JORNALISMO ESPORTIVO
O choque entre Dunga e a Mídia e vice-versa, 09/07/07
‘De Puerto La Cruz
Vou sacar a caixinha de adjetivos, para começar.
O México do brilhante Neri Castillo atropelou o Paraguai, 6 a 0. A Argentina, aguda, impiedosa, demole o Peru a golpes de Riquelme, por enquanto o maior da Copa, e de Messi, mortal quando costura e arremete com sua canhota.
Mascherano, que faz o terceiro, é, imaginem, coadjuvante. E Tevez é banco.
Há questões graves, estruturais, negociais, a serem esmiuçadas no futebol brasileiro, mas não é disso que trataremos hoje.
Nesta véspera do Uruguai é dia de falar de Dunga. Da relação tensa, de choque constante, entre o técnico e a imprensa.
Afável, alegre e divertido em conversas privadas, nas coletivas Dunga é Dunga: antecipa, divide quase todas, para não perder nunca, nenhuma.
Há razões, de parte a parte. Comecemos pelo começo. O Brasil de Lazaroni foi eliminado pela Argentina na Copa de 90 e Dunga se tornou símbolo maior da derrota. Há dias, em conversa exclusiva com o Terra ( http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1727410-EI6598,00.html ), confessou:
-Doeu (a ‘Era Dunga’) e ainda dói muito. As cicatrizes são para sempre.
Copa de 94. Esqueçamos um pouco o ‘grupo’, os 22 e etcetera e vamos ao futebolês. Com ‘Muro’ Silva ao lado, um Romário fatal, inesquecível, Schwarzenegger Dunga ganhou a Copa. Gostem ou não, é fato. Ele, moralmente, comandou a vitória.
Não foi o bastante. Nem mesmo para ele. A ‘Era Dunga’ ainda ‘dói muito’, recordemos. Cada encontro de Dunga com a mídia é um entrechoque de feridas abertas.
Nós jornalistas -isentos, imparciais e objetivos, como é sabido- somos uns 100 aqui na Venezuela. Há 20, 30 dias longe da namorada, mulher, dos pais, filhos, cachorro, papagaio. A vagar por Maturín, Puertos Ordaz e La Cruz e assemelhados.
Simulemos, neste cenário, uma troca de papéis.
O que faria o jornalista Dunga ante uma daquelas respostas de trava alta, a rasgar a canela, do técnico Dunga? (Microfone preso à haste, sem possibilidades de arremesso.)
Por outro lado, e isso é fundamental, o que faríamos, o que e quem seríamos nós, os imparciais, se durante 4 anos nossos pais, amigos, mulher, convivessem com milhares de capas de jornais, revistas, de resenhas e mesas redondas a espicaçar, humilhar com uma única expressão, espécie de síntese de todo o mal do mundo:
-A Era Dunga!
Como sobreviveríamos, por 4 anos, a filhos que chegassem da escola, ressabiados, a perguntar:
-Pai, o que é a ‘Era Dunga’? O que você fez?
Cicatrizes, ou quelóides?
Para conseguir relaxar diante do frenesi da mídia, Dunga talvez deva tentar entender: saiba muito ou pouco de futebol, um jornalista -isento, imparcial e objetivo- é, antes de tudo, um torcedor. Um arquibaldo armado de microfone ou laptop.
A fúria crítica -críticas justas e corretas à parte- muitas vezes apenas esconde o medo, o pânico ante a sombra da derrota. Como não senti-lo, um geraldino, quando a devastadora Argentina enfia o quarto no Peru? (Me perdoem, foi involuntário, saiu.)
Almoçávamos outro dia uns 10 de nós, os imparciais. Cada um de nós, isentos, se pôs a rememorar derrotas da seleção que nos fizeram chorar:
-…tive depressão em 82…me acabei em 78…soluçava em 86…minha mãe me deu maracujina em 98…quebrei a televisão no ano passado… em 90 rasguei o livro da Branca de Neve e os 7 anões das minhas filhas…por causa Dele!!!
Eu, de minha parte, nunca vi, recusarei para sempre, os últimos 5 minutos de Itália 3, Brasil 2, no Sarriá, em 82. Em 90, o vôo da Air France atrasou um dia no Rio. Escapei.
Da França eu saltaria para as finais em Roma. Voava na hora do Caniggia. Soube na alfândega, em Paris. Nunca vi o jogo, salvo, numa retrospectiva anual, o gol, a bola testada pelo Dunga na trave, e uma chance desperdiçada, grotescamente, pelo Muller.
Não vi os pênaltis em 86. Em 94 ia escapando do Rose Bowl, voltei ao ouvir o lamento:
-Porca miséria! (Baresi perdeu o pênalti.)
Amanhã tem Brasil e Uruguai. Vai ferver.’
TELEVISÃO
Pacotes para celebridades, 2/07/07
‘Passei uma semana fora do país. Uma semana em Palma de Mallorca e, acreditem, um dos programas de maior audiência, no momento, é mais um de danças com celebridades.
Não tive muito tempo para ficar na frente da TV, mas o pouco que vi tem enorme semelhança com o que vemos e fazemos por aqui.
Lembro que em minha primeira viagem ao exterior, em 1970, a diferença entre a TV dos EUA e a nossa era abissal. Aos poucos íamos nos aproximando e, lá por meados de 1985, nossa TV já era considerada melhor que muitas da Europa.
Curiosamente, o mundo inteiro parece ter chegado a um patamar, um mesmo, o da mediocridade. A aldeia global troca idéias e formatos e, dessa maneira, o viajante que teme se aventurar pelos livros ou ruas desconhecidas, pode ficar diante da TV e irá se sentir em casa. Mais curioso ainda: não faz a menor diferença entender, ou não, o idioma.
Na volta leio, entristecido, que Eliana separou-se. E o que mais me deixou chocado: eu não fazia a menor idéia com quem ela estava casada. Também fiquei um pouquinho impressionado com as fotos que vi da moça. Pareceu-me ligeiramente… ok, vamos ser sinceros: pareceu-me bem inchada. Teria chorado muito a separação? Teria acabado de acordar? Teria, no momento agudo da dor, tomado uma overdose de Botox?
Também fiquei chocado com a separação de Marcos Paulo e Marina Mantega.
Antes de viajar estava lendo em uma das revistas que falam sobre essas coisas, que estavam apaixonados e o blá, blá, blá de sempre. Pois a moça ligou para ele e disse que estava tudo acabado. Parece que foi tudo muito rápido. E eu me lembrei de meus tempos de adolescente quando pedir em namoro e desistir do mesmo por telefone era aceitável. Agora, dois marmanjos terminarem uma relação por telefone é o fim da picada. Idem, idem, o casal Íris e Alemão, que conversaram muito pelo telefone e que talvez venham a conversar pessoalmente dia 12 de julho no casamento de Flávia e Fernando, colegas de BBB.
Sei não. Às vezes imagino que deva existir pacotes. A revista propõe: olha só: um cara bem mais velho/ ou bem mais novo. Uma sessão de fotos na ilha aqui perto e surge a paixão. Rende uma dupla ou até duas; vai depender da oferta da semana. Aí dá para optar: uma relação de dois meses pode dar meia página de separação sem produção de foto. Agora, querendo ficar 5 meses, aí a separação é em grande estilo, com produção de fotos tristes, passeios no castelo olhando para o nada ou brincando com algum cachorro da moda que a gente aluga.
Márcio Alemão é publicitário, roteirista, colunista de gastronomia da revista Carta Capital, síndico de seu prédio, pai, filho e esposo exemplar.’
INTERNET
Copyright é novo imperialismo, diz guru da web, 28/06/07
‘Escrever que alguém tem uma personalidade multifacetada é um daqueles clichês do qual todo jornalista deveria fugir, como dizer que o país X é ‘uma terra de contrastes’ ou que o lugar Y virou ‘uma praça de guerra’. Mas é quase impossível não recorrer ao chavão em se tratando de John Perry Barlow – fazendeiro, poeta, roqueiro e, principalmente, ativista pela liberdade na internet.
Criador de gado no Estado do Wiomyng – lugar nada identificado com a revolução tecnológica, espécie de Goiás dos EUA -, Barlow foi um dos primeiros a exaltar o potencial libertário da internet e ajudou a popularizar o termo ‘cyberspace’, ao publicar, há onze anos, sua famosa ‘Declaração de Independência do Ciberespaço’. Por conta desse manifesto, no qual afirma que os governos não têm e não devem ter soberania sobre a Internet, chegou a ser chamado de ‘Thomas Jefferson do mundo virtual’.
Coordenador da primeira campanha a deputado de Dick Cheney -o atual vice-presidente dos EUA, expoente do movimento neoconservador-, Barlow é hoje um militante do Partido Democrata e um crítico ácido da gestão Bush.
Estudioso de religião comparada, ele também se notabilizou como letrista de sucessos da dinossáurica banda Grateful Dead, e hoje colabora com grupos menos famosos, como The String Cheese Incident.
Não menos importante é seu papel na Electronic Frontier Foundation, ONG que fundou e que foi pioneira na luta contra as tentativas de governos e empresas de controlar o conteúdo na rede. É, obviamente, um entusiasta dos softwares livres. Apesar de não ser banqueiro, foi considerado uma das 25 pessoas mais influentes do setor de serviços financeiros pela revista ‘FutureBanker’.
Convidado pelo ministro da Cultura, Gilberto Gil, Barlow está no Brasil para participar do Seminário Internacional sobre Diversidade Cultural, cujos debates se estendem até amanhã, em Brasília.
Em entrevista exclusiva a Terra Magazine, por e-mail, ele afirmou que a indústria do entretenimento ameaça a liberdade na internet, e que a imposição de patentes e de leis de copyright é uma nova forma de imperialismo. Afirmou ainda que trabalha com Gil para colocar ‘toda a música brasileira’ à disposição dos internautas. Leia a seguir trechos da entrevista:
Terra Magazine – Na sua famosa Declaração de Independência do Ciberespaço, o senhor afirma que governos não devem interferir na Internet. Desde que o manifesto foi publicado, houve uma série de tentativas de censura e regulação. Quem está vencendo essa batalha?
John Perry Barlow – Obviamente pessoas razoáveis podem discordar disso, mas não acho que tenha acontecido nada desde 1996 que fundamentalmente questione minha convicção de que o Ciberespaço é inerentemente anti-soberano. Se alguém está determinado a colocar online algo que é considerado ofensivo por autoridades locais, pode encontrar algum servidor em outro lugar que eles não podem tocar. E filtragens são apenas modestamente efetivas.
E o papel das grandes corporações. Elas, ou algumas delas, são uma ameaça à liberdade na web?
A indústria de entretenimento tem sido uma ameaça significativa, mas eles estão claramente perdendo a guerra. O pior que eles conseguiram fazer é implementar o sistema ‘Trusted Computing’ nos novos chips Intel e no Windows Vista, mas há maneiras de driblar isso.
No ensaio ‘A Economia das Idéias’, o senhor afirma que o conceito de propriedade no mundo físico não se aplica ao mundo digital. O que o senhor pensa das tentativas de punir ‘piratas’ que ‘roubam’ arquivos de música ou de filmes?
Piratas são pessoas malvadas que atacam embarcações no alto mar, matam todos a bordo e roubam tudo o que tiver valor. Não são pessoas que encorajam outros a ouvir as mesmas músicas de que eles gostam. Além disso, não vejo como alguma coisa possa ser roubada se ainda a tenho. Propriedade é algo que pode ser tirado de alguém.
Os esquemas de DRM (Digital Rights Management) estão fadados ao fracasso?
Sim.
Quais são as vitórias mais importantes da Electronic Frontier Foundation no campo da propriedade intelectual?
É uma lista longa, mas o principal foi mudar a consciência do público sobre a natureza da questão.
O senhor poderia descrever sua participação em encontros do Fórum Social Mundial?
Acho que fui bastante eficiente ao demonstar que a imposição agressiva de copyright e de patentes é apenas a mais recente forma de imperialismo, uma tentativa do canto noroeste do planeta de regular o pensamento humano.
O site da EFF informa que o senhor está trabalhando com o ministro Gil ‘em um esforço para colocar toda a música do Brasil online’. É mesmo toda a música brasileira? E como ficam as restrições de copyright?
Quis mesmo dizer toda a música brasileira, inclusive a grande porcentagem que é mantida como refém por empresas dos Estados Unidos. A música é o código genético do Brasil. Ninguém deveria ter o direito de tomá-la dos brasileiros.
Como o senhor vê a explosão dos chamados sites de mídia social?
Eu dizia já em 1995 que o mais importante da internet é a comunidade e a conversação, não o conteúdo. Eu sabia que isso ia acontecer. Só quero que eles fiquem melhores.
O que mais o surpreendeu na web recentemente?
A Wikipedia. Sou um otimista, mas o sucesso deste experimento me deixou maravilhado.
[Statisfy Free Web Stats]’
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