Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Silvana Arantes

‘O documentarista João Moreira Salles deixou de incluir cenas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no documentário ‘Entreatos’, sobre a campanha presidencial de 2002, ‘para defender o Lula’. ‘Porque acho que ele não sabe o que está dizendo ali’, afirmou.


Salles possui 180 horas de imagens gravadas para o documentário e disse que irá doar todo o material ‘a uma instituição pública, dentro de seis ou sete anos’.


No momento em que citou a decisão tomada na edição do filme -durante debate do programa Folha Documenta, na noite de anteontem, em São Paulo-, Salles falava sobre o compromisso ético que pauta a relação entre documentarista e documentado. ‘Não quero, não posso nem nunca serei desleal com os personagens de meus filmes’, disse ele, que também tem no currículo uma cinebiografia sobre o pianista Nelson Freire.


O diretor ressaltou também a transformação do alcance e até do sentido que determinadas declarações podem sofrer, de acordo com a ‘diferença de domínio’ de sua divulgação.


‘Duvido que alguém aqui não tenha rido ou até mesmo contado alguma piada racista. Uma coisa é fazer isso na esquina, outra é transportá-la para uma tela.’


Salles disse que ‘no fundo é divertida’ a discussão em torno de ‘Entreatos’ que ele trava atualmente com o prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia (PFL), pela seção Tendências/Debates da Folha. ‘Cesar Maia tem pelo menos essa virtude: é divertido.’


O prefeito do Rio reprova a decisão de Salles de não haver autorizado o relançamento do documentário nos cinemas após a crise do governo Lula da Silva.


Oportunismo


Salles disse que não quis ‘fazer um lance de oportunismo’ com a crise de agora, assim como não se interessou em ‘aproveitar o carnaval da posse para lançá-lo’.


O diretor contou que não chegou a um acordo numa negociação de parceria com a Globo Filmes, ‘porque a Globo queria que o filme fosse exibido na semana que antecedia a posse’.


‘Entreatos’ estreou no cinema em novembro do ano passado e teve cerca de 60 mil espectadores. ‘Foi visto por quem desejou vê-lo’, disse Salles.


E tratou como sinal de ingenuidade as tentativas de identificar hoje no filme sinais antecipadores da crise do governo Lula. ‘Querem ver se o abraço que Lula deu no José Dirceu foi apertado ou não; se o Silvinho Pereira já aparecia desejando a Land Rover.’


‘Ser inteligente agora é fácil. Já estava tudo lá [no filme]. Não só o que é ruim mas também o que é bom.’ Salles diz acreditar que ‘Entreatos’ não seja capaz de mudar a opinião do público a respeito de Lula. ‘O espectador sai do filme com o mesmo Lula com que entrou. Quem gostava gosta mais e quem não gostava gosta menos ainda.’


Marcinho VP


O debate com Salles ocorreu após a exibição de seu documentário ‘Notícias de uma Guerra Particular’ (1999), sobre o tráfico no Rio, com enfoque no morro Dona Marta, que era domínio do traficante Marcinho VP.


A primeira pergunta da platéia a Salles foi sobre sua relação com o traficante. Em 2000, Salles informou à polícia que, regenerado, Marcinho VP escrevia um livro. O cineasta financiava a elaboração da obra, destinando ao autor um valor mensal de R$ 1.200.


A revelação desembocou numa crise do governo Anthony Garotinho com o então coordenador de Segurança, Luiz Eduardo Soares, e numa acusação a Salles de favorecimento ao traficante.


Salles disse que a amizade que estabeleceu com Marcinho VP, morto em 2003, não o constrange. ‘[A amizade] surge de uma longa conversa em que ele se rendeu aos meus argumentos, decidiu deixar o tráfico e escrever um livro. O resto é o resto’, afirmou.


Para o documentarista, essa relação ‘merece ser criticada por quem julga que ela é imprópria por estar além do manual’.


Polícia


O diretor avaliou a polícia do Rio de Janeiro como ‘especialmente ruim’ e disse que ela ‘já não serve mais à sociedade e talvez nem sequer a si mesma [em esquemas de corrupção]’.


Salles afirma que os políticos fluminenses se tornam ‘reféns’ da polícia. ‘Entram com planos de mudança e sucumbem em seis meses, porque a polícia tem capacidade de aumentar ou diminuir índices [de criminalidade] e produzir sensação de insegurança.’


Para ele, ‘é possível mudar, mas é preciso coragem e vontade política, e o Rio, infelizmente, tem produzido pouco isso’.’




Mauro Chaves


‘Complacência da imprensa’, copyright O Estado de S. Paulo, 27/11/05


‘Se a imprensa brasileira se tivesse convencido antes de que exigir preparo de pessoas públicas não é preconceito, mas sim cobrança primeira da cidadania, com certeza não estaríamos atravessando este momento político que abala até à medula nossos fundamentos éticos, empastela nossos valores primordiais, esgarça o tecido em que temos costurado nossas belas esperanças e, sobretudo, embaralha aqueles pontos de referência pelos quais nossa juventude tem enxergado, bem ou mal, nosso espaço público – fazendo-a vê-lo, agora, como uma gelatina moral, em que a esperteza substitui o esforço do aprendizado, a jogada emocional toma o lugar da coerência racional e a generosidade social se torna uma pura impostura, um disfarce mal ajambrado de vazias, medíocres, mas desmedidas ambições de poder.


Nas duas últimas palestras que fiz fui interrogado sobre a complacência que os jornalistas sempre tiveram em relação a Lula e ao PT. E o exemplo que mais invocavam era o da recente entrevista do presidente no programa Roda Viva, da TV Cultura. Disseram que foi um despropósito a emissora ter ‘negociado seis meses’ com o Planalto – como fartamente divulgado – para a obtenção daquela entrevista, pois numa democracia jornalistas não ‘negociam’ entrevistas, sob pena de entrevistadores e entrevistados terem a credibilidade comprometida pela suspeita de perguntas previamente permitidas (quando não encomendadas).


Rechacei de pronto a hipótese de que um programa daquele nível – do qual já participei várias vezes desde seu início, há 18 anos -, assim como entrevistadores daquela qualidade profissional pudessem submeter-se a uma transigência dessa espécie. Mas insistiram com as perguntas: então o que haveria, no caso, para ser negociado durante seis meses? Por que apenas um dos entrevistadores pertencia à chamada ‘grande imprensa’ – justamente o que mais apertou o entrevistado com réplicas pertinentes? Por que a maioria deles fazia contínuos meneios de concordância com a cabeça (coisa nunca vista em coletivas), qual ‘vaquinhas de presépio’ sincronizadas, mesmo quando o presidente dava respostas robustamente inconvincentes, logicamente desarticuladas e factualmente inverossímeis?


E continuaram com as incômodas perguntas: como se explicava o inacreditável silêncio dos entrevistadores, tendo o presidente Lula dito, mais de uma vez, que Roberto Jefferson só foi cassado porque não conseguiu provar a existência do mensalão, quando ocorreu justamente o contrário, pois ele foi cassado porque provou ter participado do mensalão – confirmando, assim, a existência do espúrio sistema de compra de votos parlamentares?


E seguiram, sem piedade: como se explicava o fato de o apresentador, já no fim do programa, quase pedir desculpas para fazer uma simples pergunta (justificando-a, para que não dissessem que ali havia perguntas proibidas) e só então indagar sobre o presente milionário recebido pelo jovem filho do presidente, o investimento de US$ 5 milhões, e a sociedade a ele ofertada por uma grande empresa de telecomunicações (participante de licitações do governo), e de todos terem aceitado, tranqüila e timidamente, as estapafúrdias explicações presidenciais, que apenas se referiam às dezenas de contratos ‘legais’ da empresa investidora, ‘aprovados pela CVM’ (que tinha isso que ver com tráfico nepotista de influência?), ou ao sucesso de audiência da empresa na TV (batendo uma concorrente), ou, quando foram mencionados os fundos de pensão dela participantes, não dando o entrevistado importância alguma ao fato, porque ‘todos sabem como foram feitas as privatizações’ (não tendo ninguém ali na roda enrubescido ou, pelo menos, exclamado um ‘arre!’)?


Bem, achei melhor voltar ao tema principal das palestras e falar da importância da Primeira Emenda à Constituição norte-americana, fundamento jurídico germinal da liberdade de imprensa das democracias contemporâneas, e de sua interpretação, dada pela Suprema Corte, no famoso caso Red Lion, de 1969, que esclarecia a enteléquia da liberdade de expressão, nem sempre captada entre nós: não se trata do direito de o jornalista informar, mas do direito da sociedade de ser informada. E em relação a esse sagrado direito social, vigente apenas nas verdadeiras democracias, não cabe a nenhum profissional da comunicação transigir, mitigar a cobrança da opinião pública, calibrar a intensidade crítica da sociedade ou colocar-se como anteparo da indignação popular ante os detentores de poder, como se lhe coubesse filtrar, e não potencializar, a consciência crítica coletiva.


É claro que a imprensa não pode assumir toda a culpa pelo politicorretismo crônico, cheio de medo de ter preconceito, que embalou os mais amplos setores de nossa sociedade, levando-os a fazer vista grossa ante os sinais mais notórios de incompetência administrativa, de preguiça cognoscitiva (ou mental, mesmo), de desarticulação programática, de inanição de projetos, que levou um grupo de espertos a conquistar o poder sem saber o que depois fazer com ele – a não ser organizar-se (desastradamente, aliás) para nele tentar permanecer. Intelectuais, empresários, artistas, industriais, uma classe média deslumbrada ante a perspectiva de um líder carismático, sem nenhuma experiência administrativa e quase orgulhoso de seu horror pela leitura, comandar os destinos do Brasil, tudo isso contribuiu para turbinar o politicorretismo caboclo, ao qual nossa imprensa (com as honrosas exceções de praxe) se tem mantido fiel. Até quando?


Mauro Chaves é jornalista, advogado, administrador de empresas, escritor, produtor cultural e palestrante. Palestras: (11) 3814-4481 (c/Carmen). E-mail: mauro.chaves@attglobal.net’




Janio de Freitas


‘De olho na TV’, copyright Folha de S. Paulo, 27/11/05


‘Tantos foram os comentários mal impressionados com as primeiras transmissões das CPIs, aqueles espetáculos de falta de compostura e de outras qualidades devidas por parlamentares, que minha impressão inicial foi de que a a TV, com a melhor intenção, fazia muito mal ao Congresso. Os dois julgamentos de recursos de José Dirceu ao Supremo Tribunal Federal, causa de tantos comentários mal impressionados com o espetáculo na arena do tribunal, quase me devolveram à idéia de que tais transmissões mais deseducam do que civilizam politicamente. Mas, a essa altura, já corrigira a conclusão inicial. A TV mostrou o que é a realidade atual do Congresso e do STF, e nada é mais educativo do que o conhecimento da realidade.


A péssima impressão generalizada pelas transmissões parece contribuir muito para a reação contra as apelações do deputado José Dirceu. De fato, ele não está fazendo defesa, propriamente. Não apresentou um só fato ou argumento novo desde os primeiros e tão frágeis que ofereceu. Mas o melhor, para todos, é que José Dirceu use de todos os recursos imagináveis por seus advogados. Não poupe nem os pais-de-santo e assemelhados, hoje mais encontráveis em Brasília do que na Bahia.


Com os recursos protelatórios de Dirceu, não se perde mais do que os pagamentos feitos a um parlamentar e aos seus numerosos assessores, mês após mês, para se ocuparem apenas de sua defesa (é um privilégio, sim, mas parlamentar no Brasil quer dizer, acima de tudo, privilégio). Pode-se esperar que José Dirceu, se afinal cassado, passe os séculos vindouros bradando seus refrãos atuais, ‘cassaram meu direito de defesa’, ‘o processo recorreu a ilegalidades’ e por aí. Não só pelos direitos que Dirceu tenha, de defesa ou de protelação, mas para que seus brados não se apóiem em fatos comprometedores da lisura institucional, são impróprias as pressões em curso sobre o STF e sobre dirigentes do Congresso, para adotar acelerações do julgamento de José Dirceu.


O que não se pode aceitar, porém, são deformações interessadas do que foram ou venham a ser os votos no STF. Tenhamos paciência com a cena do presidente do Supremo, de toga, quase deitado na cadeira e refestelado sobre a mesa, cena de rico romano de Hollywood; ou com as ironias ásperas de Sepúlveda Pertence e as interrupções impróprias de Nelson Jobim, quando contrariados nas votações; vá lá que alguns magistrados invertam, em minutos e sem maiores justificações, os votos dados, como seria próprio de palpites e não de apreciação rigorosa. Mas propalar que um voto não seguido por nenhum dos outros ministros, como foi o de Cezar Peluso, representa o pensamento até agora dominante no STF, isso só se entende como manipulação de Nelson Jobim para atenuar a forte reação, na Câmara e no Senado, ao que se tem passado no Supremo.


O recurso de José Dirceu pediu a sustação do seu processo de cassação na Câmara, sob o argumento de que uma testemunha de acusação (Kátia Rabello, presidente do Banco Rural) foi ouvida no Conselho de Ética depois das testemunhas de defesa. Cinco dos magistrados negaram o pedido, entre outros motivos porque Dirceu teve oportunidade posterior de defesa. Quatro, com argumentos variáveis, concederam-lhe o pedido. E um, Cezar Peluso, considerou apenas que o depoimento de Kátia Rabello deve ser retirado. O que está longe de ser voto pela suspensão do processo. Se é apenas retirar uma parte do processo, fica claro que o restante permanece. E o restante, no caso, é o próprio processo de cassação. O empate, entre votos pró e contra o recurso de Dirceu, não foi erro só aritmético de Nelson Jobim.


A votação de cada ministro do STF foi exibida ao público pela TV. A votação está toda gravada. O que cabe é esperar o voto então ausente de Sepúlveda Pertence. Pressão sobre o STF e distorções marotas provenientes do próprio STF são atos violadores da Constituição. E, se tratadas as coisas com alguma seriedade, deveriam pôr seus autores na mesma situação em que está José Dirceu.


Como, no entanto, as sessões transmitidas das CPIs e do Supremo têm exibido à opinião pública, a seriedade está em minoria mínima.’




Folha de S. Paulo
‘O Candidato Lula’, copyright Folha de S. Paulo, 27/11/05


‘Em entrevista concedida a emissoras de rádio na quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a insistir que ainda não definiu se será ou não candidato à reeleição. Trata-se de um segredo de polichinelo. A candidatura de Lula é tida como certa no meio político e seu comportamento tem confirmado amplamente essa avaliação.


Não seria exagero dizer que Lula na realidade nunca desceu do palanque, tendo sido ele próprio um dos responsáveis pela antecipação da corrida eleitoral, da qual se queixou na entrevista. É verdade -e não poderia ser muito diferente- que o escândalo de corrupção e a instalação de CPIs criaram um ambiente propício à precipitação da disputa pela Presidência, mas também nesses episódios a origem dos problemas está na maneira como o PT tem exercido o poder. Fracassado na coordenação política, voraz na captura de postos da máquina pública, antiético e imprudente nos meios de financiar seu projeto, o governo Lula semeou a tempestade que está colhendo.


Pode-se até imaginar que o presidente, ao se ver mergulhado num ‘pesadelo’ -termo que ele usou ao saber do caso de um emissário do PT que transportava dinheiro em seus trajes íntimos-, tenha cogitado de não competir no pleito de 2006. Uma decisão nesse sentido poderia ser apresentada como uma atitude coerente de alguém que sempre se manifestou contra a reeleição. Mas, ao que tudo indica, essa hipótese surgiu apenas como mais um ardil na tentativa de reagir à crise.


Hoje está muito claro que nem as convicções de Lula sobre o direito a um segundo mandato nem a gravidade do cenário político se erguem como obstáculos à candidatura. Salvo uma enorme surpresa ou o surgimento de fatos que tornem sua situação insustentável, o presidente irá lutar para permanecer em seu posto por mais quatro anos.


Em seus discursos, o candidato Lula já deixa transparecer parte da estratégia que utilizará em campanha. Vai explorar seu carisma popular, apostar na confusão, negar fatos, afirmar que ‘tudo’ foi investigado, que o ‘mensalão’ não existiu e que seu governo em poucos anos fez no Brasil o que Deus realizou em uma semana no universo -a obra da Criação. A seu favor devem atuar os resultados da economia, apenas medianos, mas positivos à luz do fiasco do crescimento em anos anteriores.


É claro, porém, que o presidente perdeu a condição de favorito e que encontrará muitas dificuldades na provável hipótese de a disputa ser decidida em segundo turno. Seus problemas, além da extrema facilidade com que poderá ser atacado e da possibilidade de as CPIs produzirem novos ‘pesadelos’, estão na dificuldade de costurar uma articulação política que dê solidez e amplitude à candidatura e no elevado índice de rejeição apontado pelas pesquisas.


Não basta gozar de prestígio entre os mais pobres e menos informados, contando com o rendimento eleitoral de programas como o Bolsa-Família. Para que possa aspirar à vitória, Lula precisaria recompor alianças e reconquistar ao menos parte do terreno perdido em algumas frentes, em especial na classe média, que depois de anos de relutância deu um voto de confiança ao PT e sentiu-se, muito justificadamente, traída.’


RADIODIFUSÃO & POLÍTICA
Andrea Vianna


‘No ar, suas excelências’, copyright Congresso em Foco (www.congressoemfoco.com.br), 29/11/05


‘O Congresso em Foco retoma o tema dos parlamentares proprietários de veículos de radiodifusão e publica, desta vez, a relação dos 28 senadores controladores de emissoras de rádio ou televisão, em nome próprio ou de terceiros, conforme levantamento feito pelo Instituto de Estudos e Pesquisas em Comunicação (Epcom), sediado em Porto Alegre (RS).


Na primeira reportagem, publicada na última quinta-feira, dia 24, apontamos os nomes dos 49 deputados concessionários diretos de empresas de radiodifusão (clique aqui para ler). Preparada pelo professor Venício de Lima, do Núcleo de Estudos de Mídia e Política da Universidade de Brasília (UnB), a lista incluiu apenas aqueles cujos nomes constam do cadastro oficial do Ministério das Comunicações.


Já a relação do Epcom também contempla as empresas de rádio e televisão em nome de filhos, mulheres, maridos ou outros familiares de senadores, além de terceiros que têm com eles não vínculo familiar, mas ligações políticas ou comerciais.


A lista dos senadores resulta do trabalho do pesquisador James Görgen, desenvolvido sob a supervisão do diretor do Epcom, o jornalista Daniel Herz, a partir do cruzamento de dados entre os senadores que compõem a atual legislatura (2002-2006) e o cadastro oficial do Minicom. Görgen explica que a pesquisa só se tornou possível a partir da iniciativa do ex-ministro das Comunicações Miro Teixeira, que em novembro de 2003 decidiu, pela primeira vez, publicar na página do ministério na internet, a relação dos concessionários públicos de radiodifusão.


Restrições constitucionais


O artigo 54 da Constituição Federal diz que deputados e senadores não podem ‘firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público’ ou ‘ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público’.


Baseado nesse dispositivo constitucional, o ProJor, instituição jornalística mantenedora do site Observatório da Imprensa, entrou com representação no Ministério Público Federal defendendo a apuração do fato, de maneira a permitir a responsabilização cível e criminal dos congressistas que contrariam as determinações constitucionais.


Embora o pedido de investigação formulado ao Ministério Público tenha se restringido aos deputados empresários, um de seus autores, o jornalista Alberto Dines, esclarece que os senadores serão incluídos nas apurações numa segunda fase do levantamento.


‘A primeira fase da pesquisa, realizada no primeiro semestre deste ano, ateve-se à investigação dos procedimentos da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) da Câmara dos Deputados. Esse trabalho terá desdobramentos, tão logo tenhamos recursos para isso. O plano é aprofundar a pesquisa já iniciada e também investigar a documentação da Comissão de Educação do Senado, que desempenha papel semelhante ao da CCTCI’, explica ele.


Dines observa que ambas as comissões, da Câmara e do Senado, são instâncias decisivas na tramitação dos processos de renovação e homologação das novas concessões de rádios e TVs. De acordo com o Projor, somente a CCTCI tem 16 integrantes que são sócios de empresas de radiodifusão. ‘Existe um claro conflito de interesses’, ressalta o jornalista.


Conforme o levantamento do professor Venício, feito sob encomenda do Projor, 51 deputados eleitos na atual legislatura – ou cerca de 10% da Câmara – controlam diretamente emissoras de rádio e TV. Desses, 49 ainda exercem o mandato e outros dois (Carlos Rodrigues e José Borba) renunciaram, após serem acusados de envolvimento com o mensalão.


A lista dos senadores


Pelo levantamento do Epcom, 15 senadores (18,5% do total) controlam diretamente empresas de radiodifusão. Incluindo os 13 que mantêm controle indireto, o percentual aumenta para 35%. A pesquisa, encerrada no final de 2004, resultou em lista na qual aparecem nove senadores do PFL, oito do PMDB, seis do PSDB e dois do PT. Os três restantes são do PTB, do PSB e do recém-criado Partido Municipalista Renovador (um cada).


Constam da relação o senador licenciado e atual ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB-MG), e alguns dos principais caciques do Congresso, como o ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP); o ex-presidente do Senado Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA); o presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati (CE); e o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN).


Hélio Costa é sócio-cotista da rádio FM ABC de Barbacena (MG). Procurada pelo Congresso em Foco, a assessoria de comunicação do ministro informou que a concessão foi obtida em 1985, antes de Costa ingressar na política. O ministro alega que atendeu a um pedido da população da cidade, que não tinha nenhuma emissora FM. E informa que, agora em dezembro, pretende comparecer à Comissão de Ética do Senado para formalizar o seu licenciamento da emissora, na qual, enfatiza, não exerce função de diretor, mas apenas de sócio.


Na última sexta-feira, o Congresso em Foco enviou e-mail a todos os demais senadores incluídos na lista do Epcom. Até ontem à tarde, nenhum deles se manifestou sobre o assunto. Também foi procurado o Sérgio Zambiasi (PTB-RS). Ele admitiu que trabalhou como radialista na Rádio Farroupilha, de Porto Alegre, até o último mês de julho. A Constituição proíbe que os parlamentares ‘exerçam função remunerada’ (artigo 54, II, a) nas empresas concessionárias públicas.


O levantamento feito pelo Epcom faz referência ainda a um deputado que ficou de fora da listagem do professor Venício, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Primo do atual relator da CPI dos Bingos, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), o deputado é apontado como sócio de duas rádios e da principal emissora de TV do Rio Grande do Norte, a TV Cabugi, retransmissora da Rede Globo.


O senador Flávio Arns (PT-PR) entrou na lista do Epcom porque parentes seus controlam várias empresas de radiodifusão em Santa Catarina. Até por exercer atividade política em outro estado, é pouco provável que ele tire proveito eleitoral disso. Há, finalmente, vários parlamentares que aparecem na relação tanto no controle direto como indireto de emissoras de rádio e TV.


Segundo o advogado constitucionalista Márcio Coimbra, a Constituição estabelece de modo claro a incompatibilidade entre o exercício de função legislativa e o controle de concessões públicas. ‘Os parlamentares não podem ser concessionários públicos. E não se justifica o argumento de que eles se afastam do controle ou da administração das empresas ao tomarem posse. O artigo 54 fala em ser proprietário ou diretor. Nem sócio eles podem continuar sendo. Afinal, como sócios, continuam tendo lucros, prevalecendo o conflito de interesses’, argumenta o advogado.


Mídia e poder


Há fartas indicações de que, muitas vezes, poder político e propriedade de veículos de comunicação caminham juntos. No Brasil, o controle dos meios de radiodifusão é uma das marcas de várias oligarquias locais ou regionais, algumas das quais com forte influência nacional. A família do ex-presidente Fernando Collor de Melo controla o principal grupo de mídia alagoano. As famílias Sarney e Magalhães imperam, respectivamente, no Maranhão e na Bahia.


Na Europa, são raros os casos de políticos que exercem controle sobre a mídia eletrônica. Exceção à regra é o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, dono do maior conglomerado de comunicações do país.


O controle e o uso político dos meios de comunicação ocorrem em várias nações latino-americanas. Em algumas delas, porém, a sociedade se movimenta no sentido oposto à apatia que acomete países como Brasil e Itália.


A candidatura à presidência do conservador Sebastián Piñera, acionista da companhia aérea Lan Chile e proprietário do canal de TV Chilevisión, está sendo fortemente questionada. Ele promete vender parte de suas ações, mas seus adversários, a candidata da situação Michelle Bachelet, e o ex-prefeito de Santiago Joaquín Lavín, querem que ele cumpra a promessa imediatamente. Bachelet, que tem o apoio do atual presidente, o socialista Ricardo Lagos, sustenta que o eventual futuro presidente do país não pode conciliar os interesses pessoais com os interesses do país.


‘Todas as distorções e aberrações da mídia eletrônica brasileira germinam nesta questão: os meios de comunicação não podem estar nas mãos do poder político. Além de autônomos, esses veículos devem ser entregues a empresas e entidades profissionais para garantir um mínimo de competência e seriedade na difusão da informação. O grande problema da concentração da mídia brasileira começa aqui: o parlamentar se autoconcede uma emissora e depois vai negociá-la com uma grande rede de TV ou rádio’, alerta Alberto Dines, um dos mais respeitados jornalistas brasileiros.


Na Câmara dos Deputados, encontra-se em tramitação proposta de emenda constitucional (PEC), de autoria de Alceste Almeida (PMDB-RR), que pode piorar as coisas. Ela autoriza os parlamentares a serem proprietários de empresas jornalísticas, emissoras de rádio e televisão.


Dos 189 deputados que assinaram a PEC, 32 são membros da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI). Entre os signatários, estão o deputado e ex-ministro das Comunicações Eunício Oliveira (PMDB-CE); o presidente do Conselho de Ética, deputado Ricardo Izar (PTB-SP); e o primeiro vice-presidente da Câmara, deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL). Pelo menos cinco subscritores da PEC são, ao mesmo tempo, concessionários de radiodifusão e membros da CCTCI: Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), João Mendes de Jesus (PSB-RJ), Leodegar Ticoski (PP-SC), Nelson Proença (PPS-RS) e Ricardo Barros (PP-PR).


Os senadores que têm emissoras de rádio e TV


Confira, a seguir, a lista dos senadores que controlam direta ou indiretamente emissoras de rádio e televisão:


CONTROLADORES DIRETOS (sócios de empresas concessionárias)


César Borges (PFL-BA)


Rádio Rio Novo FM, em Ipiau (BA)


Rádio Aimoré de Piritiba FM, em Piritiba (BA)


Edison Lobão (PFL-MA)


Em seu próprio nome


Rádio Guarajara de Barra do Corda AM, em Barra do Corda (MA)


Rádio Imperatriz Sociedade AM, em Imperatriz (MA)


Em nome de terceiros


Rádio e TV Difusora do Maranhão AM, em São Luís (MA), que está em nome dos seus filhos, Edison Lobão Filho, Márcio Lobão e Luciano Lobão


Rádio e TV Difusora do Maranhão FM, em São Luís (MA), também em nome dos filhos


Rádio e TV Difusora do Maranhão OT, em São Luís (MA), idem


Rádio e TV Difusora do Maranhão TV, em São Luís (MA), idem


Eduardo Azeredo (PSDB-MG)


Sociedade Montense de Radiodifusão FM, em Santo Antônio do Monte (MG)


Efraim Morais (PFL-PB)


Rádio Vale do Sabugy FM, em Santa Luzia (PB)


Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN)


Em seu próprio nome


. Rádio Jardim do Seridó AM, em Jardim do Seridó (RN)


. Televisão Cabugi, retransmissora da TV Globo, em Natal (RN), da qual é sócio, juntamente com Celina Aparecida Nunes Alves, Aluizio Alves (tio), Henrique Eduardo Alves (primo), José Gobat Alves, Aluizio Alves Filho (primo), Ricardo Luiz de Vasconcelos Alves, José Roberto Alves Cavalcanti, Henrique José Lira Alves, Francisco de Assis Alves de Andrade e Manoel Alves Neto


Em nome de terceiros


Rádio Baixaverde AM, em João Câmara (RN), em nome do primo, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN)


União Caxeiral de Lajes AM, em Lajes (RN), em nome de Pedro Joventino Alves


Rádio Difusora de Mossoró AM, em Mossoró (RN), em nome do tio Aluizio Alves e do deputado Henrique Eduardo Alves


Rádio Cabugi AM, em Natal (RN), em nome de Celina Aparecida Nunes Alves, de Aluizio Alves e Ricardo Luiz de Vasconcelos Alves


Rádio Santa Cruz AM, em Santa Cruz (RN), em nome de Maria Elizabeth Freire Alves


Rádio Trampolim da Vitória FM, em Parnamirim (RN), em nome de Agnelo Alves, Henrique José Lira Alves, Agnelo Alves Filho, Carlos Eduardo Nunes Alves (prefeito de Natal) e José Luiz Nunes Alves


TV Ponta Negra, retransmissora do SBT em Natal (RN), em nome de Luiz Maria Alves


TV Cabuginet Comunicações, em Natal (RN), em nome de Clemenceau Alves (prefeito de Angicos), Lúcia de Fátima Alves Othon e Maria Elizabete Fonseca Alves de Andrade


Hélio Costa (PMDB-MG), atual ministro das Comunicações


Sistema ABC Rádio e Televisão, em Barbacena (MG)


João Tenório (PSDB-AL) *


Em seu próprio nome


TV Gazeta de Alagoas, em Maceió (AL), da qual é sócio, junto com Nelson Tenório de Oliveira e José Maurício Tenório


Rádio Pajuçara FM, em Maceió (AL), com Jorge Tenório Maria e Gilvan Raposo Tenório


TV Pajuçara, em Maceió (AL), com os dois acima e Emerson de Melo Tenório


Em nome de terceiros


Rádio Jornal de Hoje FM, em Maceió (AL), em nome de Dau Tenório de Oliveira (vereador em Maceió)


José Agripino (PFL-RN)


Em seu próprio nome


Rádio Ouro Branco AM, em Currais Novos (RN)


Rádio Libertadora Mossoroense AM, em Mossoró (RN)


Rádio Curimatau de Nova Cruz AM, em Nova Cruz (RN)


Tropical Comunicação FM, em Natal (RN)


TV Tropical Comunicação, retransmissora da Record em Natal (RN)


Em nome de terceiros


Rádio A Voz do Seridó AM, em Caicó (RN), em nome do irmão, Oto Agripino Maia


Mão Santa (PMDB-PI)


Rádio Igaraçu AM, em Parnaíba (PI), em sociedade com Antônio José de Moraes Souza


Marcelo Crivella (PMR-RJ)


TV Cabrália, em Itabuna (BA)


TV Record de Franca, em Franca (SP), junto com sua esposa, Sylvia Jane Hodge Crivella


Maria do Carmo Alves (PFL-SE)


Rádio Jornal de Estância FM, em Estância (SE)


Rádio Jornal de Sergipe AM, em Aracaju (SE), junto com o seu marido, o governador sergipano João Alves Filho


Rádio e Televisão Aracaju FM, em Aracaju (SE), também com João Alves


Rádio Jornal de Propriá FM, em Propriá (SE), com João Alves Filho e Ana Maria do Nascimento Alves


Paulo Octávio (PFL-DF)


Rádio e Televisão CV AM, em Brasília (DF), ao lado de Paulo Octávio Empreendimentos Ltda. e Wilma Carvalho Alves Pereira (mãe)


Rádio JK FM, em Brasília (DF), com a esposa, Anna Christina Kubitschek Pereira


TV Rádio e Televisão CV (TV Brasília), em Brasília (DF), com Paulo Octávio Empreendimentos Ltda. e Wilma Carvalho Alves Pereira


Romero Jucá (PMDB-RR)


Serra Negra Radiodifusão FM, em Bezerros (PE)


Roseana Sarney (PFL-MA)


Em seu próprio nome


TV Mirante, retransmissora da Globo em São Luís (MA) em sociedade com os irmãos Fernando José Macieira Sarney e Sarney Filho, deputado federal pelo PV do Maranhão


Rádio Mirante FM, em São Luís (MA), também ao lado dos irmãos


Rádio Interior AM, em Caxias (MA)


Rádio Interior AM, em Pinheiro (MA)


Em nome de terceiros


Rádio Mirante do Maranhão AM, em Imperatriz (MA), em nome de Fernando José Macieira Sarney


Rádio Mirante do Maranhão FM, em Imperatriz (MA), idem


Rádio Difusora de Timon FM, em Timon (MA), idem


TV Itapicuru, em Codó (MA), em nome de Teresa Cristina Murad Sarney (cunhada)


TV Mirante do Maranhão, em Imperatriz (MA), em nome de Fernando José Macieira Sarney


Tasso Jereissati (CE), presidente nacional do PSDB


Em seu próprio nome


TV Jangadeiro, retransmissora do SBT em Fortaleza (CE)


Rádio FM Jangadeiro, em Fortaleza (CE)


Em nome de terceiros


Rádio FM Casa Blanca FM, em Fortaleza (CE), em nome de Paulo Jereissati Ary e Maria Luiza Jereissati Ary


Rádio FM Iguatu, em Limoeiro do Norte (CE), em nome de Márcia Rossi Jereissaiti Marinho de Andrade


CONTROLADORES INDIRETOS (as empresas concessionárias são de propriedade de parentes ou terceiros)


Alberto Silva (PMDB-PI)


Rede JHJ de Radiodifusão FM, em Parnaíba (PI), em nome de João Tavares Silva Filho **


Antero Paes de Barros (PSDB-MT)


Rádio Cidade de Cuiabá FM, em Cuiabá (MT), em nome de Josephina Paes de Barros Lima **


Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA)


Televisão Bahia, retransmissora da TV Globo em Salvador (BA), em nome de Arlete Maron de Magalhães (esposa), Antônio Carlos Peixoto de Magalhães Júnior (filho), Luís Eduardo Maron de Magalhães Filho (neto), Paula Maron de Magalhães Gusmão (neta) e Carolina de Magalhães Guinle (neta)


TV Subaé, em Feira de Santana (BA), em nome de Arlete Maron de Magalhães


Rádio Antena 1 de Ribeira do Pombal AM, em Ribeira do Pombal (BA), em nome de Paulo Roberto Magalhães de Jesus **


Televisão Conquista, em Vitória da Conquista (BA), em nome de Paula Maron de Magalhães Gusmão (neta), Carolina de Magalhães Guinle (neta) e Luís Eduardo Maron de Magalhães Filho (neta)


Antônio Carlos Valadares (PSB-SE)


Empresa Sergipana de Radiodifusão FM, em Simão Dias (SE), em nome de José Matos Valadares (prefeito da cidade)


Flávio Arns (PT-PR)


Sociedade Radiodifusora Eldorado Catarinense, em Criciúma (SC), em nome de Álvaro Roberto de Freitas Arns (primo) e Karim Morgana de Freitas Arns


Sociedade Rádio Hulha Negra de Criciúma AM, em Criciúma (SC), em nome de Álvaro Roberto de Freitas Arns (primo)


Rádio Floresta Verde de Joinville AM, em Joinville (SC), em nome de Álvaro Roberto de Freitas Arns (primo)


Rádio Guararema AM, em São José (SC), em nome de Álvaro Roberto de Freitas Arns (primo)


Sistema Interativa de Comunicação FM, em Araranguá (SC), em nome de Dagoberto Arns (primo)


Rádio Som Maior FM, em Criciúma (SC), em nome de Karim Morgana de Freitas Arns e Álvaro Roberto de Freitas Arns (primo)


João Alberto Souza (PMDB-MA)


Rádio Jainara AM, em Bacabal (MA), em nome de José Brito de Souza


Jorge Bornhausen (PFL-SC)


Rádio Difusora Itajaí AM, em Itajaí (SC), em nome do espólio de Irineu Bornhausen (pai)


José Maranhão (PMDB-PB)


Radio Serrana AM, em Araruna (PB), em nome de Wilma Targino Maranhão (irmã) e Magda Maranhão L. Ferreira de Melo


José Sarney (PMDB-AP)


Rádio Interior AM, em Caxias (MA), em nome da filha, a senadora Roseana Sarney (PFL-MA)


Rádio Mirante do Maranhão AM, em Imperatriz (MA), em nome de Fernando José Macieira Sarney (filho)


Rádio Interior AM, em Pinheiro (MA), em nome de Roseana


Rádio Mirante do Maranhão FM, em Imperatriz (MA), em nome de Fernando José Macieira Sarney


Rádio Mirante FM, em São Luís (MA), em nome de Roseana, Fernando e o outro filho, o deputado Sarney Filho (PV-MA)


Rádio Difusora de Timon FM, em Timon (MA), em nome de Fernando José Macieira Sarney (filho)


TV Itapicuru, em Codó (MA), em nome de Teresa Cristina Murad Sarney (cunhada de Roseana)


TV Rádio Mirante do Maranhão, retransmissora da TV Globo em Imperatriz (MA), em nome de Fernando José Macieira Sarney (filho)


Televisão Mirante, retransmissora da TV Globo em São Luís (MA), em nome dos três filhos


Leonel Pavan (PSDB-SC)


Fundação de Radiodifusão Rodesindo Pavan, em Balneário Camboriú (SC), em nome da fundação que leva o nome do pai


Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR)


Rede Tropical de Comunicação FM, em Boa Vista (RR), em nome de Geilda Monteiro Cavalcanti (mãe)


TV Rede Tropical de Comunicação, em Boa Vista (RR), também em nome da mãe


Reginaldo Duarte (PSDB-CE)


Rádio Vale do Cariri AM, em Juazeiro do Norte (CE), em nome de Maria Zilma de Alencar Duarte (mulher), Antônio Gonçalves Duarte e Severino Gonçalves Duarte


Rádio Vale do Cariri FM, em Juazeiro do Norte (CE), em nome de Maria Zilma de Alencar Duarte (mulher), Antonio Gonçalves Duarte e Severino Gonçalves Duarte


Serys Slhessarenko (PT-MT)


Rádio Cidade de Cuiabá FM, em Cuiabá (MT), em nome de Josephina Paes de Barros Lima (doadora de campanha)


* Suplente do senador Teotônio Vilela Filho (PSDB-AL)


** Parentes sem grau de parentesco identificado com o senador


Fonte: Instituto de Estudos e Pesquisas em Comunicação (Epcom), com base em dados do Sistema de Controle de Acompanhamento de Cotas (Ministério das Comunicações).’




CENSURA NA TV MIRANTE
Sílvia Freire


‘TV de Sarney não veicula anúncio do governo do MA’, copyright Folha de S. Paulo, 27/11/05


‘A Rede Mirante de Televisão, afiliada à Rede Globo no Estado do Maranhão, não aceitou veicular campanha publicitária do governo estadual com esclarecimentos sobre a raiva humana.


O Sistema Mirante de Comunicação, que além da TV controla também rádios AM e FM e o jornal ‘O Estado do Maranhão’, pertence à família do senador José Sarney (PMDB-AP), com quem o governador José Reinaldo Tavares (PSB) rompeu politicamente no ano passado.


A direção da emissora alegou que o governo tem uma dívida com a rede.


O diretor comercial da emissora, Francisco Alexandre Mello Franco, disse que não sabia informar o valor atual do débito.


Débito


A negativa para a veiculação da campanha do governo do Maranhão ocorreu há duas semanas.


‘O governo não anuncia com a gente há praticamente dois anos por causa de uma pendência financeira. A partir do momento que o governo saldar essa dívida, vai ter novamente aberto o crédito’, disse o diretor comercial da emissora.


Franco negou que a não-veiculação da mídia seja por motivos políticos. ‘O [departamento] comercial não se envolve nisso [em questões de política]. Somos uma concessionária pública e não nos envolvemos nisso [política]’, disse Franco.


No dia 17, em mais um episódio da briga política entre os dois grupos, a bancada de apoio ao governador na Assembléia Legislativa aprovou a devolução para poder do Estado do Convento das Mercês, prédio que abriga atualmente a Fundação José Sarney.


Dívida


A Secretaria de Comunicação do Estado não confirma nem nega a existência da dívida. Segundo a secretária Flávia Regina Bezerra de Melo, o débito teria ocorrido antes de ela assumir o cargo, em novembro de 2004.


A secretária disse que solicitou à emissora um detalhamento da dívida para que seja discutida, o que ainda não aconteceu.


‘É uma peça [publicitária] bem simples. A gente fez um informe de utilidade pública para que, em função desta questão política séria, não tivesse caráter de propaganda política de governo’, afirmou Flávia Regina.


A propaganda consiste na leitura de um texto que destaca as medidas adotadas pelos órgãos estaduais para combater o surto de raiva que atinge o interior do Estado, como vacinação, combate ao morcego (agente transmissor) e educação sanitária.


As orientações também instruem a população para, em caso de mordida de morcego, lavar o local da lesão e procurar um posto de saúde para receber soro e vacinas contra a raiva.


Desde o início do ano, 24 pessoas morreram no Estado em decorrência da raiva.


De acordo com a secretária, a propaganda está sendo veiculada nas demais emissoras do Maranhão. O diretor comercial da emissora afirma que a Rede Mirante de Televisão tem quatro emissoras no Maranhão e atinge 92% do território do Estado.’




FEMINISMO & MÍDIA
Sérgio Augusto


‘A presidente de batom e as porcas chauvinistas’, copyright O Estado de S. Paulo, 27/11/05


‘Mulheres do mundo inteiro, uni-vos! Nada tendes a perder a não ser a vossa… a vossa… o quê, mesmo? Ah, sim, a vossa feminilidade.


Hum-hum. Isso a seco, sem maiores explicações, pode gerar mal-entendidos, vitupérios, estigma de sexista e machista. Mas eu insisto: modos, meninas. Eu e uma feminista chamada Ariel Levy. A feminilidade é um atributo positivo, formidável, invejável, uma arma poderosa. Um porco chauvinista diria, parafraseando Clemenceau sobre os generais e a guerra, que a feminilidade é algo bom demais para pertencer às mulheres. E se dissesse isso 30 anos atrás, quando algumas feministas ainda queimavam sutiãs, seria simbolicamente castrado em praça pública. Hoje, tudo bem. As feministas refinaram o discurso, e sua causa, justíssima, só teve a lucrar com isso. Resultados? Olhe em torno. Ou leia os jornais.


A quem me vier com Margareth Thatcher, Condy Rice, Oprah Winfrey e Angela Mer- kel, eu contraponho Maureen Dowd e Mackenzie Allen, reservando-me o direito de me abster diante de Dilma Rousseff e Heloísa Helena, invalidar os votos para Rosinha e pedir recontagem para os que conduziram a farmacêutica Suely Vilela à melhor sala da USP.


As mulheres não têm por que se entusiasmar com a escolha de Vilela para um cargo desde sempre ocupado por um marmanjo. Elas – as mulheres e a reitoria – não mereciam uma cabeça tão, como direi?, tão leve assim. Não me agradou saber que a primeira mulher a assumir a reitoria da maior universidade do País adora filmes românticos como Titanic e Uma Linda Mulher e busca inspiração em livros de auto-ajuda como Você é do Tamanho de Seus Sonhos. Só falta ela confessar que não assiste ao Saia Justa e Madame Lee por considerá-los ‘muito intelectuais’.


As minhas poderosas (e outras mais, daqui e de fora, eu poderia citar) são indiscutivelmente batutas. E ultrafemininas. Maureen Dowd é a mais brilhante, corrosiva, engraçada e, talvez, a mais charmosa comentarista política do continente (quartas e sábados no New York Times). Mackenzie Allen, Mack para os íntimos, é a presidente dos EUA na telessérie Commander in Chief, também em começo de temporada por estas bandas (segunda-feira, às 21h, no canal a cabo da Sony). Se à poderosa Mack não falta feminilidade, isso vai sem dizer, como dizem os franceses, pois sua intérprete é a longilínea Geena Davis. Ela tem 1,83 metro de altura; George W. Bush, 1,76 metro; Jed Bartlet (o presidente interpretado por Martin Sheen na telessérie The West Wing), 1,70 metro. Mack já começa ganhando na altura.


Pouco sei da obstinada nêmesis do presidente Hugo Chávez, Maria Corina Machado, um nome a considerar; mas seria decepcionante descobri-la um reles rabo-de-saia a serviço dos piores interesses da direita venezuelana, um avatar de Isabelita Perón, um decalque ideológico de Anne Coulter e Phyllis Schlafly, uma neocon cucaracha.


Anne e Phyllis – ou melhor, Coulter e Schlafly, pois não quero intimidades com ambas – são as mais visíveis ideólogas do neoconservadorismo norte-americano, duas neocons com laquê. Suas diatribes contra os liberais e a favor de tudo o que Bush faz ou diz vêm sempre untadas com o ódio, com os argumentos mais tacanhos, com a submissão aos mais baixos princípios da falocracia. Coulter é a mais saidinha. Me lembra o que resultaria de um cruzamento de Paris Hilton com o senador Joe McCarthy. Adora minissaia: tão curta que até dá pra ver o cérebro dela.


Por falar em Paris Hilton, ela é um dos protótipos do chauvinismo feminino – uma autêntica porca chauvinista – destacados por Ariel Levy no ensaio Female Chauvinist Pigs – Women and the Rise of Raunch Culture, editado há pouco pela Free Press e já à venda na Amazon por apenas US$ 16,50. Como é sabido, até por ser milionária, Paris Hilton não precisava tornar público, para efeito de marketing, um vídeo em que ela aparece fazendo felação e sexo explícito. ‘Por que ela fez isso?’, pergunta-se Levy.


Outras perguntas se sucedem. Por que tanta cirurgia plástica e botox? Por que tantos cremes e cosméticos? Por que virou moda a vaginoplastia (procedimento cirúrgico para embelezar a genitália feminina)? Por que tantos livros sobre técnicas de striptease e outros estratagemas para excitar a libido masculina? Como explicar o comportamento cafajeste de tantas adolescentes, na tela e no mundo real? Por que tantas revistas pornográficas ou quase isso voltadas para o público feminino, como Lad Mag, Maxim, FHM e Stuff? Por que programas como Girls Gone Wild? Por que aquelas atletas posaram nuas para a Playboy antes das Olimpíadas de 2004? Por que até senhoras com mais de 50 anos teimam em usar jeans de cintura baixa, exibindo umbigos e regos que não merecem mais ficar à mostra?


E por aí vai Levy, incluindo até a refilmagem de As Panteras como outro expressivo paradigma de um fenômeno, para ela, desconcertante: as mulheres, ou certas mulheres, resolveram adotar e glorificar um modelo de sexualidade e vulgaridade femininas consagrado pela cultura popular que vem direto da pornografia, dos palcos de striptease e outras fontes em que a mulher só se destaca por fazer coisas que excitam os homens. Mas, além de excitar o sexo oposto, elas, como sempre o fizeram, cobiçam a inveja das outras mulheres. O objetivo final é um só: adquirir poder. Eis a forma mais perversa de feminismo: tornar-se uma caricatura do homem para ficar, com ou sem trocadilho, por cima.


A julgar pelos primeiros capítulos de Commander in Chief, Mack Allen não precisou fazer nada disso para chegar à Presidência. Ela jamais seria uma ‘desperate housewife’ ou uma daquelas frívolas e consumistas ‘galinhas’ de Sex and the City, que só pensam naquilo e parecem depender de homem até para fazer xixi. Commander in Chief é uma fantasia: nunca uma mulher chegou ao comando supremo dos EUA. Desperate Housewives e Sex and the City são variantes do fenômeno analisado por Ariel Levy: versões desreprimidas dos melodramas hollywoodianos dos anos 50, quando a censura só permitia sexo depois do casamento. Com um tremendo ágio libidinal: ao ridículo recato de antigamente sucedeu uma obsessiva e folgazã ninfomania, promíscua e não menos submissa aos caprichos masculinos.


Rod Lurie, criador e roteirista de Commander in Chief, informa: sua presidente não foi inspirada nem na senadora democrata Hillary Clinton, nem na senadora republicana Elizabeth Dole, mas na glamourosa, inteligente e decidida Susan Lyne, ex-presidente da ABC Entertainment, ora à frente da Martha Stewart Omnimedia. Para não cometer três exageros (pôr na Casa Branca uma mulher, além do mais de um partido independente), Lurie viu-se obrigado a fazê-la vice de um presidente republicano (que só a escolheu para fazer média com o eleitorado feminino) para, com a morte deste, por um providencial aneurisma, transformá-la em ‘comandante-em-chefe da nação’. Todos contavam que ela, sem apoio de lado algum, desistiria da Presidência, entregando o cargo ao terceiro na linha sucessória: o maquiavélico líder do Congresso Nathan Templeton, encarnado por Donald Sutherland como se estivesse disputando uma vaga na entourage de Bush. Mack fez valer seus direitos e mandou ver.


Mack já libertou uma nigeriana condenada à morte por adultério; invadiu e destruiu as plantações de coca de uma ditadura sul-americana chamada San Pasquale, exigindo a prisão de seu ditador. No episódio de amanhã, creio, dará uma descompostura no presidente da Rússia, na frente das câmeras de TV, por conta da prisão de alguns jornalistas russos. A intervencionista, autoconfiante e tenaz Mack é mais do que um Bush com face humana, bons propósitos e feminilidade. Mas se, afinal, for apenas isso, sairemos lucrando.’