Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Terra Magazine

O SUMIÇO DA PLAYBOY
Bob Fernandes

O câmbio negro, a Mônica, o Clodovil e o respeito, 13/10

‘Geraldo Freire é popularíssimo locutor e apresentador do programa Super Manhã na Rádio Jornal do Commercio, no Recife. Aos sábados, quem apresenta o programa é Wagner Gomes. Neste sábado, 13, enorme o sucesso com Mônica Veloso sendo destaque na enquete Quem Tem Razão?, que foi ao ar das 9 e meia às 10 e meia da manhã.

Não sem motivos. O Recife já andava sacudido por boatos nestes últimos dias em função da inexistência da Playboy da Mônica nas bancas. Parágrafo.

(Para quem estava hibernando, ou meditando no Tibet: Mônica Veloso é uma voluptuosa mulher que teve um caso amoroso e uma filha com o presidente do Senado e Congresso Nacional, Renan Calheiros. Ela agora ostenta todos os seus poderes na edição da Playboy já nas bancas enquanto ele, Renan, acaba de perder todo o poder que tinha).

O sumo deste enredo estava na pergunta feita aos ouvintes por Wagner Gomes; isso, como dito acima, numa cidade onde fervilham boatos e, entre eles, o mais corrente: a Playboy não está nas bancas porque o caminhão da transportadora foi assaltado e as revistas com fotos da Mônica serão vendidas no câmbio negro.

A reportagem de Terra Magazine foi à luta para esclarecer a dúvida que atormenta almas pernambucanas. Ouviu a Rádio Jornal do Commercio e, antes, um atendente da livraria Sodiler no aeroporto dos Guararapes e a distribuidora da Abril.

Respostas:

– Amigo, isso aqui tá um inferno… toda hora tem gente aqui no aeroporto atrás da revista, mas não recebemos, não. Até liguei para a distribuidora e eles disseram que o caminhão tá atrasado – relatou o jovem atendente.

– Mas tem gente no Recife que já foi vista folheando a revista…

– Bem… aí, ou é algum shopping que trouxe via aérea ou é o câmbio negro mesmo… tenta na distribuidora…

Distribuidora:

– A Playboy chegou?

– Você é dono de banca ou tá só… interessado?

– Tô interessado…

– Tá um inferno, sabe o que é um inferno? Não param de ligar… é dono de banca, de livraria, é minino, é velho, é mulé, todo mundo atrás…

– E o que houve? Ouvi dizer que roubaram o caminhão, para vender no câmbio negro…

– Olhe… pode até ser, mas acho que não. Ligamos para São Paulo e eles dizem que atrasou mesmo…

– Por quê?

– Por que a partida é maior dessa vez, acho… mas fique tranqüilo…

– Vou tentar, mas porque eu devo ficar tranqüilo?

– É segredo… me disseram que o caminhão sai amanhã e chega aqui na terça…

– Que alívio…. Obrigado.

Pois foi nesse ambiente que Wagner Gomes, valendo-se de uma frase do deputado Clodovil à revista IstoÉ/Gente, jogou no ar a pergunta do Quem Tem Razão? Clodovil, disse o seguinte:

-… Hoje em dia, qualquer vagabunda que seja amante de alguém que tenha poder vira estrela de televisão.

Wagner Gomes, em interpretação livre do fraseado clodovilesco, indagou a seus milhares de ouvintes:

-Mônica Veloso é uma aproveitadora ou uma mulher de respeito?

Paul, amigo, inspirador e inspirado pelo célebre Bambu, ligado na Jornal do Commercio enquanto dirigia o carro pela Boa Viagem, quedou-se pasmo ao ouvir as respostas. Pareceu-lhe que 100% das respostas teriam sido do mesmo teor:

– Ela é uma mulher de respeito…

Vaticínio esse sempre acompanhado de duras análises:

-… e posar nua depois não é problema algum, feio é roubar… ruim é a corrupção, é inventar vaca que não existe… ela tá certa, errado tá ele…

Mas Paul enganou-se, parcialmente. Ouviu apenas a segunda parte da enquete, a que deu absoluta maioria de votos a Mônica Veloso. No primeiro bloco a coisa foi difícil para ela, amplamente derrotada, com a expressão sacada por Clodovil freqüentando o imaginário e o dial.

Ao final, ao que parece, empate técnico entre a tese clodovilesca e a respeitabilidade.

A inexplicável ausência de Mônica nas bancas também foi ao ar na Super Manhã. O correspondente em Brasília, Romualdo de Souza, viu-se acionado no plantão. E lépido informou:

-… tem muita gente comprando, mas ainda tem revista nas bancas. O movimento é grande, mas não acredito que seja nada que atrapalhe a distribuição aí no Recife…

A Rádio Jornal do Commercio certamente prosseguirá atenta aos eventos. Radiouvintes, os apenas curiosos ou manuseadores em geral seguem no aguardo.’

 

COMUNICAÇÃO CORPORATIVA
Paulo Nassar

Uma bolsa na história, 13/10

‘A Louis Vuitton, marca de luxo francesa, veiculou na renomada revista The Economist, do último 29 de setembro, um anúncio em que a principal estrela é Mikhail Gorbachev, o todo poderoso da extinta União Soviética, um dos principais responsáveis pelo fim da Guerra Fria, e que provocou também a derrubada do Muro de Berlim. A principal mensagem de texto diz que ´A journey brings us face to face with ourselves´. A frase está alinhada com a fotografia do anúncio que mostra o ex-mandatário comunista voltando a um pedaço ainda conservado do Muro de Berlim, de frente com a sua própria história, sentado no banco de trás de um carro, e sobre esse banco, de forma natural, companheira desta volta, está ali uma mala de mão da Louis Vuitton.

No anúncio, Gorbachev volta a um fragmento fundamental de sua história, e a narrativa deste encontro com o presente de seu passado incorporou quase que casualmente a maleta da marca cobiçada. É claro, que a retórica pretendida neste caso é a da leveza, do ´estar, sem estar´. Para quem não conhece a marca Louis Vuitton, a sua inserção no relato pretendido pelo anúncio é tão natural que a cobiçada maleta corre o risco de fazer apenas parte de mais uma cena de vida. Para quem conhece e compra os produtos da Vuitton, o anúncio provoca identificações, afinal o leitor de The Economist se insere no perfil de quem não é um simples carregador de qualquer mala. Ele também como Gorbachev é protagonista de jornadas.

Descrevo o anúncio da Louis Vuitton para mostrar que as empresas estão mais contadoras de histórias e colecionadoras de memórias. Isto com objetivo de marcar presença, se fazer notadas, em um mundo que deixou de gostar dos anúncios tradicionais, explícitos e interesseiros. Assim, a comunicação empresarial se torna uma incansável militante e defensora de causas. Bandeiras de todas as cores não faltam. A indústria do publieditorial, dos cadernos especiais na mídia impressa, faz parte dessa febre empresarial por causas que legitimem a existência das empresas, as suas bondades e as suas sujeiras.

Os comunicadores, os veículos de comunicação e as agências sabem que os consumidores usam os seus controles remotos para fugir dos apelos tradicionais de vendas. Com um click esses consumidores ariscos navegam de um conteúdo para outro conteúdo. Além do controle remoto, eles dispõem de outras tecnologias que lhes oferecem apenas o conteúdo sob demanda, limpo das mensagens publicitárias.

Diante de tantas ofertas, os consumidores se dispersam por um universo de possibilidades de conteúdos, que deixam os comunicadores empresariais inseguros quanto ao retorno de suas ações de comunicação mercadológica e institucional. Todos sabem que diante de um consumidor escondido dentro de tantos casulos midiáticos corre-se o risco de se falar para ninguém, quando chega à hora do intervalo comercial costumeiro, vendido a peso de ouro.

Diante disso, além do merchandising tradicional e das ações de patrocínio, o que se faz é inserir – como a Louis Vuitton fez em seu anúncio – marcas, produtos, personagens e atitudes empresariais dentro de histórias, que se verdadeiras, melhor ainda.

No filme O Náufrago, Tom Hanks, que é gerente da FedEx, empresa norte-americana de transporte expresso de objetos e documentos, dialoga em um determinado momento da ficção com uma raquete de tênis da marca Wilson. Na atualidade, marcas e produtos são personagens de filmes, novelas, séries e programas de televisão, da mesma maneira que são protagonistas em nosso cotidiano.

O importante é lembrarmos que as ações de comunicação empresarial ficaram mais inteligentes e mais intelectualizadas e sutis, quase subliminares. Diante disso, qual será o próximo movimento de defesa de um consumidor, inundado de tecnologia de comunicação interativa e colaborativa, cioso de seus direitos e de sua privacidade e refratário às manipulações?

Paulo Nassar é professor da Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (ABERJE). Autor de inúmeros livros, entre eles O que é Comunicação Empresarial, A Comunicação da Pequena Empresa, e Tudo é Comunicação.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

Agência Carta Maior

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