‘Uma câmera na mão, uma idéia na cabeça e um site para contar pequenas ou grandes histórias pessoais, dessas que fazem parte da vida de todo mundo, mas que parecem não caber na tela pequena da TV. Podem acreditar: videoscaseiros são a próxima aposta da internet e ninguém vai querer ficar de fora desta festa multimídia, que nada tem a ver com as videocassetadas das tardes de domingo.
Os primeiros sinais da nova onda surgiram no início do ano, mas a largada, de fato, foi dada na semana passada com o lançamento de uma TV a cabo, cujo forte da programação pretende ser a produção doméstica de conteúdos captados pela web, e com o anúncio de um novo serviço do Google, totalmente dedicado à exibição de vídeos produzidos pelos próprios usuários. Tudo indica que é apenas a ponta visível de um imenso iceberg.
A Current TV, anunciada como a televisão feita por quem assiste, pretende combinar a interatividade da internet com o fascínio provocado pelas imagens em movimento. Estréia em agosto no mercado americano, mas já pode ser conferida no endereço www.current.tv. A idéia é apresentar conteúdos na forma de filmetes de 15 segundos a 5 minutos, produzidos pelos próprios usuários. Os administradores do serviço vão pagar por esses vídeos e com eles esperam conquistar multidões de jovens-adultos, supostamente insatisfeitos com o que assistem atualmente na telinha. E bons patrocinadores, é claro.
O modelo de negócios é claramente inspirado no Ohmynews (english.ohmynews.com), um jornal coreano produzido diariamente pelos próprios leitores e que rapidamente se transformou num estrondoso sucesso pelas histórias ‘banais’ que se atreve a publicar.
À frente da nova TV está o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, também integrante do conselho de administração de várias empresas de tecnologia. Gore reuniu US$ 70 milhões para a empreitada, que inclui a criação de um portal na internet para alimentar a TV. Serão nesses sites que os usuários poderão submeter seus vídeos, conhecer ferramentas e softwares de edição de imagens e aprender técnicas de contar histórias não lineares. Os vídeos exibidos na TV ficarão disponíveis na internet para que possam ser baixados e assistidos por computadores de mãos e I-Pods, a versão moderninha dos ‘antigos’ walkmans.
Entre os parceiros de Al Gore na Current TV aparece o Google, outro que pretende investir pesado na publicação e indexação de vídeos domésticos e nos chamados videoblogs, o sucessor multimídia dos blogs. O novo serviço, que chega à internet nos próximos dias, vai permitir a qualquer usuário disponibilizar vídeos caseiros ou produzidos por cineastas amadores e cuidar para que sejam indexados e facilmente localizados por qualquer um. É bom lembrar que, além de liderar o segmento de buscas na internet, o Google tem em sua bilionária carteira de serviços o Blogger, uma das ferramentas mais utilizadas para a publicação de páginas pessoais na internet.
O interesse nesse mercado é um passo a mais na experiência iniciada em janeiro, quando os principais serviços de busca – Yahoo primeiro (video.search.yahoo.com), Google em seguida – incluíram em seus serviços a possibilidade de se pesquisar vídeos na internet. O serviço oferecido por ambos ainda é limitado e se restringe a encontrar imagens exibidas por uma dúzia de canais americanos. O usuário entra com uma palavra-chave e o sistema retorna endereços de páginas de TV em que o vídeo relacionado ao tema está disponível.
É diferente do fazem serviços como Blinkx (www.blinkx.tv) e Singingfish (search.singingfish.com), lançados há apenas algumas semanas, mas que já ostentam uma audiência considerável na internet. Ambos levam o usuário direto para as imagens procuradas (além de vídeos, o Singingfish também faz busca em arquivos de áudios e MP3 existentes na web).
Entre os canais disponíveis no Blinkx e no Singingfish, os dois ainda em fase de testes, aparecem a Fox News, CNN, HBO, Bloomberg, National Geographic, ESPN e BBC News, além de algumas das maiores agências de notícias do mundo. O sistema permite guardar o conteúdo encontrado em pastas, o que na prática funciona como um telejornal (no caso, um webjornal) montado pelo próprio usuário a partir dos temas do seu interesse.
Mesmo no segmento dos blogs, já é possível perceber a mudança, com um número cada vez maior de endereços onde se pode navegar entre imagens e som, com as mesmas características hoje presentes nas páginas pessoais em formato texto. Se alguém ainda tem dúvidas, vale a pena navegar pelo www.ipodder.org, onde tudo começou, numa época em que a banda larga era apenas um sonho distante. Uma lista de blogs disponíveis em áudio está acessível em audio.weblogs.com.
A Current TV quer combinar a interatividade da internet com o fascínio provocado pelas imagens em movimento
Também o Google investe pesado na publicação e indexação de vídeos domésticos e nos chamados videoblogs’
AMÉRICA
‘Crise derruba diretor da novela ‘América’ ‘, copyright Folha de S. Paulo, 13/04/05
‘Há apenas um mês no ar, a novela das oito da Globo, ‘América’, já passa por grave crise.
Por causa da audiência em queda e da falta de ‘compasso’ com a autora, Glória Perez, Jayme Monjardim foi afastado ontem do cargo de diretor-geral da novela.
A relação entre os dois estava tão estremecida que um não tolerava mais o outro. Perez, sentindo-se mais forte, fez a informação de que não estava se dando bem com Monjardim ‘vazar’ na imprensa, escancarando a crise. Ontem, Monjardim pediu afastamento, e a Globo aceitou.
A pessoas próximas, Perez vinha reclamando da direção de Monjardim. Dizia que havia um ‘descompasso’ entre o que ela escrevia e o que ele colocava no ar.
Em agosto do ano passado, Perez e Monjardim passaram por uma crise de relacionamento. O motivo foi a escolha da protagonista. Monjardim queria Camila Morgado como Sol. Glória bateu o pé e venceu: emplacou a ofegante Deborah Secco.
Executivos da Globo avaliam que a novela não vai bem. Pesquisas de avaliação da trama com grupos de telespectadores começam na semana que vem.
Até a semana passada, ‘América’ marcava 46 pontos de média no Ibope, apenas um a menos do que ‘Senhora do Destino’ no mesmo período. Mas a novela vem caindo desde o início do mês. Anteontem, marcou 43 pontos (contra 49 na segunda anterior).
Perez não quis comentar. Oficialmente, a Globo disse apenas que está satisfeita com a novela.
OUTRO CANAL
Tribunal 1 Autor de ‘Como Uma Onda’, Walther Negrão ameaça ir à Justiça caso a Record produza ‘Antônio Maria’ e ‘Nino, o Italianinho’ (Tupi, anos 60). A Record negocia os textos com Gugu Liberato, que os adquiriu de herdeiros de Geraldo Vietri.
Tribunal 2 Negrão é co-autor das novelas e afirma que elas não podem ser reproduzidas sem seu consentimento. Ele tem contrato com a Globo até 2011 e não quer ver seu nome na Record.
Balança Ficou para maio a estréia do ‘reality show’ ‘O Maior Perdedor’, que estava marcada para o dia 24. O SBT diz que já vendeu duas cotas de patrocínio, uma para a Runner (que também cederá equipamentos e treinadores) e outra para a Neosaldina.
Ninho O jornalista Alexandre Machado está assumindo o cargo de editor de política da TV Cultura, criado para ele.
É sério? A lista dos finalistas do Prêmio Multishow circulava na internet, via fãs-clubes, 12 horas antes de seu anúncio oficial.
Apelou A Globo colocou em ‘América’ legendas para diálogo do americano Lucas Babin, o Nick, que não sabe falar português. O redator, pelo visto, também não sabe. Escreveu um ‘quizesse’.
Hollywood O ‘Show do Tom’ deixará de ser exibido às quintas, dia em que perde para filmes do SBT. Será substituído por filmes.’
Taíssa Stivanin
‘‘América’ é sonho de quem tem o pé no chão ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 13/04/05
‘Brasileiro tem mania de achar que para o brasileiro tudo no exterior é melhor. Ganha-se mais, trabalha-se menos e qualidade de vida não é apenas uma expressão conhecida de revistas zen ou dos manuais de recursos humanos.
De acordo com nós mesmos, e porque todo mundo diz, somos um povo de pouco orgulho próprio. Sol, a personagem de Deborah Secco, ancora esse espírito de auto-estima zero que não passa de puro achismo. Ela sonha mudar de vida. Ganhar em dólar. Vai viajar sem visto para trabalhar no exterior. Tudo vale a pena para não continuar sua jornada que leva nada a lugar nenhum. A idéia, ao que parece, é retratar a personagem como uma iludida, que encontrará seus percalços no exterior.
Vamos agora aos fatos, que passam longe da ficção da novela. Brasileiro não é iludido. É sofrido, tarimbado. Quando toma a decisão de ir para o exterior, sabe o risco que está correndo, sabe que vai ter de viver muito mal para juntar seus dólares. Brasileiro não quer ficar no exterior. Quer voltar para cá, mas com dinheiro no bolso. ‘Em média, eles mandam no mínimo US$ 500 por semana para o Brasil. A meta é mil dólares’, diz a advogada Ana Paula Dias Marques, especialista em imigração. Brasileiro não é coitadinho. Brasileiro sabe usar seus ardis para conseguir o que quer. ‘Antes do dia 11 de setembro, para não serem flagrados com o visto expirado, eles jogavam o passaporte fora e pediam um novo ao consulado’, conta Ana Paula. Como após o 11/9 os turistas são identificados eletronicamente no aeroporto, não é mais possível recorrer a esse truque. Mas muita gente já ficou por lá assim. Com tanto conterrâneo do lado de lá, os brasileiros estão se organizando, legais e ilegais, domésticas e executivos. Até já têm um Centro do Imigrante ao qual podem recorrer para obter informações sobre seus direitos (www.brazilian.center.org). Brasileiro sabe se organizar. Por fim, os americanos adoram os brasileiros. Porque formam um povo que trabalha duro e chega no horário. E estamos dando duro para trazer o dinheiro de volta. Assista América de nariz empinado. O Brasil também já colocou os americanos em filas de aeroporto para eles poderem entrar no País.’