Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Saúde de Ronaldo ainda gera polêmica

Leia abaixo os textos de sexta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Globo


Sexta-feira, 16 de junho de 2006


COPA 2006
Mateus Silva Alves


Kaká tem vaga na seleção arco-íris


‘Kaká é o que se pode chamar de moço sério. Evangélico, educado em boas escolas, ele não costuma falar palavrões e nunca tem seu nome envolvido em escândalos. Por isso, ficou constrangido ao saber que fora eleito por uma revista holandesa um dos jogadores mais bonitos da Copa da Alemanha. E mais envergonhado ainda quando soube que a revista é dirigida para o público homossexual.


A revista ‘Gay Krant’ fez a seleção dos 11 mais bonitos da Copa e Kaká ganhou uma vaga entre os titulares. Sua reação ao saber da notícia deixou claro que, nessa equipe, ele preferia ficar fora até mesmo do banco de reservas.


— Aí não vale a pena, né? Não é a minha praia — comentou Kaká, com um riso encabulado.


O mais votado na eleição da revista foi o português Cristiano Ronaldo. Ser considerado um homem bonito é algo que deixa Kaká muito sem jeito. Ele gosta disso, mas detesta quando alguém pergunta sobre o assunto:


— Fico feliz quando me dizem que sou bonito. É bom, claro, mas prefiro ser escolhido como um dos melhores em campo.


No jogo de domingo, contra a Austrália, Kaká tentará ser escolhido o melhor em campo pela segunda vez no Mundial da Alemanha. Ele está em excelente forma física e, com a atenção da mídia voltada para os dois Ronaldos, sente-se mais à vontade para brlhar. Mas o meia está convencido de que não será nada fácil bater a Austrália, como não foi fácil vencer o time da Croácia.


— O time australiano tem um técnico muito experiente (o holandês Guus Hiddink) e tem também alguns grandes nomes — alerta o jogador do Milan. — Mas o Brasil também tem ótimos jogadores para sair da marcação que certamente será feita pela Austrália.


O Brasil é o time mais talentoso da Copa, está cheio de craques e é aclamado no mundo inteiro, mas nem por isso jogou bem contra a Croácia. Kaká admite que a apresentação do time na estréia foi decepcionante e sabe que, em um Mundial, é preciso muito mais do que apenas qualidade técnica em campo.


— Numa Copa do Mundo, é preciso ter algumas coisas que vão além do talento, como força, motivação, perseverança e vários outros ingredientes — ensina o craque brasileiro.


* Do Diário de S.Paulo’


 


BYE BYE
O Globo


Gates anuncia que sairá do dia-a-dia da Microsoft


‘SEATTLE. Bill Gates, o fundador da Microsoft e o homem mais rico do mundo segundo a revista ‘Forbes’, informou ontem que, ao longo dos próximos dois anos, diminuirá seu papel no dia-a-dia da companhia. Até julho de 2008, o executivo estará trabalhando na Fundação Bill e Melinda Gates, que ele fundou com seus bilhões para promover projetos de saúde e educação ao redor do mundo. Ele continuará como presidente e conselheiro da Microsoft para projetos-chave de desenvolvimento.


— Eu acredito que, com uma grande fortuna, vem uma grande responsabilidade, a responsabilidade de devolver à sociedade e assegurar que esses recursos sejam devolvidos da melhor forma possível para aqueles que precisam — afirmou ele, em entrevista à imprensa.


Sua decisão de deixar imediatamente o posto de arquiteto-chefe de software e renunciar aos papéis de gerência em julho de 2008 ocorre em um momento em que a Microsoft tenta encontrar novas fontes de crescimento. Gates, de 50 anos, passou o bastão técnico para Ray Ozzie, criador do programa de e-mail Lotus Notes. Ozzie, que juntou-se à Microsoft no ano passado, está no centro do esforço da companhia para transformar software em um serviço e manter seu domínio do mercado.


— Obviamente, essa decisão foi muito difícil de ser tomada — disse Gates. — A mudança que estamos vendo hoje não é uma aposentadoria, é uma reorganização de minhas prioridades — acrescentou.


Poucos acreditam que a notícia afetará as operações da Microsoft. Gates começou a ter menos papel na companhia quando passou o controle de presidente-executivo para Steve Ballmer, em janeiro de 2000.


— Bill Gates deve deixar a responsabilidade do dia-a-dia, mas ele nunca deixará a Microsoft — disse Anthony Sabino, professor da área de negócios da Universidade St. John.


Na mesma entrevista a jornalistas, Steve Ballmer disse que a Microsoft almeja ter 1 bilhão de novos clientes na próxima década.


— Nós vamos continuar sua visão de pensar grande e vamos fazer ainda mais — afirmou ele sobre Gates.


Craig Mundie, outro vice-presidente técnico, assumirá o novo título de vice-presidente de pesquisa e estratégia.’


 


FUSÕES E AQUISIÇÕES
O Globo


Telecom Italia estuda compra de AOL européia


‘MILÃO. A Telecom Italia está avaliando a compra das unidades de internet da AOL na França e na Alemanha, afirmou ontem uma fonte próxima à empresa. Segundo essa fonte, a maior companhia de telecomunicações italiana está estudando pagar de 600 milhões a 700 milhões (em torno de US$ 880 milhões) pelos ativos da AOL naqueles dois países.


— Os dossiês dos bancos de investimentos sobre a venda dos ativos europeus da AOL também chegaram à Telecom Italia — disse a fonte.


O presidente-executivo da Telecom Italia, Riccardo Ruggiero, disse várias vezes que o grupo está interessado em adquirir operadoras de banda larga na França e na Alemanha.


A AOL, unidade do conglomerado de mídia Time Warner, afirmou quarta-feira que estava estudando opções para suas operações européias, incluindo sua venda parcial ou total. A AOL tem 18,6 milhões de assinantes nos Estados Unidos e 5,9 milhões na Europa.


O jornal francês ‘Les Echos’ afirmou quarta-feira que Deutsche Telekom e Iliad também estavam interessadas na AOL França. As britânicas BSkyB e BT Group são as favoritas para comprar a unidade de internet da AOL na Grã-Bretanha.’


 


TV DIGITAL
Janaína Figueiredo


TV digital: Brasil quer criação de ‘padrão Mercosul’


‘BUENOS AIRES. O governo brasileiro iniciou uma campanha a favor da criação de um ‘padrão Mercosul’ de TV digital, em meio à expectativa em relação à escolha por parte do Brasil entre os padrões europeu, americano e japonês. A encarregada de tentar aproximar posições entre os países do bloco foi a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que ontem se reuniu com o ministro do Planejamento argentino, Julio De Vido, em Buenos Aires, e logo depois partiu para um encontro com autoridades uruguaias, em Montevidéu. Paralelamente, o governo brasileiro enviou uma missão ao Paraguai.


— Ter um padrão do Mercosul é o objetivo do Brasil, ter um modelo único no Mercosul — assegurou a ministra brasileira, após a conversa com De Vido, o ministro mais poderoso do gabinete do presidente Néstor Kirchner.


Dilma disse que representantes do governo brasileiro conversarão com todos os países da América Latina sobre o processo de transição do sistema analógico para o digital. A ministra reiterou que a decisão sobre o padrão que será adotado pelo Brasil ainda não foi tomada pelo presidente Lula e evitou falar em prazos. Dilma reafirmou também que o governo pretende ‘adotar um sistema brasileiro de TV digital, reconhecendo a capacidade que os outros três sistemas tiveram’. A idéia é incluir adaptações tecnológicas desenvolvidas no Brasil. Perguntada sobre os rumores que indicam que o governo Lula optará pelo padrão japonês, a ministra foi cautelosa, mas admitiu que ‘no sistema japonês talvez tenhamos mais oportunidades’.


— Conversamos com todos os padrões, com o americano, o europeu, e tivemos um conjunto de ações de aprofundamento com o padrão japonês. Vamos receber uma missão técnica japonesa na próxima semana — declarou ela.


Dilma: padrão brasileiro foi apresentado à Argentina


No próximo dia 29 chegarão ao Brasil os ministros japoneses da Economia, Negócios e Indústria, Toshihiro Nikai, e do Interior e Comunicação, Heizo Takenaka. Segundo Dilma, o governo Lula busca ‘conseguir aquele (padrão) que mais atenda nossos interesses. São três critérios: inclusão, ou seja, que todos tenham o sinal; tecnologia, que nós tenhamos a maior capacidade de incorporação de tecnologia, e industrial, que o Brasil recupere sua capacidade de produção industrial, gerando mais emprego e renda’.


— Como no Brasil 90% da população recebem sinal aberto e deste total cerca de 48% recebem TV com antena interna, nossa preocupação é com a recepção. No caso da imagem digital, ou você recebe (a imagem) ou não recebe, não tem o intermediário do chuvisco ou do fantasma — argumentou.


A parceria com os demais países do Mercosul foi considerada fundamental por Dilma. No entanto, a ministra fez questão de deixar claro que a cooperação entre os países do bloco em matéria de comunicações não estará condicionada à adoção do mesmo padrão de TV digital:


— A cooperação será menor, mas não podemos usar isso como cavalo de batalha.


Dilma disse que o Brasil está buscando estruturar o padrão brasileiro e oferecer à Argentina o conhecimento dele.


— Não temos a pretensão de impor o modelo brasileiro. Podemos construir um padrão do Mercosul.’


 


AMBULÂNCIAS?
Ancelmo Gois


Não confundir


‘A ordem na rádio e na TV Senado é chamar a CPI, mais conhecida como das Sanguessugas, de CPI das Ambulâncias.


A intenção é evitar uma confusão entre o nome da comissão com o do senador Ney Suassuna (PMDB), citado nas investigações.’


 


CELEBRIDADES
O Globo


Tom Cruise lidera lista de famosos da revista ‘Forbes’


‘NOVA YORK. Tom Cruise cumpriu realmente uma missão impossível. Além do casamento e de uma filha, ele foi eleito a celebridade mais poderosa do mundo pela revista ‘Forbes’, depois de ter ficado na 10 posição em 2005. Com rendimentos anuais de US$ 67 milhões, ele conquistou o topo do ranking por ‘Guerra dos Mundos’ e ‘Missão impossível III’, além da declaração de amor pública a Katie Holmes — no talk-show de Oprah Winfrey — e de suas críticas à indústria farmacêutica.


Aliás, foi da apresentadora que ele tirou o posto. Oprah caiu da 1 para a 3 posição este ano, apesar de seus rendimentos serem superiores aos de Cruise (US$ 225 milhões).


Os brasileiros estão bem representados, com Ronaldinho Gaúcho (53) e as modelos Gisele Bündchen (71, avançando seis posições) e Adriana Lima (no 99 lugar, estreando na lista). A ‘Forbes’ é só elogios para o jogador, que tenta na Alemanha o sexto título mundial do Brasil. ‘Ele é a estrela de um anúncio da Nike que mostra o gênio do futebol lidando com a bola como se tivesse nascido com ela’, diz o site da revista. Apesar de a Nike, depois de muita insistência dos fãs, ter admitido que houve manipulação digital, o anúncio teve 12 milhões de acessos na internet. Além da Nike, Ronaldinho — que também estreou na lista este ano — tem contratos com PepsiCo e Lenovo. Seu faturamento anual é estimado pela ‘Forbes’ em US$ 26 milhões.


Show no Rio levou Rolling Stones ao 2 lugar


Já Gisele, famosa nos EUA como modelo da marca de lingerie Victoria’s Secret, é chamada de máquina por ter 20 contratos com marcas famosas, como Vogue Eyewear e Dolce & Gabbana. Adriana também trabalha para a Victoria’s Secret e — quesito importante para constar na lista — estaria saindo com o príncipe Wence de Lichtenstein.


O segundo lugar ficou com os veteranos do rock Rolling Stones, que em 2005 nem estavam na lista de cem celebridades. O show que eles fizeram em Copacabana em fevereiro deste ano, para 1,5 milhão de pessoas, é citado pela ‘Forbes’ como uma das razões para a conquista do segundo lugar. Em maio, eles fizeram seu primeiro show na China, apesar da censura a duas de suas músicas. A revista calculou o faturamento anual da banda em US$ 90 milhões.


A lista dos dez mais ainda tem Dan Brown (em 10 lugar), autor de ‘O código Da Vinci’, o grupo de rock U2 (4), o jogador de golfe Tiger Woods (5), o cineasta Steven Spielberg (6), o radialista Howard Stern (7), o rapper 50 Cent (8) e o elenco da série de TV ‘Os Sopranos’ (9). O ranking não se baseia em faturamento: considera, principalmente, exposição na mídia atual e potencial.’


 


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 16 de junho de 2006


COPA 2006
Antero Greco, Eduardo Maluf, Jamil Chade


Ronaldo: Fifa bloqueia informação


‘O médico alemão Ingo Tusk que atendeu Ronaldo em um hospital de Frankfurt na quarta-feira não confirma se o atacante entrará em campo no domingo em condições ideais para o jogo contra a Austrália. Os médicos alemães suspeitaram que o atacante tivesse sofrido uma gastrite, possibilidade que foi afastada depois dos exames. Houve ainda testes para saber se Ronaldo sofria de sinusite e até se o problema era emocional.


Tusk, ao ser questionado pelo Estado se Ronaldo teria condições de jogo, riu e apenas disse: ‘Isso só a comissão técnica brasileira poderá dizer’.


A Fifa tentou proibir durante todo o dia de ontem que o hospital desse qualquer detalhe sobre Ronaldo à imprensa e até mesmo confirmar se o atleta foi de fato atendido no Hospital Zum Heiligen Geist. Tanto a Fifa como a CBF deixaram claras as contradições nas informações. A comissão técnica da seleção chegou a dizer que nenhum médico alemão atendeu Ronaldo, enquanto o doutor Tusk deixou claro que ficou com o atacante durante todo o tempo de sua visita ao hospital.


Questionada no final da manhã sobre o nome da clínica, a assessoria de imprensa da CBF disse que essa informação apenas o médico da seleção, José Luiz Runco, poderia dar. Américo Faria, chefe da comissão técnica, também disse que não era de sua responsabilidade saber para onde Ronaldo foi levado: ‘Cada um tem a sua função’.


Um pouco mais tarde, durante o treino, Runco disse não se lembrar do nome do local para onde o atacante foi levado após se sentir tonto: ‘Lembro que era hospital’. Questionado se não se lembrava nem do endereço, respondeu que não: ‘Segui o fluxo’. No Hospital , a única informação era de que o médico que atendeu Ronaldo foi o doutor Tusk e enfermeiras confirmaram que o atacante passou pelo local na quarta-feira para exames. Segundo o hospital, a Fifa tem apenas dois médicos em Frankfurt e Tusk seria um deles. Mas a Fifa diz desconhecer o nome de quem atendeu Ronaldo e preferiu não comentar a informação de que teria proibido os funcionários do hospital de dar declarações sobre a passagem do atacante.


Enquanto a CBF e a Fifa batiam cabeça, Ronaldo queria mostrar que estava sendo transparente sobre seu estado de saúde. ‘Fizemos um comunicado de imprensa para evitar especulações’, disse. Com isso, a comissão técnica quis evitar situação constrangedora como a da Copa de 98, quando o atacante teve uma convulsão antes da final. Naquela ocasião, passaram-se horas antes de se conhecer as informações sobre o problema.’


 


Keila Jimenez


Copa? Só nos EUA


‘A Globo bradou aos quatro cantos que seu canal internacional iria transmitir os jogos da Copa do Mundo. Presente para os brasileiros que moram no exterior e sentem falta de um boa narração em português. Bom, seria um presente se essa transmissão não fosse só para a Globo Internacional nos Estados Unidos. Um detalhe que a emissora ‘esqueceu’ de contar.


O canal exibirá 56 dos 64 jogos do mundial. As oito partidas restantes serão exibidas em compactos de 20 minutos com os melhores momentos. No tempo restante dos jogos, a Globo Internacional exibirá a mesma programação que estará no ar aos assinantes do canal na América Latina e no México. Nos demais países que assinam o canal, nem sinal de copa.Vale lembrar que a Globo Internacional fez o maior alarde das transmissões do mundial para seus assinantes quando soube que a RBTI, canal em português lançados nos EUA, também dizia deter os direitos do mundial.


A Globo Internacional está atualmente no ar em mais de 40 países, entre eles, Japão, Austrália, África do Sul, México, Espanha, Portugal, Guatemala, Austrália, Colômbia, Argentina e Peru.’


 


CORRIDA PRESIDENCIAL
João Mellão Neto


Eu não voto em Lula


‘Em 1982, eu me lembro bem, o recém-fundado Partido dos Trabalhadores lançou Lula – já então bem conhecido pela população de São Paulo por causa das greves no ABC – candidato a governador. Algum intelectual metido a marqueteiro criou o mote da campanha: ‘Lula, um brasileiro igualzinho a você!’ O PT aplaudiu. Todos acharam o apelo irresistível. Para reforçar o tema o candidato só aparecia na TV, mesmo nos debates, de calça jeans e camiseta. As fotos de campanha se valiam da mesma indumentária. E Lula só falava em público utilizando gírias próprias dos trabalhadores humildes.


Ao contrário do que se previa, a campanha foi um estrondoso fracasso. O candidato obteve menos de 6% dos votos. Perdeu feio, principalmente no ABC, seu reduto eleitoral. Uma pesquisa qualitativa foi feita para descobrir as causas da derrota. O povo humilde, em especial as donas de casa, se encarregou de explicar: ‘A gente quer um governador que seja mais bem preparado do que nós. Se ele é igualzinho à gente, o lugar dele é aqui mesmo, dando duro que nem nós…’ Desde então eu admiti, humildemente, que não entendia nada da alma do povo, principalmente das camadas menos favorecidas.


Eles são tão inteligentes como nós, só que a realidades em que vivem é diferente e, portanto, os seus valores são também diferentes. Eu, como jornalista e político, sei me comunicar exclusivamente com as classes média e alta, cujos valores compartilho. Quando me aventurei a ser candidato a prefeito de São Paulo, em 1988, gastei a maior parte do meu tempo discursando na periferia. Fui muito bem tratado – afinal, o nosso povo é sobretudo cordial -, mas não obtive nenhum voto por ali. Todo o meu eleitorado se concentrou nos bairros de classe média. O que quer, realmente, o povo de baixa renda?


Em 2003 recebi outro recado significativo de que o povo humilde tem conceitos muito diferentes dos meus. Como secretário da Comunicação do governo Alckmin, coube-me realizar uma série de pesquisas para procurar saber quais os programas sociais do governo do Estado eram mais bem recebidos pela população. Uma das perguntas era a respeito dos programas de renda para os desempregados. Não me lembro exatamente dos valores, mas o programa da Prefeitura, então dirigida pela dona Marta, pagava a cada cidadão uma renda duas vezes superior a idêntico programa do governo do Estado. Perguntamos aos cidadãos qual dos dois era mais bem aceito. Acreditávamos que a resposta era óbvia: o de maior valor seria o escolhido. Qual o quê! O preferido foi o de valor menor. Explicação do povo: ‘Ora, eu trabalho duro para ganhar R$ 250 de salário. Por que é que uns vagabundos, que não ralam como eu, hão de ganhar R$ 130 na moleza? R$ 70 está muito bom para eles…’


Tenho a humildade de reconhecer: como jornalista e homem público, meus valores são típicos da classe média. É ela que me lê aqui, no Estadão, é com os valores dela que me identifico e são as suas convicções que eu defendo. Como político, em campanha só sou convidado a dar palestras em associações, escolas e clubes de serviço cujos membros são da classe média. Não me arrisco a falar ao povão. Eu não o compreendo e ele, com certeza também não se sensibiliza com as minhas pregações.


Digo tudo isso para tentar responder a uma pergunta que recebo constantemente, via e-mail, dos meus leitores. É a seguinte: ‘Já conversei com todos os meus amigos e não encontrei ninguém que vá votar no Lula. Como é possível que ele seja disparadamente o favorito nas pesquisas?’ A resposta que dou, invariavelmente, é a mesma: ‘Os eleitores de Lula estão concentrados nas camadas mais humildes da população e no Nordeste. Trata-se de pessoas que não costumam ler jornais e tampouco se interessam pelos programas noticiosos na TV.’


Essa gente pouco ou nada sabe sobre todos os escândalos que marcaram a gestão do atual presidente e, quando sabe, não chega a compreender exatamente a magnitude e a gravidade dos inúmeros crimes cometidos. Não porque o povão seja destituído de valores morais. Ao contrário. Ele cultua uma moralidade por vezes mas rígida que a nossa. O problema é que eles não estão lá muito preocupados com a integridade da democracia e com o caráter sagrado que nós atribuímos às suas instituições. Lula, via Bolsa-Família, eleva o poder aquisitivo de cerca de 30 milhões de cidadãos, em todo o Brasil. A cesta básica de alimentos, por sua vez, está mais barata para os consumidores. E é isso que lhes importa. Roubalheira por roubalheira, isso existe em todos os governos. Se é maior ou menor, isso em nada muda o dia-a-dia das pessoas humildes. E, portanto, não tem a menor relevância.


Isso quer dizer que nós, eleitores mais esclarecidos, nos devemos render ao favoritismo de Lula e considerar a hipótese de sufragá-lo? De forma nenhuma. Eleição e turfe são coisas muito distintas. Na primeira votamos em quem acreditamos, no segundo é que a gente procura apostar em quem parece que vai ganhar. Tenho o máximo respeito pelos valores e convicções do povo humilde, mas me assumo como classe média e não abro mão da moralidade e do senso de valores típicos da minha condição.


Não se trata de optar pela esquerda ou pela direita. O que está em jogo é algo que transcende em muito o espectro ideológico. O PT, no poder, demonstrou ser tudo aquilo que abominamos. É um partido cujos membros escarneceram da democracia, menoscabaram a ética e fizeram do Parlamento um fétido lupanar.


É por isso que eu jamais votarei em Lula. Entendo que os brasileiros merecem um País mais digno que esse. Ainda acredito que um Brasil melhor é possível. E não abro mão do meu direito de votar pela decência. A pior das renúncias, sem dúvida, ainda é a renúncia à esperança.


João Mellão Neto, jornalista, foi deputado federal, secretário e ministro de Estado


E-mail: j.mellao@uol.com.br


Site: www.mellao.com.br’


 


Eugênia Lopes


Tempo na TV pode ser reduzido


‘Uma coisa é certa: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva perderá minutos preciosos de propaganda eleitoral gratuita na TV e no rádio caso o PC do B e o PSB decidam não firmar coligação com o PT nas eleições. A estimativa é de que Lula teria cerca de 8 minutos com o apoio formal dos comunistas e dos socialistas. Sem os dois partidos, a campanha do presidente ficará com pouco mais de 5 minutos.


Já o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, terá cerca de 9 minutos de propaganda eleitoral gratuita. Os tucanos se coligaram formalmente com o PFL.


Com quase 4 minutos de tempo de propaganda eleitoral gratuita, o PMDB foi assediado tanto pelos petistas quanto pelos tucanos. Mas decidiu não se coligar formalmente com nenhum partido nem lançar candidato próprio à Presidência da República.


O tempo do PMDB será rateado entre todos os candidatos. A campanha de rádio e de televisão começa no dia 15 de agosto e fica no ar durante os 45 dias que antecedem as eleições.


A propaganda dos candidatos à Presidência da República irá ao ar às terças, quintas-feiras e sábados, em dois blocos diários: no rádio, às 7h e às 12h, e na televisão, às 13h e às 20h30.’


 


Rosa Costa


Na TV, PFL liga presidente ao esquema de corrupção


‘Exibido ontem à noite em rede nacional, o programa partidário do PFL acompanhou o tom dos discursos da convenção do Distrito Federal: vinculou o presidente Lula aos escândalos de seu governo e o acusou de ser ‘comandante do maior esquema de corrupção já desmascarado em nosso País’.


Em 11 minutos, o partido tenta mostrar que os esquemas do valerioduto e do mensalão ‘aconteceram debaixo dos olhos do presidente’. Como recurso para reforçar a tese, exibe em uma animação do interior do Palácio do Planalto a proximidade do gabinete de Lula com os principais nomes da ‘quadrilha’ denunciada pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza. ‘Então, Lula é incapaz de controlar até mesmo seu ambiente de trabalho?’, questiona um ator. São mostrados também os afagos do presidente em três dos principais integrantes do esquema: o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu; o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Lula aparece elogiando cada um deles, após terem deixado os cargos no governo e no partido por não conseguirem se defender de denúncias.


Sobre o ex-chefe da Casa Civil, o programa repete uma afirmação de Lula considerada comprometedora: ‘Feliz do país que tem um político da magnitude de José Dirceu.’ Da mesma forma, Lula aparece em outra cena, igualmente enfático, chamando o ex-tesoureiro acusado de ter montado a compra de apoio de deputados de ‘nosso Delúbio’. Por fim, Lula é mostrado quando afirma ter com Palocci ‘uma relação de companheiro, possivelmente mais do que a relação de irmão’.


A locução do programa partidário dos pefelistas não deixa por menos: ‘O presidente diz que não via nada, mas a seu lado os amigos construíram uma organização criminosa sem precedente no nosso País’.


Posando diante de manchetes da imprensa sobre os crimes atribuídos a petistas, o apresentador avisa no início do programa que o assunto a seguir ‘é de interesse de todos os brasileiros’. Faz em seguida um apanhado das denúncias iniciadas com o flagrante do ex-servidor dos Correios Maurício Marinho recebendo propina – a cena cujos desdobramentos deram origem ao escândalo do mensalão. A próxima tomada é do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), contando parte do que sabia sobre o esquema patrocinado por petistas com peso no governo.


Políticos e candidatos pefelistas ficaram de fora do programa partidário. No seu lugar, além de Lula e das acusações contra seus ex e atuais auxiliares, são exibidas a entrevista do procurador-geral denunciando a ‘quadrilha’, imagens da notícia-crime protocolada no Supremo Tribunal Federal contra o presidente pela Ordem dos Advogados do Brasil e cenas do quebra-quebra promovido pelo MLST na Câmara dos Deputado – movimento liderado por Bruno Maranhão, petista que integrava a Executiva Nacional do partido. ‘Não dá mais para deixar o País nas mãos dele’, é o apelo do PFL, referindo-se ao presidente Lula.


Nas cenas finais, o partido insiste na ligação do presidente com integrantes da ‘quadrilha’. Eles são chamados um a um e aparecem como bonequinhos de papel, de mãos dadas, com o presidente Lula liderando o pelotão.’


 


BLOOMSDAY
Karla Dunder


Um dia para celebrar Leopold Bloom


‘Já é tradicional em todo o mundo: no dia 16 de junho, fãs do escritor James Joyce reúnem-se para celebrar a data em que o personagem Leopold Bloom fez sua caminhada de 18 horas por Dublin, na Irlanda. A história entrou para as páginas de Ulisses, uma obra inspirada e livremente adaptada da Odisséia, de Homero. Na época em que foi escrita, Joyce morava humildemente em Paris, em 1094. A obra só foi publicada em 1922 e influenciaria a literatura mundial através de uma linguagem inovadora, repleta de experiências lingüísticas e sonoras.


Hoje, no Bloomsday, repetindo o sucesso da Virada Cultural, os atores da Cia. Nova de Teatro farão uma performance na Casa das Rosas. ‘O local, o Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura dentro da Casa das Rosas, foi escolhido como uma forma de homenagear o poeta Haroldo de Campos. Posso dizer que foi ele o responsável por introduzir a obra de Joyce no Brasil e tomou a iniciativa de celebrar o primeiro Bloomsday’, diz um dos organizadores do evento, Marcelo Tápias. Sérgio Portella interpretará Leopold Bloom hoje.


Assim como na Virada, o ator fará uma pequena apresentação na Casa das Rosas, às 17 horas, e depois seguirá a pé até o Finnegan’s Pub, em Pinheiros, quando encontrará com a mulher do personagem, Molly. No trajeto fará a leitura dramática de pequenos trechos do capítulo 6 de Ulisses, episódio que Bloom acompanha o enterro de um amigo. Os leitores de Joyce são convidados a participar da caminhada. O pub é o ponto de encontro dos fãs do livro desde 1988. Como manda a tradição, quem aparecer por lá, receberá um livreto grátis, neste ano será o Visita ao Ades, editado pela Olavobrás, em virtude do tema escolhido. Também terá a oportunidade de ouvir trechos do livro, primeiro em inglês, e em outras línguas, como hebraico, russo e japonês.


Um novidade desta edição: a audição da única composição musical de James Joyce. ‘Creio que é a primeira vez que alguém apresenta essa música. O próprio autor musicou um de seus poemas’, diz o organizador. Em seguida, o grupo de Tápias fará uma apresentação de músicas tradicionais irlandesas. Os atores da Cia. Nova de Teatro farão uma montagem com os fragmentos do capítulo 6, com tradução inédita de Caetano Waldrigues Galino.


A professora da USP, Lenita Maria Rimoli Esteves, fará um breve comentário sobre o clássico Finnegans Wake, mais especificamente sobre a dificuldade de traduzir uma obra tão complexa. Haroldo de Campos participa de forma virtual, fará a leitura de um trecho do livro via DVD, gravado especialmente para o Bloomsday. Para completar, uma evocação do fragmento do episódio das sereias de Homero, uma tradução feita por Campos, lida por Ivan de Campos, acompanhada pela cantora Madalena Bernardes e do músico Cid Campos. ‘A finalização será feita com cítara e uma leitura, em inglês, de John Milton.’


Tápias destaca que o Bloomsday além de valorizar a obra de Joyce, ‘muitas pessoas conhecem o texto a partir do evento’, também é uma oportunidade de divulgar a cultura irlandesa. No Brasil, o Bloomsday é lembrado em outras cidades, como Belo Horizonte, Rio, Florianópolis, Natal.


(SERVIÇO)Serviço 19.º Bloomsday. Finnegan’s Pub. Rua Cristiano Viana, 358, 3062-3232. Hoje, 19h30. Grátis’


 


CARTUM
Ubiratan Brasil


Os novos caminhos de Maitena


‘Um olhar mais apressado não percebe nenhuma diferença radical – a cartunista argentina Maitena continua com um sorriso rasgado, abusado, os cabelos mantêm a coloração dourada e, principalmente, seus quadrinhos ainda refletem as preocupações da mulher moderna (celulite, idade, moda, filhos e crises amorosas, não necessariamente nesta ordem). Aos poucos, porém, surgem algumas novidades em seus trabalhos mais recentes. Os temas tornaram-se mais complexos e abrangentes, os quadrinhos trazem agora uma precisão no traço que ressalta sua ironia, e o texto, embora com o habitual olhar agudo e cruel, não esconde uma ponta de melancolia. É o que vai perceber o leitor que abrir Curvas Perigosas, cujos dois volumes chegam às livrarias e por uma nova editora – da Rocco, Maitena rumou para a Planeta do Brasil (72 págs., R$ 35 cada um).


‘Acho que estou mais madura’, comenta Maitena, trocando rapidamente o tom sério por uma sonora gargalhada. Aos 44 anos, ela traduz amadurecimento como mudança de alguns hábitos, não de estado de espírito. Sim, a argentina que já vendeu milhares de exemplares de séries como Mulheres Alteradas e Superadas em diversos países, justamente por tratar das agruras do cotidiano feminino, agora se debruça sobre os costumes sociais, os comportamentos contemporâneos, as modas, o consumo. ‘Creio que é uma evolução natural, depois de tanto tempo dedicado a esse trabalho’, comenta a cartunista, que sente ter encerrado um ciclo em sua vida: Curvas Perigosas representa uma guinada na carreira de Maitena, que vai se concretizar em 2008, quando pretende terminar um manual, marco inicial de sua nova fase.


Antes, porém, o leitor merece conhecer um pouco de Curvas Perigosas — se antes falava do cotidiano feminino, agora Maitena mostra o mundo pela ótica das mulheres. Ou seja, às neuroses com parceiros, filhos e corpo somam-se agora condutas sociais, comportamentos contemporâneos, moda e consumo.


Acalme-se, não se trata de leitura exclusiva de moças e senhoras. Mesmo ao mais machão dos leitores não faltará graça em descobrir a ‘insuportável lesbiandade da criatura mulher’ (afinal, por que as mulheres, exatamente no segundo em que chegam a uma festa, observam primeiro como as outras estão vestidas e não para os homens?), tema do primeiro volume. Ou ainda as ‘coincidências perigosas’ (mãe e filha operadas pelo mesmo cirurgião), uma das características do segundo. Sim, as tais curvas perigosas são apenas as incômodas que aparecem ao longo da cintura, mas principalmente aquelas percorridas pela intrincada mente humana, que Maitena quase consegue transformar em retas.


‘Quase’ porque não é seu interesse em resolver problemas, mas indicar caminhos. ‘Em meu trabalho, gosto de contar a verdade de como um fato não se sucedeu, ou seja, não me preocupo exatamente com os fatos, mas com suas implicações.’ Parece simples, mas não é – Maitena chega a exercitar 40 traços do mesmo desenho até chegar ao que considera ideal.


Nascida em uma família de classe média de Buenos Aires, ela foi incentivada a desenhar pela mãe, uma arquiteta. O pai, engenheiro, católico e de direita, foi ministro no último governo da ditadura militar, o do general Roberto Viola, que incorporou nove civis. A vida amorosa foi plena de rápidas experiências – mãe solteira aos 17 anos, casou-se logo em seguida, ‘porque ele entendia as minhas piadas’. Aos 19, já era mãe de dois filhos e, aos 24, estava separada. Como precisava trabalhar, aceitou fazer anúncios para um suplemento do jornal Âmbito Financeiro. Um dia, um anúncio foi cancelado e, para cobrir o vazio, pediram-lhe para fazer um desenho. Foi o início de um sucesso que ultrapassou fronteiras.


Foi sob tal pressão que ela trabalhou nos últimos 25 anos, produzindo a toque de caixa quadrinhos que, inspirados no cotidiano, tocavam profundamente em assuntos universais. O sucesso continua estrondoso, mas a pressão logo se tornou opressão, obrigando Maitena a buscar novos caminhos.


Uma cirurgia na garganta, em julho passado, a deixou muda por vários dias. Uma calamidade para quem parece que mais fala que respira. Mas, mesmo não acreditando nisso, foi um sinal. Maitena hoje não se impõe mais prazos, daí a decisão de interromper séries como Mulheres Alteradas, etc. Também busca uma nova forma de apresentar suas reflexões sobre o mundo em forma de desenho. ‘Estou na captura de um novo traço, gosto de mudar de postura’, conta ela que, enquanto se entrega, sem pressa, ao tal manual de 2008 (algo que, jura, não vai perder a graça característica de seu trabalho), vagueia pelas idéias e pelo mundo – em São Paulo, por exemplo, onde esteve há duas semanas, tanto fez compras nas lojas caras da Oscar Freire como assistiu ao show de Cauby Peixoto. Certamente, um suculento material para seu manual.’


 


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 16 de junho de 2006


COPA 2006
Nelson Motta


Enquanto a bola rola


‘RIO DE JANEIRO – Quem já assistiu a um grande jogo em um belo estádio lotado sabe do que estou falando. Não há nada melhor, ainda mais se for em um bom lugar, como a tribuna de imprensa, bem no meio do campo.


Cobrir uma Copa do Mundo é a maior ambição de um jornalista de esportes e o sonho de consumo de cronistas de qualquer especialidade, que, antes de tudo, são torcedores e naturalmente entendem muito de futebol.


Já tive o privilégio de fazer parte dessa elite multirracial muitas vezes, trabalhando para diversos jornais como cronista de amenidades: foi duro, mas foi bom. É uma experiência inesquecível, pelo privilégio de ver os jogos de perto e vivenciar a diferença entre estar nas primeiras filas de um show, sentindo seu som, seu calor e sua presença, ou vê-lo na televisão, com todos os seus ângulos, closes e replays.


Nos dias de jogos do Brasil, os invejo, nos outros, me compadeço, lembrando dos intermináveis vazios entre as partidas, entre o tédio e a tensão, na busca diária e desesperada de um assunto em Los Angeles, Turim, Paris ou Guadalajara.


Os repórteres sofrem para extrair notícias de onde elas pouco ocorrem -os generais não revelam seus planos de batalha- e para arrancar informações e idéias de atletas de expressão limitadíssima e sob pressão máxima, em batalhas diárias que exigem grande esforço. E muita imaginação.


Os cronistas, esportivos ou não, craques das idéias e das palavras, penam durante 30 dias para encontrar um tema e tentar trazer o leitor-torcedor para o teatro de operações, fazê-lo sentir o cheiro de sangue e o perfume da glória. Mas o que todos mais querem e fazem, com infinito prazer, é comentar os jogos, criticar o time, exigir escalações e propor mudanças de tática.


Como todos nós.’


 


Fábio Victor


Em programa alemão, Pelé volta a disparar na direção dos dois Ronaldos


‘A Copa mal começou, mas Pelé já pratica na Alemanha um dos seus esportes favoritos, o de maltratar craques brasileiros que o sucederam. Ontem, em programa da TV alemã ZDF, para a qual comenta a Copa, voltou a bater em Ronaldo e Ronaldinho.


Sobre o primeiro, vilão nacional da vez, adotou a velha tática do morder-e-soprar. Mordida: ‘Esperamos que ele possa se recuperar, pois já faz algum tempo que ele não vem bem’. Sopro: ‘Ele precisa do apoio de todos nós. O povo brasileiro espera a recuperação do Ronaldo’.


De Ronaldinho, disse que ‘se esperava muito na Copa’. ‘Mas ele teve atuação muito abaixo do nível que vinha jogando no Barcelona.’


O comentário foi feito no meio de um debate sobre Ronaldo, no qual Pelé ressaltou que ‘não foi só ele quem foi mal, foi todo o ataque’.


Só Kaká foi poupado. ‘Foi o jogador que mais se movimentou. Salvou o Brasil, porque o gol saiu no fim do primeiro tempo. Se a etapa final começasse com 0 a 0, tudo ficaria mais complicado.’


Há um mês, questionado sobre sua expectativa em relação a Ronaldinho na Copa, Pelé disse que ele ‘ainda não é fato’, porque não brilhou num Mundial.’


 


Juca Kfouri


Verdade e coerência


‘Por que a CBF não deixa o alemão que atendeu Ronaldo falar com a mídia?


QUEM DISSE que esta seria a Copa da saúde foi Carlos Alberto Parreira. E nada indica que Ronaldo esteja 100% de saúde. Mesmo assim, jogará no domingo. Entre a coerência e o compromisso com o erro vai enorme distância, que se confunde com teimosia. Tomara que a insistência do treinador dê bons resultados -e não há como discordar de que só jogando já Ronaldo provará que pode atuar quando começar o mata-mata. Aparentemente, o novo episódio que envolveu o centroavante e exames médicos numa clínica alemã está esclarecido. Aparentemente porque a credibilidade não é a marca registrada da CBF. Ao explicar que tudo foi feito abertamente porque o episódio de 1998, na Copa da França, ‘ensinou muita coisa a muita gente e não queremos enganar ninguém’, o chefe de imprensa da entidade, Rodrigo Paiva, que não trabalhava na CBF na ocasião, deixou implícito o modus operandis de então. Mas, agora, a CBF não autorizou o médico alemão que atendeu o craque a falar com a imprensa. Por que, se ninguém está escondendo nada? Não seria a palavra dele uma mera confirmação do que fala o médico da seleção? Não há como deixar de desconfiar que alguma coisa não está bem contada e será uma árdua tarefa convencer a todos de que o ceticismo não se justifica. Do mesmo modo, guarda-se a sete chaves a relação dos convidados da CBF para assistirem à Copa com tudo pago. Alguém poderá dizer que a CBF convida quem quiser e não tem que dar satisfações. Como, porém, desde 1994, membros do Poder Judiciário têm estado na seleta lista, é sim de interesse público saber se a história se repetiu. Pelo menos para aqueles, e não são poucos, que têm pendências judiciais com a entidade. E, por sinal, repetem-se as denúncias de que ingressos com o carimbo da CBF são vendidos no câmbio negro na Alemanha, como ocorreu na França. Nada muda, por mais que a comunicação com a imprensa tenha se sofisticado. Resta esperar que Ronaldo faça gols e alivie a barra dos cartolas.’


 


Folha de S. Paulo


Exército poderá ver os jogos pela TV


‘O empresário de comunicação Rupert Murdoch concluiu anteontem uma negociação para liberar o sinal das partidas dos EUA, das semifinais e da final para bases militares do país pelo mundo.’


 


CRISE
José Sarney


A agonia da Varig


‘ASSIS CHATEAUBRIAND , quando advertido por João Calmon, superintendente dos Diários Associados, de que a situação de ‘O Jornal’, que então circulava no Rio, era crítica, respondeu: ‘Não se desespere, Calmon, jornal não morre de enfarte. E a doença que o mata leva, no mínimo, dez anos’. Com as companhias de aviação o tempo é bem maior. A fascinação da nossa geração foi a aventura de voar, romper distâncias entre nuvens e ventos. Era como, hoje, as novas técnicas de comunicação, a TV digital, os satélites e os i-pods. Lembro-me bem de um texto de Da Vinci no qual ele profetizava que era nas grandes altitudes que os ventos tinham alta velocidade. Com o avanço da ciência, constatou-se que ele tinha razão. É lá que habitam as grandes ventanias, e não ao rés do chão. Ele se preocupou com o vôo e tentou inventar máquinas de voar. Vi, encantado, no vale do Loire, na casa em que Francisco 1º lhe deu, belos modelos dessa sua obsessão. Recordo, sem apagar com os anos, o espanto com que vi pela primeira vez um avião. Tinha oito anos, e foi na cidade de Balsas. Toda a cidade foi para o campo de pouso olhando, como disse Aristides Lobo da República, bestificado, o pássaro descido do céu e com gente dentro. Todos os meninos do meu tempo queriam ser aviadores. Era o fascínio de voar e, ao descer, as moças suspirarem com nossa coragem. Moço, no ginásio, eram os hidroaviões da Nirba Lines (?) a deslizar em frente à cidade de São Luís e parar no ancoradouro no meio do rio Anil. Depois, minhas primeiras viagens aéreas. Já então a Varig era o máximo. Marca de conforto e segurança. Por acaso estava em Paris, com uma passagem da Panair, quando esta perdeu suas linhas do exterior e a Varig passou a substituí-la. Morria a Panair, como morreu a Panam, americana, gigantes e ícones dos tempos heróicos da aviação comercial. Ruben Berta, o fundador da Varig, com as coragens e as audácias de pioneiro, convidou-me para o primeiro vôo para Tóquio. Ele dizia-me que, com esta linha, a Varig dava a volta ao mundo. Morreu antes que isso acontecesse. Vejo agora a agonia da Varig. Lembro-me do seu charme e do seu esplendor naqueles anos. A beleza dos Constellations, dos Douglas DC-4, 5, 6, 7C. A novidade do Caravelle e, depois, dos jatos modernos. Como as pessoas, os objetos, os sonhos e as empresas morrem. É com nostalgia que assisto aos estertores das asas abertas por Berta. Pagam o preço do seu pioneirismo e do tempo. Quanto tempo levam as empresas aéreas para morrer? Sem dúvida mais do que os jornais. Que bom se ela se salvasse. Mas Varig, Varig, Varig!’


 


CORRIDA PRESIDENCIAL
Folha de S. Paulo


Na TV, PFL faz ataque anônimo de 11 minutos


‘O PFL usou todos os 11 minutos de seu programa partidário em rede nacional de televisão, ontem, para atacar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nenhum político pefelista apareceu no programa, e o nome do partido não foi mencionado em momento algum. Ao final do programa, um selo que identifica a sigla foi exibido por apenas seis segundos.


Com estrutura de ‘documentário’, a peça publicitária levada ao ar pelo PFL procurou destacar as relações de Lula com denúncias que atingiram sua gestão. Uma maquete digital do interior do Planalto, por exemplo, ilustrou a proximidade física entre o gabinete da Presidência, a Casa Civil, que José Dirceu ocupou, e uma sala usada pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.


Um apresentador abriu o programa com o anúncio: ‘Você vai saber quem comandava o maior esquema de corrupção já desmascarado’. Em outro momento, uma atriz disse, em tom de lamento: ‘Tudo o que o PT e Lula prometeram era só conversa fiada. (…) É duro aceitar tanta decepção.’


Ao final, bonecos com rostos de personagens do escândalo do mensalão foram usados para mostrar ligações de Lula com Dirceu, Marcos Valério e ‘até com Bruno Maranhão’, líder do MLST (Movimento de Libertação dos Sem-Terra).


O programa foi encerrado com o slogan: ‘Brasil, um país decente. Não merece essa gente’. Na internet, o site do PFL passou a exibir uma foto de Lula com os dizeres: ‘Não falta mais nada… impeachment já’.’


 


INDECÊNCIA
Folha de S. Paulo


Bush amplia multa a TVs por sexo até 22h


‘O presidente George W. Bush promulgou ontem uma lei que decuplica a multa aplicada às emissoras de rádio e TV que veiculem blasfêmias ou material sexual e erótico.


O aumento substancial da multa -de US$ 32.500 para US$ 325.000- era defendido pela bancada republicana no Congresso, interessada em reforçar seus vínculos com o eleitorado cristão conservador em ano de votação.


As discussões sobre a suposta indecência da TV americana ganharam força quando, em 2004, em comentado incidente, o cantor Justin Timberlake rasgou a roupa de sua parceira de palco, Janet Jackson, deixando um dos seios da cantora exposto por momentos diante de milhões de espectadores.


As emissoras abertas não poderão mais transmitir programas eróticos entre 6h e 22h.’


 


TV DIGITAL
Flavia Marreiro


Dilma defende padrão único para a TV digital no Mercosul


‘Prestes a anunciar a escolha do padrão japonês de TV digital no Brasil, o governo saiu em campanha para que os países do Mercosul adotem o mesmo modelo, mas encontrou na Argentina um cenário desfavorável.


O chamado foi dado pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, em reunião com o ministro argentino do Planejamento, Julio de Vido. ‘O objetivo do Brasil é ter um modelo único no Mercosul’, afirmou Dilma, em Buenos Aires, de onde seguiu para Montevidéu também para tratar do tema.


Para Dilma, o ‘cenário mais favorável’ ao país é o da escolha comum, mas a atuação em conjunto com a Argentina independe do modelo adotado. ‘O que é fundamental é construir um ambiente de cooperação tecnológica que será extremamente favorecido se o padrão for o mesmo’, afirmou.


De acordo com a ministra, o objetivo da reunião com De Vido, principal ministro de Kirchner, foi oferecer todas as informações sobre o processo no Brasil, mas, segundo ela, não há imposição do ‘padrão brasileiro’.


Apesar de não haver declarações do governo Kirchner, é improvável que o país vizinho siga o Brasil na decisão: o modelo europeu e o americano são mais cotados no país.


Os dois países assinaram um acordo de cooperação tecnológica de TV digital, mas de lá pra cá não houve coordenação nas reuniões com representantes dos modelos disponíveis. Enquanto o Brasil se aproximava dos japoneses, os argentinos montaram uma comissão para discutir o tema.


Os fabricantes de TVs argentinos não integram a comissão, mas julgam que a escolha de um modelo distinto do brasileiro protegeria o mercado local. Hoje, o excedente de televisores do Brasil é vendido à Argentina.


Segundo Dilma, o governo deve conversar com todos os países da América Latina, mas a convergência não é ‘imprescindível’. ‘Não podemos fazer disso um cavalo de batalha. No futuro, as tecnologias se convergem.’’


 


TV INFANTIL
Daniel Castro


Cultura corta ‘Cocoricó’ e escolhe substituto


‘O premiado programa infantil ‘Cocoricó’, atual maior sucesso da TV Cultura, pode estar chegando ao fim. A direção da emissora pública paulista resolveu reduzir a produção de novos episódios da série de bonecos, que completa dez anos neste ano, e anuncia que está à procura de um substituto.


Desde que retomou a produção de ‘Cocoricó’, em 2004, a Cultura realizou três temporadas de 52 episódios cada uma. A última foi gravada até abril e estreou no último dia 5.


Há duas semanas, a Cultura dispensou seus sete manipuladores de bonecos, indicando que o programa acabaria. Mas, quase simultaneamente, convocou os roteiristas, sinalizando que o programa não morreu.


Aparentemente, a galinha dos ovos de ouro da Cultura (foi o programa de TV que mais vendeu DVDs em 2005 e se passa numa fazenda) ainda vive. A rede informa que em julho começará a gravar uma nova temporada de ‘Cocoricó’. Mas terá só 13 episódios _um quarto da duração das anteriores.


A Cultura ainda nega que esta será a última temporada de ‘Cocoricó’. Mas confirma que depois dela a equipe do programa irá se dedicar ao desenvolvimento de uma nova atração de bonecos _que terá uma ambientação urbana, e não rural.


Atualmente, a direção da emissora avalia três projetos com essas características. Promete escolher um até julho para estreá-lo em 2007.


CRISTO É DA RECORD A Record venceu a Globo na disputa pelos direitos de exibição de ‘A Paixão de Cristo’, de Mel Gibson. Acaba de comprar o filme da Fox, tradicional parceira da Globo, que não topou cobrir sua proposta financeira.


JOGO DIGITAL 1 As transmissões da Copa da Alemanha pela Globo em alta definição, que ainda não atraíram bom público, são um sucesso do ponto de vista técnico.


JOGO DIGITAL 2 O curioso é que as transmissões estão sendo feitas pelo sistema de TV digital europeu. E a Globo é grande defensora do padrão japonês. A emissora diz que isso não tem importância: a disputa que se trava no Brasil é pela modulação das transmissões terrestres _e não via satélite, que é o caso da Copa.


HIT DA COPA 1 Os criadores do boneco inflável Bobueno, hit da Copa na internet, torcem para que a ‘obra’ seja pirateada. O grupo (formado por designers e jornalistas) produziu inicialmente 500 cópias do joão-bobo que tem a cara de Galvão Bueno. Depois, fez mais 500. Já vendeu tudo, a R$ 10 cada um.


HIT DA COPA 2 Os pais de Bobueno temem ação judicial da Globo ou de seu locutor número 1. A Globo diz que desconhece o assunto.


FÁTIMA 2010 Uma editora do ‘Jornal Nacional’ lançou uma campanha no blog do telejornal da Globo defendendo Fátima Bernardes como comentarista da Copa de 2010, ‘ao lado do Galvão’. Era o assunto mais comentado no blog até ontem à tarde.’


 


ANCINE
Silvana Arantes


A lei do mercado


‘Homem de raciocínios complexos, sem prejuízo da clareza, o diretor da Agência Nacional do Cinema, Gustavo Dahl, 67, resume numa sentença o aparentemente inextricável xis da questão do cinema brasileiro.


‘Introduzir um produto inteiramente subsidiado num mercado altamente competitivo é uma incongruência econômica’, afirma Dahl. O subsídio que atinge a quase totalidade dos filmes brasileiros é dado pelas leis de renúncia fiscal, com as quais empresas destinam parte do Imposto de Renda a seus escolhidos. Ou seja, uma espécie de cortesia privada com chapéu público, que gerou para a produção de cinema US$ 500 milhões nos últimos dez anos, segundo cálculos da Ancine.


O governo Lula encaminhou neste mês ao Congresso, com pedido de votação urgente, projeto que prorroga e amplia a Lei do Audiovisual.


‘Mesmo com a grande participação das estatais nos mecanismos fiscais, essa continua sendo uma política de empresa, não de governo’, diz Dahl, que avalia outros pontos do projeto na entrevista a seguir.


FOLHA – O sr. afirmou, em 2003, que o cinema brasileiro avançava em vôo cego, porque não há preocupação com resultados nas leis existentes. O projeto de lei do governo Lula que amplia e prorroga essas leis é a institucionalização do vôo cego?


GUSTAVO DAHL – A grande limitação da Lei do Audiovisual é que a produção não está articulada com a distribuição. A lei favorece o franco-atirador. A seleção mesmo [dos filmes] vai ser feita pelo mercado. Mas o cinema brasileiro e os outros cinemas nacionais não sobrevivem sem a sustentação do Estado. A prorrogação da lei é indispensável. Não acho que implique forçosamente a institucionalização do vôo cego. O que se propõe é que a sustentação do Estado interaja com a ação no mercado.


FOLHA – De 33 filmes brasileiros lançados neste ano, 29 registram menos de 100 mil espectadores. É conseqüente dar incentivo fiscal para produções com esse resultado?


DAHL- Filmes são protótipos. Protótipos não têm resultado garantido. O alto risco é da natureza do cinema. O que se observa é que o mercado brasileiro tem poucas salas [1.900] e está organizado em função da exploração do filme comercial. Ao mesmo tempo, os mecanismos de incentivo fiscal privilegiam a produção autoral. Portanto você está fazendo um produto autoral para ser explorado num mercado voltado ao produto comercial. A crítica a ser feita ao modelo de produção é que ele coloca um produto num mercado não adequado a ele.


FOLHA – O sr. costuma se indagar se, no Brasil, ‘a TV é uma concessão do Estado ou o Estado é que é uma concessão da TV’. É correto dar incentivo fiscal para as TVs produzirem, como prevê o projeto de Lula?


DAHL – Há mérito em criar mecanismos que permitam a produção, ainda que de modo proporcional ao envio de lucros. [Segundo o projeto] A produção tem que ser feita por produtora independente, a quem os recursos serão repassados. É uma indução da co-produção da televisão com a produção independente e uma ampliação das possibilidades de produção das televisões.


FOLHA – Na prática, isso não vai permitir que a TV Globo faça seus produtos em associação com o produtor Daniel Filho, que desempenha também o papel de diretor artístico da Globo Filmes?


DAHL – A legislação não pode deixar de ser feita em razão de eventuais e hipotéticas distorções. Quando elas aparecerem, podem e devem ser corrigidas. Gostaria de lembrar que, há alguns anos, Daniel Filho saiu da Globo e fez produções independentes, como ‘Confissões de Adolescente’. Fez minisséries que tiveram dificuldades de colocação na televisão. O grande problema da TV brasileira é a limitação das emissoras para veicular a produção externa, independente. Esse mecanismo pode ajudar a modificar essa situação.


FOLHA – Que chance o sr. vê de o projeto ser aprovado pelo Congresso Nacional exatamente como está?


DAHL – O Congresso é uma caixinha de surpresas.


FOLHA – Pode surpreender mesmo na votação de um projeto que tem o apoio de dois lobbies importantes, como o da TV e o dos cineastas?


DAHL – Cacá Diegues diz que o cinema brasileiro, desde o cinema novo, nos anos 60, era muito modesto. Tinha só a pretensão de contribuir para a evolução da humanidade. Nesta linha de modéstia, eu diria que nós no cinema brasileiro o consideramos suprapartidário e transgovernamental. Enviar o projeto ao Congresso é a maneira correta de permitir a participação da sociedade. É neste momento que os vários agentes econômicos poderão dar sua contribuição. Alterações são do jogo democrático. O secretário [do Audiovisual do Ministério da Cultura] Orlando Senna diz que esse é um ‘pacote de bondades’. Não vejo muito onde pode haver setores de oposição ao projeto. A capacidade de tramitação no Congresso vai ser a prova de fogo da sua adequação política.


FOLHA – Em artigo recente, o sr. escreveu: ‘[O presidente] Itamar Franco [1992-95] é beijado na boca por Norma Bengell e enfia goela adentro do Ministério da Fazenda a Lei do Audiovisual’. Na nova Lei do Audiovisual, o que convenceu a Receita Federal a autorizar mais benefícios fiscais, inclusive para a TV aberta?


DAHL – Desde o beijo da Norma Bengell no Itamar, a importância dada ao audiovisual mudou, pela evolução tecnológica e pela evolução dos hábitos sociais de consumo. Hoje, o audiovisual inclui a telefonia e a internet. A questão ficou complexa.


Não é impossível que você baixe um longa-metragem num chip de telefone celular, plugue-o numa tela de plasma e possa ver de maneira imediata a produção mundial. Hoje em dia, o conteúdo audiovisual tem autonomia em relação ao seu próprio suporte.


Eu diria que a visão da Receita Federal se tornou mais atualizada, complexa e generosa.


NA INTERNET – Leia íntegra da entrevista com Gustavo Dahl www.folha.com.br/061661′


 


COMUNIDADE VIRTUAL
Thiago Ney


Músicos protestam contra ‘cláusula abusiva’ do MySpace


‘O MySpace (www.myspace.com) é o site de relacionamentos que mais cresce na web. De ano a ano, aumenta em 367% (hoje recebe, num mês, 38,4 milhões de visitas), segundo dados de junho da Nielsen. Mas, nos últimos dias, a comunidade que existe há quase três anos conheceu pela primeira vez um movimento contrário, com vários usuários irritados retirando seus perfis dali.


O MySpace virou fenômeno não só da internet mas também da indústria musical. É uma das principais estratégias utilizadas por artistas novos para serem ouvidos. O problema, que emergiu agora, é que o contrato de termos e usos do site traz uma cláusula que não vem agradando gente como o cantor britânico Billy Bragg.


Segundo o contrato, o MySpace tem o direito de reproduzir, manipular, enfim, usar da forma que bem entender todo o conteúdo que é colocado no site. Isso deixou Bragg e outros artistas desconfiados e gerou um ‘efeito cascata’. O You Tube (www.youtube.com), que oferece a possibilidade de qualquer pessoa divulgar seus vídeos, tem cláusula quase idêntica.


‘Essas coisas têm de ser esclarecidas, principalmente no You Tube’, opina André Szajman, presidente da Trama, empresa que possui uma comunidade musical, a Trama Virtual (www.tramavirtual.com.br). ‘Porque praticamente tudo o que está naquele site é pirata.’ Ele cita, como exemplo, vídeos de Elis Regina que estão no You Tube sem a permissão da gravadora.


‘Em relação ao MySpace, fiquei surpreso quando ouvi a notícia, pois só apareceu agora’, diz Szajman. ‘É lamentável que exista essa cláusula. É quase uma pegadinha.’ Segundo ele, na Trama Virtual os usuários detém todos os direitos das canções que colocam no ar.


O advogado Guilherme Alberto Almeida de Almeida, da KCP, especializado em entretenimentos, diz que contratos desse tipo não são incomuns. ‘O direito autoral é algo bastante restritivo. Tirando algumas situações de exceção ou limitação aos direitos autorais (cópia para uso privado de pequenos trechos de uma obra, por exemplo), qualquer outro uso precisa ser prévia e expressamente autorizado pelo detentor dos direitos autorais. Por isso a importância de uma cláusula dessa natureza para um serviço como o MySpace.’


Mas aponta alguns exageros. ‘Os direitos de adaptação, tradução e modificação devem ser analisados com cuidado. Embora possam ter por foco inicial um uso mais adequado do conteúdo pelo site, eles podem ultrapassar os interesses dos autores que ‘sobem’ as músicas.’


Até o fechamento desta edição, o MySpace e o You Tube não se pronunciaram a respeito do caso.’


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