Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Terra Magazine


TELEVISÃO
Márcio Alemão


Será que agora vai?, 08/10/07


‘A apresentadora Adriane Galisteu, com quem o colunista Márcio Alemão está preocupado


Estou muito preocupado com Adriane, a Galisteu.


Ela está vivendo mais um momento lindo de sua vida. Depois do susto que a levou ao hospital, o mundo voltou a sorrir para ela.


Está radiante em todas as fotos que aparece ao lado do deputado federal Fabio Faria, que parece ser um bom moço.


Talvez eu arriscasse dizer que a presença da mãe, dona Emma, tornou-se mais constante e nenhum rapaz grande gosta muito disso mas, entendo que Adriane ainda se recupera do susto e a mãe é sempre um porto seguro.


Acredito que ela tenha superado as mudanças todas de horários de seu programa. Já percebeu que seus fãs estarão sempre ligados, de manhã, de tarde, de noite ou na madrugada, seja a hora que seu Silvio decidir.


E por que estou preocupado?


Porque eu já vi essa história.


Adriane vivendo momentos de solidão. Dependendo da estação do ano, esse momento triste e meditativo rola no castelo ou na ilha de Caras. O que me consola é que ela sempre declara que está só mas está bem, cada vez mais segura.


Nas semanas seguintes começam a pipocar, aqui e ali, boatos. Estaria com fulano, foi vista com beltrano.


E de repente, o amor floresce, o seu Silvio jura que não mexe mais no horário do programa, ela começa a circular cheia de vida e luz por todos os eventos do país com o novo grande amor de sua vida e, dependendo da estação, na ilha ou no castelo.


Mas…


Pois é. Aposto como você também adivinhou. Em poucas semanas ou no mês seguinte, recebemos a notícia de que está tudo terminado entre eles. As fotos eufóricas são substituídas pelas fotos tristinhas, no castelo ou na ilha e o seu Silvio volta a fazer experiências de horário.


É triste porque eu sempre tento acreditar que dessa vez vai.


Mas nunca vai.


Alguém arrisca um palpite? Até quando estará Adriane ao lado do deputado federal Fabio Faria?


No mundo da ficção, muito bem tratados os relacionamentos complicados em Friday Night Lights, um nova série que passa no Sony, sexta as 22h. A clássica cidadezinha americana, no caso, Dillon-Texas, que vive pelo time de futebol americano. As esperanças são pequenas, os sonhos idem e a vontade de cair fora, enorme. Mas nunca é simples assim.


Interessante a semelhança do drama dos personagens da série com os do filme ‘A Última Sessão de Cinema’, de 1971. Também o filme acontece em uma pequena cidade do Texas, Anarene. Recomendo ambos.


Márcio Alemão é publicitário, roteirista, colunista de gastronomia da revista Carta Capital, síndico de seu prédio, pai, filho e esposo exemplar.’


TELECOMUNICAÇÕES
Ricardo Kauffman


A nova corrida para o oeste, 8/10/07


‘Feito a disputa pelo ouro no velho oeste norte-americano, o novo espaço midiático é alvo de uma corrida maluca, no Brasil e em todo o mundo. Competem conquistadores de diferentes tamanhos e tipos.


Há bólidos gigantescos. A Petrobras abre sua própria agência de notícias, com mais de 100 profissionais. A Record inaugura o primeiro canal da TV aberta com 24 horas de informação. A Globo reage, atrasada. Vários corpos atrás da concorrente, agora cerca um quinhão vizinho para a Globo News.


Hugo Chavez empresta US$ 5 milhões para o governo equatoriano constituir sua TV Pública. O próprio líder venezuelano bate recorde de audiência e permanência no ar em seu país – 8 horas ininterruptas. No Brasil, o governo abre cadeia nacional para divulgar a semana da pesca.


Também tomam parte pessoas físicas, com diferentes interesses e pertinências. Luciano Huck empenha espaço nobre para lamentar o rolex roubado. Mano Brown ocupa o centro do Roda Viva e dá visibilidade ao espírito da periferia profunda por um par de horas.


Oscar Maroni suga a luz dos holofotes e prepara campanha para prefeito ao deixar a prisão. João Moreira Salles expia sua culpa num documentário. Fernando Bonassi usa seus domínios para pôr o dedo na ferida do milionário, e na dos mordomos subservientes.


O juiz que investiga crimes econômicos toma posse de páginas importantes para informar que o ângulo da Justiça não é o ângulo da mídia. O bloggeiro Eduardo Guimarães organiza o Movimento dos Sem-Mídia, como David enfrentou Golias.


Nesta corrida de poucas regras, sobra para o meio-ambiente do novo mundo. Fatos, palavras empenhadas e a educação para o convívio em sociedade são mal-tratados. Proliferam-se alimentos estragados. Links patrocinados são usados em comunidades pedófilas do orkut. Reality shows egocêntricos e campanhas publicitárias de bancos pregam a conquista da felicidade exclusiva e excludente.


As polícias britânica e portuguesa tomam o noticiário de assalto para divulgar notícias contraditórias e não-checadas sobre o desaparecimento de Madeleine. A Associated Press acusa O Globo de dar crédito à lorota do ano, sobre suposta milícia pronta para derrubar Evo Morales, a postos e armada na selva boliviana. E tudo passa e se perde no fluxo constante da cachoeira caudalosa de notícias.


Revistas de negócios inflam a última moda do marketing e de RH, até que esta seja substituída e desmascarada como regra de sucesso generalizado. Escondem do leitor as histórias de fracasso, induzindo-o ao auto-engano. Como se o mundo corporativo fosse o país de Alice.


Esconder, aliás, é um dos principais poderes dos com-muita-mídia. Lançando mão de prestígio adquirido junto aos donos dos veículos, e/ou da competência contratada de um exército de feiticeiros, se faz o diabo neste novo mundo.


Casos de corrupção inconvenientes desaparecem das manchetes, em meio à geologia de minas e vales do planeta não-civilizado. Crateras monstruosas e gravatas surrupiadas também somem silenciosamente, aliviando o constrangimento de homens com as mangas arregaçadas e discurso moralista. Quando reaparecem um tanto discretas, é só para disfarçar.


Furos de reportagens sem-graça e urgência embrulham revistas renomadas, a serviço de ações de publicidade lançadas em seguida, com o benefício do levantamento do tema. Genuínos esforços de reportagens ficam reservados às exceções. Quando não à zombaria dos soldados do Pânico, enviados em campanha à Europa para constranger Galvão Bueno.


No novo mundo, quem tem visibilidade – algo como o oxigênio na era da imagem – tem mídia. Seja para fazer brotar árvores (notícias) frondosas que vão crescer até tampar nosso campo de visão; ou para fumigar frutos daninhos ao dono da plantação.


Que um bom pedaço deste universo ainda misterioso possa se destinar a conquistadores iluminados e organizados. Que os pensadores e empreendedores de vanguarda encontrem instrumentos de mediação capazes de hierarquizar as informações segundo o interesse público. Que eles façam frente à selvageria de vontades mesquinhas e inconseqüentes.


Que o fogo cruzado não encubra os verdadeiros embates. Que a civilidade seja capaz de reunir lúcidos entre corintianos e palmeirenses, blancos e colorados de toda a espécie em torno da razão e bem-comum.


Os bárbaros ainda não dominam todos os fronts e almas. A corrida está em curso.


Ricardo Kauffman é jornalista e roteirista.’


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