Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Tania Menai

‘Era tarde da segunda-feira quando Chris, produtor de locação do seriado ‘Law & Order’, bateu na minha porta, aqui em Nova York. ‘Estaremos filmando um episódio do programa nesta quarta-feira na casa da sua vizinha. Precisamos do seu apartamento para colocar o equipamento, o monitor e cerca de oito pessoas. Oferecemos 500 dólares.’ Convidei-o para entrar e mostrei meu estúdio, tipicamente nova-iorquino: um espaço de mais de cem anos, teto alto, janelas grandes e cerca de 35 metros quadrados. ‘Oito pessoas? Olha o tamanho disso aqui!’ – disse-lhe, incrédula. ‘Já estivemos em lugares bem menores’, ele me respondeu. Fiquei, então, de pensar na proposta.

Foi aqui, em Nova York, que Harry beijou Sally, que King Kong se pendurou num arranha-céu, que Superman voou com sua amada nos braços. Também foi aqui que rolou tudo, tudinho, naquelas nove semanas e meia de amor, que os caça-fantasmas foram aplaudidos por uma multidão, e que, claro, se esqueceram de Macaulay Culkin. Nova York só perde para Los Angeles como a cidade mais filmada dos Estados Unidos, talvez do mundo. Mas a comparação nem vale, pois a cidade californiana nasceu para isso – e, no final das contas, tem estúdios que replicam os cantinhos desta cidade de Frank Sinatra. Nova York atrai todas as lentes simplesmente por ser o que é. É verdade que, nos últimos anos, os custos para filmar aqui – longa-metragens ou seriados para TV – alcançaram níveis estratosféricos, afugentando diretores que chegaram ao cúmulo de filmar a ‘silhueta de Manhattan’ em Toronto e a vida do ex-prefeito Rudolph Giuliani em Montreal.

Para trazer toda essa indústria de volta, em agosto do ano passado, o governador do estado de Nova York, George Pataki, deu sinal verde a uma série de leis de incentivos fiscais para a indústria de filme e TV. Apesar de ter cortado os custos do estado em 1,8 bilhão de dólares na época, ele deixou intactos os recursos para os setores de filme e TV. A nova lei libera 100 milhões de dólares nos próximos quatro anos – ou 25 milhões anuais – para reduzir os custos de filmes e projetos de televisão produzidos em Nova York. Mais 12,5 milhões de dólares serão despejados em benefícios fiscais para produções na cidade. Afinal, se os preços de locação e produção continuassem agregando zeros à direita, até King Kong teria que balançar num prédio em Kuala Lumpur.

Certamente, a mamata tem a contrapartida de exigências aos produtores. Só se beneficiará da lei quem filmar pelo menos 75% de sua produção no estado nova-iorquino. Ou seja, não adianta filmar a porta de um restaurante, escritório ou edifício residencial, e depois alugar um estúdio em Los Angeles para gravar o que acontece nos interiores. ‘A cidade de Nova York sempre ofereceu à indústria cinematográfica as locações mais incríveis do mundo – e esta nova legislação torna ainda mais atraente filmar nos interiores da cidade’, diz Katherine Oliver, responsável pelo setor da prefeitura que lida com filmes, teatros e programas de televisão em Nova York. Segundo ela, a produção de cinema e televisão em Nova York emprega 100 mil profissionais e contribui anualmente com 5 bilhões de dólares para a cidade.

A lei não vale para comerciais. Aplica-se apenas às produções de longa-metragens, filmes para televisão, pilotos e episódios de seriados. Ou seja, é ideal para os woody allens e spike lees que amam esta cidade. Os incentivos foram bem recebidos pelos sindicatos, incluindo o dos atores, associações e estúdios que fornecem equipamentos para filmagens. ‘Temos o compromisso de manter nossa posição competitiva neste setor’, acrescenta Katherine.

Quando se pensa em seriados para a televisão em Nova York, ‘Seinfeld’, ‘Friend’ e ‘Sex and the City’ vêm logo à cabeça. Mas a dura verdade é que ‘Seinfeld’ e ‘Friends’ foram gravados descaradamente na ensolarada Califórnia. O ‘Central Perk’, lanchonete de ‘Friends’, nunca existiu. Já Seinfeld fazia exatamente o que o governo nova-iorquino quer aniquilar: filmava a fachada do Tom’s Restaurant, na esquina da rua 112 com Broadway, e gravava as cenas interiores em um cenário fictício que chegou a ser exposto no Museum of Moving Image, no Queens. Por essas e outras é que a lei foi criada. E parece estar dando resultados. Estima-se que, até 2008, a cidade receberá 2 bilhões de dólares extras deste setor. A revista ‘Moviemaker’ acaba de declarar que Nova York é a melhor cidade para diretores independentes viverem e trabalharem.

Meu contrato com a Universal Television

‘Sex and the City’, foi, sem dúvida, o seriado de televisão que mais usou e abusou das ruas, restaurantes, lojas e parques da cidade. Tanto, que chegou a ganhar um guia em português com os endereços do programa, preparado pela jornalista Teté Ribeiro e pela fotógrafa Mabel Feres. O seriado já terminou, provavelmente sem fisgar as vantagens da nova lei. Mas duas outras produções já divulgaram que estão usufruindo da novidade: os seriados ‘Jonny Zero’, do canal Fox, e ‘Law & Order’ da NBC. Este último, exibido semanalmente há 15 anos, trata de crime, polícia e tribunal. Exibido no Brasil com o título ‘Lei e Ordem’ (no canal Universal), é filmado inteiramente nas ruas e interiores da cidade. Por interiores, entendam-se também os apartamentos de pessoas comuns.

Moradores são convidados – por um bom dinheiro – a se retirar de seus apartamentos durante alguns dias para que sejam invadidos pela equipe de filmagem. Os móveis são retirados e guardados em um depósito. Se o apartamento sofrer qualquer arranhão, a produção do programa compromete-se a pintá-lo. Os apartamentos vizinhos também não ficam de fora. São usados como estúdio para abrigar os diretores, atores, a produção e a parafernália tecnológica. Obviamente tudo é feito dentro da lei, com documentos previamente assinados. Com autorização do administrador do edifício, qualquer apartamento pode, um dia, sofrer uma invasão dessas. Inclusive o meu.

Depois de receber a proposta do produtor de locação do seriado ‘Law & Order’, consultei alguns amigos – que nunca viram maneira mais fácil de ganhar dinheiro – e topei. Afinal, este apartamento, também apelidado de ‘ninho’, além de uma pacífica vida conjugal, já comportou uma festa para nove estudantes. Bater este recorde poderia ser a chance de uma menção no ‘Guinness’.

No dia seguinte à proposta de Chris, seu assistente Jacob entrou e saiu da minha casa umas cinco ou seis vezes. Em uma delas, trouxe um contrato da Universal Network Television, no qual constava o meu nome, endereço, valor do pagamento e nome do episódio ‘In God We Trust’ (alusão à frase escrita na nota de dólar), que irá ao ar no dia 11 de maio, nos EUA. O contrato falava que a equipe teria cuidado ‘razoável’ com a minha propriedade, e mais algumas cláusulas que os protegem – é claro. Assinei.

Já na terça-feira, a portaria do prédio e o elevador foram revestidos com papelão. Duas placas amarelas de papel emitidas pela polícia foram coladas em um poste da esquina anunciando aos motoristas que, entre as cinco da manhã e as dez da noite da quarta-feira, a quadra inteira estaria indisponível para estacionamento. Veículos que desrespeitassem a ordem seriam removidos. As placas indicavam ainda o nome do programa e o episódio.

Por que fechar uma quadra inteira com tanto rigor? Porque, às cinco da manhã da quarta-feira feira, cerca de doze caminhões aportaram aqui. Dois eram camarins, um era uma lanchonete, o quarto carregava móveis, outro trazia fiações… e por aí vai. Na porta do prédio, duas cadeiras de tecido, estilo Hollywood, revelavam o nome dos atores: Denis Farina e Michael Imperioli.

Jacob chegou ao meu prédio às cinco da manhã, mas fez o gentil favor de só me chamar às 10, para avisar que a equipe chegaria a uma da tarde. Desliguei o som do telefone, a pedido da produção. Também tirei todos os badulaques quebráveis do caminho, incluindo uma cadeira que seria atropelada pela equipe. Enquanto isso, na porta ao lado, o apartamento da vizinha, já totalmente vazio, estava sendo decorado pela equipe do ‘Law & Order’.

Um multidão em meu ninho

O andar estava tomado: fios para cá, fios para lá, câmeras, refletores, pessoas servindo sanduíches, atores coadjuvantes, uma mulher grávida sentada fazendo tricô – um total de 40 profissionais, quase todos no corredor. ‘O Projac é aqui’, pensei. Deixei a porta aberta, e começou o entra-e-sai. Caixas imensas, incluindo a claquete, pousavam ao lado da cama. Depois, vieram o monitor e caixotes de madeira acolchoados, que serviam como cadeiras para o diretor, David Platt, e seus assistentes. O resto da equipe sentou-se ao lado da pilha de casacos que se acumulou na cama. O número de pessoas ia crescendo até que resolvi contar – em dado momento, o conclave reunia 12 pessoas em meu ninho.

A cada cinco minutos, entrava uma cara nova. Alguns observavam a casa, os livros, os guias de viagem, e principalmente, a coleção de fotos preto-e-branco. Outros se distraíam com a televisão, ligada no canal local, sem som. Comentavam o exagero da cobertura sobre a morte do Papa. A assistente do diretor reparou que o meu negócio era balé e engatou uma conversa, contando que foi bailarina até os 30 anos, mas, depois que começou nesta carreira, nunca mais teve tempo para fazer uma aula. Outros me perguntavam sobre o Brasil. ‘Nunca conheci um brasileiro antipático’, disse um deles.

Certas perguntas eram menos saborosas: ‘Onde há uma tomada para a gente usar?’ ou, pior, ‘Posso usar o seu banheiro?’ Enquanto um figurante, sentado na cadeira da escrivaninha, me contava em espanhol que é de Porto Rico, um produtor americano – vestindo uma camiseta em que se lia ‘Renzo Gracie, Jiu-Jitsu, Rio de Janeiro’ – entrou pedindo silêncio para o ensaio.

Em seguida, chegaram dois homens de sobretudo. Quando fiz a clássica pergunta de anfitriã – ‘Posso tirar o seu casaco?’ -, a resposta veio inesperada: ‘Obrigado, mas vamos usá-los no set’. Tratava-se de Denis Farina, o ator principal do seriado, e Michael Imperioli, estrela de ‘Sopranos’, outra série americana. Os dois entraram, sentaram, e ficaram batendo papo com o diretor. Uma vez no set, ou seja, no apartamento ao lado, as cenas eram acompanhadas pelo diretor e mais umas nove pessoas no monitor instalado aqui no meu apê.

A cena mostra Farina e Imperioli entrando no apartamento em busca de um criminoso que havia provocado um incêndio proposital. O criminoso não está em casa, mas a dupla cheira o casaco do suspeito e detecta o odor de gasolina. Depois, os dois reviram a casa e acham duas peças relevantes para a trama: uma camisinha, alojada no bolso do tal casaco, e um DVD de ‘Pretty Woman’. A mesma cena, mostra um coadjuvante que interpreta o zelador. Gordinho e engraçadíssimo, suas expressões faciais arrancaram boas risadas de toda a equipe. Logo, logo, todos tiveram que se conter pois ninguém pode soltar um pio durante a gravação.

A cena foi gravada diversas vezes, de diferentes ângulos. Depois, Imperioli voltou para cá e ficou batendo papo com a equipe – e comigo.

O que ninguém sabia é que tudo estava sendo acompanhado, via Internet, graças a uma webcam do MSN Messenger, por amigos meus que vivem em Montreal e Florianópolis. Ambos conhecem o apartamento e ficaram surpresos com a movimentação. ‘Que galera!’, escreveu um deles. Minha mãe também enviou uma mensagem perguntando se existe algum ‘milagre da multiplicação de espaço’. E ainda deu uma cutucada na filha: ‘Se eles procuram lei, eu entendo. Agora, ordem? Na sua casa?’

No final da cena, a equipe se transferiu para outro andar, deixando os casacos, malas e caixas aqui. Ainda filmaram a cena do incêndio no terraço do prédio, que tem oito andares. Quando saí de casa, no fim da tarde, a produção continuava na ativa. Nas escadarias, coadjuvantes uniformizados de polícia nova-iorquina esperavam sua vez enquanto um produtor ficava na portaria mandando todo mundo se calar durante as gravações. A rua continuava tomada por caminhões e produtores. Voltei para casa às onze da noite, encontrando a calçada vazia, um silêncio transcendental e nenhum resquício de um dia de trabalho.

É assim que os americanos gostam: tudo dentro da mais perfeita lei e ordem.’



HOSPITAL NA TV
Etienne Jacintho

‘Dramas hospitalares estão em alta ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 18/04/05

‘Passada a febre dos seriados sobre advocacia como Ally McBeal, O Desafio e Lei & Ordem, vieram as séries sobre investigações como a trilogia C.S.I., Without a Trace, Cold Case… O Brasil também viu na TV uma revolução presidencial em 24 Horas, The West Wing, Spin City e Jack & Bobby. Mas fazia tempo que não havia tantos seriados médicos. E.R. (Warner, quinta, às 22 h) está no ar há 11 anos, reinou durante muito tempo – competindo com o fraco General Hospital – e agora ganhou mais dois concorrentes.

O A&E Mundo estreou em março o Strong Medicine (segunda a quinta, 23 h), com produção de Whoopi Goldberg e que está em sua 7.ª temporada nos EUA. Já o Universal Channel lançou na semana passada House (sexta, 23 h). O primeiro fala sobre a trajetória de duas médicas com estilos diferentes e um objetivo em comum: a saúde feminina. O segundo, acompanha a equipe do dr. House, médico temperamental, mas ótimo em diagnósticos. Os dois seriados trazem a adrenalina dos atendimentos de casos de emergência – corta aqui, costura ali, dá choque lá… E intercalam dramas hospitalares e pessoais. Nos EUA estreou Grey’s Anatomy, parecido com E.R. na fórmula, pois também mostra uma turma de residentes. Scrubs, do Sony, (sex., às 20 h) tem essa temática, mas é comédia.

Resta saber se essa é uma tendência. Médicos bonitões e sangue. Até Rob Lowe ganhou seu kit de salvamento em Dr. Vegas… Esse não vale a pena, mas House e Strong Medicine contam boas histórias. Para quem gosta de desvendar doenças e acompanhar diagnósticos e tratamentos, House é um prato cheio. Técnico demais, mas o dr. House vale a série.’



RÁDIO
O Estado de S. Paulo

‘No rádio, a força está na simplicidade ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 18/04/05

‘O publicitário Lula Vieira, controlador da agência VS, é uma espécie de biblioteca ambulante da memória do rádio brasileiro. Lembra de cor e salteado jingles e slogans que fizeram história nas ondas das emissoras.

Quando foi trabalhar na Lintas, a agência da então Lever, nos anos 70, ele vasculhou, com a ajuda de um estagiário, o hoje ministro da Cultura, Gilberto Gil, os arquivos da própria Lever. Neles, encontrou preciosidades como antigas radionovelas patrocinadas pelos sabonetes Lever. ‘Trago na memória aquela voz dizendo: num oferecimento de Lever – o sabonete de nove entre dez estrelas.’ E emenda: ‘É impressionante, mas o Lux veio depois e não mudou em nada esse slogan, que é muito bom. É forte e radiofônico’.

E a força do rádio, diz Vieira, está justamente na simplicidade. ‘É um meio de comunicação que não permite a veiculação de mensagens complexas ou raciocínios que exigem muita atenção. Além disso, a mensagem tem de ser repetida inúmeras vezes para chegar ao público, ser assimilada e, a partir daí, repetida’.

Principal meio de comunicação de massas até o surgimento da televisão nos anos 50, o rádio formou toda uma geração de profissionais que criavam slogans e jingles para conquistar o público. ‘Só que o rádio tem os seus caprichos. Não se pode criar nada chato, explicativo. É preciso estar em sintonia com o público daquela rádio. Caso contrário, a publicidade não funciona.’ Traduzindo: não terá eficácia um anúncio ritmado pelo rock numa rádio voltada ao público de música clássica.

Os congestionamentos nos grandes centros urbanos do mundo estão dando uma força extra ao rádio. O Festival Internacional de Publicidade de Cannes captou essa mudança e este ano, em junho, pela primeira vez em 51 anos estará distribuindo leões, o Radio Lions, aos melhores trabalhos veiculados nesse meio de comunicação. Mais: os pontos conquistados em rádio serão decisivos para a escolha de agência de publicidade do ano. Essa premiação que todos perseguem é resultado da soma de pontos – indicação e leões – das categorias impressa (Press & Outdoor) e audiovisual (Films).

Lula Vieira, que será o representante brasileiro do primeiro júri do Radio Lions, já está ouvindo, com atenção redobrada, os famosos reclames veiculados nas emissoras AM e FM, mas faz um alerta. ‘O rádio requer muita simplicidade. É um meio complementar da propaganda, usado para fixar um slogan ou um jingle, sem ter como função oferecer a imagem de um produto ou serviço. Também não pode ser o instrumento de uma descrição detalhada. Tem de ter charme, tem de atingir diretamente e frontalmente o ouvinte, senão não funciona.’

O publicitário Nizan Guanaes, da agência Africa, acha que, nesse primeiro ano, o Brasil tem poucas chances de conquistar os leões radiofônicos. Mas está convencido de que o rádio ganhará fôlego e que, no próximo ano, as campanhas feitas no País para esse veículo ganharão em qualidade.

Antigos músicos, que criaram composições memoráveis, como Archimedes Messina, criador dos jingles da Varig e do Café Seleto, podem respirar aliviados. Esse mercado, acreditam Guanaes e Vieira, voltará a complementar o tom das campanhas publicitárias, com muito som.’