LÁ FORA
Mídia internacional repercute furto na Petrobras, 15/2
‘A notícia revelada com exclusividade por Terra Magazine na quinta-feira, 14, sobre o furto de informações sigilosas da Petrobras repercutiu em jornais de todo o mundo.
Poucas horas após a divulgação, a notícia do furto já estava no site da CNN Internacional. Elaborado a partir de nota lançada pela agência Associated Press, o texto abria com: `Importantes informações foram furtadas da estatal petrolífera brasileira, disse a empresa nesta quinta-feira, e um site de notícias divulgou que o caso estaria relacionado a duas descobertas recentes de megacampos de petróleo e gás´.
A agência Reuters, por sua vez, destacou: `Petrobras Brasil: furtadas informações importantes de reservas´ e informou que a `Polícia Federal teria duas linhas de investigação – furto com objetivo de espionagem e furto simples´.
O site chinês China View, sediado na cidade de Xinhua (www.chinaview.ch), informou: `Petrobras anuncia perda de informação ultra-secreta´, destacando que embora haja cópias dos dados furtados, a estatal brasileira está preocupada com o posterior uso dessas informações e suspeita de espionagem industrial internacional.
O International Herald Tribune frisou que, de acordo com uma fonte da Polícia Federal que não quis se identificar, as informações sigilosas afetam diretamente os interesses nacionais do Brasil.
A nota `Furto na Petrobras´, publicada no diário argentino Página 12, informou que tanto a petrolífera brasileira quanto a empresa norte-americana Halliburton, contratada para fazer o transporte entre a plataforma na Bacia de Campos e o continente, terão duas semanas para entregar à Polícia Federal todas as informações de que disponham a respeito do furto.
Os dois notebooks e o disco rígido furtados traziam dados detalhados sobre as recentes megadescobertas da Petrobras. O campo de Tupi, por exemplo, tem capacidade estimada de 5 a 8 bilhões de barris de petróleo. Com isso, o Brasil aumentaria em quase 50% sua produção, tornando-se uma das dez maiores reservas de petróleo do mundo.’
CARNAVAL
Jornalismo de faz de conta, 15/2
‘Era uma vez um país livre e democrático que promovia o maior espetáculo da Terra: o Carnaval. A festa na cidade do Éden – litorânea ex-capital desta República, de beleza geográfica única – por muitas décadas permanecia o centro das atenções.
O evento se mostrava capaz de catalisar olhares dos quatro cantos do planeta, naqueles dias de festa de momo.
As comunidades populares (com o reforço de celebridades) se organizavam em agremiações que competiam entre si em desfiles cinematográficos. Mulheres estonteantes exibiam corpos eróticos sob o brilho de purpurina e o banho divino dos holofotes.
Nos últimos anos, no entanto, a corte roubava a cena dos passistas. Reunidos em portentosos camarotes erguidos pela indústria de malteja – bebida alcoólica e fermentada de sabor delicioso, de alto consumo principalmente no verão – vedetes, artistas, intelectuais, grandes políticos e empresários protagonizavam espetáculo particular. Acompanhados, não raro, de estrelas internacionais.
A mídia abria cada vez mais espaço para a cobertura do que acontecia nos camarotes, em detrimento dos desfiles e das manifestações folclóricas.
A intensa cobertura do carnaval da corte era guiada por certa mecânica não muito explícita ao olhar do grande público, que atendia a interesses encadeados.
Tal mecânica era capitaneada pela indústria de malteja e suas agências de publicidade. Deste vértice de poder saía a estratégia de comunicação das marcas cujo objetivo era extrair do carnaval o maior ganho de imagem possível. E, por conseqüência, colaborar para o cumprimento de suas metas comerciais, entre outras.
Para isso as marcas de malteja investiam nas duas grandes vertentes da comunicação de então: a publicidade convencional e a ocupação de espaço favorável no conteúdo editorial dos veículos.
Grandes anunciantes, as maltejarias competiam por edições especiais de carnaval das principais publicações que acompanham a vida das celebridades – assunto que a mídia cobria com crescente atenção nos últimos anos. Assim como programas de televisão, sites e toda a demais imprensa voltada ao carnaval.
Compravam, além dos anúncios, os espaços não claramente publicitários, que continham oportuno verniz jornalístico. Como publicidade com aparência de matéria tem muito maior poder de penetração do que anúncio, este era um negócio inteligente.
Parte importante das publicações voltadas ao carnaval tinha como grande fonte de receita os anúncios das marcas de malteja.
Estes veículos (inclusive as televisões) davam tratamento especial aos camarotes das maltejas anunciantes. Aos da concorrência, ou os ignoravam, ou escondiam suas marcas, mesmo com expedientes toscos, como fechar a câmera no rosto do entrevistado. Para esconder sua camiseta e o cenário marketeiro do camarote não-anunciante.
Já na cobertura do camarote da marca parceira, o procedimento era outro, bem sofisticado. Tal o poder das marcas e agências sobre os veículos de comunicação que estas passaram a editar cartilhas com regras da cobertura dos camarotes.
Para isso, contavam com o reforço das agências de assessoria de imprensa, que faziam o meio-de-campo entre as redações e o cliente. O objetivo era maximizar os ganhos de imagem, com uma cobertura positiva, perfeita, inodora.
Esta cartilha tinha tópicos como: `Vips que devem ser entrevistados´; `Palavras que podem ser usadas´; `Fotos que devem ser feitas´; `O que não pode ser fotografado´; e `Evitar as seguintes palavras´.
Entre os verbetes vetados constavam: `bebidas alcoólicas; criança; e qualquer palavra que faça menção a embriaguez ou infantilidade´.
A cartilha ainda recomendava que não fossem fotografadas `pessoas embriagadas; pessoas consumindo produtos que não são da marca (como whisky); e pessoas sem camiseta-convite´.
Dentre as regras do que não só podia como deveria ser usado, se destacavam as seguintes palavras e expressões: `Éden Maravilhosa; sucesso; trajetória vitoriosa; alegria; se beber, não dirija; comemoração só com malteja´, entre outras.
Chateados com tão óbvias indicações, os repórteres seguiam para a labuta. `Se vir alguém cheirando no banheiro, feche os olhos´, era a recomendação que se ouvia da chefia, que por si só, já dizia tudo.
O resultado da cobertura não decepcionava as maltejas. No carnaval das revistas de celebridade de Éden, não há bêbados, inconvenientes ou lixo. Não há reclamações.
´É mesmo o maior espetáculo da Terra´, dizia uma estrela do cinema internacional. Ela fora trazida com gordo cachê ao país do Éden e, apesar do referido paraíso, só circulava com guarda-costas.
No Carnaval dos camarotes retratado pela mídia de Éden, é proibido não rir e não se uniformizar, sob pena de se tornar invisível – pior castigo não havia naquele tempo.
Repórteres fingiam que entrevistavam livremente artistas da corte. Que davam respostas vazias sobre a maravilha do Éden enquanto emprestavam sua imagem ao glamour das maltejas.
O que acontecia no terreno da concorrência, a maioria das vezes se fingia que não acontecia. Também se fingia que o interesse jornalístico não é o critério legítimo para se decidir o que é veiculado, e o que merece destaque.
Coagidos, os repórteres assinavam seus textos de fantasia, contribuindo para a montagem do anúncio em diagramação jornalística, disfarçado de reportagem.
E assim o país em que ninguém escapa do bombardeio imagético segundo o qual beber malteja traz felicidade, loiras esculturais e passaporte para o grupo das pessoas bacanas, comemorava mais um carnaval.
Neste jornalismo de faz de conta, em que malteja não é bebida alcoólica, não havia espaço para discussão e reflexão do que, afinal, as marcas pretendiam esconder.
Até que o público se deu conta.’
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