Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Taíssa Stivanin

‘É inegável que a Globo faz boas novelas – algumas nem tanto, é verdade -, mas isso já é outro assunto. É inegável também que o mercado impõe um roteiro quase fechado para que seus autores, diretores e elenco saibam criar dentro de uma fórmula que precisa ser sucesso.

O moço e a moça bonita que se apaixonam, um vilão que quase sempre se interpõe entre os dois, produção a toque de caixa e o crivo da audiência. E quando não se precisa de nada disso? A gente assiste a um programa como Hoje É Dia de Maria. A minissérie de oito capítulos, que estreou nesta terça-feira, já nasceu comercialmente vencedora, mas antes de tudo é uma produção primorosa. Algo que não se via desde Os Maias. Ainda que inspirada em direção cinematográfica, cenário e interpretação teatrais, tem o tom televisivo. É como se a equipe tivesse se apropriado do melhor das referências da música, da cenografia, da fotografia e da interpretação para criar um bom produto para TV.

No capítulo de estréia, a pequena Maria, vivida pela estreante Carolina Oliveira, decide fugir de casa, maltratada pelo pai e pela madrasta. A atuação de Carolina é para deixar a Salete, a menina chorona de Mulheres Apaixonadas, envergonhada. Na cena em que foge do pai quando ele tenta abusar dela sexualmente, ela pega na mão do telespectador e o transporta para seu drama. Só não tomou a cena no primeiro capítulo porque o palco é de Fernanda Montenegro, a madrasta, e Osmar Prado, o pai. Nunca o telespectador viu um sotaque tão bem falado na TV. Um pouco de exagero no caipirês da dupla tornou difícil a compreensão das falas da personagem de Fernanda no capítulo de estréia, talvez um probleminha no áudio, talvez, mas mesmo assim a dupla é perfeita. Dá vontade de chorar quando vêm à mente aquelas novelas que se passam no Nordeste, será nordeste do Rio? Carolina não fica atrás, resultado das aulas de prosódia dadas ao elenco.

O ibope da estréia também foi bom. Hoje É Dia de Maria não foi páreo para o blockbuster Duro de Matar III, exibido pelo SBT no horário. Segundo medição na Grande São Paulo, a microssérie registrou audiência de 34 pontos com 51% share (participação no total de TVs ligadas). O SBT ficou com 18 pontos no horário.

O cenário, que lembra pinturas de Portinari, é uma das grandes inovações de produção. Obra da diretora de arte Lia Renha, é um domo que criou várias possibilidades de iluminação e ângulos. A noção de profundidade quando Maria saiu estrada afora em busca de suas franjas do mar, seria impossível em ângulos retos. As paisagens desenhadas para a minissérie e os bonecos construídos e manejados pelos artistas do grupo mineiro Giramundo tornaram o ambiente onírico, como que saído de um sonho. Para quem perdeu, ainda há mais seis capítulos. Corra antes que a noite acabe e você acorde – às 6 da tarde.’



Rodrigo Fonseca

‘Prólogo para uma fábula’, copyright Jornal do Brasil, 13/1/05

Um pequenino pato – não uma ave legítima, mas uma marionete criada pelos bonequeiros do grupo teatral Giramundo – viveu seu momento Rodrigo Santoro na estréia de Hoje é dia de Maria, anteontem à noite, na Rede Globo. O pato foi a primeira imagem chamativa no universo baseado na obra pictórica do pintor Cândido Portinari. Visto numa das cenas iniciais do capítulo de abertura da microssérie, que manteve uma festejável média de 34 pontos de audiência, o títere deixava visível em seu corpo os fios com os quais seus movimentos eram manipulados. Tal visão serviu de deixa para revelar as provocações pretendidas pelo diretor Luiz Fernando Carvalho numa atração que promete, desde já, ser a grande experiência estética televisiva do país em 2005.

Amparado na força do texto de Carlos Alberto Soffredini (1939-2001), Hoje é dia de Maria é um ensaio sobre o faz-de-conta. Daí não ocultar do cenário tudo o que sugira farsa, teatralidade, invenção. Incluindo o pato. A opção marca um rompimento com o naturalismo telenovelesco tradicional numa trama da qual pouco sabe. Afinal, o roteiro do primeiro capítulo foi mera apresentação dos personagens.

Artista engajado no projeto de formar platéias habituadas a doses diárias de reality shows, aumentando o apetite delas por fábulas em que a sofisticação seja o ingrediente principal, Luiz Fernando volta-se em sua nova série para as narrativas orais brasileiras – pedra fundamental da mestiça cultura nacional. Na direção de atores, ficou bem clara a preocupação em acentuar a riqueza dos falares rurais brasileiros, sobretudo no belo trabalho de Fernanda Montenegro, que mascava as palavras de sua Madastra com ares de Cruela Cruel. Mas quem melhor se fartou com essa alegórica brincadeira do diretor foi Osmar Prado. Brilhante, o ator encontrou equilíbrio entre o árido realismo e o louco devaneio no papel de um homem sofrido.’



Luiz Zanin Oricchio

‘Minissérie rima emoção com conteúdo’, copyright O Estado de S. Paulo, 18/1/05

‘A minissérie Hoje É Dia de Maria destoa tanto da programação habitual da TV que chega a deixar o crítico até sem parâmetros para compará-la com outras atrações do gênero. Mais ainda pelo fato de, na grade de horário, ser antecedida por esse exemplar bovino de entretenimento que é o Big Brother Brasil. Assim, à futilidade, ao narcisismo e ao roça-roça bocó do BBB segue-se a sutileza criativa e cheia de conteúdo de Hoje É Dia de Maria. Como se a Globo estivesse dizendo: ‘Sou capaz do pior, e do melhor também.’ Num momento em que a Rede tem mostrado seu poder de pressão sobre temas que lhe dizem respeito, como a Ancinav, essa não deixa de ser uma mensagem interessante.

Hoje É Dia de Maria parte de uma concepção formal das mais interessantes. Gravada num Domo, com 1.700 metros quadrados de cenários pintados à mão, a minissérie aposta na deslavada artificialidade para comover o público. Como? Exatamente, vai do falso para chegar ao ‘verdadeiro’. Como procedimento não é novidade. Alain Resnais fez isso algumas vezes, em Mélo e em Smoking no Smoking, por exemplo. Cenário deliberadamente fake. Comovedoramente falso, melhor dizendo. Fellini fazia do procedimento um hábito, como em E la Nave Va, Casanova, Satyricon e vários outros filmes. Ou seja, a opção é abandonar a imitação da realidade por um artificialismo ostensivo.

Esse procedimento de exposição da construção dramática não se limita aos cenários. O clima é fabular, as falas são recitadas, busca-se uma prosódia implausível dos atores. Maria, interpretada quando criança por uma surpreendente Carolina Oliveira, se move num universo de fábulas e mitos, brasileiros e universais. A profusão de referências é enorme, vão de Câmara Cascudo e Silvio Romero a Villa-Lobos, mas basta dizer que a pequena Maria faz-se protagonista de um arquétipo comum da humanidade, a viagem, presente desde a Odisséia de Homero. Ela é a garota órfã de mãe, que sofre com a madrasta e resolve botar o pé na estrada e ir em busca das ‘franjas do mar’. No percurso, arruma amigos, sofre a tentação do demônio e vira moça, quando então passa a ser interpretada por Letícia Sabatella.

Na minissérie, a infância é vista com todos os seus medos e sentimentos de impotência como nas antigas fábulas. Há bruxas como a Madrasta (Fernanda Montenegro) e demônios de muitas faces (a figura do Mal é interpretada ora por Stênio Garcia ora pelo sedutor João Sabiá, em vestimenta hispânica e devidamente acompanhado pela música do Toreador, de Bizet). Mas há também as figuras benignas como as vividas por Gero Camilo. O pai (Osmar Prado) é um personagem trágico, dilacerado entre o amor e o desejo pela filha, corroído pelo remorso, tentado pelo suicídio. Sim, a minissérie não deixa de lado nem mesmo essas milenares figuras edipianas.

E assim, nessa viagem de Maria, ela será obrigada a enfrentar uma tentativa de estupro, os abusos da madrasta e as tentações do Asmodeu. E seguirá seu passo com alegria e inteligência. Refaz, em seu caminho, os diversos ritos de passagem, como a saída de casa e a puberdade. Esta cena, aliás, quando vítima da aceleração do tempo causada pelo demônio ela prematuramente se torna mocinha e menstrua é uma das mais bonitas e emocionantes da série.

Luiz Fernando Carvalho foi acusado de fazer cinema na TV em Os Maias, outra minissérie, de resto excelente também. Agora vai além no processo de radicalização – faz alguma coisa entre o cinema e a TV, mas que também incorpora o circo, a commedia dell´arte, a brincadeira de rua. Como alguns (poucos) artistas, como Antonio Nóbrega, ou Ariano Suassuna, Carvalho, a partir do roteiro deixado por Carlos Alberto Soffredini e retomado por Luis Alberto de Abreu, também faz a síntese sempre interessante entre o erudito e o popular.

No BBB há um simulacro de verdade onde no fundo tudo é falso. Em Hoje É Dia de Maria parte-se da falsidade de cenário e entonações para se chegar se não à verdade, já que esta é difícil de ser atingida, mas pelo menos à emoção e a sinceridade. Não é nada modesto como projeto.’



SENHORA DO DESTINO
Daniel Castro

‘Autor de ´Senhora´ bate próprio recorde’, copyright Folha de S. Paulo, 13/1/05

‘‘Senhora do Destino’ já é o maior sucesso da Globo pelo menos desde 1996. A novela de Aguinaldo Silva entrou em 2005 com média geral (do primeiro até o 170º capítulo, exibido anteontem) de 49 pontos na Grande SP e 73% de ‘share’ (participação no total de TVs ligadas). Ultrapassou ‘A Indomada’, do próprio Silva, de 1997, que fechou com 48 pontos.

Das últimas tramas, ‘Senhora’ só perde para ‘O Rei do Gado’ (1996), de Benedito Ruy Barbosa, que teve 52 pontos, com 73% de share (apenas um a mais).

O próprio Aguinaldo Silva considera ‘Senhora do Destino’ o maior sucesso de sua carreira _uma vez que o Ibope recomenda não fazer comparações com programas anteriores a 1994, devido a mudanças na medição, à TV paga e à explosão do consumo de aparelhos de TV no Plano Real.

É possível que ‘Senhora’ tenha mais telespectadores do que ‘Roque Santeiro’ (1985), o maior sucesso da Globo em pontos no Ibope. Hoje, um ponto no Ibope representa 49,5 mil domicílios na Grande SP (‘Senhora’ é vista então em 2,4 milhões de lares). Já em 1996, cada ponto equivalia a 40 mil domicílios (‘O Rei do Gado’ era vista em 2,1 milhões de casas).

Em dezembro e janeiro, meses de menor audiência da TV, ‘Senhora’ vem impressionando. Anteontem, voltou a cravar 58 pontos, com 80% de share. De cada dez televisores ligados, oito estavam no show de Renata Sorrah.’



AMÉRICA
Daniel Castro

‘Globo embarca elenco recorde aos EUA’, copyright Folha de S. Paulo, 14/1/05

‘Quinze atores participarão das gravações nos Estados Unidos de ‘América’, próxima novela das 21h da Globo. É o maior elenco já enviado pela emissora ao exterior.

Parte dos atores viaja hoje para o Texas, onde as gravações começam domingo e vão até o dia 27. Depois, até 6 de fevereiro, as gravações serão em Miami (Flórida).

Embarcam para os EUA Deborah Secco (a protagonista Sol), Thiago Lacerda, Juliana Knust, Fernanda Paes Leme, Christiane Torloni, Edson Celulari, Caco Ciocler, Camila Morgado e Cléo Pires, entre outros.

Tratada na Globo como superprodução, ‘América’, de Glória Perez (autora) e Jayme Monjardim (diretor), também baterá recorde no total de área ocupada por cidades cenográficas.

Serão ao todo quatro cidades cenográficas. Uma retrata parte da Vila Isabel, no Rio. As outras três reproduzem trechos de Miami, onde boa parte da trama é ambientada. Uma delas reconstrói pedaço da nobre região de Ocean Drive, com sua arquitetura predominantemente art déco. As outras duas representam bairros pobre e de classe média de Miami.

A novela ainda tem um núcleo cenográfico rural, em Guaratiba, zona oeste do Rio, onde vive o protagonista masculino, o peão de rodeio Tião (Murilo Benício).

‘América’, cujas temáticas principais são a imigração para os EUA e o universo dos rodeios, estréia em 14 de março.’



A LUA ME DISSE
Daniel Castro

‘Falabella prepara ´neochanchada pop´’, copyright Folha de S. Paulo, 17/1/05

‘A próxima novela das sete da Globo, ‘A Lua me Disse’, será uma ‘neochanchada pop’. A definição foi dada pelo ator e autor Miguel Falabella em apresentação da trama, na semana passada, a cerca de 30 profissionais da emissora, de diversas áreas, que vão preparar o lançamento, em abril.

Falabella explicou que a novela será ‘neo’ e ‘pop’ por ser moderna, e ‘chanchada’, por ter influências de Oscarito. Disse também que se inspirou nos filmes do espanhol Pedro Almodóvar.

A história se passará em um ‘Rio de Janeiro mítico’, sem violência e tráfico de drogas, ‘bonito e feliz, que existe no imaginário das pessoas’. Terá muitas cenas externas, e 70% delas serão noturnas, sob a luz da lua. Todos os personagens da trama serão fortes e cômicos, mesmo os pobres.

A ‘neochanchada pop’ terá como história principal a de Heloísa (Adriana Esteves), moça pobre que engravida de um rapaz rico. A mãe do rapaz não aceita o casamento. Ele morre em acidente. Dez anos depois, ela se apaixona por um irmão do rapaz. A ‘sogra’, interpretada por Zezé Polessa, irá passar a novela tirando e perdendo a guarda do neto.

Quase todo o elenco da novela, que começa a ser gravada no final do mês, já está fechado. Mas ainda há vagas para dois galãs, os pares de Adriana Esteves. Estão confirmadas as atrizes Arlete Sales, Débora Bloch, Aracy Balabanian, Maitê Proença e Elizangela.’



BBB 5
Keila Jimenez

‘´BBB 5´ começa com audiência em alta e bom humor’, copyright O Estado de S. Paulo, 12/1/05

‘A quinta edição do Big Brother Brasil estreou anteontem com audiência em alta e aproveitando o que o programa rende de mais engraçado: vídeos que deram 15 minutos de fama aos que queriam entrar no reality da Globo, mas não conseguiram.

O que antes era material farto para o site da rede e para um programa especial no canal pago Multishow, Nem Big Nem Brother, virou uma espécie de vinheta do BBB5. O festival de poses, caretas e bizarrices dos aspirantes à BBBs rechearam a estréia – que teve 1h30 de duração – em seqüências bem editadas e hilárias. A novidade agradou: o programa registrou média de 46 pontos de ibope na Grande São Paulo, recorde em estréias. O BBB4 entrou no ar registrando 42 pontos.

O público já pode conhecer os 12 participantes do programa. Outros dois, sorteados na segunda-feira, não entraram na casa durante a estréia. São eles: Antônio Marcos Massoneiro, um catarinense de 26 anos, e a carioca Marielza de Souza Dantas, de 47 anos.

Logo no primeiro dia deu para perceber que os rapazes vão formar um verdadeiro Clube do Bolinha e que a vaidade vai acirrar a disputa entre as mulheres. Alguns concorrentes do BBB5 lembram participantes de edições passadas: há novamente no programa um oriental, uma miss, um professor, um esportista, um negro e algumas popozudas. Ah, e o número de ‘Uhuuus!’ berrado pelos concorrentes também continua o mesmo. No quesito irreverência quem deve ganhar destaque é a cabeleireira Pink. Já na apresentação, o concorrente Giuliano prometeu conquistar alguém na casa.

Moeda

O novidade fica por conta das estalecas, uma espécie de moeda virtual do programa. Para ter comida e casa mobiliada, os participantes do Big Brother Brasil 5 têm de gastar estalecas. As provas do programa darão as estalecas como prêmio. No programa ao vivo de segunda-feira, os participantes ganharam algumas estalecas, que serão usadas para adquirir objetos de uso pessoal e comum em uma espécie de mercado montado especialmente no jardim do casa.

Para o uso individual, não há limite mínimo nem máximo de moedas. Mas para comprar objetos coletivos, cada participante deve contribuir com um mínimo de 10 estalecas. Caso contrário, eles não podem ser adquiridos. Os competidores começaram o programa com 850 estalecas e um cartão bancário para sacar o dinheiro em um terminal eletrônico instalado no confessionário.

Foi aí que a confusão começou. Os concorrentes demoraram para conciliar os interesses de cada um do grupo na hora das compras. Por sinal, essa parece ser a moeda da discórdia da casa, pois já no primeiro dia alguns concorrentes gastaram tudo o que tinham e outros pouparam estalecas.’