Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Terra Magazine

COPA 2006
Bob Fernandes

Fátima. E Jesus

‘Chris Dália é grande repórter, como é, também, o seu marido, Marshall. Mas ambos não exercem, sabem não ser isso coisa que se faça. Quando vinha para a Copa, Chris me pautou:

-Não se esqueça da Fátima…

A Bernardes. Uma simpatia a Fátima Bernardes.

Treino dos amarelos. Por 14 vezes, sempre a sorrir, Fátima posa para fotos. A pedidos.

Dos nossos colegas da bancada isenta, imparcial e objetiva.

O tênis é Reebok. O de hoje é branco. O de ontem era verde. Calça cáqui e camisa verde, o padrão da Globo na Alemanha.

A calça de Jesus é azul. O tênis, em mosaico: azul marinho, azul turquesa, branco, e solado grosso, cor creme. (Até o fechamento desta edição ainda não havia sido possível detectar a marca).

Jesus, Manuel Jesus, está alguns degraus acima de Fátima. Ela, na pista ao redor do campo de treino em Koenigstein. Ele, na pequena arquibancada.

Calça corsário, a da Fátima. A camisa de botões é curta, à altura da cintura.

A barra da calça de Jesus engole o tênis. A camisa e o abdômen parecem manter alguma diferença de opinião: o abdômen, mais alegre. A camisa, introspectiva, denota um certo encolhimento ante a expansividade abdominal. Decerto coisas de temperamento…

Fátima entrevista Ronaldo para o Jornal Nacional. A seu lado, nesta tarde, trabalham outros 18 profissionais da Globo. Todos em verde e cáqui. Menos o Bial, Fantástico, de jeans e camisa branca.

Jesus trabalha com um celular, um gravador, e uma caixinha de som. Grava, acopla o gravador à caixinha de som, liga o celular, chama a Rádio Sociedade da Bahia e a matéria, aumenta o volume, sempre em duelo com a estática, e pronto, está no ar. Impressionante, ciclópica a produção de Jesus.

Fátima tem 43 anos. Jesus, alguma coisa entre 37, 38, e 51, 52. Não há vento. Fátima pode dispensar o spray que costuma carregar para emergências. Os cabelos estão soltos, leves, quase à chanel. (Este cronista não dispõe de conhecimentos específicos para determinar se é progressiva ou defintiva.)

Jesus não tem esse problema.

Cortados rente ao crânio, os cabelos de Jesus estão em fase de recuo. Agruparam-se todos entre a base da nuca e seis centímetros pós-redemoinho. Testa em modus de progressão.

Desnecessário discorrer sobre o talento de Fátima. Diz não entender de futebol, mas entende. Não erra nas perguntas, no tom. Os amarelos desdobram-se para atender a todos nós, com mais ou menos paciência, no curralzinho de Darwin onde se dá a luta pela sobrevivência da nossa espécie. Mas todos são só sorrisos quando se deparam com Fátima. Que batalha, como os demais. Mas é a Fátima. Cercada, para fotos em celulares, conversa:

-Inglaterra e Paraguai, apostei no empate…isso é coisa que se faça, Gamarra? Gente, cadê meu celular? Será que ficou na zona mista (área de entrevistas), ou está na redação?

O treino ainda não começou, entrevistas ainda não foram concedidas. Jesus atende o celular:

-Como é que você quer manchete se a seleção ainda nem chegou? Como? Mandar qualquer coisa? Como eu vou mandar qualquer coisa se ainda não tem coisa nenhuma?

Desembarcam os amarelos. Meia hora de entrevistas. Jesus se abarrota. Senta-se na arquibancada, e manda. Primeiro, para o Show de Notícias:

-Kaká, mande uma saudação para o povo da Bahia…

A voz de Kaká deixa a pequena caixa de som, espalha-se pela arquibancada:

-Um abraço para o povo da Bahia…

Jesus, exulta com Daílton, que está em Salvador:

-Quando o homem ouvir essa mensagem do Kaká para o povo da Bahia vai gozar, e quando ele goza fica tranqüilo, relaxa…e diga a Vieira que amanhã vai estar melhor ainda.

Fátima entrevista Ronaldinho. Grava Ronaldo para o Jornal Nacional, o atacante fala sobre gordura x canjibrina, entrevero entre ele e o presidente Lula.

Jesus agora está ao vivo:

-Aqui em Kérestain um sol brilhando igual ao da nossa gostosa terra…

Intervalo. Fátima e Sandra Annenberg conversam: família, crianças, a vida:

-…o sol está forte, uso um Avène, compro na Farmalife, parece um pancake, ele já bronzeia também…

Fátima toma Sandra pelo braço, em direção à grade onde os jogadores se encostam, abre espaços por entre incontáveis isentos e imparciais:

-Venha, eu abro o caminho…

Sandra tem um material de vídeo para entregar.

Cabrini, da Band, se aproxima. Faz uma matéria sobre ‘Mulheres na Copa’:

-Tem que ter imagem?

-Tem, Fátima…

-Aí não dá. Rádio, revista, jornal, internet se for só texto, tudo eu posso e faço, mas imagem não posso fazer. Você me perdoa? – indaga Fátima, sorriso nos lábios.

-Claro, claro. Trabalhei na casa, sei como é isso…- responde Cabrini, compreensivo, grato pela gentileza.

Armação negra, – lentes em três tons, dégradés- os largos óculos de sol protegem toda a região dos olhos de Fátima.

De metal, oxidada em alguns pontos, a armação dos óculos de leitura de Jesus.

Sol forte. Jesus, em meio à profusão de matérias enviadas, transpira, molha o cós do jeans P&A Position- Image In the Riding. Estática poderosa. Jesus vira e revira a caixa de som, busca livrar-se do ruído que escapa da caixa e engole a voz de Moraci Santana.

…o treino hoje… Vrrruuummm…Crash… Crróocc..

Jesus orienta Dailton, que está lá na Bahia:

-Não enseba, rapaz, não enseba. Quando a voz do Moraci aparecer limpa você pega logo..agora, agora, pega, pega…

-O treino hoje será para…Vrrrummmm…Crróoc..Crash…

(Estática.)

-Não enseba, rapaz, não enseba! A ensebação é tanta que acaba complicando o negócio…

A estática é vencida. Jesus tenta mandar mais uma:

– Dezessete horas e cinquenta minutos aqui em Kongstéin… Como? Vai entrar um repórter? Rapaz, o que importa é a seleção, ninguém quer lá saber de outra coisa que não seja a seleção! Que outro jogo, rapaz?

Jesus vence a parada. (É dura a vida nos domínios de Darwin).:

-É agora, para o Show da Tarde, aqui de Kiristái…

Fim. Mas há mais:

-O Toni tá aí? O Toni Carneiro, o Toni Silva, qualquer Toni…hoje eu vou gravar também para o Marini….

Jesus no ar:

-Falamos aqui de Karenstáin…

Fim do treino. Fátima está feliz. Tudo pronto para o Jornal Nacional, com a simpatia e o talento de sempre.

Jesus está feliz. Tudo – tudo é a expressão adequada – está pronto, com o suor, as artes e a alegria de sempre. Comemora com Dailton – ou será um dos Tonis? -, ao celular:

-Rapaz, hoje o homem vai ter três osgarmo…

Em tempo: Jesus se corrige:

-Três orgasmo…’

Márcio Alemão

Ronaldo se ofendeu à toa

‘Vi e ouvi em vários canais. O presidente da República disse: ‘Estão dizendo, tenho lido e ouvido, que o Ronaldo está gordo. É verdade?’

Ou seja: ele não chamou o gordo de gordo, mas o gordo se sentiu ofendido e partiu para o ataque. Ataque ao presidente da República. Desrespeito ao presidente da República. Não creio que o gordo tenha esse direito. Se ainda estivesse delirando por conta da febre…

Se a chuteira não tem suportado seu peso e lhe causa bolhas e isso o deixa irritado, cuidado, gordo, não vá destilar sua raivinha no presidente da república.

Que ele tenha faltado ou, mais provável, não freqüentado as aulas de Educação Moral e Cívica, entendo, mas não perdôo a opção pela ignorância, considerando que a vida lhe tem sido generosa e oferecido milhares de oportunidades para, inclusive, articular melhor algumas frases básicas dessa misteriosa e complicada lingua portuguesa.

‘Eu acho que ele foi mal influenciado pela imprensa’. Tranqüilamente se poderia dispensar o ‘mal’. Influenciado bastaria. E a mesma imprensa foi muitíssimo generosa ao transcrever a frase do gordo: ‘Ele bebe pra caramba’. Vi e ouvi dezenas de vezes a frase, que deveria ser transcrita assim: ‘ele bebe pa’caramba’. E ele, o presidente, não disse, como afirmou o gordo, que ele, o gordo, estava gordo. O presidente perguntou se os boatos tinham algum fundamento.

Dispusesse, o obeso, de mais e melhores recursos, teria rido da situação. Não é o caso, sabemos. Também espetacular a fina ironia acompanhada por um sorrisinho igualmente irônico que apenas revelou 76% do vão livre entre os dentes, do supostamente gordo, ao comentar sobre a proibicão de fazer perguntas ao presidente. ‘Eu teria muitas perguntas pra fazer pra ele’.

Puxa vida! Que grau elevado de politização e consciência. Inadequado para o momento, eu completaria. E no programa Apito Final (aliás, que cenário mais incômodo. Bancos altos, como se estivessem em um bar. Ninguém ali está confortável. Até porque Luciano do Valle, digamos, está um pouco, para usar o adjetivo em voga, gordo), após alguns minutos de desespero ouvindo besteiras espetaculares, Dunga salvou a pátria e tocou no ponto até então ignorado: há de se respeitar a figura do presidente da República. E para meu alívio maior, parece que a ficha caiu para os demais.

Teme-se que o gordo não consiga lidar com a pressão e que não apresente um bom desempenho. Seria uma tragédia para o País.

Portanto, vamos ficar calados. Quem sabe divulgar uma teoria de que ele e Beckham seriam gêmeos idênticos e que foram separados no nascimento.

E vamos focar nossa artilharia no presidente da República, afinal, o que é tocar um País comparado a tocar a bola?

E fosse eu o presidente, antes da final, se eventualmente chegarmos até lá, ligaria para o elegante e esbelto Ronaldo e diria: ‘Vamos esquecer o mal-entendido. Você é o melhor e o País inteiro tem certeza de que dessa vez você não vai amarelar’.’

Luciano Borges

Final da Copa deverá ser vista por 1,2 bilhão

‘Cerca de 1 bilhão e 200 mil pessoas deverão assistir pela televisão à final da Copa do Mundo da Alemanha. A estimativa foi feita por estatísticos de um site inglês. Eles chegaram a esta previsão após analisarem a curva de crescimento de audiência nos últimos Mundiais.

No total, os cálculos prevêm que a audiência acumulada de todas as partidas do toneio será de 22,5 bilhões de espectadores em 213 países. Apenas em Munique, uma média de 10 mil torcedores passam as tardes no Parque Olímpico vendo os jogos num telão instalado sobre um lago.’



MLST EM AÇÃO
Paulo Nassar

Invasões bárbaras, 10/06/06

‘Triste constatar: os espaços públicos e as instituições brasileiras, principalmente as políticas, estão a perder importância. Nos últimos 30 dias foi exposta a corrosão da percepção fundamental para existência de uma instituição: os ataques do PCC, a invasão do Congresso pelo MLST, o tiroteio na escola de uma favela do Rio, que atingiu dezessete crianças.

Falta pouco para a sociedade questionar a utilidade das instituições, o que nos coloca, Deus nos livre, a um passo de uma ditadura. Mas, parece estarmos no final da corda, roída pelos ratos e chupada pelas sanguessugas.

O pintor suíço Paul Klee, no seu quadro ‘Angelus Novus’, retrata um anjo a olhar o passado e, por meio de seu olhar desolado, mostra um panorama de escombro e pó. A tela faz lembrar a série de acontecimentos políticos dos últimos anos, produzida com o objetivo da imediata audiência da multidão de olho na telinha e ou conectada na rede: 11 de setembro, invasão do Iraque, massacre do Carandiru, Comissões Parlamentares de Inquérito, a destruição do laboratório da Aracruz, entre outros eventos especialmente midiáticos. É a lógica e estratégia empresarial de resultados emprestada aos atores políticos em suas ações de propaganda, visando altos ganhos de produtividade e competitividade, que se traduz em conquista de espaço e tempo de mídia. Um exemplo: o registro do aniversário de um ano de Mensalão foi ofuscado pelo quebra-quebra do Parlamento. É importante entender que a política e o crime entraram para valer na era do evento, em que tudo deve ser planejado para a televisão e para a internet, em que todos têm um papel a desempenhar.

Vêem-se na televisão e em seqüência de fotos coloridas cenas de alta carga dramática: velhos, mulheres, crianças, já sem suas camisetas e bonés de batalha, de volta às suas lembranças, brinquedos e afazeres ou, na pior hipótese, na cadeia ou dentro de um caixão. É fácil produzir um evento de grande impacto, especialmente nas cidades com seus monumentos, suas instituições e seus líderes, que têm perdido seus cerimoniais, rituais e auras, porque quase tudo é feito para ganhar mídia: entrar no ar, impactar e se diluir no mesmo ar por onde andou e que já traz um evento novo a chamar a atenção do cidadão.

Triste constatação: o pensamento, a transparência e as ações transcendentes viraram palavreado esquisito. Os museus já estão no escuro, em breve, será todo o país.

Maradona é o preferido.

Alcançar algum destaque com mensagens que evocam de alguma forma a Copa do Mundo não é um desafio para qualquer empresa. Em um ambiente em que todas as publicidades usam e abusam das estrelas do futebol e das cores verde e amarelo, existem alguns requisitos básicos para alcançar os consumidores e permanecer nas suas lembranças: o primeiro dele é investir pesado em estratégia, criatividade e veiculação. Foi isso que fez a equipe de marketing e publicidade do Guaraná Antártica, que tem no seu anúncio de televisão o ex-jogador Maradona. O comercial criado pela Duda Propaganda é o campeão em vários rankings do setor de publicidade. Na mais importante dessas pesquisas, a M&M/DataFolha, ‘Maradona’ é o anúncio preferido dos meses de Abril e Maio pelos telespectadores.

Pelé no time da Aracruz.

Na onda da Copa do Mundo e munida com uma artilharia pesada de criação (W/Brasil) e veiculação – já iniciada antes da novela global Belíssima e prevista para intervalos de todos os jogos da seleção brasileira de futebol, durante o torneio – a Aracruz, empresa brasileira que é líder global na produção de celulose de eucalipto, divulga campanha publicitária em que o pano de fundo é a brasilidade.

Para reforçar a percepção da excelência da Aracruz em seu negócio, a empresa se liga em seu anúncio a outros exemplos brasileiros de sucesso global. Em um filme de 1 minuto, a ginasta Daiane dos Santos, o pugilista Popó, o técnico Bernardinho demonstram suas habilidades com a bola tendo como trilha sonora a música ‘Balé de Berlim’, de Gilberto Gil, feita especialmente para a Copa de 2006. Pelé encerra o filme e apresenta o novo conceito: ‘Aracruz Celulose. O Brasil fazendo um bonito papel no mundo inteiro’.

A direção de criação é de Rui Branquinho, com criação de Rynaldo Gondim e Fabio Meneghini. A produção é da TV Zero, com direção de Homero Olivetto e Marcus Vinicius Baldini. Produção de som da YB. Atendimento de Sheila Farah e André Rossi. Aprovação no cliente por Luiz Fernando Brandão.’



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Folha de S. Paulo – 1

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O Estado de S. Paulo – 2

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