‘O Observatório da Imprensa não é um tribunal, é um fórum, e este observador não se considera juiz nem emite sentenças’ (Alberto Dines, ‘O bonapartismo de araque e a lei da selva‘). Luciano Martins Costa (‘A imprensa não estimula a inteligência‘) em que tentei refutar o conceito errado que o articulista tenta passar como juiz no texto (‘Imprensa não estimula a inteligência porque ela não é estimulável‘). Martins Costa novamente usa o termo em sentido errado como diagnóstico (‘Vida inteligente nas bancas‘).
Trata-se, é claro, de um erro proposital (espero) para tentar enganar o leitor do Observatório de que a esquerda é inteligente e a direita é detentora da burrice (os que pensam como eu são inteligentes). Eu lembraria um provérbio popular – ‘Não há pobre sábio, nem rico tolo’ – para mostrar que o jornalista usa apenas de um preconceito e uma empáfia enganosa. A sua defesa de piauí não se refere a esta função mental, que Renné Descartes (1596-1650), há quatrocentos anos já lembrara: ‘O bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída: todos pensamos tê-lo em tal medida que até os mais difíceis de contentar nas outras coisas não costumam desejar possuir mais bom senso do que aquele que têm’; ou ‘não há nada no mundo que esteja melhor repartido do que a razão: toda a gente está convencida de que a tem de sobra’, apontadas no seu Discurso do Método. Apenas usa um binarismo caolho apontado pelo ilustre advogado Ricardo Antônio Lucas Camargo nas suas contribuições a este Observatório.
Diagnósticos jornalísticos
Para lembrar algumas conquistas inteligentes da esquerda no século passado, não podemos deixar de mencionar de que a política econômica comemorada pelo atual presidente, eleito pela esquerda, é a mesma que foi iniciada pelo regime militar, nos anos de chumbo, definida por Delfim Netto. Lutaram por décadas contra tudo e contra todos para atacar aqueles que a defendiam para finalmente encontrarem o sucesso alardeado com a receita do FMI. Pagar o que se deve e se tornar um país confiável para o investimento estrangeiro. Jamais dar calote. Esperar a árvore crescer para depois comer os frutos. Atrair investimentos estrangeiros. Exportar para o mercado neoliberal aberto para oportunidades. A falta de percepção do que está ocorrendo na nossa economia, balança de pagamentos, política de exportações etc. não é ‘inteligente’.
A URSS ruiu como um castelo de cartas, um verdadeiro tigre de papel, no fim do século passado depois de décadas de educação ‘inteligente’ de várias gerações. A China comunista, com gerações educadas da mesma forma radical, hoje se constituiu rapidamente no maior país capitalista selvagem, depois da imensidão de mortes e da revolução cultural do ‘saudoso’ camarada Mao Tse Tung. Milhões foram mortos pela esquerda no mundo no seu projeto de construir um paraíso coletivista e de pensamento uniforme contra a vontade do povo. Vão alegar que a direita, seja lá o que seja isto, visto que estaríamos passando fome se não fosse ela, matou também. O que é discutível. Mas o indiscutível é que não é ‘inteligente’ concorrer nesta área com a promessa de que se é melhor neste aspecto. Espero que Luciano entenda o erro conceitual, e que possa fazer diagnósticos jornalísticos mais bem focados, pois se erramos os mesmos, não conseguiremos equacionar os problemas a nossa frente. Além de evidenciarmos o binarismo inútil frente à tão grande diversidade no nosso país ‘em desenvolvimento’ ainda.
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Médico, Porto Alegre (RS)