Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Terra Magazine

GOVERNO AMERICANO
Ricardo Kauffman

Como reagir a 935 mentiras, 25/1

‘Notícia desconcertante ganhou destaque nos últimos dias, no mundo todo. Altos funcionários do governo norte-americano – liderados pelo presidente George W. Bush – fizeram 935 declarações falsas sobre a presença de armas de destruição em massa no Iraque, e quanto a ligações daquele país com a Al Qaeda.

A fonte da informação é um estudo promovido por duas ONGs, o Centro Pela Integridade Pública e o Fundo pela Independência no Jornalismo, o último criado em 2003. De acordo com os autores do documento, a sistemática divulgação de dados falsos levou os Estados Unidos à guerra.

Ainda segundo estas organizações, ‘alguns jornalistas e empresas noticiosas admitiram que sua cobertura nos meses que precederam a guerra foi deferente e acrítica demais’, diz o estudo. ‘Boa parte desta cobertura (…) ofereceu validação adicional às falsas declarações do governo Bush’, completa o texto.

Depreende-se do documento, portanto, que a mídia foi cúmplice, em alguma medida, da construção da farsa que levou à atual guerra. Apesar de beneficiado pelo conforto da distância, quem assiste à situação daqui debaixo da linha do Equador fica, no mínimo, incomodado.

Não há dúvida de que fomos impactados por estas mentiras. Há algum tempo a cobertura internacional feita no Brasil é completamente dependente das grandes agências, que entraram com os dois pés nas histórias da Casa Branca.

E, além disso, a que tipo de farsa doméstica similar estaríamos expostos? Pergunta a pulga, atrás da orelha. Outro levantamento, divulgado em dezembro passado, mostra que esta pulga freqüenta o ouvido de não poucos brasileiros.

Sondagem encomendada pelo Serviço Mundial da BBC mediu – em 14 países de 4 continentes – a preocupação da população com a concentração da mídia ‘nas mãos de um pequeno número de grandes empresas do setor privado’, diz matéria publicada no site da BBC Brasil.

O Brasil encabeça a lista dos mais preocupados. Das 11.344 pessoas ouvidas pela pesquisa, 80% ‘acreditam que esse controle pode levar à exposição das visões políticas dos donos dos meios de comunicação no noticiário’.

Depois dos brasileiros, os mais preocupados com a concentração de poder na mídia são os mexicanos (76%), os norte-americanos (74%) e os britânicos (71%). Donde se comprova o que já é largamente sabido: a credibilidade da mídia no Brasil e no mundo está em baixa.

Os dois levantamentos tratados aqui flagram o contexto em que a mídia se movimenta hoje, dentro do que alguns chamam de Terceira Revolução Industrial. Eles permitem apontar com clareza algumas características fortes da nova era em que vivemos, a da hiper informação.

São elas: multiplicação dos canais de propagação de notícia; uniformização do noticiário; afrouxamento da checagem das informações; crescimento da influência de agências de comunicação, escritórios de marketing e lobby no conteúdo editorial publicado pela mídia; e a assimilação gradual do negócio jornalismo pelas indústrias do entretenimento e de telecomunicações.

Foi dentro deste contexto que se deu a propagação sistemática das mentiras da Casa Branca. E é nele que a imprensa no mundo todo vem perdendo credibilidade.

Mesmo duras, as informações divulgadas pelo Fundo pela Independência do Jornalismo e pela BBC podem ser vistas de um ângulo positivo.

O estudo da ONG norte-americana (sem fins lucrativos e apoiada por empresas e jornalistas de prestígio) certamente está exercendo influência significativa no debate político nos EUA.

E contribuindo para que o público esteja mais atento à qualidade do jornalismo que consome. O que, por sua vez, abre espaço para o crescimento de uma produção jornalística mais cuidadosa no trato da notícia. Mesmo que isso implique custos ou novas modalidades de jornalismo.

Por sua vez, a constatação de que o público brasileiro está atento à falta de independência dos meios de comunicação é um sinal de que há espaço para o aumento de participação da sociedade civil na atividade midiática.

É no novo contexto da mídia que uma ONG como o Fundo pela Independência do Jornalismo alcança ressonância. A força de organização e de trabalho jornalístico destas instituições norte-americanas são um ótimo exemplo de como reagir à manipulação do noticiário por interesses escusos. Inclusive no Brasil.’

TV POR ASSINATURA
Márcio Alemão

Eu decido o que ver na TV fechada?, 21/1

‘Art. 17. ‘O empacotamento do serviço de comunicação audiovisual eletrônica por assinatura e das demais modalidades de prestação de serviço de TV por assinatura deverá conter pelo menos 50% de conteúdo nacional…’

Não é muito simples entender o que isso significa.

O assunto, até o momento, apresenta certa nebulosidade. Um comercial na TV, assinado pela ABTA Associação Brasileira de Tvs por Assinatura – garante que o projeto de lei 2907 determina que 50% dos canais das Tvs por assinatura sejam nacionais e 10% da programação de todos eles, também. Não estou totalmente seguro se essa é a única leitura do projeto. Se for, não faz o menor sentido. É mais uma daquelas formidáveis idéias que os representantes do povo têm quando lhes falta informação e conhecimento a respeito do que de fato o povo estaria precisando ‘a nível de lei’.

Diante dessas sacadas geniais que volta e meia nos supreendem, sempre me lembro do filme Bananas, de Woddy Allen. Assim que o ditador da republiqueta latino americana toma posse, declara que a partir daquela data os menores de 18 anos serão maiores de 18 anos e elege, se não me engano, o sueco como idioma oficial.

A verdade é simples: os canais das Tvs por assinatura já estão produzindo conteúdo nacional. E com certeza não produzem mais porque nos falta muita coisa. Por exemplo, dinheiro.

O mercado ainda é pequeno e não será um decreto que irá torná-lo grande. Temos excelentes casas produtoras no Brasil com enorme capacidade profissional. Todos os grandes canais gostariam de produzir mais conteudo, inclusive para exportar. O mundo precisa de conteudo desesperadamente. Mas aqui nessa nossa republiqueta, a idéia é voltar a fechar os portos.

Agora sugiro uma pausa. A ABTA fez o comercial, mostrando sua indignação e nos convidando a reagir com palavras de ordem tipo ‘Eu pago. Eu decido o que eu quero assistir na minha TV por assinatura’.

É mesmo? Então por que eu não posso escolher os canais que quero comprar individualmente? Por que os pacotes? Por exemplo: eu não quero mais assistir a Raposa, que cometeu o crime de dublar toda sua programação. A Raposa não me deu escolha. A Raposa agiu de maneira ainda mais nociva que o projeto de lei, que deverá passar por discussões e votações. Aí eu decido, já que pago, que não quero mais ter a Raposa em meu pacote. HAHAHA! Se tirar a Raposa, outros canais saem juntos. Isso não é exatamente um exemplo de liberdade de escolha.

As Tvs por assinatura repetem à exaustão suas séries e filmes e não nos reembolsam por isso. Segundo eles, ‘Eu pago. Eu decido o que eu quero assistir’. Mentira. Ninguém, aposto um zilhão, decidiu que quer ver séries e filmes repetidos. Logo, não estamos decidindo nada. Mas, como diz o dito: pimenta nos olhos dos outros é colírio.

Tomara que o projeto não passe e tomara que todos os assinantes comecem a brigar pelo direito de assistir o que quiserem, como defende a ABTA. E a briga maior, garanto, será contra as Tvs por assinatura. Interessados no assunto devem acessar o site www.liberdadenatv.com.br.’

 

 

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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