Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Terra Magazine


IMPRENSA NA JUSTIÇA
Claudio Leal


Juíza obriga Juca Kfouri a silêncio obsequioso, 21/12


‘O jornalista e blogueiro Juca Kfouri está proibido de ‘ofender’ o deputado
estadual de São Paulo Fernando Capez (PSDB). Se um comentário ganhar a conotação
de ‘ofensa’, Kfouri pagará multa de R$50 mil.


A liminar foi concedida pela juíza Tonia Yuka Kôroko. O desembargador do
Tribunal de Justiça de São Paulo, Luiz Antônio de Godoy, negou o pedido de
cassação da liminar. Kfouri entrou ontem com um mandado de segurança contra o
que julga ser uma ‘censura prévia’.


– À primeira vista, o desembargador usou um argumento que pode ser
interpretado como uma defesa da liberdade de imprensa: um jornalista experiente
sabe que não é permitido ofender ninguém, a Constituição impede. Mas a questão
é: o que pode ser considerado, subjetivamente, como ofensa? – questiona o
jornalista.


Duas notas publicadas no Blog do Juca motivaram a ação judicial de Capez.
Numa delas, Kfouri analisa a notícia publicada por Terra Magazine, em 7 de
dezembro, de que Capez luta para ser secretário de Segurança Pública de São
Paulo. O blogueiro comentou:


– … as credenciais de Capez na área não autorizam tamanha ambição, diante
do seu malogro no combate à violência de torcidas quando exercia a função de
promotor de Justiça.


Em 14 de novembro, Terra Magazine publicou que o governador de São Paulo,
José Serra, estaria descontente com o secretário de Segurança Pública, Ronaldo
Marzagão. Principal motivo: até 12 de novembro, a secretaria havia investido
apenas 11% das verbas previstas para o ano, isto pelo critério de despesas
efetivamente liquidadas – dinheiro que já saiu dos cofres do governo.


Capez negou a postulação ao cargo. Em 9 de dezembro, foi ao ar, na TV Gazeta,
uma entrevista sua com Marzagão, no programa Perfil Empresarial. Segundo
nota da assessoria do parlamentar, ‘Ronaldo Marzagão abordou a atuação das
Polícias Civil e Militar no combate ao crime organizado, a criação do Centro
Integrado de Inteligência Policial (CIISP)…’.


Uniban


A dra. Kôroko acolheu, segundo o jornalista, ‘informações inverídicas’ do
deputado tucano. ‘Ele não conseguiu me condenar duas vezes. Ganhou uma ação da
CBN, motivada por um comentário meu, na qual eu não era o réu. A outra é
da Carta Capital. Fui testemunha, não réu’, diz Kfouri.


O tucano se irritou ainda com outra nota de Juca: ‘A Faculdade de Direito da
UNIBAN ficou entre as 37 piores do país no ranking feito pelo Ministério da
Educação’. Capez é ex-diretor da faculdade.


Em seu site pessoal, o deputado publicou uma resposta a Kfouri:


‘(a) Uniban cresce quase 200% na OAB. Tomando-se em conta os índices oficiais
divulgados. No ABC, o índice na primeira fase variou dos exames 123 para 126 de
17,4%, para 26,9%; Nos campus Marte, Rudge e Maria Cândida, de 18,4% para 30,6%
e em Osasco, de 10,9% para 34,8%, aumento, neste último caso, de quase 200%.’


A propósito, Capez escreve, mas não fala. Procurado por Terra Magazine,
preferiu não comentar o processo. A assessora de imprensa informou:


– O deputado não quer se manifestar sobre isso. O processo está sub judice.


Por insistência da reportagem, voltou a se dirigir ao deputado, para saber se
responderia a perguntas por meio de sua assessoria. Retorno:


– Ele não quer comentar mesmo.’


 


IMAGEM
José Pedro Goulart


I belong to Jesus, 21/12


‘Já faz uns dois ou três anos que a cantora Janet Jackson, numa atitude
imprevista exibiu o seio (esquerdo?) em rede nacional num show transmitido ao
vivo pela TV, atitude que por pouco não levou Janet à cadeira elétrica: a
cantora inclusive chegou a ser excluída do Grammy. E o Oscar, que viria logo
depois, pela primeira vez na história foi transmitido com atraso de cinco
segundos, na ânsia de se proteger contra alguma maluquice dessa ordem. O resto
do mundo riu: ‘Esses americanos…tanto barulho por um peitinho.’


Moralismo? Talvez. Acontece que segundo a vigência da liberdade recíproca,
Janet simplesmente não tinha o direito de mostrar algo que alguém não quisesse
ver. Tivesse anunciado antes e tudo certo, era só trocar de canal. Em tempos de
paranóia, o peito de Janet Jackson teve um efeito Bin Laden. Aquele era um peito
subversivo que sem aviso entrava com seu potencial de perigo no seio (ops) da
família americana.


E agora o Kaká, numa atitude semelhante à irmã do Michael Jackson, também
ergueu a camiseta: só que ao invés do peito, ele mostrou uma inscrição na qual
avisava que ‘pertence a Jesus’ (I belong to Jesus). Eu não vou entrar no mérito
dele que, afinal, cada qual que pertença a quem quiser; o jogador é seguidor da
Igreja Renascer, cujos fundadores estão presos em Miami por entrarem nos EUA com
dinheiro não declarado. O meu ponto é esse: que direito tem o Kaká de se
utilizar do futebol, desse esporte que envolve milhões de pessoas, e veicular
uma mensagem que só diz respeito a ele? Que direito tem o jogador de usufruir da
minha audiência e me tornar alvo do seu messianismo?


Agora imaginemos a seguinte hipótese: o Kaká, levanta a camiseta e aparece
escrito algo como ‘Pela descriminalização do aborto’. Será que os que pertencem
a Jesus deixariam por isso mesmo?


O conhecido bom mocismo do jogador, que alega que casou virgem e tudo mais,
além de ser um propalado sujeito de família e com aquela aparência de menino
anjo, blinda o rapaz contra qualquer crítica, e ainda o torna mais influente.
Além disso, Kaká, ao contrário da cantora americana, não foi condenado porque a
maioria simplesmente está acostumada com a mensagem que ele trazia no peito – o
tipo de mensagem que ajuda a apagar as poucas velas acesas, muitas vezes a custa
de sangue, no sentido de diminuir as trevas a que temos sidos impostos através
dos tempos.’


 


ALOYSIO BIONDI
Ricardo Kauffman


O Brasil de Aloysio Biondi, 21/12


‘‘O Brasil ganhou na Mega-Sena; está trilhionário’. Aloysio Biondi anunciou
com veemência única esta notícia em vários artigos publicados no final dos anos
1990.


Ele se referia às extraordinárias descobertas da Petrobras nos campos de
Marlin e Roncador, na bacia de Campos.


Cada campo destes é capaz de produzir mais de 10 mil barris de petróleo por
dia, por pelo menos 20 anos. Uma produção só alcançada pelos melhores poços do
Oriente Médio.


Pelas contas de Biondi, em 2000, Marlin e Roncador seriam capazes de gerar
faturamento total da ordem de 720 bilhões (com B, como ele costumava realçar) de
dólares, até 2020.


Detalhe: esta cifra levava como base a cotação do petróleo da época (US$ 30,
o barril). Hoje, a mesma unidade do óleo ultrapassa US$ 90.


Portanto, pelos mesmos cálculos, os dois campos serão capazes de gerar mais
de 2 trilhões (com T) de dólares até a próxima década e meia. O montante é mais
de duas vezes maior que o atual PIB brasileiro anual.


Biondi alardeava a incrível dimensão destas descobertas em um ambiente
completamente avesso e carrasco a este tipo de informação, diferente do atual.


Vivíamos os anos do pensamento único. Quem não brindasse os benefícios do
neoliberalismo radical de então era dinossauro.


Hoje, anos depois do vexame da quebra da política de câmbio fixo (e os
escândalos do favorecimento aos bancos Marka – de Salvatore Cacciola – e
FonteCindam) é fácil chamar as estrelas econômicas da época de ‘cabeças de
planilha’. Na época era preciso nadar contra a corrente.


E a corrente apoiava o governo, que por meio da Agência Nacional de Petróleo
(ANP) – sob o comando de David Zylbersztajn – leiloava áreas de exploração de
petróleo com potencial bilionário (com B) por preços mínimos na casa dos
milhares (com M) de dólares.


Tais áreas foram arrematadas com ágio gigantesco, superiores a dez vezes o
valor do preço mínimo sugerido pela ANP.


A regra de então das privatizações era devolver aos vencedores dos leilões o
gasto que os mesmos tiveram com o ágio, por meio de abatimento futuro no Imposto
de Renda.


Trocando em miúdos: o governo brasileiro vendeu por milhares de reais minas
de ouro negro que valiam ao menos centenas de milhões. Fortuna de todos os
cidadãos entregue a poucos bem-aventurados, denunciava, sozinho, o jornalista.


Aloysio Biondi morreu em julho de 2000, aos 64 anos. Não impediu que algumas
áreas de exploração de petróleo fossem entregues a preço de banana, mas fez um
barulho tremendo.


Seu livro ‘O Brasil privatizado’ ao custo de R$ 5 e R$ 10 vendeu mais de 150
mil cópias (um mega best-seller para o mercado brasileiro). Com linguagem
acessível a qualquer cidadão interessado, demonstra na ponta do lápis que o
governo colocou mais dinheiro do que recebeu nas privatizações dos anos 90.


Quem acreditou na ‘Mega Sena’ brasileira não tem do que reclamar. Enquanto o
preço do petróleo ‘só’ triplicou depois da queda das torres gêmeas, a
valorização das ações da Petrobras nos últimos cinco anos passa de 1 mil%.


O lote de mil ações de Petrobras ON não chegava a R$ 10 no final de 2002.
Hoje vale R$ 100. Quem colocou mil reais no papel naquela época, hoje tem mais
de 11 mil reais. Quem colocou 100 mil, tem mais de 1,1 milhão. E a estatal
continua a descobrir novos imensos poços de gás e óleo…


Petróleo é apenas um dos inúmeros assuntos-alvo do trabalho de Biondi. Nomes
como Jânio de Freitas, Washington Novaes e Luiz Gonzaga Belluzzo o apontam como
um dos maiores (se não, o maior) mestres do jornalismo econômico brasileiro.


Sua leitura dos principais fatos faz tremenda falta para compreendermos
melhor a notícia por trás das manchetes e as oportunidades escondidas. O real
peso do fim da CPMF; a festa do crédito no Brasil; a crise hipotecária nos EUA;
a manutenção do câmbio supervalorizado; a pechincha do IPO da Bovespa etc.


Aloysio escrevia sobre agricultura, mercado financeiro, macro-economia,
economia popular, geopolítica internacional. Falava para empresários,
agricultores, acionistas minoritários, classe média, donas de casa e povo, nas
palavras dele.


Foi pioneiro na cobertura de mercado de capitais nos anos 60 na revista
Veja. Foi um dos principais responsáveis pela montagem do projeto
editorial da Gazeta Mercantil. Escrevia para sindicatos de agricultores,
bancários e petroleiros.


Quando as portas dos grandes veículos se fecharam para ele – depois de ter
chefiado boa parte das maiores redações e formado contingente expressivo do
conjunto dos jornalistas econômicos – fazia bico como redator de balanço dos
bancos.


Lia todas as entrelinhas. Achava grandes notícias escondidas em documentos
oficiais áridos e as traduzia (checadas e rechecadas) em linguagem palatável a
todos.


Era completamente independente. Fã de Monteiro Lobato e Euclides da Cunha e
amigo de Darcy Ribeiro, seu vínculo era com a consciência de um Brasil rico.
Fazia um jornalismo construtivo e crítico.


Constante pedra no sapato de economistas conservadores (sobretudo Roberto
Campos), foi cruelmente atacado pela esquerda, nos anos 70. Aloysio então
apontava acertos da política econômica e de desenvolvimento do governo militar
de Ernesto Geisel.


Falava bem do secretário de Tecnologia Industrial do Ministério da Indústria
e Comércio, José Bautista Vidal, criador do Pró-Álcool e pioneiro no
desenvolvimento da biomassa como fonte energética.


À época, o ministério contava com mais de 2 mil cientistas em suas fileiras.
Aloysio foi acusado de traidor, louco e coisa pior. Hoje, falar de energia de
óleo de babaçu não tem novidade nenhuma. Mas naquela época, era coisa de
sonhador.


Assim como nos anos 90, quando o país de maior biomassa e potencial
hidroelétrico do mundo importou tecnologia de geração termelétrica (a gás) em
dólar e acabou literalmente às escuras, dizia o jornalista.


Biondi desapareceu prematuramente. Foi um blogueiro antes dos blogs. Nos
últimos anos de vida mantinha colunas (inclusive na Internet) em diversos
veículos.


Falava e recebia retorno dos mais variados públicos. É certo que abriria
imenso espaço na blogosfera, hoje em dia.


Apesar da morte do mestre, seus frutos cresceram e estão dando farta
colheita. Um grupo de jornalistas talentosos acaba de colocar no ar o site
www.aloysiobiondi.com.br, que faz parte do projeto ‘O Brasil de Aloysio Biondi’.


O trabalho foi coordenado por um dos filhos de Aloysio, Antônio Biondi
(vencedor do prêmio CNT de Jornalismo 2007, por uma série de reportagens sobre o
trânsito de São Paulo).


E contou com a participação de mais de 50 pessoas, entre as quais Rodrigo
Savazoni, André Deak, Aloísio Milani, Daniel Merli, Pedro e Bia Biondi. Esta
turma encarou nos últimos anos um trabalho gigantesco e abnegado de produção e
pesquisa para disponibilizar gratuitamente a obra de Aloysio Biondi na Internet.


Trata-se de 850 textos, provenientes de 23 veículos de informação para os
quais Biondi escreveu. Dentro de alguns meses, este número será de 2 mil.


O portal também traz dezenas de arquivos de áudio e alguns vídeos de Biondi.
É uma ferramenta riquíssima de consulta, acessível por assunto, veículo e data.
Dados como os presentes neste texto são de simples acesso no site.


Aloysio inspirou centenas de bons jornalistas. Que agora a blogosfera possa
usar sua obra, quem sabe, como inspiração na construção de uma cultura de
discernimento e livre-pensamento na Internet brasileira.’


 


‘NOTÍCIAS’
Márcio Alemão


Fundamental ‘desimportância’, 17/12


‘Não tenho a menor dúvida de que Jesus ficou eufórico. Sasha, no dia de sua
primeira comunhão, de acordo com as importantes revistas que falam sobre tudo
que não tem a menor importância, usava um vestido que fora comprado pela mãe em
Nova Iorque. Cabelo e maquiagem teriam ficado aos cuidados de Ricardo Tavares e,
segundo o pai, Luciano Szafir, ‘Ela estava linda, se preocupou pessoalmente com
cada detalhe’.


Já é a segunda semana consecutiva com Sasha. Sobre a estréia frouxa do novo
programa da mãe de Sasha, nada se falou.


Sobre coisas sem importância, temos também a saída de dois participantes da
trupe do Pânico. Não farão a menor falta. Ninguém por lá faz falta. O programa
não faria nenhuma falta. Ainda sem importância: Adriane Galisteu sai em férias e
sua assistente Patricia Salvador a irá substituir. Quem sabe o programa, agora,
venha a ter alguma expressão.


Sempre na linha da total falta de importância, se eu fosse amigo da Adriane
eu a aconselharia a jamais prender o cabelo. As orelhas e o nariz se destacam e
nenhum dos dois chega a ser muito interessante.


Alguém de idade provecta como eu se lembra da boneca Amiga, da Estrela? Nos
meus tempos de criança, os brinquedos não entravam e saíam de moda tão
rapidamente. O Autorama, por exemplo, foi o sonho de muitas crianças durante
muitos anos. E o Autorama das meninas era a boneca Amiga. Era um boneca loira e
enorme. Na verdade, muito esquisita. Pois lembrei-me da enorme boneca Amiga para
fazer mais um comentário inútil: a franja da Ivete Sangalo fez isso com ela e a
deixou com um jeitão de uma bonecona. Quase uma boneca de Olinda. Mas, fazer o
que? É muito difícil agradar a sérvios e croatas.


Na emissora de notícias do Bis po Macedo, considerando que o assunto é
relevância, de passagem pego o trecho de uma entrevista. Não fiquei o bastante
para saber quem era o entrevistado de Celso Freitas, mas fiquei sabendo, vejam
que sensacional, que no Canadá, para andar de ônibus, você pode comprar um
ticket eletrônico. No ônibus não tem cobrador. Querendo, pode pagar em dinheiro,
mas se você não tiver o dinheiro trocadinho, o motorista não lhe dá troco. Eu
resumi o que levou muito minutos. E repito o que já disse nessa coluna: temos
muito mais canais de notícias do que notícias, no mundo inteiro. Logo, quem se
importa com o conteúdo? Preenchendo o espaço, está bom demais.’


 


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selecionados para a seção Entre Aspas.


Folha de S. Paulo – 1


Folha de S. Paulo – 2


O Estado de S. Paulo – 1


O Estado de S. Paulo – 2


O Estado de S. Paulo – 3


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