estudo, Histoire et Pouvoirs de l’ecrit – as baladas políticas encontram novo impacto, e as eleições suscitam, a partir de 1764, verdadeiro dilúvio de volantes, de cartazetes e de cartazes. Ou seja, uma explosão que corresponde à instalação de numerosas impressoras em todo o reino (de França), e que favorece a liberdade de expressão e, enfim, o espírito democrático.’ E vamos nos lembrar que a primeira impressora só chegou ao Brasil em 1808, porque a Corte não se interessava que a colônia se informasse.
Ao oferecer aos jornais e aos outros meios de comunicação de massa recursos de fontes plurais e independentes, a propaganda se torna indispensável ao processo político republicano. Nós sabemos como as coisas começam: hoje, usa-se o pretexto da automedicação para impedir os anúncios no interior das farmácias. Amanhã, a proibição passará a vigorar também para os anúncios em jornais, revistas, rádios e televisão. Depois, serão proibidos outros produtos. Para alguns tecnocratas, o ideal seria que todos os veículos tivessem um só anunciante que os controlasse: o governo. ROBERTO DUAILIBI é publicitário.’
Laura Mattos e Isabelle Moreira Lima
‘Viciados em saúde’, copyright Folha de S. Paulo, 19/12/04
‘‘Era um homem gordo, de uns 200 quilos, com vários ferimentos. Ficou aquele corpo grande e branco no asfalto, cercado de sangue, um horror. Até chorei.’
A cena foi ao ar no ‘Linha Vital’, bloco de programas do Discovery Health que mostram epidemias desconhecidas e acompanham acidentados desde o resgate até a alta médica ou a morte.
A agonia do cidadão que morreu após uma batida de carro é descrita pela dona-de-casa Tania Maria Camões da Costa, 25, que assiste mais ao canal de saúde do que à Globo e criou no site de relacionamentos Orkut a comunidade Eu Amo o Discovery Health.
Internautas trocam figurinhas sobre seus programas prediletos (do meigo ‘Primeiros Passos’, sobre bebês, aos trágicos ‘Hospital de Queimados’ e ‘Emergência: A Hora Crítica’), falam de doenças e curas e contam como fazem ioga diante da TV imitando posições de um instrutor japonês.
‘Coloco uma toalha no chão da sala e acompanho a aula. Chego a me concentrar tanto que, mesmo após o fim do programa, eu me mantenho nesse estado por alguns minutos, com o televisor num volume baixinho’, diz a analista de crédito Flávia Mattos, 31.
Além de relaxar, ela se interessa por novidades sobre moléstias e tratamentos. ‘Tenho tendência a ficar encucada com doença. Gosto desses programas porque mostram novidades da medicina. Vi um sobre um novo tipo de transplante de fígado e dei a dica a meu irmão, que tem hepatite C’, diz.
O Discovery Health, com 24 horas de programação sobre saúde, passou a transmitir um sinal exclusivo para o Brasil em março deste ano. Ao concluir que há um grande interesse do telespectador brasileiro -e conseqüentemente dos anunciantes- pelo tema, readaptou os horários para o fuso de Brasília (antes era o de Miami), passou a exibir chamadas somente em português e, há pouco mais de um mês, levou ao ar sua primeira produção nacional, o documentário ‘Doutores da Alegria’.
Entrou no cardápio de telespectadores que trocam a novela das oito por cenas reais de cirurgias, partos, informações sobre doenças misteriosas ou dicas para acabar com as birras das crianças.
Após anos e anos de entrevistas com médicos ‘celebridades’, que comentam da calvície à impotência em programas de qualidade duvidosa, a TV busca ampliar sua credibilidade na área da saúde, a fim de atrair audiência e a poderosa indústria em torno do tema.’
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‘Televisão é útil e perigosa, dizem médicos’, copyright Folha de S. Paulo, 19/12/04
‘O Conselho Federal de Medicina adverte: é proibido consultar telespectadores no ar, expor pacientes ‘curados’ e utilizar a televisão para fazer propaganda de consultórios ou tratamentos. O médico que desrespeitar essas regras pode ter o registro cassado.
Aprovada há pouco mais de um ano, a resolução colocou CRMs (Conselhos Regionais de Medicina) no pé da mídia, especialmente da TV. O CRM de SP tem um departamento para fiscalizar a programação das emissoras e saber tudo o que se fala sobre saúde. ‘Gravamos programas para ver se há algo impróprio. O código prevê a veiculação de assuntos médicos com a intenção de educar. Não é permitido conteúdo sensacionalista, autopromoção e propaganda de técnicas milagrosas’, diz Clóvis Francisco Constantino, presidente do CRM paulista.
As normas não livraram a TV de ‘garotos-propagandas’ da medicina, consultas ao vivo e informações superficiais veiculadas pelos ‘ratinhos da vida’, na opinião do presidente do Sindicato dos Médicos de SP, José Erivalder Guimarães de Oliveira. Mas, crê, reduziram muito ‘o abuso’. ‘Já vi médico fazer cirurgia de varizes no palco de um programa. Hoje está melhor, há opções sérias.’
Para ele, as novelas também prestam serviço à medicina. ‘Agora, assistimos à abordagem sobre o mal de Alzheimer, em ‘Senhora do Destino’. Se for tratado com cuidado, como acredito que será, é muito positivo.’
Beleza e hipocondríacos
A dermatologista Lígia Kogos, dona de uma clínica de estética com clientes socialites, tem um quadro na Jovem Pan AM e aparece constantemente na TV para falar de saúde e beleza, um dos temas prediletos de programas populares. ‘Já abordei o assunto até no Amaury Jr. e no Rammy [colunas sociais televisivas]’, conta.
Para ela, a exposição divulga o nome do médico, mas nem sempre é interessante para a clínica. ‘As pessoas acham que quem aparece na TV é inatingível, que não poderiam se consultar com ela. Por isso estabeleço limite.’
Também famoso na televisão, José Roberto Pagura, médico de celebridades como Cláudia Liz, Osmar Santos e Luciana Gimenez, diz que é comum colegas irem à TV opinar sobre seus clientes-astros sem conhecer o caso.
Pagura desaprova a série fictícia ‘E.R’ (Warner), sobre movimentado pronto-socorro (‘Dá a idéia deturpada dos tratamentos’) e gosta do Discovery Health.
Acredita que esse tipo de programa seja ‘um prato cheio’ para hipocondríacos. ‘Talvez eles consigam encontrar informações para diminuir suas preocupações.’
O ‘Fantástico’ (Globo) é também citado por especialistas, que elogiam as séries de Drauzio Varella. ‘São ótimas, ajudam a população a entender os problemas’, afirma José Antônio Ramires, presidente do Incor.
Ele, no entanto, diz que o dominical traz problemas a seu consultório. ‘Se não vejo o ‘Fantástico’, o paciente vem falar e fico meio vendido. Presto atenção para ver o quanto uma notícia médica pode me trazer de problema, porque raramente traz solução. Quando um tratamento é noticiado como ‘a última palavra nisto ou naquilo’, confunde as pessoas.’
Sobre a crítica, a Central Globo de Comunicação afirmou que ‘a emissora garante que todo o noticiário científico do ‘Fantástico’ se refere a trabalhos que foram publicados nas melhores revistas científicas do mundo e que tiveram repercussão na imprensa mundial’.’
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‘Programa de saúde é coisa de mulher, diz estudo do Ibope’, copyright Folha de S. Paulo, 19/12/04
‘As mulheres estão mais ligadas nos programas sobre saúde do que os homens. Levantamento do Ibope produzido para a Folha mostra que a audiência feminina é pelo menos o dobro da masculina no canal Discovery Health, no programa ‘Alternativa: Saúde’ (GNT) e até na série de ficção da Warner ‘E.R.’, que mostra um movimentado pronto-socorro.
Em boa parte dedicado a informações sobre desenvolvimento infantil, o Discovery Heath tem 66,2% de público feminino. ‘Aprendi sobre amamentação e a identificar o choro do bebê. Quando estava grávida, via tudo sobre partos’, diz a analista de crédito Flávia Mattos, 31, mãe de Luisa, de cinco meses.
A gravidez também foi tema de uma série apresentada no ‘Fantástico’ (Globo) por Drauzio Varella, que se tornou a celebridade número um dos programas de saúde. Ele também já apresentou quadros sobre o fumo e, até o começo do mês, estava à frente do ‘Questão de Peso’, a respeito da obesidade. A série, na qual abordava questões como a proibição do uso de polifenóis de alcachofra em tratamentos estéticos, foi suspensa provisoriamente porque Varella contraiu febre amarela e teve de ser internado. Deve retornar ao ‘Fantástico’ em janeiro.
Fãs na web
Varella conquistou fãs como o analista de sistemas Ivan Fontes Garcia, 32, que criou uma comunidade em homenagem ao médico no Orkut (site de relacionamentos), hoje com 230 membros -mais da metade da Eu Amo o Discovery Health, com 109.
‘Ele não veste a camisa de ‘autoridade médica’, embora seja uma’, diz Garcia, que considera o médico ‘um cara antenado’.
Para o analista, o médico-apresentador tem capacidade de ‘concatenar as idéias e olhar as mesmas coisas de uma maneira diferente’. ‘Quantas dezenas de reportagens sobre obesidade já foram publicadas? Elas são praticamente iguais a centenas de outras. O dr. Drauzio tem lançado o olhar darwinista sobre diversos temas, e eu acho isso interessante.’
A dentista Sylvia Marit Barazal, 35, identificou-se com as temáticas dos programas de Varella desde o início. O quadro sobre gravidez foi acompanhado com atenção e curiosidade. ‘Estava grávida na mesma época e adorava ver as mudanças das mulheres e compará-las às minhas’, conta Sylvia.
Para a dentista, os quadros são ‘extremamente explicativos’. ‘A maior vantagem desses programas é levar um pouco de informação para as pessoas mais carentes’, acrescenta. ‘Talvez a única desvantagem possa ser que os menos instruídos pensem que só o programa já serve para solucionar os problemas e não procurem ajuda’, completa.
Em maio deste ano, Sylvia foi ao consultório do médico para que tratasse de sua mãe, que morreu na última semana, vítima de câncer no pulmão.
‘Eu tentei que minha mãe assistisse à série [sobre o fumo] e, quem sabe, se estimulasse [a parar de fumar], mas, infelizmente, não deu muito certo.’’
CONFIANÇA NA IMPRENSA
‘Onde está a objetividade?’, copyright Folha de S. Paulo, 17/12/04
‘Uma pesquisa realizada em 62 países pela Transparência Internacional revelou que os brasileiros consideram a imprensa tapuia pouco confiável.
Na falta de números para dar respaldo a qualquer afirmação, diria que, comparativamente, nossa imprensa é bem mais límpida do que outras de nossas instituições. Mas essa é só a opinião de quem já trabalhou em três ou quatro das mais respeitadas Redações do país.
Dou uma folheada nas principais publicações brasucas e constato que, nesta semana, o cidadão médio teve boas razões para desdenhar da imprensa.
Confira comigo: a revista ‘IstoÉ’ destaca na capa o Brasileiro do Ano. E quem viria a ser esse ilustre cidadão? Ora, ninguém menos do que o ministro-chefe da Casa Civil, o senhor José Dirceu.
Sim, ele mesmo, o chefe do ex-subsecretário de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, Waldomiro Diniz. E, justamente, no ano em que o assessor foi implicado em um escândalo.
A reportagem, para lá de elogiosa, que deveria justificar a escolha, só reforça a impressão de marmelada. Se Dirceu tivesse saído fortalecido da crise desencadeada pelo surgimento das fitas em que Diniz aparece extorquindo grana de um bicheiro, a gente até poderia dizer que o ministro é um vencedor. Mas daí a virar ‘brasileiro do ano’?
Não é preciso ser nenhum ‘insider’ de Brasília para perceber que Dirceu está cada dia mais isolado e vem perdendo poder. E que a escolha de ‘IstoÉ’ não foi baseada em critérios jornalísticos.
Pulo para a revista ‘Veja’ e dou de cara com a reportagem sobre a prefeita Marta na reabertura do teatro Scala. O texto começa informando que, na ocasião, um jornalista italiano, assim mesmo, no genérico, sem nome ou órgão em que trabalha, achou nossa prefeita parecida com a ‘madrasta da Cinderela’.
Sei que muita gente aplaudiu a afirmação ao longo da semana. Para esses, vai ver que temos mesmo a imprensa que merecemos. Na verdade, a citação não passa de ofensa gratuita. Se nós, repórteres, fôssemos dar crédito a todos os insultos que ouvimos dos colegas sobre as pessoas que entrevistamos, jornais e revistas teriam de ser lidos de luvas, dentro do Butantã.
Ao dar espaço para o comentário leviano de um colega desconhecido, a reportagem da ‘Veja’ só fez igualar-se ao comportamento de Marta, que agora anda se livrando do assédio dos jornalistas na base do ‘queridinha’.
QUALQUER NOTA
Exagero
Tudo bem que foi a TIM que pagou pelo novo auditório do parque Ibirapuera. Mas será que a cidade deve ser obrigada a conviver com o símbolo da empresa, em forma de onda, colocado ostensivamente sobre a fachada principal? Ou alguém vai me dizer que aquela lingüeta esdrúxula fazia parte do projeto original do arquiteto Oscar Niemeyer?
Quem dá a bola
Que conversa é essa sobre ‘bicampeonato’? Se vencer o Vasco no próximo domingo, o Santos terá conquistado um campeonato nacional pela oitava vez. O resto é conversa mole.’