MÍDIA & POLÍTICA
Para que servem os políticos?, 23/06/07
‘Lobistas desonestos colocam na pauta da sociedade – absolutamente diferente da pauta dos Poderes da Nação – a urgência da regulamentação da atividade de lobby no Brasil. É assunto antigo, problema velho, que já deveria ter sido resolvido. Para se ter idéia do nosso atraso nesta questão, nos Estados Unidos da América, a ‘Federal Regulation of Lobbying Act’ foi aprovada em 1946 e atualizada em 1995, como conseqüência de escândalos envolvendo parlamentares e empresas. Lá também leis estaduais específicas regulamentam as atividades de lobby nos 50 estados e em cidades como Los Angeles, Chicago e Nova York.
A tecnologia, as mídias digitais contribuem para aumentar a transparência das atividades de lobby. Em muitos desses estados e cidades norte-americanas, relatórios detalhados de agendas, seus clientes, propósitos de relacionamento de lobistas com autoridades são publicados na internet e permitem ao cidadão o acesso online a informações sobre doações de campanha, presentes de empresas ofertados para parlamentares, custeio de viagens e hospedagens de políticos, prazos e cumprimentos de quarentena por autoridades, quando vão para o setor privado, ou, ao contrário, quando executivos assumem cargos públicos.
A maioria dos países latino-americanos, nos quais vigem regimes democráticos, nas duas últimas décadas, já aplicam leis de regulamentação das relações entre os poderes legislativo, executivo e judiciário e a sociedade. A Argentina, em 2006, assumiu ‘La Convención de las Naciones Unidas contra la Corrupción’. O Chile, desde 2003, aplica uma lei sobre transparência, que limita e controla gastos eleitorais. No Peru, a partir de 2003, ‘a gestão de interesses’ no ambiente da administração pública é regulada. E no México, desde 2006, as responsabilidades administrativas de funcionários públicos são definidas por lei.
A Comunidade Européia adota, desde 2006, o ‘Green Paper on European Transparency Initiative’, que norteia as relações de quase 15 mil lobistas com as autoridades da comunidade. Nestes países, a regulamentação das atividades do lobby está ligada ao financiamento de campanhas eleitorais e da representação política. Questões que, no Brasil, se fossem discutidas com a sociedade, votadas e claramente definidas, melhorariam a imagem, a reputação e o desempenho profissional dos representantes de interesses privados junto aos Poderes da República, assim como a atuação profissional dos representantes públicos.
É importante ressaltar que a legislação que vier a ser adotada deverá, entre outras, propiciar a punição rápida e exemplar dos transgressores das normas legais que vierem a ser adotadas. Afinal, temos no Brasil uma situação de barbárie política, alimentadora de escândalos, envolvimento de políticos e empresas, que empurram para o descrédito e para a desmoralização a atividade pública, que além de tudo, alimentam a insegurança jurídica para as atividades produtivas. Os honestos, pela experiência prática, receiam, infelizmente, que os desonestos mantenham as práticas de sempre, sem que a Justiça os alcance, como acontece agora.
Para que servem políticos, partidos e instituições públicas que não se aperfeiçoam e não dão transparência às suas atividades?
Milhões de brasileiros, cada vez mais, fazem esta pergunta.’
TELEVISÃO
A pedra no sapato do reino, 18/06/07
‘Luiz Fernando Carvalho, diretor da microsérie ‘A Pedra do Reino’, declarou que esse seu trabalho não era TV e não era cinema. Definiu-o como um ‘organismo audiovisual’.
Não sei o que é isso. Assisti a três capítulos da série para tentar entender. Entendi que se trata de uma nova maneira de se contar histórias. Um jeito especial que provoca no telespectador um fascínio pelas imagens de rara beleza. Um estranhamento absoluto a cada enquadramento, a cada corte.
E o mais novo, a enorme surpresa desse tal ‘organismo audio-visual’: pouco se entende da história. O excesso vindo de todos os lados, o delírio imagético constante, sem trégua, exaure e, minha opinião, transforma o texto em coadjuvante. E também o texto, por certo muito adequado a um organismo audiovisual, não encontra seguidores no vulgar mundo da TV ou cinema. Seguidores no sentido de adeptos e seguidores no sentido de ter capacidade e vontade de seguir acompanhando a história que, repito, não se entende. A audiência, consta, foi muito ruim.
Deixando claro: o trabalho é lindo, primoroso, mas precisa encontrar sua mídia. Para a TV não serve. Para a TV, sendo curto e grosso, é ruim, é equivocado.
Difícil dizer isso de um ‘gênio’. Dizer isso do, como disse um crítico, ‘maior e melhor diretor da Globo’.
Lembro que fiquei, eu e toda uma tribo, repetindo durante décadas, que achávamos espetacular, genial, tudo, absolutamente tudo que Bergman, Resnais, Pasolini, Glauber, Buñuel, para citar alguns, faziam.
Mais maduros, sem a necessidade de encantar uma incauta gata com nossa cultura e gostos extravagantes sempre contrários ao andar da carruagem da mediocridade, conseguimos a coragem para desabafar e dizer sobre vários de nossos intocáveis e referenciais filmes: ‘Cara! Que droga, que enganação, que chatice sem fim’.
Logo, não tenho mais paciência para idolatrar o que não gosto e não entendo.
Não tenho mais receio de ser incluído na massa ignorante que não soube captar a profundidade e a novidade da obra. Como eles, desisti. Não consegui passar do terceiro capítulo. Perdi a esperança de ver surgir o momento no qual a história me encantaria e me prenderia.
Comento com um amigo sobre a série e ele declara: ‘Espetacular. Sensacional. Tremenda direção de arte. Edição maravilhosa’.
Fico intrigado e pergunto: ‘e a história?’
‘O primeiro capítulo eu não entendi absolutamente nada. Nos outros dias assisti sem o som.’
Márcio Alemão é publicitário, roteirista, colunista de gastronomia da revista Carta Capital, síndico de seu prédio, pai, filho e esposo exemplar.’
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