Leia abaixo os textos de terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ Folha de S. Paulo
Terça-feira, 19 de junho de 2007
RENANGATE
Advogado bate boca com aliados de Renan
‘Em depoimento de mais de três horas marcado por troca de ofensas e acusações, aliados do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) tentaram desqualificar no Conselho de Ética o advogado Pedro Calmon, que reagiu dizendo que queriam fazer ‘uma cortina de fumaça’.
Calmon acusou Renan de ter pago R$ 9.000 mensais ‘por fora’ a Mônica Veloso, de dezembro de 2005 a outubro de 2006, porque teria declarado à Justiça só ter rendimentos para arcar com uma pensão de R$ 3.000. O advogado de Renan, Eduardo Ferrão, negou a existência de pagamentos por fora.
Renan disse ter recebido R$ 1,9 milhão nos últimos quatro anos com a agropecuária e que foi com esses recursos que pagou R$ 12 mil mensais à jornalista, com quem tem uma filha, de abril de 2004 a novembro de 2005. Ao reconhecer a paternidade, em dezembro de 2005, a pensão foi fixada em R$ 3.000 pela Justiça e passou a ser descontada do contracheque.
Os R$ 12 mil eram entregues à jornalista pelo lobista Cláudio Gontijo, da Mendes Júnior, mas o presidente do Senado afirma que o dinheiro era seu.
O assunto foi levantado por um aliado de Renan, o senador Almeida Lima (PMDB-SE), que acusou Calmon de chantagear o presidente do Senado ao ler uma petição em que o advogado pediria R$ 9.000 por fora.
O advogado de Mônica disse que o procedimento foi proposto pelo próprio Renan. ‘Em 23 de dezembro de 2005 o senador declarou que os rendimentos dele eram de R$ 9.225 líquidos. Ele não poderia fazer um acordo de R$ 12 mil judicialmente’, afirmou Calmon: ‘Foi proposto à genitora que assinasse um acordo no qual receberia R$ 3.000 oficialmente e R$ 9 mil oficiosamente, entre aspas, por fora. Esse acordo foi até outubro, quando rompeu’.
O advogado de Renan disse que ele nunca pagou a quantia por fora. Renan chamou Calmon de ‘Pinóquio’. Calmon disse ter recebido ‘duas sacolas de dinheiro’ dos advogados de Renan, em maio e junho de 2006, contendo ao todo R$ 100 mil. Segundo ele, essa quantia foi paga para complementar a queda no valor da pensão de R$ 12 mil para R$ 3.000.
Já a defesa de Renan afirma que esses R$ 100 mil constituíram um fundo para custear gastos futuros com a educação da criança. Calmon reconheceu ter assinado dois recibos em que atesta o recebimento do dinheiro para essa finalidade, mas afirmou que foi coagido.
A tropa de choque do PMDB utilizou o episódio para tentar desmoralizar Calmon, já que ele teria assinado um recibo que diz ser falso. ‘Quem fez o documento foi aquele advogado ali’, afirmou Calmon, aos berros, apontando para Ferrão.
Almeida Lima acusou o pai do advogado, que também se chama Pedro Calmon, de ter pedido R$ 20 milhões a Renan para abafar o caso no dia 24 de maio deste ano, véspera da audiência de conciliação do processo, na casa do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA). O escândalo veio à tona no dia da audiência por meio da revista ‘Veja’. Calmon confirma o encontro, mas nega a extorsão.’
TODA MÍDIA
TV Senado
‘A máquina se move outra vez. TV Senado (acima) e os canais de notícias transmitiram ao vivo, ao longo do dia, os depoimentos sobre Renan Calheiros. Com os bate-bocas de antes. Também as rádios. E também os portais, com manchetes para a própria transmissão ou trechos selecionados, ao longo do dia todo. Folha Online e outros sites de jornais mudavam o enunciado seguidamente, desde ‘Conselho de Ética ouve lobista’ até ‘Advogado de jornalista bate bota com senador’. Manchetes que voltaram na escalada dos telejornais, à noite, como nos três primeiros destaques do ‘JN’.
DESESPERANÇA
Para o correspondente da BBC, ‘os brasileiros devem ser desculpados por afundar na desesperança, sob o peso das alegações de corrupção que enchem os jornais’. A ação ‘ampla da polícia’ tocou ‘governadores, prefeitos, um ministro renunciou, juízes e procuradores foram presos’. A depressão vem, não daí, mas da posterior ‘impunidade’.
OU LADAINHA
Na home do UOL, destaque para texto de Tutty Vasques na ‘Veja Rio’, dizendo que é ‘é preciso resistir à tentação de virar porta-voz do que estão falando pelos botecos: ‘basta!’, ‘é o fim do mundo!’. A ladainha dos indignados’. Sugere, ‘ao primeiro sintoma, procurar inspiração lá fora’, nas artes do Rio. ‘A persistir’, diz, ‘procure um médico’.
‘FBI DO BRASIL’
O americano ‘Christian Science Monitor’ seguiu a britânica ‘Economist’ e se derramou em elogios à Polícia Federal na reportagem ‘FBI do Brasil pega os figurões’, ontem. Verte os nomes retumbantes das operações, ‘Bloodsuckers’, ‘Gladiator’, ‘Razor’, para afirmar que ‘marcam uma fase potencialmente nova na interminável batalha do Brasil contra o suborno’. A PF está ‘longe de perfeita’, mas se mostra ‘mais diligente e independente’. E estaria passando o foco das cobranças à Justiça, para ‘ver se segue a liderança da agência federal de polícia’.
EXUBERÂNCIA
Enquanto isso, em artigo no indiano ‘Financial Express’, o professor de Yale Robert Shiller apresentou o ‘Brasil como um caso de exuberância racional’, título do texto em que aconselha, no subtítulo, ‘não trate o boom da Bovespa como fenômeno psicológico’. Repisa que ‘há razões para acreditar que os brasileiros podem estar racionalmente exuberantes’, em contraste com a exuberância irracional das bolsas, dez anos atrás.
SUPREMACIA
Também sobre a Bovespa, o britânico ‘Financial Times’ noticiou, de Buenos Aires, que o Banco Patagonia quer se lançar na bolsa brasileira, que movimenta US$ 1,5 bilhão por dia contra os US$ 60 milhões de lá. É ‘a primeira empresa argentina’ a fazer tal opção. Para um diretor de corretora argentina, ‘isso sublinha a evidente supremacia’. Mas, avalia, ‘ainda é cedo demais para falar em criar um único mercado de ações na região’.
EMBRAER LÁ
A feira de aviação de Paris leva a Embraer aos títulos de jornais e agências financeiras há dias. Ontem a Bloomberg e a Thompson Financial noticiaram a encomenda de 40 aeronaves da brasileira. A segunda agência sublinhou que a concorrente canadense, Bombardier, anunciou quatro encomendas. ‘Financial Times’ e o site MarketWatch avaliam que a Embraer dominou o nicho de mercado de jatos médios. Para o segundo, a demanda na faixa está em queda -e a brasileira já prioriza aviões maiores. E arrisca enfrentar as gigantes Boeing e Airbus nos próximos anos.
DA BOEING
Já o ‘Wall Street Journal’ entrevistou o presidente da Boeing, ontem, e perguntou se ele pretende lançar versão menor do jato 737, visando ‘atingir o mercado de 100 lugares que é dominado pela Embraer’. ‘É possível’, foi a resposta, mas só daqui a ‘pelo menos sete anos’, quando a americana renovar a linha.
DA CHINA
O site MarketWatch, que é vinculado ao mesmo ‘WSJ’, registrou que esse mercado hoje nas mãos da Embraer deve ganhar concorrentes de China e Rússia, como noticiou também o ‘FT’. Porém ‘os chineses’ estariam mais adiantados, com uma ‘joint venture com a Embraer para construir o modelo ARJ21’.’
TV PAGA
Elvira Lobato
Net inicia incorporação da Vivax por SP
‘A Net, maior empresa de TV por assinatura do país, controlada pelas Organizações Globo e pelo grupo Telmex, iniciará a incorporação da Vivax (segunda maior empresa de TV a cabo do país) pelas cidades de Atibaia e Bragança Paulista, ambas em São Paulo. As operações nas duas cidades serão integradas à rede e à marca da Net na próxima segunda-feira.
Até o final do ano, segundo o presidente da Net, Francisco Valim, as 36 operações de TV a cabo da Vivax -33 no Estado de São Paulo, 2 no Rio e uma no AM- estarão incorporadas, o que implicará o desaparecimento da marca Vivax.’
INTERNET
Fundador do Yahoo assume presidência
‘Um dos fundadores do Yahoo, Jerry Yang, que ainda possui 4% das ações da companhia, assumiu ontem o comando da empresa, substituindo Terry Semel, que estava no cargo de 2001.
Semel vinha enfrentando fortes pressões no cargo, especialmente pelo avanço do Google. O Yahoo fatura menos em um ano do que a rival em um trimestre.’
TELEVISÃO
Edir Macedo pede veto a vídeo na internet
‘Dono da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo entrou com ação na Justiça pedindo a proibição de vídeos no site YouTube, do Google, em que ele e a Igreja Universal do Reino de Deus são ‘alvo de difamação, calúnia e injúria’.
Embora a ação atinja todos os vídeos considerados difamatórios, a meta de Macedo é proibir material da Globo, veiculado pelo ‘Jornal Nacional’ em 1995, em que o líder da Universal aparece ensinando pastores, em intervalo de um jogo de futebol, a tirar dinheiro dos fiéis da igreja evangélica.
Esse vídeo aparece em dezenas de cópias e versões no YouTube _há até legendadas e musicadas. O atual campeão de audiência foi visto por quase meio milhão de pessoas em menos de três dias no site.
A ação corre desde fevereiro. Macedo pediu a proibição dos vídeos com urgência, mas a Justiça negou liminar. Em uma outra ação, o bispo conseguiu no final do ano passado uma liminar obrigando o Google a bloquear todas as mensagens difamatórias no Orkut (site de relacionamentos). No entanto, ontem era possível acessar várias mensagens agressivas.
Felix Ximenes, diretor de Comunicação do Google Brasil, diz que essas mensagens são novas e que serão excluídas. Ele afirma que o Google cumprirá as decisões da Justiça e que no caso dos vídeos bastaria um pedido da Globo, pois os direitos de imagem são dela.
PODEROSOEmbora seja apresentador de programa dominical, Pedro Bial folgou no último final de semana. Isso explica o fato de o ‘Fantástico’ ter sido apresentado por Bial (que gravou previamente), Glória Maria e Zeca Camargo. Setores da Globo gostaram do resultado.
RANKING O ‘Fantástico’ encerrou maio com média de 29,4 pontos na Grande São Paulo. Em 2006, a média do programa foi de 32.
FLOPProblemas técnicos impediram que Eva Byte, repórter virtual da Globo, entrasse ‘ao vivo’ no ‘Fantástico’ diretamente do site Second Life, onde a emissora realizava festa virtual de lançamento de ‘Sete Pecados’. A festa foi um sucesso. Teve quase 3.000 visitantes.
CROSS MEDIAA participação do ‘Pânico na TV’ no ‘Domingo Legal’ e a de Gugu Liberato no humorístico da Rede TV! fez bem aos dois programas. O do SBT deu picos de 18 pontos. O ‘Pânico’ chegou a marcar 15.
CAUSANDOPreta Gil e Karina Bacchi atraíram uma pequena multidão na avenida Paulista na semana passada, quando gravaram cenas de ‘Caminhos do Coração’, próxima novela de Tiago Santiago na Record.
TARJAO Ministério da Justiça reclassificou como impróprio para menores de dez anos o ‘Nas Garras da Patrulha’, mistura de humorístico com telejornal sensacionalista que a TV Diário (do Ceará, mas muito vista via parabólicas), exibe à tarde.’
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O Estado de S. Paulo
Terça-feira, 19 de junho de 2007
RENANGATE
Renan deu R$ 100 mil em dinheiro vivo a jornalista
‘O advogado Pedro Calmon Filho acusou ontem o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de pagar ‘por fora’, ao longo do ano de 2006, R$ 9 mil mensais de pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha fora do casamento. O dinheiro seria fruto de acordo para completar a pensão alimentícia estipulada a partir de dezembro de 2005, no valor de R$ 3 mil. A revelação foi feita durante o depoimento de três horas de Calmon no Conselho de Ética do Senado.
Ao apresentar sua versão e a de sua cliente aos senadores, o advogado também confirmou que Renan pagou, em 2006, R$ 100 mil ‘em dinheiro vivo distribuído em duas sacolas ‘ para a jornalista. O presidente do Senado diz que o pagamento visava a constituir um fundo de educação para a criança. Calmon nega essa versão e fala em complemento de pensão que o senador teria deixado de pagar.
O depoimento do advogado complicou politicamente a vida de Renan. Para alguns senadores, a revelação do pagamento ‘por fora’ e das ‘sacolas de dinheiro’ reforçou a suspeita de que ele usou dinheiro não-contabilizado para arcar com essas despesas. Diante do novo cenário, mas alegando que precisa de tempo para analisar a perícias feita pela Polícia Federal, o presidente do Conselho de Ética, Sibá Machado (PT-AC), adiou a votação do novo relatório do processo contra Renan de hoje para amanhã, às 13h30.
Sibá disse que os peritos ficaram de entregar os laudos até meio-dia e ele precisa da tarde de hoje para fazer o parecer – por causa da licença de 10 dias pedida pelo relator Epitácio Cafeteira (PTB-MA), Sibá assumiu ontem o posto como substituto. Ele espera escolher hoje o novo relator.
CONFRONTO
O depoimento de Calmon foi marcado por bate-bocas. Na ânsia de salvar o presidente da Casa, seus aliados acabaram por revelar trechos do processo em que eram partes ele e Mônica Veloso e corria em segredo de Justiça na 4ª Vara da Família. Isso irritou o advogado e o levou a ler trecho de uma petição na qual o acordo de R$ 9 mil é mencionado. Sentado ao fundo do plenário, acompanhando atentamente o depoimento, o advogado de Renan, Eduardo Ferrão, negou tal negociação e o acordo. ‘É mentira’, afirmou, mas não deu detalhes de como, então, o senador pagava os R$ 12 mil à jornalista.
Na versão de Calmon, desde o nascimento da filha com Mônica, em 2004, Renan pagava R$ 12 mil mensais de pensão. A partir de dezembro de 2005, quando o senador reconheceu a paternidade da menina, a pensão estipulada passou a ser de R$ 3 mil, valor compatível com a renda líquida de Renan como senador. ‘Não poderíamos fazer acordo maior que o de R$ 3 mil porque os rendimentos dele só comportavam pensão de R$ 3 mil’, disse Calmon.
ACORDO
Diante da impossibilidade de pagar ‘oficialmente’ valor maior, afirmou o advogado, Renan teria proposto acordo. Irritado, ele leu um trecho do processo: ‘Foi proposto à genitora que assumisse o acordo de R$ 3 mil oficialmente e R$ 9 mil oficiosamente, por fora.’ E prosseguiu: ‘Ele (Renan) pagou até outubro de 2006 quando o acordo foi rompido e em 6 de dezembro entramos com a petição.’
FRASES
A certa altura de seu depoimento, Calmon reagiu duramente à pressão da tropa de choque de Renan no Conselho de Ética. ‘Agora entendi por que me chamaram para esse conselho. É mais uma cortina de fumaça para encobrir o caso.’
‘Renan pagou até outubro e em 6 de dezembro entramos com a petição’
‘Entendi por que me chamaram. É mais uma cortina de fumaça para encobrir o caso’
‘Os senhores quebram aqui segredo de Justiça. Como já quebraram, então lhes informo’
Do advogado Pedro Calmon Filho, durante seu depoimento de três horas no Conselho de Ética do Senado’
Arnaldo Jabor
Há uma revolução dentro da corrupção
‘‘Não! Não escreverei sobre a maré de horrores que Brasília nos envia, como um leite envenenado a cada dia!’ – berro para mim mesmo como uma prima-dona gorda e cheia de varizes, como um canastrão de melodrama. ‘Não, não mencionarei a cara do Cafeteira falando ao telefone com a esposa, adiando o Conselho de Ética como a nova estratégia soprada pela dupla Renan/Sarney!’ – juro de novo. ‘Não falarei das fazendas imaginárias liderando a farsa de Jucá/Sibá, não falarei dos açougues fantasmas, dos cheques podres, dos recibos-laranjas, dos analfabetos desdentados e das velhas damas indignas dos matadouros de Maceió, não escreverei negativamente sobre tudo isso, não!’
É isso aí. Penso que é preciso ter ânimo! Não fraquejarei, apesar de me rondar a cava depressão ao ver que as tramóias e as patranhas de hoje são relaxadas, desmazeladas, sem mais receio algum da opinião pública. Agora, não há mais respeito, não digo pela verdade; mas não há respeito nem mesmo pela mentira. Está em andamento uma clara ‘revolução dentro da corrupção’, um ‘golpe marrom’ sendo fabricado em Brasília, tudo na cara da população com o fito explícito de nos acostumar ao horror, como inevitável.
Com a morte do petismo romântico, com o derretimento do PSDB, o destino do País vai ser a ideologia escusa, sem moral, do ‘peemedebismo’ que o lulismo favorece. Os sinais estão no ar. Nosso destino histórico é a maçaroca informe do PMDB. O objetivo dessa mixórdia é nos fazer descrentes de qualquer decência.
Mas, não! Oh, Senhor! Não escreverei este artigo com um vezo negativo, tisnado de pessimismo! Não! O que acontece diante de nós não é totalmente ruim… Precisamos ver o que há de bom nessa bosta toda! Pensamentos positivos, amigo leitor! Avante, povo! Avante, racionalistas em pânico, honestos humilhados, esperançosos ofendidos! Esta depressão pode ser boa para nos despertar da letargia de 400 anos.
O País progride de lado, como um caranguejo mole das praias nordestinas. Nunca nossos vícios ficaram tão explícitos! Aprendemos a dura verdade neste rio sem foz, onde as fezes se acumulam sem escoamento. Finalmente, nossa crise endêmica está sujamente clara, em cima da mesa de dissecação, aberta ao meio como uma galinha. É um esplendoroso universo de fatos, de gestos, de caras. Meu Deus, que prodigiosa fartura de novidades sórdidas, tão fecundas como um adubo sagrado, tão belas quanto nossas matas, cachoeiras e flores. Que ostentações de pureza, angelitude, candor, para encobrir a impudicícia, o despudor, a bilontragem nas cumbucas, nos esgotos da alma. Ai, Jesus, que emocionantes os súbitos aumentos de patrimônio, declarações de renda falsas, carrões, iates, casas com piscinas em forma de vaginas, mandingas, despachos, as galinhas mortas na encruzilhada, o uísque caindo mal no Piantella e as barrigas murmurantes, as diarréias secretas, as flatulências fétidas no Senado, diante das evidências de crime, os arrotos nervosos, os vômitos, tudo compondo o grande painel barroco da nacionalidade.
E, no meio dessa imundície, esplende o sereno fulgor de Mônica Veloso, nossa bela Lewinsky, a gestante e amante, a Vênus onde a nacionalidade se espelha, de onde emanam as pensões em dinheiro vivo, o zelo do lobista, os halls de hotel, os passinhos servis na entrega dos envelopes, o rosto deprimido da esposa oficial no plenário, tudo mesclado num sarapatel: o amor, o sexo, as empreiteiras, o público e o privado… Que delícia, que doutorado sobre nós mesmos!
Céus, por isso é que sou otimista! É também nossa diplomação na cultura da sacanagem.
Já sabemos que a corrupção no País não é um ‘desvio’ da norma, não é um pecado ou crime; é a norma mesmo, entranhada nos códigos, nas línguas, nas almas.
Aprendemos a mecânica da escrotidão: a técnica de roubar o Estado para fazer pontes para o nada, viadutos banguelas, estradas leprosas, hospitais cancerosos, esgotos à flor da pele, gonorréias e orgasmos entre empreiteiras e políticos. Já sabemos que não há solução. Querem nos acostumar a isso, mas, pode ser (oh, Deus!) que isto também seja bom: perder o auto-engano, a fé. Vamos descobrindo que temos de partir da insânia e não de um sonho de razão, de um desejo de harmonia que nunca chega.
Já se nos entranhou na cabeça, confusamente ainda, que o Estado patrimonialista, inchado, burocrático é que nos devora a vida. Durante quatro séculos, fomos carcomidos por capitanias, labirintos, autarquias. Enquanto houver 20 mil cargos de confiança no País, haverá canalhas, enquanto houver Estatais com caixa-preta, haverá canalhas, enquanto houver subsídios a fundo perdido, haverá canalhas. Com esse código penal, com essa estrutura judiciária, nunca haverá progresso. Já sabemos que enquanto não desatracarmos os corpos públicos e privados, que enquanto não acabarem as emendas ao orçamento, as regras eleitorais vigentes, nada vai se resolver.
Já sabemos que mais de 5 bilhões por ano são pilhados das escolas, hospitais, estradas. Não adiantam as CPIs punindo meia dúzia. A cada punição, outros nascerão mais fortes, como bactérias resistentes a antigas penicilinas. Temos de desinfetar seus ninhos, suas chocadeiras.
Descobrimos que a mentira é a regra geral que mantém as instituições em funcionamento.
Os canalhas são mais didáticos que os honestos. O canalha ensina mais. Temos tido uma psicanálise para o povo, um show de verdades pelo chorrilho de negaças, de ‘nuncas’, de ‘jamais’, de cínicos sorrisos e lágrimas de crocodilo. Nunca aprendemos tanto de cabeça para baixo. Ânimo, meu povo! O Brasil está evoluindo em marcha à ré! Os canalhas são a base da nacionalidade!
Hoje, aposto, o Renan deve ser absolvido… (eu vos escrevo do passado…) É bom mesmo. A esperança tem de ser extirpada como um furúnculo maligno.
Pelo escracho, entenderemos a beleza do que poderíamos ser!’
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No primeiro dia em Cannes, País leva um bronze
‘O primeiro Leão do Brasil na 54ª edição do Festival Internacional de Publicidade de Cannes foi um Bronze conquistado pela agência Matos Grey, para um trabalho de marketing direto feito para a marca Harley Davidson, que é representada no País pelo Grupo Izzo.
E mais três leões de bronze serão anunciados hoje para as agências brasileiras. São os da categoria de planejamento de mídia, ou Media Lions. Os vencedores são o caso da Rádio SulAmérica, da agência MPM Propaganda, para a seguradora SulAmérica; o trabalho da agência Artplan para o Banco do Brasil – que colocou o nome dos clientes nas agências; e o caso do xarope Mucosolvan, trabalho feito pela Leo Burnett Brasil para o laboratório Boehringer.
Apesar da notícia, a segunda-feira foi marcada por uma certa decepção para as agências brasileiras. Afinal, o País tinha 15 peças finalistas nas duas categorias que anunciaram ontem os vencedores – marketing direto (Direct Lions) e ação de promoção e venda (Promo Lions). O Brasil inscreveu, no total, 169 peças nas duas categorias e só levou um Bronze.
No total, estavam disputando prêmios 2.475 trabalhos e 83 foram os ganhadores de Leões entre Ouro, Prata e Bronze. Não há um parâmetro sobre o número de troféus definidos a priori. Cada um dos nove júris tem autonomia para decidir o número de contemplados. Aliás, uma das características desse Festival é justamente a fartura de premiação.
No Direct Lions, onde o Brasil tinha melhores chances até o momento, o grande vencedor – chamado Grand Prix (esse sim, somente um vitorioso por categoria) – foi para uma ação de marketing direto desenvolvida pela agência Shackleton, de Madri, para um banco espanhol.
O trabalho foi desenvolvido a partir de um fato real, acontecido na televisão espanhola. Um popular apresentador caiu de uma bancada de pernas para o ar. Virou assunto no YouTube. A agência aproveitou a cena e incorporou a ela um cinegrafista exibindo um cartaz em que se lia que o apresentador caiu da bancada por ter visto a oferta de serviços do Banco Gallego.
A estréia pouco empolgante do Brasil causou um certo mal-estar. A começar pela reação de Flavio Salles, presidente da Sun MRM do Brasil e que era membro do júri de marketing direto. ‘Vi trabalhos do Brasil que mereciam receber Leões e foram preteridos por outros que não tinham obtido boa pontuação na lista de finalistas.’
Com três trabalhos na lista final, e apostas que levaria pelo menos um Leão, Márcio Salem, da agência Salem, lamentou o resultado. ‘Os jurados de Direct em Cannes ainda têm uma visão pobre do que deve ser feito em marketing direto, achando que soluções de comunicação individualizadas devem ser simples em demasia’, disse.
Para Luiz Marinho, consultor de varejo, o baixo desempenho do Brasil na categoria talvez seja decorrência da dificuldade em se classificar essas ações. ‘A premiação de Cyber (publicidade na web), Promo e Direct se tocam o tempo todo, porque uma campanha tem vários desdobramentos.’
Já para o membro do júri de Promo Lions, Matthias Kindler, da agência The Companies, de Munique, as três categorias foram separadas para a premiação no Festival pelo simples fato de que os anunciantes estão gastando mais dinheiro com ações do gênero. ‘As áreas ganharam relevância’, diz. Em Promo, o Brasil classificou apenas dois trabalhos, mas eles foram derrotados pela excelência dos rivais, como admitiu o próprio presidente do júri, o brasileiro Geraldo Rocha Azevedo.
O Grand Prix na categoria ficou com a agência TBWA/Whybin, da Nova Zelândia, para um trabalho realizado para a Federação de Rugby, o esporte nacional naquele país, em associação com a Adidas. ‘Os jogadores da liga de rúgbi da Nova Zelândia doaram o próprio sangue para que fosse impresso um pôster da Federação’, disse Azevedo. ‘Esse pôster foi oferecido a quem comprasse uma camiseta da Adidas, criada para levantar fundos para a Federação.’’
OPERAÇÃO XEQUE-MATE
Polícia Federal contesta reportagem
‘Em nota oficial, a Polícia Federal negou que tenha apreendido e divulgado um acervo de fotos em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece ao lado de Nilton Servo, em sua casa, na Operação Xeque-Mate, em que prendeu o empresário sob acusação de chefiar a chamada máfia dos caça-níqueis. A PF também contesta a informação de que essas fotos façam parte do inquérito aberto contra Servo, conforme informou o Estado em sua edição de sábado, na reportagem Em fotos, o presidente e o principal acusado.
O ministro da Justiça, Tarso Genro, também reagiu à informação. ‘A PF não divulgou o que não lhe pertence e não está no inquérito da Operação Xeque-Mate’, disse.
Segundo a Polícia Federal, a reportagem do Estado acerta quando diz que o acervo de fotografias pertence à família Servo e foi usado ostensivamente pelo empresário em sua campanha eleitoral fracassada à Prefeitura de Bonito (MS), em 2004, para tentar mostrar sua proximidade com o presidente da República. Mas a reportagem erra, ainda segundo a PF, quando afirma que as fotos foram apreendidas na Operação Xeque-Mate e que constam dos inquéritos dela resultantes. ‘Como diz a reportagem, são fotos fartamente usadas naquela campanha, cinco anos atrás, o que mostra, portanto, que não revelam coisa alguma nos dias de hoje’, afirmou o ministro da Justiça.’
TELEVISÃO
Troca de símbolos
‘Entre as sugestões que as emissoras de TV apresentaram ao Ministério da Justiça para mudar os termos da portaria 264, para fins de classificação indicativa de TV, está até a troca dos símbolos criados para indicar, na tela, as faixas etárias a que se destina cada programa. Em vez de adotar símbolos padrão, cada emissora quer ter o direito de criar seu próprio símbolo.
Os defensores da classificação argumentam que isso não seria política pública, e sim particular. E a falta de símbolos padrão só confundiria o telespectador. É como se o consumidor tivesse de identificar, a cada remédio que compra, a tarja criada por cada laboratório.
A propósito da portaria 264, o Ministério da Justiça abriga amanhã o primeiro encontro entre defensores e contestadores da nova classificação indicativa. Aliás, primeiro encontro desde que o ministro Tarso Genro resolveu ceder à pressão das emissoras para adiar a portaria, porque o debate não é inédito, mas vem agora com novos argumentos de ambas as partes.
A vinculação de horários e faixas etárias continua sendo o maior ponto de discórdia entre os dois lados.’
Keila Jimenez
Dança do Faustão acaba em confusão
‘Terminou em confusão a final da Dança dos Famosos anteontem, no Domingão do Faustão. O quadro, que teve como ganhador o ator Rodrigo Hilbert, rendeu discussão entre o bailarino e jurado Carlinhos de Jesus e outros participantes da competição e do júri. Carlinhos tirou nota de Hilbert alegando que ele tinha ultrapassado os limites do palco para dançar o tango. Os participantes reclamaram, dizendo que o tal limite não lhes fora informado. Depois de um longo debate sem nenhuma conclusão, Faustão encerrou a briga fazendo piada.
entre-linhas
Duas Caras, próxima novela das 9 da Globo, pode ter um casal interessante: Débora Falabella e Lázaro Ramos. Falta os atores toparem a empreitada.
Os últimos dois capítulos da microssérie A Pedra do Reino mantiveram a audiência baixa do início da trama. Na sexta, a série marcou 10 pontos e, no sábado – dia em que a atração foi ao ar mais tarde do que o previsto, após Zorra Total -, atingiu 11 pontos de audiência.
Kyra Sedgwick, protagonista da série The Closer, está no Late Show with David Letterman de hoje, às 21 horas, no GNT.’
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Jornal do Brasil
Terça-feira, 19 de junho de 2007
RADIODIFUSÃO
Leandro Mazzini
Rádios comunitárias na mira da Câmara
‘As rádios comunitárias sob o comando de associações e fundações vão entrar na mira do pente-fino da Comissão de Ciência e Tecnologia, Informática e Comunicação da Câmara, última instância responsável pelas concessões e renovações das licenças. Hoje, existem mais de 3 mil regulamentadas, e elas lideram os pedidos de autorização que chegam à comissão. Mas a maioria dessas pequenas estações – que, pela lei, devem divulgar conteúdo cultural e de utilidade pública – podem estar nas mãos de políticos que atuam por trás das associações.
A denúncia parte do presidente da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária, José Guilherme Castro, na véspera de mais uma reunião da comissão para deliberar sobre as concessões. De acordo com a lei, as emissoras devem ter ‘uma programação pluralista, sem qualquer tipo de censura’ ou de cunho político-partidário. Segundo Castro, não há fiscalização.
– Há 3 mil emissoras comunitárias, e só 10% são de fato com fins sociais. O restante tem uso político. As rádios comunitárias são uma continuação do poder político – acusa Castro.
O presidente da comissão, deputado Júlio Semeghini (PSDB-SP) , reforça que os deputados estão debatendo a situação.
– Acredito que tenha esse problema, mas não sei se nessa dimensão da denúncia. O que desejamos é exatamente verificar isso.
Amanhã, os deputados votam mais 65 pedidos de concessão e renovação. Do total, 64 deles são de rádios, sendo 37 comunitárias – cinco solicitações de concessão e 32 de renovação, cuja permissão dura 10 anos. Bahia, São Paulo, Pará e Paraná lideram os Estados com maior número de pedidos. Conforme publicou o JB ontem, a comissão iniciou uma força-tarefa para elaborar o que a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), integrante do grupo, classificou de diagnóstico do setor. A idéia é descobrir quantos são os deputados que têm participação societária em emissoras comerciais e apresentar projetos para proibir os políticos de atuarem no mercado de radiodifusão.
– Há, sim, um uso político das emissoras. Vamos ver o que podemos fazer. Erundina já vai trabalhar de um modo que apuremos isso – argumenta o deputado Paulo Bornhausen (DEM-SC).
Nas audiências públicas realizadas pela comissão, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, admitiu a dificuldade de fiscalização em todo o país, apesar do processo minucioso comandado pela pasta. Nesse cenário, o deputado Júlio Semeghini vai apresentar uma sugestão para combater o problema, nas próximas sessões da comissão.
– Devemos abrir canais, em sites, por exemplo, para o cidadão denunciar as estações sob domínio de políticos.
O serviço de radiodifusão comunitária foi criado pela Lei 9.612, de 1998. O raio de atuação das emissoras, dependendo da geografia, pode alcançar de um a quatro quilômetros. Podem conseguir patrocínio para custear as operações, mas apenas citar o nome das empresas, a título de apoio cultural.’
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