Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas. ************ Folha de S. Paulo Segunda-feira, 17 de janeiro de 2011 TELEVISÃO Keila Jimenez Sem luz, TVs lutam para manter cobertura no Rio A tragédia das enchentes no Rio de Janeiro afetou diretamente a cobertura de TV na região serrana. Falta de energia elétrica, queda de comunicação, dificuldade de locomoção em Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis tiraram retransmissoras e geradoras do ar, e fez emissoras armarem esquemas de guerra para manter seu sinal local. Na quarta-feira, a Inter TV Serra, afiliada da Globo na região, ficou fora do ar das 4h às 11 horas. Voltou movida a geradores, com combustível racionado, por conta das dificuldades de abastecimento. A emissora também deslocou para a cobertura dois helicópteros e dois equipamentos de SNG, que realizam transmissão via satélite. Sem energia, o SBT, que tem uma geradora em Nova Friburgo, não está conseguindo exibir sua programação local, que ficou fora do ar na quinta e na sexta-feira. Sem uma base de transmissão, jornalistas do SBT têm de ir até o Pico da Caledônia, local em que ficam as antenas da cidade, para enviar o material para a rede. Band e Rede TV! não têm geradoras nem retransmissoras na região e seguem só com o sinal da capital. A Folha apurou que as três repetidoras da Record na região enfrentaram graves problemas de sinal, fato negado pela emissora. O NÚMERO É… ‘Hebe’, que estreia dia 15 de março na Rede TV!, terá quatro cotas nacionais de patrocínio, ao custo de R$ 1,9 milhão (valor de tabela) cada. Oscar Até o tapete vermelho que recebeu Hebe na Rede TV!, na sexta-feira, era uma homenagem à loira. Tinha 82 metros, idade que ela completa em março. Hebe tem contrato com a rede por 2 anos. Reforço Roberto Pereira é o mais novo gerente de marketing da TV Cultura. Freio Como a coluna antecipou, a última edição do ‘Auto Esporte’ gravada pela GW, irá ao ar no próximo domingo na Globo. A emissora abrirá concorrência entre produtoras para uma nova temporada. A PERGUNTA É… Por que a Record fez links da tragédia na região serrana do Rio direto da linda praia de Copacabana, enquanto a concorrência atolava âncoras e repórteres na lama na cobertura? Guerra Libertadores da América no Sportv já tem até trilha sonora. O canal comprou os diretos da música ‘Tropa de Elite’, do Tihuana, para embalar as chamadas. Ponta Chamada para uma participação em ‘Ti Ti Ti’ (Globo), Laura Wie não pôde fazer. Ela é repórter do ‘Programa Amaury Jr’ (RedeTV!). Grude Apesar dos desmentidos, a Record está sim no pé de Ana Paula Arósio. Até designou um profissional, amigo da atriz, só para isso. com SAMIA MAZZUCCO Thales de Menezes Astro de ‘Friends’ estrela nova série interpretando ele mesmo Fãs de Joey Tribbiani podem celebrar. Matt LeBlanc, que se consagrou como o mais garanhão e menos esperto dos três rapazes de ‘Friends’ (1994-2004), emplaca em uma nova série. O papel não poderia ser mais perfeito.
‘Episodes’, série do canal Showtime que estreou nos Estados Unidos este mês, brinca com bastidores da TV e atiça diferenças culturais entre americanos e ingleses.
O casal inglês de roteiristas Sean e Beverly Lincoln (Stephen Mangan e Tamsin Greig, do elenco da comédia britânica de hospital ‘The Green Wing’) ganha prêmios com a série ‘Lyman’s Boys’.
Contratados para um remake americano, vão para Hollywood e tudo dá errado. A começar do lugar onde moram, uma mansão construída para um reality show na qual é difícil saber o que é verdadeiro e o que é cenário.
O produtor americano rejeita o ator inglês que faz o papel principal e resolve trocá-lo por Matt LeBlanc.
Autor de ‘Friends’, David Crane produz ‘Episodes’, que diverte com piadas ferinas. É nova chance para LeBlanc, que fracassou ao esticar a vida de seu personagem na fraca ‘Joey’ (2004-2006).
‘Episodes’ terá apenas sete capítulos, ainda sem exibição programada no Brasil.
Roberto de Oliveira
Autor de ‘Passione’ usa velhos recursos de forma magistral e sacoleja audiência
Silvio de Abreu é um cara sapeca. O autor conseguiu, outra vez, desmontar aquela surrada ladainha de que novela segue um caminho sem volta, ladeira abaixo.
Sacou das mesmas armas exploradas em tramas anteriores, como a velha ‘quem matou?’ -que ganhou fama lá nos anos 1980 com a hoje clássica ‘Vale Tudo’.
A estratégia é manjada: utilizar o recurso seguido pela revelação do assassino no final da novela, mas Silvio o fez com maestria. (Vamos esquecer bobagens como ‘o segredo de Gerson’, ok?) Fato é que ‘Passione’ sacolejou a audiência. Fez mais. Da quitanda à academia, do Twitter ao YouTube, a novela foi um dos assuntos mais comentados nos últimos meses. Aos 68 anos, os holofotes se viram para ele, Silvio de Abreu.
É verdade que, depois de um começo ágil, cinematográfico até, a trama patinou na metade do percurso. Coisa de novela. A insossa Diana (interpretada pela também insossa Carolina Dieckmann) não vingou como mocinha. Silvio tratou de mandá-la para o cemitério da Consolação. O problema é que demorou para fazer isso.
Nem o apelido de cachorro fofo salvou Totó, o herói que assumiu a carapuça de chifrudo. Quem sabe seu assassinato não seria nossa redenção? Que nada, não demorou e o o homem estava de volta.
Mas que ideia dos infernos foi aquela de ressuscitá-lo, Silvio? Totó ‘flopou’ na primeira e na segunda vida.
Esperto, Silvio de Abreu tratou logo de colocar o trem nos trilhos, com a ajuda competente da diretora Denise Saraceni. Não pouparam investimentos em sequências bem feitas e editadas. Rápidas, como um videoclipe.
Não dá para ignorar o núcleo humorístico, espécie de pornochanchada anos 2000, marca do autor. Mimoso, Pitchuquinha e Jéssica (Gabriela Duarte, memorável), sem contar a hilária empregada, estavam sempre ali para mandar aquela perversidade toda para os infernos.
Mas, justiça seja feita, ‘Passione’ foi mesmo da malvada Clara, a neta da ‘velha porca’. Nos minutinhos finais, só faltou Mariana Ximenes dar uma banana para o telespectador.
Que venha agora o ‘enfant terrible’ Gilberto Braga.
PASSIONE
AVALIAÇÃO ótimo
GOVERNO
Igor Gielow
Construindo Dilma
Como incógnita que ainda é na figura de presidente, Dilma Rousseff passa por um processo de construção de imagem.
Duas semanas não são dois anos, claro, mas já é visível o esforço da camarilha em montar um híbrido: uma presidente diferente de Lula, mas que possa surfar na popularidade do antecessor.
Não é tarefa fácil. Até as emas do Alvorada sabem que Lula, como figura midiática, talvez seja um episódio único. Felizmente: nem os petistas disfarçam o alívio de não ter de tratar diariamente com o ego monstruoso e a balbúrdia comunicativa do antigo chefe.
O fato é que está em curso a venda da imagem da ‘gerentona’, dura nas cobranças, que marca reuniões de modo a obrigar sua equipe a trabalhar como todo mundo até o fim da semana. E tudo com cara de novidade, como se Dilma não tivesse integrado a era Lula.
E, veja só, ela também ‘exige’ padrões éticos impecáveis. Espera-se que não ela não tenha em mente Erenice Guerra, aliás presença ilustre na sua posse, quando fala nisso. Fora a piada pronta de colocar Antonio ‘caseiro Francenildo’ Palocci como o menino do recado.
Aqui e ali são vistos elogios inflamados à visita da presidente ao Rio sob o signo da tragédia. Ponto para Dilma, claro, por não repetir o roteiro covarde de Lula. Mas vamos combinar: ela fez apenas o que se espera de qualquer governante.
Sob a aura da suposta eficácia discreta escondem-se também cacoetes da formação comunista de Dilma. Ordem unida, comitês setoriais, silêncio sobre divergências, uma agenda cheia de secretismos -até a bandeira da Presidência já não servirá de indicador de paradeiro. Parece coisa de aparelho, que, somada a um aparente desprezo da relação com o Congresso, tende a gerar ressentimentos.
Dilma tem gordura lulista para queimar enquanto tenta se afirmar. A dúvida é por quanto tempo.
Luciana Ribeiro
Governador de Rondônia registra cada passo em blog
Em menos de 15 dias no governo de Rondônia, Confúcio Moura (PMDB) anunciou a criação de um ‘núcleo de imaginação’, divulgou uma agenda na qual divide os compromissos entre ‘importante’ e ‘tempo perdido’ e não deixou de registrar em seu blog cada passo que deu.
O estilo excêntrico do governador de 62 anos também não deixa de ser estratégia: uma de suas primeiras medidas foi convocar a imprensa nacional a Porto Velho para dizer que os problemas no setor de saúde enfrentados por Rondônia eram responsabilidade de governos passados.
Ele divulga a agenda com anotações sobre cada compromisso. Conceder uma entrevista ao ‘Jornal Nacional’ para falar sobre os hospitais do Estado, por exemplo, foi classificado por Confúcio como ‘urgente e importante’.
Já uma reunião com o vice-presidente do Banco da China, no mesmo dia, foi considerada ‘urgente, mas não importante’. Seu encontro com um representante da Polícia Militar, em seguida, figurou na agenda como ‘nem urgente nem importante’.
Outra das primeiras medidas de Confúcio foi anunciar o Núcleo de Imaginação Permanente, ligado à Secretaria de Assuntos Estratégicos.
Nesse setor, funcionários comissionados serão responsáveis por captar ideias da população e transformá-las em programas. ‘Gente que gosta de povo, de escutar conversa na rua’, disse o governador à Folha.
Confúcio já publicou quatro livros -entre eles, um de poesia e outro para fazer caixa de campanha para sua candidatura no ano passado.
Este acabou rendendo para os adversários, que usavam trechos e diziam que o então candidato era ‘doido’.
Não foram os livros, porém, que o fizeram conhecido fora de Rondônia. É sua atuação na internet que chama atenção. Foi pelo blog, por exemplo, que anunciou seus secretários: ‘Tem gente muito melhor por aí, mas os que nomeei foram os possíveis’, escreveu.
Ele posta até três vezes por dia. Além de medidas oficiais, descreve momentos da vida privada: ‘Assisti à novela com Alice [a primeira-dama do Estado], deitei no colo dela, ela ficou me espremendo uns cravos na careca’.
‘De vez em quando, escapam algumas palavras. Elas vão embora e causam um embaraço’, disse à Folha.
TECNOLOGIA
Camila Fusco
Empresas fazem busca por talentos na Campus Party
A Campus Party, feira de inovações digitais que começa hoje em São Paulo, é o lugar certo, na avaliação das empresas de tecnologia, para encontrar talentos.
Os alvos, entre os 6.500 participantes esperados, são principalmente estudantes universitários ou jovens profissionais de ciência da computação e engenharia.
‘São empresas que acreditam que do caos criativo poderão surgir coisas interessantes e que apostam também que do Brasil sairá um novo Google ou Facebook’, diz Mário Teza, diretor da empresa organizadora da feira, a Futura Networks.
As táticas para encontrar os talentos variam.
A Vivo terá uma equipe com dez funcionários que vão acampar e aproveitar para mapear interessados em trabalhar em suas unidades regionais pelo Brasil.
A Totvs, empresa brasileira de software de gestão empresarial, terá equipes para selecionar currículos e entrevistar candidatos para as vagas de engenheiro de pesquisa e desenvolvimento e de programador.
A Telefônica apostou na combinação de táticas de recrutamento.
No processo tradicional, seis profissionais de RH vão receber currículos e conversar com os candidatos.
TESTE DE RESISTÊNCIA
No formato alternativo, fará o concurso ‘Iron Geek’, que testará a resistência dos participantes em assuntos de tecnologia. O vencedor passará três meses em treinamento na sede da empresa, na Espanha.
Parte dos contatos feitos na Campus Party poderá ser aproveitada pelo recém-criado Centro de Inovação e Desenvolvimento.
A unidade, primeira fora da Espanha, pesquisará tecnologias de vídeo, TV e plataformas de internet em alta velocidade para os 25 países onde a operadora atua.
‘Estratégias como essas nos permitem entender a demanda de uso da tecnologia, conhecer ideias inovadoras e ter contato com possíveis gênios que vão mover a indústria nos próximos dez anos’, diz Françoise Trapenard, diretora de RH da Telefônica.
O evento, que vai até domingo, terá 500 horas de conteúdo e mais de 400 atividades, distribuídas em ciência, criatividade, inovação e entretenimento digital.
O perfil esperado dos ‘campuseiros’ -nome atribuído aos frequentadores da feira- inclui 73% de homens e 27% de mulheres. Cerca de 80% têm entre 18 e 29 anos.
INTERNET
Ronaldo Lemos
O fim da internet como a conhecemos
UM AMIGO me contou que perguntaram para a filha dele de sete anos se ela já ‘usava a internet’.
Ela respondeu: ‘Não uso internet, só Facebook’. Na cabeça dela, Facebook e internet eram coisas diferentes. Pode parecer uma visão infantil, mas, na verdade, é uma boa sacada sobre o que está acontecendo.
Cada vez mais gente gasta seu tempo em apenas alguns sites ou serviços. Faça um teste: quantos sites você acessa por dia? E quanto tempo fica em cada um deles? Para muitos, o resultado vai ser uma vida on-line reduzida a Facebook ou Twitter, YouTube e Orkut, ou serviços como MSN e Skype.
As visitas a outros lugares acabam sendo rápidas e rasteiras. No máximo, você lê alguma coisa interessante e sai correndo de volta para comentar no Twitter ou compartilhar o link em alguma rede social.
Sabendo disso, algumas operadoras de celular passaram a oferecer acesso livre apenas para sites mais populares. Para o restante da rede, é preciso pagar.
A estratégia é polêmica. Há quem pense que isso aponta para o fim da neutralidade da rede. Em vez de existir uma internet única com diversidade e múltiplas aplicações, surgiriam várias ‘internets’, cada uma com características fechadas, em que só algumas aplicações funcionam.
A reação a isso tem vindo na forma de legislação. O Chile, por exemplo, adotou uma lei para proteger a neutralidade da rede, tornando-se o primeiro país da América Latina a ter uma regulamentação a respeito.
Nos EUA, a FCC (Comissão Federal de Comunicações) fez a mesma coisa: baixou uma série de regras para proteger a neutralidade. Obviamente, as empresas que oferecem serviços de acesso não ficaram nada felizes com as medidas.
Essa é uma das batalhas mais importantes desta década que se inicia. E vem chumbo grosso por aí. O resultado vai mudar o que hoje chamamos de ‘internet’.
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O Estado de S. Paulo
Segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
GOVERNO
Karla Mendes
Dilma quer critério técnico na Anatel
Está nas mãos da presidente Dilma Rousseff a decisão entre três nomes para ocupar o cargo mais cobiçado do momento na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel): a cadeira de quinto conselheiro da agência, vaga desde o fim do ano passado, quando o ex-conselheiro Antonio Bedran, indicado pelo PMDB, não foi reconduzido ao posto.
Estão no páreo três nomes: André Barbosa, Luiz Tarcísio Teixeira Ferreira e Amadeu de Paula Castro Neto, revelou ao Estado uma fonte do setor. Assessor especial da Casa Civil, responsável pela coordenação dos projetos de expansão da TV digital, Barbosa é homem de confiança de Dilma.
Ele estava sendo cogitado para assumir a Secretaria de Inclusão Digital, que será criada no Ministério das Comunicações, mas essa hipótese foi descartada. Nos bastidores, fala-se que o ministro Paulo Bernardo trará uma pessoa de sua confiança do Ministério do Planejamento ou alguém do Paraná ou do Espírito Santo.
Irmão do deputado federal Paulo Teixeira, eleito por São Paulo pelo PT, Ferreira é advogado e atua fortemente para a Oi nos tribunais. É sócio do escritório Tojal, Teixeira Ferreira, Serrano & Renault Advogados Associados, que tem como um dos sócios Sérgio Renault, indicado pelo ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos para assumir a função de subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil, no primeiro mandato do governo Lula.
Neto, por sua vez, é ex-superintendente executivo da Anatel, onde também atuou no Conselho Consultivo da agência e também já ocupou a presidência executiva da Associação Nacional das Operadoras Celulares (Acel). Atualmente, é consultor da SP Communications, que presta consultoria para várias operadoras de telecomunicações. À margem desse processo, porém, o PMDB tenta reconduzir Bedran para o posto.
Depois de perder o Ministério das Comunicações e os Correios, considerados verdadeiros feudos do partido durante anos, e que no governo Dilma passaram para o PT, o PMDB pleiteia, ao menos, a vaga de conselheiro da Anatel. E quem está atuando nessa frente é o ex-ministro das Comunicações Hélio Costa.
Sem barganha. Pela cota do PMDB, também estava sendo cogitada a indicação do deputado federal Paulo Lustosa. Mas com a nomeação do deputado para presidente do Conselho de Meio Ambiente do Ceará, onde terá status de secretário, Lustosa saiu do páreo.
Uma fonte do PT disse ao Estado que Dilma quer resgatar o papel das agências reguladoras. E que, por essa razão, o critério para a escolha dos nomes será profundo conhecimento técnico do setor e ela não aceitará indicações políticas nem alvos de barganha.
‘Tem de ser o mais isento possível. Senão, nem as estatais respeitam. E uma decisão errada tem um impacto enorme nos preços das tarifas, como energia elétrica e telefonia’, disse.
PARA ENTENDER
A Anatel tem decisões importantes para tomar este ano, entre elas aprovar o Plano Geral de Metas de Universalização e também o Plano Nacional de Banda Larga, para levar internet rápida a todos os municípios brasileiros.
TELEVISÃO
Patrícia Villalba
Pergunta de amigo nunca ofende
Tem coisa que só amigo de verdade ousa perguntar à queima roupa. ‘Como você se sente carregando piano e eu sempre mais prestigiado?’, dispara Gilberto Braga para Ricardo Linhares neste jogo proposto pelo Estado. Gilberto, autor de sucessos como Dancin’Days e Vale Tudo, entrevista Ricardo Linhares. E Ricardo Linhares, jornalista que se tornou autor de novelas e com ele coautor de Celebridade e Paraíso Tropical, entrevista Gilberto. Os dois estreiam hoje Insensato Coração, nova novela das 9 que substitui Passione a partir de hoje na Globo.
Gilberto e Ricardo se conheceram na Casa de Criação Janete Clair, um espaço formado por Dias Gomes na Globo em 1985, para cursos, palestras e discussão de ideias. Ali, Ricardo recebeu o convite para colaborar com Aguinaldo Silva em O Outro (1987) e só iniciaria a parceria com Gilberto em 1990, quando escreveu com Ana Maria Moretszohn e Maria Carmem Barbosa o remake Lua Cheia de Amor. Adaptação de Dona Xepa (1977), de Gilberto, a novela só poderia ter a supervisão do autor. Logo depois, em 1991, os dois fizeram O Dono do Mundo. ‘Na realidade, começamos a trabalhar em Anos Rebeldes (1992). Estruturamos a minissérie, escrevemos a sinopse e, em seguida, paramos. Só voltamos depois de O Dono do Mundo’, contou Ricardo ao site Memória Globo.
Gilberto passaria, então, um bom período sem Ricardo, quando ele esteve na equipe de Aguinaldo Silva, trabalhando em Pedra sobre Pedra (1992), Fera Ferida (1993), A Indomada (1997), Porto dos Milagres (2001). Entre elas, em 1998, assinou uma trama só sua, Meu Bem Querer e, em 2003, repetiu a experiência com Agora É que São Elas. No mesmo ano, voltou a escrever com Gilberto, desta vez como coautor de Celebridade (2003) e Paraíso Tropical (2007) – e pelo que se lê nas entrevistas abaixo, a dupla não deve se dissolver tão cedo. ‘Quando estamos com uma novela no ar, nos reunimos todo sábado para bolar os seis capítulos que vamos escrever na semana seguinte’, detalha Ricardo. ‘O Gilberto faz um resumo dos capítulos, eu faço a escaleta, a equipe escreve os diálogos e ele faz a redação final. É, essencialmente, um trabalho de equipe.’
Amor e desastre. Ao pegar emprestado o ‘insensato coração’ da música de Dorival Caymmi, os autores selaram o destino dos protagonistas, a designer Marina (Paola Oliveira) e o piloto de aviões Pedro (Eriberto Leão), que se conhecem em situação adversa – claro. Sem saber que ela já está escalada para ser madrinha do casamento dele com Luciana (Fernanda Machado), prestes a acontecer, os dois embarcam em um voo que é sequestrado. Saem da cena como heróis, e apaixonados.
Um acidente apenas talvez seja pouco para bagunçar a vida dos mocinhos a ponto de render por mais de 200 capítulos. Então, ainda na primeira semana, haverá um desastre de carro, provocado por uma briga entre Marina e Pedro. Terminará com a morte de Luciana. É certo que eles deveriam se afastar mas, ah, os corações são insensatos.
Mas apesar de ter embalado os momentos de criação da dupla Gilberto-Ricardo, Só Louco não é o tema de abertura da novela, como seria fácil supor. É Coração em Desalinho (Mauro Diniz/Ratinho), conhecida na voz de Zeca Pagodinho que volta numa regravação de Maria Rita. E a música de Caymmi também não resume a novela que, como quem conhece Gilberto Braga pode imaginar, trata mais da crônica social do que das desventuras do amor propriamente ditas.
Família, família. É dentro do ambiente familiar e por meio de tipos aparentemente comuns que se conta a história de Insensato Coração. Pedro, por exemplo, é irmão de Léo (Gabriel Braga Nunes), que já começa cotado como o maior mau caráter da trama. Ele quer conseguir dinheiro rápido e vai se aproveitar da ingenuidade de Norma (Glória Pires) para dar um golpe. Por causa dele, ela vai parar na cadeia, e sai uma outra pessoa de lá – história que promete.
Pedro e Léo são filhos de Wanda (Natália do Vale) e Raul Brandão (Antonio Fagundes) – ela protege o vilão e ele, identifica-se com o bonzinho, situação que dá margem a conflitos. Raul carrega ainda certa mágoa de seu irmão, Umberto (José Wilker). A gota d’água, também logo nos primeiros capítulos, acontece quando ele flagra a mulher e o irmão na cama, no melhor estilo ‘parente é serpente’.
A PRODUÇÃO
Brigadeiro
Insensato Coração é a primeira novela a usar o avião-cenário comprado recentemente pela Globo. É maior do que um airbus, para poder acomodar as câmeras e equipamentos.
Brinquedo
A torre de 40 andares do shopping de Vitória Drumond (Nathalia Timberg) é uma maquete de 18 metros quadrados, que será inserida por meio de computação gráfica.
Assinatura
Designers foram convidados para criar as peças que, na ficção, serão obra da criatividade de André Gurgel (Lázaro Ramos). Entre pratos, talheres e mesas, o destaque é um barco.
Na ilha
As gravações em Florianópolis vão marcar os primeiros 60 capítulos da novela. Em cerca de 40 dias, mil profissionais foram do Rio à capital catarinense trabalhar. Fora isso, quase mil figurantes foram contratados para compor as cenas.
DE GILBERTO BRAGA PARA…
Ricardo Linhares, CO- AUTOR DA NOVELA INSENSATO CORAÇÃO
1. Ricardo, como você se sente carregando piano e eu sempre mais prestigiado pelo fato de ter começado em 1973?
Gilberto, você é um ícone. Isso é natural. Sou o primeiro a chamar você de mestre. Quando eu era adolescente, acompanhava empolgado Dancin’ Days. Hoje estou lado a lado com você. Motivo de muito orgulho.
2.Será que você ainda aguenta fazer mais uma comigo depois de Insensato?
Quantas mais vierem, com o maior prazer. Quem sabe conseguimos fazer a minissérie do Tom Jobim? Meu lema é cantado pelo grande Zeca Pagodinho: ‘Deixa a vida me levar/ Vida leva eu…’
3. Sem mim, qual seria seu universo ficcional?
Provavelmente a classe média da zona sul carioca, onde fui criado e estão as minhas referências. E com o tempero de várias histórias de amor. Gosto de folhetim, melodrama, do operístico. Sou romântico e despudorado ao criar. Curto ‘eu te amo’ e beijos na boca. Ação física, tiroteios, perseguições, mistérios e o molho do humor também são fundamentais.
DE RICARDO LINHARES PARA…
Gilberto Braga, CO-AUTOR DA NOVELA INSENSATO CORAÇÃO
1. Gilberto, sobre música: Seu gosto musical é fabuloso e eclético. Na nossa trilha sonora, há vários gêneros, canções inéditas, regravações, músicas brasileiras, americanas, francesas, italianas… Como você elabora o cardápio musical das novelas?
Há muitos anos, Ricardo, que venho simplesmente colocando nas novelas músicas de que gosto muito. Coração em Desalinho, por exemplo, é uma paixão já de uns 10 anos – pra darmos modernidade chamamos a Maria Rita. No Tempo do Dondon foi o motivo do núcleo do Andaraí em Celebridade – quer dizer, primeiro a música, depois o núcleo.
2. Você é um homem sofisticado que curte as coisas simples. O que mais você curte? Uma listinha tipo a que Woody Allen fez em Manhattan.
Vou tentar: Parar a bicicleta no posto 6 e ficar olhando a Avenida Atlântica. Terminar ginástica e alongamento e tomar aquela ducha. Passar um dia inteiro na praia, torrando no sol. Reunir amigos em casa psra almoçar por volta de 17h sem hora pra terminar. Rever filmes do Billy Wilder, Hitchcock, Truffaut e outros. Rever Aeroporto, revi esta semana. Não podemos nos alimentar só de obras-primas, o ‘cinema pipoca’ também é bom. Meu próximo vai ser Inferno na Torre. Jantar no Antiquarius. Comer cachorro quente no Gray’s Papaia, em Nova York. Hamburger no P. J. Clarke’s. Pena que a barriga esteja tão grande, eu adoro comer.
3. Cidadão Kane ganhou Oscar de roteiro original. Qual a sua opinião sobre o filme? Orson ou Billy Wilder e Hitchcock?
Não sou um grande fã nem de Kane nem de Welles. Não sou chegado a expressionismo alemão. O George Cukor fez uma declaração idêntica à minha. Viva Billy Wilder, e merda (sorte)pra nós com Insensato Coração.
Patricia Villalba
Passione teve final lógico e coerente, mas escapou do óbvio
Novela, é preciso admitir, é sempre melhor no ‘durante’ do que no ‘depois’. É que são tantos meses esperando a solução dos problemas e mistérios que o nível de expectativa acumulado na cabeça do telespectador chega a um ponto quase impossível de satisfazer com qualquer solução que seja. Isso em conta, pode-se dizer que, sim, Passione teve um grande final na sexta-feira. A se lamentar, apenas, que o último capítulo poderia ser mais ágil, mas é claro que não se pode fugir dos desfechos nas histórias de humor e nos tradicionais casamentos e partos.
Criativo do jeito que é, o autor Silvio de Abreu bem que poderia ter criado uma situação mirabolante para culpar o menos suspeito dos personagens – a dona Brígida (Cleyde Yáconis), por exemplo. Mas preferiu o caminho da coerência e da lógica – que não pode ser abandonada no bom romance policial – e fez da vilã Clara (Mariana Ximenes) a culpada pelos assassinatos de Eugênio (Mauro Mendonça) e Saulo (Werner Schunemann).
Mas o melhor é que, ainda que a solução fosse lógica, a maneira como a trama foi conduzida passou longe do óbvio. Clara envenenou Eugênio a mando de Saulo – e a relação entre os dois, que começou quando ela era criança, foi surpresa. A cena da morte dele, propriamente dita, foi ótima. E fazer Fred pagar, definitivamente, pelo crime cometido por Clara foi bem interessante, bem como não deixar que os personagens da trama nunca soubessem, afinal, o que motivou as mortes.
Clara só ganhou profundidade nos últimos capítulos. Tão jovem, Mariana brilhou num elenco que tinha Fernanda Montenegro, Cleyde Yáconis e Irene Ravache. Fred, que perambulou meio perdido em alguns momentos, terminou bem. E devo contrariar os que são muito duros e dizer que Reynaldo Gianecchini foi muito bem – arrasou na cena em que recebeu Bete na prisão.
O trabalho da equipe técnica, que deu uma plasticidade sem precedentes à novela, também merece crédito. Passione manteve uma iluminação de extremo capricho durante seus oito meses, que não ficou restrita às imagens da Toscana. Começou e terminou lindamente, divertiu, emocionou, elevou ânimos e, de quebra, recuperou a audiência do horário. O que não é pouca coisa.
Jacob Bernstein, NYT
Morgan estreia na CNN
Se você está prestes a herdar o horário das 21 horas de um monstro dos noticiários, tem de ser durão. Veja Piers Morgan. Ele nem estreou na CNN e já ouviu razões pelas quais não deveria estar lá como substituto de Larry King: ele é britânico e nunca houve um apresentador britânico na faixa nobre da TV americana desde os tempos de David Frost. A fama de Morgan, nos EUA, vem de sua vitória no reality Celebrity Apprentice (O Aprendiz Celebridade, com Donald Trump) e da participação como jurado da competição America’s Got Talent – nenhum dos dois o fez ganhar pontos em jornalismo.
Ele pode ser malvado e os apresentadores de talk show precisam ser amáveis como Ellen Degeneres, Jay Leno e Rosie O’Donnell. Ele é menos importante do que os concorrentes e sua mais notória entrevista, com o ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown, se deu em um cenário que lembrava o do programa Who Wants To Be a Millionaire? Sabe o que Morgan diz destas acusações? ‘Culpado!’
‘Esta é a ideia’, fala o apresentador, em um hotel de Manhattan. ‘Sinto que toda televisão é um teatro, seja um show de talentos ou um programa de entrevistas. As luzes diminuem, as cortinas se abrem e você tem de pensar como o jogo vai se desenrolar.’
Então, quem se importa se ele fez uma reportagem sobre a derrocada de Las Vegas que incluía seu casamento falso com Paris Hilton? Ou se, como editor do Daily Mirror, ele fez piadas sobre dormir com mulheres como a Princesa Diana e a top Naomi Campbell?
‘Quero que meu programa seja divertido’, fala. ‘As pessoas desprovidas de humor pensam que noticiário é quando veem gente morrendo. E não é. Notícias aparecem de maneiras diferentes. Algumas são sobre desastres e tragédias, outras são inspiradoras e animadoras. Algumas vêm na forma simplesmente do velho e bom entretenimento.’
Com esta finalidade, a primeira semana de Morgan no ar traz convidados que vão falar desde política (a ex-secretária de Estado dos EUA Condoleezza Rice) a cultura pop (o ator George Clooney, o humorista Rick Gervais e o radialista Howard Stern). E há a entrevista com a apresentadora Oprah Winfrey, que já classificou a hora que passou com Morgan como uma das mais difíceis entrevistas que encarou em 20 anos.
‘Oprah saiu e disse que teve de tomar um longo banho quente e dois Anacin (remédio para dor de cabeça)’, conta Morgan, com um grande sorriso. ‘Esta foi a melhor propaganda que eu poderia ter. E não foi que ela não gostou da entrevista. É que foi exaustivo para ela. Oprah sentiu como se tivesse de estar em seu próprio show e, como resultado, me deu uma ótima entrevista.’
Assim é Piers Morgan: convencido, mas charmoso o suficiente para trabalhar isso a seu favor.
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