Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

SBT quer transmitir torneio
de pôquer com brasileiros


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 8 de maio de 2006


PUBLICIDADE
Carlos Franco


Marketing para dias de inverno


‘O brasileiro gasta por ano quase R$ 1 bilhão com remédios contra a gripe, que incluem de pastilhas a analgésicos até os populares ungüentos. É para conquistar esse consumidor, com a promessa de alívio imediato para a gripe, que indústria e laboratórios investem em publicidade. A partir dessa semana, várias campanhas, de olho na queda dos termômetros, começam a ser veiculadas em emissoras de televisão, jornais, revistas, internet, outdoors, pontos de ônibus e de venda. São produtos que não têm restrições legais para anunciar ao contrário de medicamentos sob prescrição médica e cerca de 80% das vendas é concentrada nos meses de inverno.


Líder do mercado de ungüentos, com participação de mais de 98% com a tradicional marca Vick Vaporub, a Procter & Gamble entra para valer na disputa do mercado de pastilhas, xaropes e cremes balsâmicos. A decisão da empresa é aliar mais vários itens à marca, que tem uma história no País de mais de 70 anos.


Essa estratégia de marketing e negócios que o consultor Jayme Troiano classifica de ‘marcas mãe’, por usar uma marca largamente conhecida do consumidor para a introdução de novos produtos, tem garantido resultado para muitas empresas. ‘O motivo do sucesso dessas iniciativas é que uma marca forte pode transferir ao novo produto credibilidade e segurança’.


Troiano afirma, porém, que nem todas as marcas podem dar resultado como guarda-chuva para produtos de categorias diferentes ou mesmo de qualidade inferior.


Esse não é o caso da Procter & Gamble com o seu Vick, diz Pedro Silva, diretor de Assuntos Corporativos da Procter & Gamble no Brasil. ‘Todos os produtos que carregam a marca Vick, desde as pastilhas aos xaropes, como o recém-lançado Vick Mel até Diatyl que combate os cinco sintomas mais incômodos da gripe, têm identidade com Vick’.


O produto mais antigo e tradicional é o Vick Vaporub, o ünguento que é vendido no País desde 1927.


Por isso mesmo, e pela primeira em sua estratégia de marketing, a Procter & Gamble decidiu reunir todos os produtos em uma única casa de consumidores, a família Silva.


‘Com oito comerciais diferentes, criados pela agencia Publicis, vamos apresentando os produtos de uma família que tenta vencer a gripe’, diz João Marcos Branco, gerente da marca Vick no Brasil.


Dona de um faturamento anual de US$ 40 bilhões, a Procter & Gamble vende mais de US$ 1 bilhão em produtos Vick em vários países, incluindo o Brasil.


A centenária Valda, do laboratório francês Canonne, é outro produto que faz sucesso no mercado brasileiro – mais até que no país de origem. A empresa também tem lançado novos produtos para dar vigor à marca. As caixinhas de metal cederam lugar às de plástico, mas elas continuam a liderar as vendas da categoria, bem à frente das concorrentes Vick e Benalete.


Os Laboratórios Canonne também tem usado a marca como guarda-chuva para novos produtos. Um dos novos lançamentos são as pastilhas Valda Friends, envelopadas, em formato de calça jeans para sugerir um ar mais jovial, e que podem ir em qualquer lugar. A estratégia da empresa também tem sido patrocinar eventos, como o FestValda, para difundir a marca, mas com uma preocupação menor que a de Vick de concentrar as ações no inverno.


Com campanha criada pela agência Africa, Coristina D, da Schering-Plough, começa a semana lançando o slogan ‘A gripe pode estar em qualquer lugar. Tenha Coristina por perto’. Em comerciais de TV, a empresa mostra pessoas em ônibus, elevadores e filas de orelhões, onde há sempre alguém tocindo ou espirrando espalhando o vírus da gripe.


Produtos com vitamina C também aproveitam a estação de inverno para entrar nessa disputa como Energil C, do Grupo EMS Sigma Pharma, e a Aspirina C, da Bayer, além de Naldecon. Além dessas marcas tradicionais, muitas outras, regionais, como xaropes, engrossam o investimento publicitário. A linguagem das campanhas, porém, não muda. Desde os reclames de Vick nos anos 30 aos de hoje, o compromisso e aliviar os sintomas da gripe e aquele tosse incômoda.’


INTERNET
André Mascarenhas


O estrategista da publicidade 2.0


‘Mais do que apenas atingir um alvo, a nova publicidade busca cooptá-lo. Assim como o internauta é a peça-chave na chamada Web 2.0 – com suas escolhas e produção de textos, vídeos e imagens -, transformar quem navega na web num multiplicador da mensagem de uma marca é o desafio da publicidade 2.0.


Desbravador da nova publicidade, o presidente da Agência Click, Pedro Cabral, diz que o segredo para uma campanha bem-sucedida não está nem nas idéias geniais, nem em pirotecnias tecnológicas, mas num ponto de equilíbrio, que ele chama de metodologia.


Com uma formação voltada para a área de exatas, mas levado por uma paixão pela comunicação para a propaganda, esse ‘neopublicitário’ costuma usar as lições de sua antiga carreira – a engenharia – para resolver um dos impasses mais difíceis para quem lida com a criatividade nas mídias digitais.


‘A coisa não começa só na criatividade e nem só na tecnologia. Em geral, começa com uma estratégia. O importante é ter uma compreensão geral da ação’, explica.


Essa obsessão por planejamento, Cabral enfatiza, deve-se ao fato de que, ao contrário do que muita gente pensa, o desenvolvimento de idéias ‘genuinamente interativas’ requer procedimentos distintos dos que se costuma usar nas campanhas de TV, rádio ou jornal.


Isso porque, em termos de branding – ou a identificação que o consumidor cria com as marcas -, a web pode ser muito mais eficiente do que os meios tradicionais. Com a interatividade, o público não só recebe a mensagem dos comerciais, como interage com ela, criando simpatia – ou antipatia – com uma determinada campanha.


‘E depois disso’, acrescenta Cabral, ‘ele poderá passá-la adiante, propagando a mensagem. Então a estrutura de raciocínio é diferente. Uma coisa é você botar uma mensagem para as pessoas assimilarem. Outra é fazer um meio para as pessoas interagirem.’


Mas como desenvolver esses meios e atingir eficientemente o público se a tecnologia está em constante evolução e a internet é um repositório quase inesgotável de fontes de informação e entretenimento?


A receita de Cabral é simples: viver inquieto. ‘Esse é um desafio que está colocado para a gente o tempo todo. Você tem que gostar de fazer muita coisa ao mesmo tempo e observar tudo.’ Agora, se há algo que este neopublicitário não dispensa é a observação das tendências tecnológicas entre os usuários. Principalmente entre as crianças e adolescentes. ‘Eu costumo olhar muito como eles vivem esse novo mundo’, revela.


Afinal, aos 48 anos, certas tendências comportamentais já banais para as novas gerações muitas vezes podem lhe parecer estranhas. ‘Outro dia eu estava jantando com uns amigos e o celular de uma menina tocou. Era 1h30 da manhã. Eu não resisti e perguntei se ela sempre recebia telefonemas naquele horário. Ela respondeu que antes tinha trocado alguns SMS com uma amiga, que agora sabia que ela estava acordada e disponível’, surpreende-se.


DESAFIO ONLINE


É de conhecer muito bem essas tendências que surgem as soluções para o maior desafio da publicidade interativa, segundo a visão de Cabral: transmitir ao consumidor, através das novas mídias, o ‘way of life’ (estilo de vida) das marcas.


Nas campanhas tradicionais de televisão, por exemplo, a transmissão desse ‘estilo de vida’ pode se dar por meio da associação da marca a certos grupos, comportamentos ou situações. Mas como estar presente na vida de jovens de 12 a 16 anos, se eles estão menos na TV e mais no computador, falando no MSN?


Difícil imaginar que isso ocorra com um simples anúncio em um canto qualquer do comunicador. Por isso, em uma campanha da Coca-Cola que visava a atingir esse público, a AgênciaClick teve de criar uma maneira para que a marca estivesse presente de fato nas conversas das pessoas. Assim nasceu o projeto Coke Messenger, que permitia ao usuário baixar temas relacionados à Coca-Cola para enfeitar o MSN, assim como utilizar personagens, winks e emoticons da marca. Desta forma, explica Cabral, a Coca-Cola passou a fazer parte do ambiente interativo de conversação. E falando em ‘way o life’… Com campanhas desse tipo, o usuário passa a incorporar aquela marca ao seu dia-a-dia, muitas vezes se tornando ele mesmo uma espécie de garoto-propaganda.


‘Você não pode olhar a internet pensando apenas no raciocínio técnico de publicidade’, teoriza Cabral. ‘Não basta simplesmente programar bem a mídia, às vezes é preciso inventar um novo espaço de audiência para fazer com que as marcas se aproximem dos consumidores.’ E no processo de interação, ele resume, essa aproximação é quase sempre muito forte.


CUTUCAÇÃO


Aproveitando o gancho, Cabral não perde a oportunidade para cutucar as agências de propaganda tradicionais que também atuam nos meios interativos. Segundo ele, quando a AgênciaClick surgiu, em 1999, muitos publicitários diziam que criar para a internet era o mesmo que criar para qualquer outra mídia.


‘Mas o tempo mostrou que eles estavam errados. Hoje em dia, temos uma empresa com mais de 300 funcionários, e acho que a maior agência do Brasil com departamento de internet tem no máximo 15 funcionários nessa área’, alfineta. E resume: ‘O modelo de negócio das agências de internet é diferente do modelo de negócios de uma agência de propaganda.’


Para colocar esse modelo de negócios para funcionar, explica Cabral, a AgênciaClick conta com a colaboração de profissionais de diferentes ‘DNAs e etnias’, como ele gosta de descrever. São pessoas com formação em marketing, propaganda, administração e, claro, tecnologia. Apesar das diferenças, todas trabalham com um objetivo em comum. ‘A gente consegue ser uma babel que tem uma linguagem única.’


Cabral , um entusiasta fiel da web brasileira


O fundador da AgênciaClick, Pedro Cabral, estava no auge de sua carreira como engenheiro de sistemas quando resolveu dar uma guinada radical na vida. ‘Eu sentia uma certa frustração, porque tinha toda uma formação tecnológica, mas meu interesse estava mesmo na área de comunicação’, diz.


Ele conta que o ponto de virada veio durante uma feira Comdex, em Las Vegas, quando se deparou com o lançamento do Windows 3.1, o primeiro a usar multimídia. Afinal, aquela tecnologia que lhe parecia tão familiar, de repente mostrava-se capaz de mudar completamente o que entendia por ‘comunicação’.


Foi mais ou menos assim que surgiu, em meados de 1992, a MediaLog, a empresa multimídia que originou a AgênciaClick.


Mas, com a chegada da internet comercial ao Brasil em 1995, Cabral e seus parceiros da MediaLog logo perceberam que teriam que mudar de negócio. ‘Na época, víamos que esse novo universo iria se desenvolver em ambientes gráficos interessantes e com gente conectada, que poderia aproximar as pessoas e distribuir a comunicação.’


A conclusão não poderia ser outra. A interatividade com a qual Cabral sonhou desde o início aconteceria na internet.


Ao descrever como a AgênciaClick foi criada, ele parece explicar um dos motivos do sucesso da empresa: o que estavam desenvolvendo era uma iniciativa nova, totalmente diferente de tudo o que existia nessa área. ‘Queríamos realmente criar uma categoria nova de empresa. Por quê? Porque não éramos uma agencia de propaganda que se especializou em internet, nem uma empresa de tecnologia que se especializou em fazer propaganda, e muito menos uma empresa de consultoria que adotou práticas de negócios de internet. Não. Éramos na verdade um mix de todas essas estruturas dentro de uma empresa interativa, que precisava ter uma cara correta no mercado, diferente. E aí a gente criou o conceito de agência de internet.’’


Geração M


Pedro Doria


‘Laura é muito sabida e inteligente – mas isto todo pai diz de sua filha. Embora tenha 3 anos e um quê, domina o mouse e aprende a usar seus programas por conta própria, sem que ninguém interfira muito.


Isto crianças com acesso a computador desde cedo fazem todas. Laura mexe no computador enquanto vê televisão enquanto veste suas bonecas. Crianças nesta idade não costumam fixar a atenção por muito tempo numa coisa só.


A diferença dela para os pais é que continuará neste ritmo de multitarefa para além da adolescência.


Maíra é uma amiga: inteligente, atenta, tem tudo para virar uma grande jornalista. Tem 22 anos e vai costurando sua noite conforme ela acontece. Toma uns chopes com os amigos mais velhos às 9 mas já está trocando texto ou falando ao celular para ver o que fará à 1. Está sempre atenta ao que vem a seguir, o importante é manter o ritmo e não deixar um único segundo de tempo sem ação e todos os momentos preenchidos.


A revista Time publicou uma capa sobre esse tipo de mudança faz umas semanas: a primeira geração multitarefa está nas ruas e outras a seguirão. É o rapaz que ouve música enquanto faz o dever de casa enquanto navega pela rede; é a menina que deixa a sala na universidade e de presto saca o celular para ter o que fazer enquanto toma o rumo da próxima aula.


Tem uma coisa bacana na matéria da Time que é rara: não é sensacionalista, não acusa geração alguma de ser uma geração perdida e deformada pela mão massacrante da tecnologia. Só aponta que algo mudou. Sempre fomos capazes de fazer coisas ao mesmo tempo. É possível andar e falar ao telefone. Ou, o exemplo é da revista, descascar cebolas enquanto assistimos à tevê. Mas, para decidir mudar de caminho ou incluir uma cebola mais na receita, aí é preciso interromper a conversa ou se desligar do programa por uns segundos. Ouvir música enquanto se escreve também é possível, mas a concentração vai para um ou para o outro.


Essa capacidade de isolar ruídos para permitir concentração todos temos, é melhor na juventude, com o tempo vai ficando mais difícil. Mas, se treinada, pode ser desenvolvida. Há dez anos, Steve Wozniak, um dos fundadores da Apple, trabalhava como professor de computador para crianças. Numa conversa ele contou, brilhos nos olhos, que nada o fascinava mais que a maneira como seus alunos liam: pescando palavras-chaves no texto e dando forma a um sentido geral, prontos ao assunto seguinte. De certa forma, o navegar na rede já estimulava isto.


É natural: um livro pede uma leitura linear. Depois da página 33, só existe a 34 e o assunto continua o mesmo. De uma página da web, os caminhos são múltiplos, depende apenas dos links – ou de um novo endereço. E os estímulos de informação não são apenas escritos. É rádio, imagem, mensagens eletrônicas nas ruas. O dinamismo é incrível, e as possibilidades de contato, hoje, são muito maiores.


A Geração M tem capacidade de fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Segundo David Meyer, diretor do Laboratório de Estudo do Cérebro da Universidade de Michigan, essa capacidade não se traduz em eficiência. E-mail não combina com álgebra. Mas isto é só um estudo, o fenômeno é novo e, embora pareça fazer sentido ao senso comum, não quer dizer que esteja certo. O tempo dirá.


A Geração M se sente inquieta quando há pouco estímulo, quando há pouca ação no entorno. O problema é que trabalho intelectual também cansa e também estressa. Isso não quer dizer apenas ler Nietzsche entendendo: digerir informação diversificada o tempo todo é difícil. E desligar dos estímulos, na cidade, não é lá muito fácil.


Alguns dos educadores entrevistados pela Time sugerem que os pais devem buscar meios para fazer seus filhos desligarem de vez em quando. Que devem também promover momentos de conversa – o jantar, por exemplo, sem tevê, rádio, celular, computador, só comida e família e troca de idéias. O óbvio, afinal.


Mas, nessas horas, dá para ver que não são apenas os filhos, a Geração M, que precisa aprender a desligar vez por outra. Estamos todos no mesmo buraco. O mundo que a tecnologia de comunicação oferece é rico e fascinante como jamais foi. Precisamos é aprender a desligar vez por outra, deixar o tempo passar sem planejamento.


Silêncio é bom’


TELEVISÃO
Antonio Gonçalves Filho


Virgindade vista por gente experiente


‘Na Grécia antiga, garotas que perdiam a virgindade eram vendidas como escravas por arruinar a honra familiar. Na Roma imperial, um pai podia matar a filha e o homem que a seduziu se ela perdesse a virgindade antes do casamento. Até hoje, em alguns países árabes e africanos, mulheres são mutiladas ou apedrejadas por causa de um preconceito que, segundo antropólogos, vem desde a era neolítica, quando os homens começaram a domesticar animais e reprimir suas mulheres. Mas as coisas estão mudando, como mostra a série de cinco documentários Quando Éramos Virgens, que a GNT/Globosat exibe de hoje a sexta-feira, às 21h30.


Realizada pela cineasta Rosane Svartman (Como Ser Solteiro), 37 anos, virgem até os 18, e pela roteirista e escritora Juliana Lins, 34 anos, virgem até os 16, a série expôs suas idealizadoras a tremendas dificuldades. Uma delas: manter uma garota virgem até a gravação de seu depoimento. Um dia antes do compromisso, ela telefonou para as entrevistadoras e confessou, constrangida, que não poderia mais participar do programa. Não resistiu ao assédio: foi para a cama com o namorado.


A série de cinco programas, com meia hora de duração cada, intercala registros documentais com dramatização e reality show. Homens e mulheres dão seus depoimentos sobre a primeira vez e excertos dessas lembranças são reconstituídos em ficção. Como foram muitos os entrevistados, os cortes na edição dos programas levaram automaticamente à idéia de aproveitar o material num livro, que está sendo lançado com o mesmo título da série, Quando Éramos Virgens (Casa da Palavra, 176 págs., R$ 32,90). O livro apresenta personagens que não estão nos programas. Traz ainda uma entrevista com a historiadora Mary del Priore, que traça um panorama histórico da virgindade no Brasil desde o século 18.


A cineasta Rosane Svartman explica que esse enfoque histórico ficou fora da série televisiva porque ‘a idéia não era criar uma teoria sobre a virgindade, mas saber como foi a primeira relação sexual dos entrevistados, sejam eles membros de uma mesma família, de uma religião ou que assumiram uma diferente orientação sexual’. No último caso estão quatro casais do segundo programa da série, Fora do Armário, homossexuais que tiveram, segundo ela, ‘alguma dificuldade de expor sua vida privada em público’.


O programa inaugural, que vai ao ar hoje, Encontro Marcado, reúne três casais que não se viam há anos após o primeiro contato amoroso. ‘É curioso que, depois de 10 ou 20 anos, eles tenham vagas lembranças do que aconteceu e visões diferentes dessa experiência’, comenta Rosane. Mais curioso ainda é o encontro familiar do terceiro programa, Gerações, que reúne avós, mães, pais e netos numa conversa franca sobre como perderam ou pretendem perder a virgindade, garantindo boas risadas entre eles.


O mais ousado é o quarto programa, Sexo na Vitrine, que vai atrás de atores de filme pornográficos para descobrir como foi a iniciação sexual desses atletas da cama. As realizadoras acompanharam também os bastidores do primeiro ato sexual público de um casal jovem – ele, que sempre sonhou ser astro pornô, e ela, uma garota conduzida pela curiosidade à indústria pornográfica. Por causa desse episódio, a dupla Rosane e Juliana quase perde a colaboração de uma virgem evangélica que participa do programa final, A Primeira Vez. Daniele, que queria casar virgem, concordou, afinal, que cineasta e roteirista a acompanhassem desde o casamento até sua noite de núpcias. E ainda deu seu depoimento sobre o dia seguinte.


Se a virgindade, para os antigos, era uma virtude e estava associada a Artemis (Diana), deusa da lua e da caça que protegia crianças, hoje, segundo muitos depoimentos, ela incomoda. Muitas mulheres ouvidas na série revelam ter decidido, por conta própria, perder a virgindade com medo da discriminação. É o caso de Fabi, que fez sexo pela primeira vez em 1987 e queria ‘resolver o problema’ logo para não ser segregada pelas amigas experientes.


O tema virgindade voltou à ordem do dia com a surpreendente caça aos ginecologistas para uma himenoplastia e a publicação do livro Virgin: Un Untouched History, vendido pela editora Bloomsbury como a primeira história da virgindade, dos gregos até nossos dias.


Nele, a historiadora Hanne Blank fala dos diferentes papéis que a virgindade teve na história, desfaz mitos ao mostrar que muitas mulheres nascem sem hímen e aborda temas polêmicos como os comentários dos doutores da igreja sobre o assunto.


A realizadora da série diz que evitou justamente essa abordagem acadêmica para atingir um público amplo. Muitos garotos partem para a primeira experiência sexual sem nenhuma orientação e sem camisinha no bolso, o que explica a profusão de mães solteiras e menores num país como o Brasil. ‘Nossa curiosidade era apenas saber se, ao longo dos anos, essa experiência tem alguma coisa em comum com a de seus antepassados’ , diz Rosane.


Quando Éramos Virgens. Seg.a, 21h30. GNT/ Globosat’


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Pensando o sexo


‘MICHEL FOUCAULT, filosofo (1926-1984): ‘Muitas formas de comportamento foram condenadas no passado. Hoje vivemos numa sociedade de perigos, que divide os homens entre perigosos e vítimas do perigo. A sexualidade corre o risco de se tornar ameaça em todas as relações sociais por força da lei. Corremos o risco de ter no futuro um novo regime de supervisão da sexualidade.’


SIMONE DE BEAUVOIR,escritora (1908-1986): ‘A virgem, ora temida, ora desejada pelos homens, parece ser a mais alta representação do mistério feminino.’(sobre o mito da virgindade e o paradoxo dessa condição, central na construção da identidade feminina na Europa da Idade Média)


JACQUES DERRIDA, filósofo (1930- 2004): ‘O hímem é um exemplo paradigmático de sintoma histérico. Ele tem sonhos de penetração, de um ato que fica entre o amor e o assassinato.’


JUDITH BUTLER, filósofa americana, 50 anos: ‘Não há melhor exemplo do corpo ultrapassando a própria fronteira física do que a virgindade, que existe no limite entre o corpo e a cultura. Por definição, virginidade é abstração maior do que a soma das partes do corpo.’


GILLES DELEUZE, filósofo francês (1925-1995): ‘A garota certamente não é definidapor sua virgindade; ela é definida por uma relação de movimento e descanso, velocidade e lentidão, por uma combinação de átomos, uma emissão de partículas. Ela é uma linha abstrata. Nã pertence a grupos, sexos, ordens ou reinos. Estão entre as ordens, sexos e atos. Produzem sexos moleculares.’’


Julia Contier


Depois das feras, as belas


‘A idéia inicial era dar àquela platéia cheia de testosterona que lota estádios de futebol um desfile de pernas devidamente depiladas com modeletes trajando lingeries. Foi isso que a equipe da novela Belíssima programou para as torcidas de São Paulo e Corinthians, antes que uma revoltada torcida alvinegra depredasse parte do estádio do Pacaembu, na quinta-feira, e provocasse assim a transferência do clássico de ontem para São José do Rio Preto. Agora, a interação entre torcida real e novela vai ficar na ilusão de ótica, operada graças à edição de imagens.


O enredo prevê uma partida de futebol que funcionará como ação de marketing para o lançamento da Lindona, linha popular de lingeries da novela. As rivais Érica (Letícia Birkheuer) e Giovana (Paola Oliveira) lideram os times e o placar final é de 1 a 1, com um gol de pênalti.


A Globo, que já tinha gravado parte das cenas na sexta-feira, optou por não transferir toda a estrutura para S.José do Rio Preto. O jogo fictício estava previsto para ser gravado no próprio Pacaembu, sem platéia.


O trabalho começou na sexta-feira, quando o estrago da véspera ainda impedia a realização de cenas no campo. O expediente do dia se resumiu à gravação do coquetel em que André (Marcello Antony) e Érica (Letícia Birkheuerde) se beijam.


Durante os cinco minutos em que os repórteres puderam acompanhar as gravações, deu-se uma ação de mão dupla: a novela gravava a imprensa ficcional entrevistando o elenco, enquanto a imprensa real registrava as cenas da novela.’


TV & TECNOLOGIA
Alta definição


Ricardo Anderaos


‘A loja de eletrônicos daquele shopping estava apinhada. Uma pequena multidão formada, na sua imensa maioria, por curiosos. Gente interessada em ver ao vivo e em cores seus respectivos sonhos de consumo.


Mas no meio dessa massa há uma minoria endinheirada. Gente que não hesita em gastar os tubos nas versões mais sofisticadas de aparelhos que podem ser comprados por preços até 20 vezes mais baixos. Para gastar menos bastaria abrir mão do design, da grife ou de algumas características técnicas mais refinadas.


Mas não é esse tipo de racionalidade que anima os sonhos de consumo hi-tech. Os aparelhos se multiplicam, se combinam, sofisticam, oferecem cada vez mais possibilidades. Hoje em dia, mal a gente compra um eletroeletrônico, já ganha o direito de se sentir ultrapassado.


Mas na vitrine daquela loja, em especial, um item se destacava entre os demais. Uma enorme TV de plasma de tela plana, com 71 polegadas. Pendurada nela, uma plaquinha indicava a módica quantia de R$ 270 mil.


Aquele aparelho já tinha até virado motivo de chacota entre os vendedores, tantas vezes o mesmo diálogo se repetia com clientes incrédulos. ‘Quanto custa essa TV, moço?’ ‘Duzentos e setenta mil’, responde o vendedor. ‘Nossa, e eu pensei que era vinte e sete. Tá bom, gostei. O senhor manda embrulhar duas, por favor? Rá rá rá’.


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Olhando aquela vitrine com tantos aparelhos perfilados, dá para entender a confusão dos consumidores. Afinal, uma TV de plasma com 42 polegadas custa cerca de R$ 10 mil. Aumente o tamanho para 50 polegadas, e o preço mais do que dobra, pulando para R$ 25 mil.


Aumente mais 20% no tamanho, até 60 polegadas, e o preço dobra novamente: um modelo desses chega a custar uns R$ 50 mil. Mesmo assim, ninguém acredita que o próximo degrau nessa escalada chega a bater em estratosféricos R$ 270 mil…


‘Quanto custa essa TV, moço?’, perguntou um senhor saído do meio do povaréu. ‘Duzentos e setenta mil’, respondeu o vendedor, tentando esconder o tédio de quem já sabe a próxima fala nesse diálogo de cartas marcadas. Mas aí o senhor disparou: ‘E qual é o desconto para pagamento à vista?’


A frase atravessou o burburinho da loja e foi captada pelos ouvidos atentos do diretor da empresa, que estava por ali, no lugar certo e na hora certa. Seus movimentos foram rápidos. Seus argumentos, inapeláveis para um comprador que comprovou ter ‘bala’ para cometer essa loucura. Em questão de minutos, a venda foi fechada. Uma TV que tem o preço de uma casa.


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O fabricante, líder no segmento, nem esperava vender esses aparelhos aqui no Brasil. Mas a loja lançou um desafio. Apostou que conseguiria. Alguns poucos foram importados. E aquele foi o primeiro a ser vendido.


Dá para imaginar os cuidados que envolvem a entrega de um aparelho desses? Mesmo para modelos menores, sempre que uma TV de plasma vai ser entregue, o instalador chega na casa do comprador com um scanner especial. O aparelho foi desenhado para vasculhar as entranhas da parede onde se pretende pendurar a TV. Se há muitos canos e linhas de força atrás do aparelho, podem acontecer distorções na imagem.


O instalador só fixa o aparelho nessas condições se o dono da casa assina um termo isentando a loja de qualquer responsabilidade.


Tudo isso foi feito na casa daquele senhor. Como as condições pareciam boas, o aparelho foi pendurado na parede que ele escolheu. Mas, quando a TV foi ligada, um estouro acompanhou a queda da energia elétrica. E um terrível cheiro de queimado tomou conta do ambiente.


O pobre instalador quase teve um enfarte. Depois de alguns minutos, recomposto, constatou que a preciosa TV não havia sofrido nada. O fato é que ela puxava muita força para os velhos disjuntores daquele casarão paulistano. Uma TV de Plasma dessas consome tanta energia quanto um chuveiro elétrico. Instalações muito antigas não dão conta do recado.


Trocados uns fusíveis, a televisão foi ligada novamente. Agora estava tudo O.K. ‘Onde estão os aparelhos que vamos conectar na TV?’, perguntou o instalador. O dono da casa apontou para um velho videocassete.


O instalador olhou incrédulo. Não havia nem sequer um aparelho de DVD, apenas a TV a cabo e o VHS. Nada que pudesse, nem de longe, tirar proveito daquela tela gigantesca, com mais de mil linhas de resolução.


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Entre os aparelhos de 14 polegadas custando R$ 300 e essa tela com 72 polegadas vendida por R$ 300 mil há um abismo que não pode ser explicado somente pela tecnologia. Um abismo que é a cara do Brasil. Antes de nos enfiarmos em nossas TVs, urrando pela seleção, seria bom relembrar que o País não é a abstração de uma camisa verde e amarela. E que, depois da Copa, vem a eleição.’


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 8 de maio de 2006


INTERNET
Editorial


Censura na rede


Já se louvou à farta a capacidade da internet de driblar a censura e promover a livre circulação de idéias. Não há dúvida de que essas sejam mesmo características marcantes da rede mundial de computadores. Mas isso não significa que os vários ditadores do planeta estejam assistindo de braços cruzados à chamada revolução digital.


Relatório anual da ONG Repórteres Sem Fronteiras mostra que regimes autoritários estão fazendo progressos em impor censura à internet. Seu desafio não é pequeno. No caso da China, a nação líder em repressão cibernética, ele inclui monitorar os e-mails dos 130 milhões de usuários da rede. Mas, aliando alguma tecnologia com meios tradicionais de calar as pessoas -a cadeia-, o governo chinês vem obtendo sucessos. Tanto que, há dois anos, decidiu ampliar o campo de atuação dos censores para além dos temas políticos.


Vários países estão seguindo os passos de Pequim. Segundo o relatório, até 2003, apenas China, Vietnã e Maldivas haviam encarcerado dissidentes por conta de suas atividades na rede. Vieram somar-se a esses Arábia Saudita, Belarus, Coréia do Norte, Cuba, Irã, Líbia, Mianmar, Nepal, Síria, Tunísia, Turcomenistão e Uzbequistão. Vários outros Estados, especialmente do Oriente Médio e do norte da África, começaram a monitorar páginas com conteúdos que lhes desagradam.


Nem mesmo países de sólida tradição democrática escaparam sem críticas do relatório. A UE aprovou norma que obriga provedores de acesso a manter registro das movimentações on-line dos clientes. Ainda que existam pretextos razoáveis para a política, como prevenção ao terrorismo e o combate à pedofilia, ela claramente viola o direito de cidadãos à privacidade. O advento da internet, a exemplo da invenção da imprensa no século 15, dificulta enormemente a tarefa dos censores, mas, infelizmente, não a impossibilita.’


TODA MÍDIA
É um milagre


Nelson de Sá


‘Trecho do diálogo de uma repórter com Lula, ontem na Globo News:


– Preocupa o senhor ele estar falando?


– A mim, não Ele é livre para falar o que bem entender.


Daí para a manchete do Globo Online, com foto de Lula aparentemente nu -dois dias depois da foto de Lula sodomizado por Evo Morales, também em amplo destaque.


Entre aspas, ‘Silvinho é livre para falar o que quiser’. Não, ele não chamou Silvio Pereira de ‘Silvinho’.


Foi na blogosfera, com Jorge Moreno no Globo Online, que a entrevista do ex-secretário apareceu primeiro, depois das 15h de sábadoo:


– Silvinho conta tudo.


Não era bem assim. Pode ser ‘a ressurreição de uma crise’, como postou Josias de Souza na Folha Online, mas, como notou o mesmo blog:


– A despeito da perturbação emocional, Silvinho dosou suas declarações. Embora tenha incluído Lula no rol dos que mandavam no PT, repisou que o presidente desconhecia o esquema de arrecadação.


No blog oposicionista Primeira Leitura, a análise de Rui Nogueira foi além:


– Tudo muito bem visto, lido e analisado, ficamos assim: é evidente que o ex-secretário é uma bomba ambulante, mas é claro também que é um mestre do jogo de cena.


Daí ‘o rol de contradições’, como o de que Lula não sabia -e tudo ‘dentro da estratégia de tornar desimportante o que é relevante’.


Ainda no sábado, Jorge Bornhausen ‘voltou a falar em impeachment’, segundo o Primeira Leitura, mas ontem Geraldo Alckmin ‘rejeitou o impeachment’ e ‘descartou processo de impeachment’.


É o vaivém de todos os dias na campanha tucano-pefelista, que ontem foi sublinhado também pela CBN.


Quem gostou de ver Lula sob fogo nas Globos foi Garotinho, segundo a Band, que só tem olhos para o peemedebista. Do repórter:


– Depois de dizer que só um milagre salvaria a sua candidatura a presidente, Garotinho ganhou novo fôlego com a denúncia. Classificou como um milagre, mas evitou afirmar que seria o suficiente.


Do próprio, que continua passando fome:


– É um milagre.


MEU DEUS!!


www.sbt.com.br/Reprodução


Os jurados da versão brasileira do ‘American Idol’, sob suspeita


O ‘JN’ chegou a noticiar a investigação, meses atrás, mas depois sumiu. Voltou agora nas revistas, comentada assim pelo Noblog, por Xico Vargas:


– Até a Xuxa? Meu Deus!! Definitivamente os nossos dias de inocência perderam-se na poeira dos mensalões. Segundo a ‘IstoÉ’, os mais novos alvos da Receita são as doces figuras de Ana Maria Braga e Xuxa (sim, ela mesma, a rainha dos baixotes e baixinhos).


Tem mais, no SBT. Do blog Kibe Loco!, ontem:


– Um escândalo abala o programa ‘Ídolos’. Descobriu-se que uma das finalistas do ‘reality show’ gravou CD produzido por um dos jurados.


Saiu dias antes na Folha Online, que após a eliminação da tal finalista fez enquete on-line, perguntando se ‘a decisão foi justa’. Para 28% dos 7.000 votantes, ‘não’. Para 27%, ‘sim’. Para esmagadores 45%, ‘talvez’.


Lula e o gás


Na Band News, um ministro falou por Lula:


– O presidente não admite sacrificar o povo da Bolívia em função de circunstância que está em negociação.


Na Folha Online, Kennedy Alencar postou que não é bem assim:


– Enquanto negocia com a Bolívia para evitar aumento de preço, Lula ordenou que a Petrobras apresente rapidamente um plano viável de exploração em larga escala do gás natural da bacia de Santos.


Bush e o etanol


Em entrevista ao canal americano CNBC na sexta, noticiada por ‘Washington Post’ e outros, o presidente dos EUA, George W. Bush, defendeu pela primeira vez derrubar a tarifa imposta ao etanol importado do Brasil.


No ‘Financial Times’, o senador republicano Charles Grassley, de Iowa e presidente da comissão de finanças, respondeu que ‘seria um chute na cara da América rural’.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Cassino negocia com SBT e faz apostas no Brasil


‘O SBT negocia com a empresa estrangeira Tower Torneos a transmissão de um campeonato de pôquer dirigido a brasileiros, o que pode ser considerado crime, pois jogos de azar são proibidos no Brasil. Diretores da Tower terão reunião amanhã no SBT.


A rede de Silvio Santos já exibe, nas noites de domingo, uma competição de pôquer realizada nos EUA pela Tower Torneos, mas sem jogadores brasileiros.


Para atrair brasileiros para o novo torneio, a Tower lançou há dois meses um site em português, com domínio brasileiro (tower torneios.com.br). Lá, exibia até terça um documento em que afirmava que o SBT é seu ‘parceiro’. Esse texto saiu do ar, mas um outro permanece, anunciando a ‘total cobertura do SBT’.


O site da Tower promete para o próximo domingo o início do campeonato, com disputas pela internet. Para se inscrever, é só fornecer alguns dados, gerar um boleto bancário (do Unibanco) e pagar até sexta R$ 250. O prêmio é de US$ 100 mil. Os finalistas, após classificação pela internet, se enfrentarão no cassino Princess Tower, na República Dominicana, ‘em jogo transmitido pelo SBT’.


Para o advogado Jair Jaloreto Jr., especialista em crimes eletrônicos, a exibição do campeonato de pôquer pelo SBT não configura crime, mas a promoção e execução das apostas pelo site, sim.


O domínio do site brasileiro da Tower está registrado em nome da empresa Medprev, que pertence ao médico Lenilson Moreira Filho. No endereço fornecido, há apenas uma casa, sem placas comerciais. À Folha, Moreira Filho, que é mestre em nutrição e tem também uma empresa de tecnologia, disse que apenas prestou serviços de internet para o cassino. No Brasil, o site conta ainda com um servidor de conexão, o Gelt, que provavelmente o direciona a um provedor no exterior.


O SBT recusa o rótulo de parceiro da Tower. A emissora confirma que recebeu uma proposta de exibição do torneio, mas afirma que ainda não fechou contrato. A veiculação, diz o SBT, dependerá da qualidade das imagens captadas.


OUTRO CANAL


Novelo Marcelo Parada (vice-presidente da Band) e Ignácio Coqueiro (novo diretor de teledramaturgia) viajam nesta semana para Portugal. Devem acertar detalhes finais de acordo com a produtora NBP para a co-produção de novelas -negociação que se arrasta há quase dois anos.


Estranho A campanha Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania divulgou na semana passada seu 11º ranking. A surpresa foi a minissérie ‘JK’, da Globo, aparecer em quarto lugar, por ter exibido cenas em que negros, mulheres e gays sofriam preconceito. Mas chamar isso de baixaria, numa minissérie histórica, beira a defesa da censura.’


HQ
Marco Aurélio Canônico


Lançamentos revigoram o terror


‘O gênero de terror e fantasia nunca saiu de moda, mas já teve momentos melhores no Brasil. Agora, três lançamentos voltam a jogar luz sobre esse filão.


A Devir investe no terror mais clássico com duas histórias: ‘Lovecraft’ -uma biografia fantasiosa de um dos principais autores do gênero, Howard Phillips Lovecraft- e ‘30 Dias de Noite: Retorno a Barrow’, continuação da história sobre uma pequena cidade no Alasca (EUA) que é invadida por vampiros.


Já a Pixel Media traz o autor que foi descrito por Stephen King como ‘o futuro do horror’, o britânico Clive Barker (de ‘Hellraiser’), em uma história que tem mais fantasia do que terror, ‘O Ladrão da Eternidade’.


Voltada para um público mais jovem, a HQ de Barker conta a história do garoto Harvey Swick, que, durante um inverno de muito tédio, é convidado por uma criatura misteriosa a visitar a casa de férias do senhor Hood.


Como qualquer criança curiosa e entediada, Swick aceita o convite e descobre um lugar mágico, onde o ano inteiro passa em um único dia e todos os desejos são realizados. Com o tempo, ele vai perceber que a casa de férias não é tão maravilhosa quanto parece.


Barker cria um conto infantil cativante, que prende a atenção do leitor, ajudado pela excelente arte de Gabriel Hernandez.


As HQs da Devir, por sua vez, são mais interessantes para o leitor familiarizado com o gênero do terror. A vida de H.P. Lovecraft (1890-1937), o norte-americano que utilizou as influências de Edgar Allan Poe para levar o horror fantástico a outros patamares, é contada em todos os seus detalhes bizarros (era vestido de garota pela mãe, viu seus pais pararem num manicômio) pelo trio Hans Rodionoff (roteiro original), Keith Giffen (adaptação) e Enrique Breccia (ilustrações).


A premissa de ‘Lovecraft’ é curiosa: e se a vida bizarra do recluso autor tivesse sido influenciada pelos demônios que ele descrevia em suas histórias? Misturando fatos reais e fantasia, o trio presta homenagem ao escritor.


Já ‘30 Dias de Noite: Retorno a Barrow’, de Steve Niles (texto) e Ben Templesmith (arte), narra a ida do xerife Brian Kitka até a cidadezinha perdida no gelo do Alasca para investigar a misteriosa morte de seu irmão.


O terror vem de uma horda de vampiros que ataca a cidade, ajudada pelo clima: durante o inverno, Barrow fica totalmente às escuras por 30 dias. É a típica história de terror moderno, talhada para o cinema -e, de fato, está sendo adaptada para a telona.


Lovecraft


Editora: Devir


Quanto: R$ 39 (144 págs.)


30 Dias de Noite: Retorno a Barrow


Editora: Devir


Quanto: R$ 35 (146 págs.)


O Ladrão da Eternidade


Editora: Pixel Media


Quanto: R$ 33 (144 págs.)’


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O Globo


Segunda-feira, 8 de maio de 2006


DIRETÓRIO ACADÊMICO
Carlos Alberto Di Franco


Crimes em família


‘O adolescente R., 17 anos, foi preso recentemente por estrangular a própria mãe, em seu apartamento no Morumbi, bairro nobre de São Paulo. Alguns dias antes, Gil Rugai, acusado de matar o pai e a madrasta, havia conseguido liberdade provisória, e Suzane Richthofen, que confessou ter tramado a morte do pai e da mãe, retornou à prisão. A sociedade assiste, atônita, a uma sucessão de crimes ocorridos no âmbito de famílias de classe média e média alta. A violência, brutal e cruel, não está somente nas ruas das grandes cidades. Ela está oculta sob a fachada de lares comuns e correntes. Vítimas e criminosos têm o mesmo sobrenome. O inimigo, estranho paradoxo, mora em casa.


O mais recente capítulo da novela macabra foi protagonizado por um rapaz que estudava em colégio particular, praticava tênis e xadrez. Segundo depoimentos de professores e vizinhos, R, lutador de jiu-jítsu, era um rapaz normal. Adorava praticar esportes, mas não gostava de estudar. Seu perfil, marcado pelos traços típicos da adolescência, não se diferenciava de milhares de jovens de sua idade.


R., confirmando a regra do comportamento adolescente, vivia às turras com sua mãe. Até aí, normal. Nada que não se enquadre nos moldes da crise da puberdade. Minha mãe, uma mulher de grande sabedoria, definia essa fase da vida como a ‘idade do flagelo’. Paciência, firmeza e carinho, dizia ela, abreviam o ciclo do terremoto. O depoimento de R. ao delegado, no entanto, desnudou o cerne da tragédia: o vazio afetivo.


Às seis horas da manhã do sábado 22 de abril, mãe e filho tiveram a sua pior briga. Acostumada a freqüentar bares e boates, Zeli Boeira de Abreu chegou em casa por volta das quatro da madrugada. Cerca de duas horas mais tarde, despertou com barulho de descarga no banheiro. Era R., que acordara fora de hora. Zeli irritou-se ao ter o sono interrompido. Mãe de três filhos, ela havia deixado os dois menores passarem o fim de semana com o pai. Foi até a cozinha e pegou uma faca, atravessou a sala e entrou no quarto do filho. Ali, ordenou ao rapaz para que deixasse imediatamente o apartamento. Ambos se atracaram. O matricídio se consumou.


Como é que chegamos a isto? A interrogação está subjacente em inúmeras cartas e e-mails de leitores que, atordoados, tentam encontrar resposta para a escalada de crueldade que invadiu o cotidiano. Não quero julgar ninguém. Mas meu feeling profissional indica a presença de um elo que dá unidade a esses dramáticos episódios: a ausência de afeto verdadeiro. Desequilíbrios e patologias independem da boa vontade de pais e filhos. A regra, no entanto, mostra que o crime hediondo costuma ser o fecho de um silogismo que se fundamenta nas premissas do egoísmo e da ausência. A desestruturação da família está, de fato, na raiz da tragédia. Se a escalada de crimes em família deixa algo claro, é o fato de que, cada vez mais, pais não conhecem os seus filhos (e filhos também não se interessam por seus pais e avós). Na falta do carinho e do diálogo, os jovens crescem sem referências morais e âncoras afetivas. Recebem boas mesadas, carros e viagens. Mas, certamente, trocariam tudo isso pela presença dos pais.


Falta de limites e crise de autoridade estão na outra ponta do problema. Transformou-se o prazer em regra absoluta. Cada vez mais o gosto e o capricho passaram a impor sua força cega. O sacrifício, a renúncia e o esforço, realidades inerentes ao cotidiano de todos nós, foram expurgados. A demissão dos limites e a supressão de qualquer vestígio de autoridade (dos pais, da escola e do Estado) geram a barbárie. A responsabilidade, conseqüência direta e imediata dos atos humanos, simplesmente desapareceu. Em todos os campos. O político ladrão e aético não vai para a cadeia. Renuncia ao mandato. Princípios são lançados no lixo em nome da governabilidade e do pragmatismo político.


A sociedade precisa de um choque de bom senso. O crime em família, suprema aberração, já não está somente nas telas dos cinemas. Está batendo às portas das casas de um Brasil que precisa resgatar os valores e as instituições básicas da sociedade.


CARLOS ALBERTO DI FRANCO é diretor do Master em Jornalismo.’


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