Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

The New York Times processa o
Departamento de Defesa dos EUA


Leia abaixo os textos de terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Globo


Terça-feira, 28 de fevereiro de 2006


NT TIMES vs. BUSH
O Globo


‘NYT’ processa Departamento de Defesa


‘NOVA YORK. O ‘New York Times’ abriu ontem um processo contra o Departamento de Defesa dos EUA exigindo a entrega de documentos sobre um programa de espionagem da Agência Nacional de Segurança.


O jornal quer uma série de documentos, inclusive memorandos internos e e-mails sobre o programa de escuta telefone sem aprovação judicial. Também está em busca de nomes ou grupos identificados pelo programa.


Em dezembro, o ‘Times’ denunciou que a Agência de Segurança Nacional começara a interceptar comunicações internas que acreditava estarem ligadas à al-Qaeda. A reportagem renovou as críticas ao modo como o presidente George W. Bush lidava com sua guerra contra o terrorismo.


Bush considerou a revelação do jornal um ‘ato vergonhoso’ e o Departamento de Justiça abriu uma investigação sobre o vazamento da informação.


O jornal pedira os documentos com base na Lei de Liberdade de Informação, e agora abriu o processo dizendo-se insatisfeito com a resposta do Pentágono de que seu pedido estava sendo ‘processado o mais rapidamente possível’. O Departamento de Defesa não respondeu imediatamente ao processo.’


MEMÓRIA / RUBEM BRAGA
Luiz Garcia


Magra terça-feira


‘Bom assunto para terça-feira de carnaval é Rubem Braga. Logo se dirá por quê – e, dependendo da boa vontade dos amigos, pode colar ou não.


Rubem era um dos que, na década de 50 e nas seguintes, tinham o ofício de cronista de jornal. Ele, Carlos Drummond, Antônio Maria, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, depois José Carlos de Oliveira. Millôr ainda se concentrava nas páginas de humor de ‘O Cruzeiro’, e me perdoe quem esqueci.


Cronistas falavam sobre o que lhes dava na telha: amor, costumes, farsantes, mulheres – muitas e lindas (as feias que aceitassem as desculpas do Vinicius) – mas o carnaval não era, com exceções que não recordo, a praia da maioria. Especialmente do Braga.


Por que lembrá-lo exatamente hoje? Ora, porque ele inventou a crônica da falta de assunto. Encarava a página em branco (para os mais novos, página é o que hoje chamamos de tela) e partia cavalgando em todas as direções, aparentemente sem rumo nem propósito. Mas sempre chegava ao fim do espaço determinado, com arte e graça.


Pois aqui estou, escrevendo para a Terça-Feira Gorda (assim a chamavam) em busca de uma fuga não muito desafinada à data magna da alegria carioca. E só me ocorre lembrar o Rubem, amigo de meu pai, mestre de, quando necessário, escrever sobre coisa nenhuma – e fazê-lo com a boa mecânica das palavras e a bela arte das emoções de um grande humorista triste.


Para encher lingüiça, uma historinha: Rubem tinha má dicção, no que se parecia com o Castelinho (o Castelo Branco que durante anos foi o maior nome da crônica política nacional). Ambos falavam mais para dentro do que para fora. Um dia, garoto ainda, vi-os num jantar, sentados a metros de distância um do outro: dialogaram horas, e quase ninguém entendia patavina. Certamente disseram coisas de alta relevância – mas, para a platéia hipnotizada, era como se fosse uma conversa de fanhos (suponho que não seja politicamente incorreto, mas sempre ouvi dizer que só fanho entende fanho; com a voz enrolada e para dentro dos dois jornalistas, decerto era igual).


A sala toda perdeu uma conversa arguta e espirituosa, mas todos a acompanharam fascinados. Depois, um e outro alegaram que tinham pescado tudo. Mentira: poderia ter sido ali revelada e confirmada a verdadeira razão da renúncia de Jânio Quadros (de quem Castelinho fora secretário e Rubem embaixador em Marrocos) e ninguém pescou uma traíra que fosse.


Enfim, Rubem – e os outros daquele tempo, qualquer um escolha seu preferido – foi mestre daquilo que naquele tempo tinha o nome de crônica (sem mais nada: crônica social já era outra história). Hoje, tudo é artigo. Muitas vezes, envergonhados pastiches da arte de escrever sem assunto.


Como o presente texto.’


INTERNET
Suzana Velasco


Caiu na rede…


‘Vontade de ler ‘Dom Quixote’, de Miguel de Cervantes? Ou melhor, ‘Don Quijote de La Mancha’, no original, em espanhol? Quem sabe ‘Hamlet’ ou ‘A tempestade’, de William Shakespeare, em inglês mesmo ou traduzido para o português? Que tal um entre mais de 200 textos de Machado de Assis? Pouca gente sabe, mas qualquer pessoa tem livre acesso a – por enquanto – 11.265 textos, além de 3.917 imagens, 115 músicas e 19 vídeos, no portal de internet www.dominiopublico.gov.br, que já atingiu uma média de 3.430.132 navegações por mês.


O site, criado em novembro de 2004 pela Secretaria de Educação à Distância do Ministério da Educação (MEC), põe à disposição na internet obras que estão em domínio público, ou seja, que podem ser divulgadas mesmo sem a permissão do autor ou de seus descendentes, e obras que tenham sido autorizadas por seus autores.


O portal nasceu com 500 textos literários nacionais, cedidos pela Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro, vinculada à Universidade de São Paulo, e pela Fundação Biblioteca Nacional, vinculada ao Ministério da Cultura. São parcerias como essas que vêm possibilitando que se cumpra a meta de acrescentar mil novas obras por mês. Em troca, o MEC pode auxiliar instituições na digitalização de seus arquivos, como fez com a editora da Unesp.


– Há hoje um processo de licenciamento via internet, pela organização Creative Commons – conta Espártaco Coelho, diretor do departamento de infra-estrutura tecnológica da secretaria. – Ali um autor vivo pode gerar uma licença para que sua obra seja divulgada.


Gilberto Gil pôs canção à disposição dos internautas


A legislação brasileira determina que o domínio público se dá 70 anos após a morte do autor. Mas qualquer um pode divulgar seu texto, música ou imagem, mesmo que imponha restrições. Coelho cita o caso do cantor e ministro da Cultura, Gilberto Gil, que pôs à disposição sua música ‘Oslodum’, desde que ela não tenha uso comercial. Já a escritora Lenira Almeida Heck cedeu especificamente ao site dois livros infantis, com a restrição de que eles não possam ser impressos pelo internauta.


– Ela quer desativar esses textos depois de seis meses e saber quantos acessos os livros tiveram – conta Coelho.


Num momento em que as músicas em MP3 se espalham sem licença pela internet, é natural que o foco principal do site sejam os textos. Entre algo de blues, jazz e música clássica, ele inclui as categorias militar, natalina e regional – esta última com músicas de Israel, Polônia, México e até a alemã ‘O, Tannenbaum’ de Richard Wagner, curiosamente incluída nessa classificação.


Já os textos – em 15 idiomas, entre eles finlandês, norueguês, latim e até esperanto – vão de 7.293 obras literárias a legislação, passando por 93 partituras (Brahms, Chopin, Debussy, Mozart, Beethoven, Rachmaninov, Liszt, Bach…) e textos de religião, História e filosofia. Entre as imagens há fotografias, principalmente de Marc Ferrez, ilustrações, mapas e pinturas, sobretudo telas de Van Gogh e Leonardo da Vinci – com a restrição de uso não-comercial, apenas educativo, exigida pelos museus. E os vídeos são sobretudo passeios virtuais por exposições, como a de Picasso na Oca, em São Paulo, e museus, como o British Museum, em Londres.


Coelho diz que agora pretende expandir a função educacional do portal.


– A partir do segundo semestre devemos veicular o site entre os programas do canal TV Escola ( também do MEC), como referência de pesquisa bibliográfica. Queremos fazer a ligação do conteúdo do vídeo com o acervo de nossas obras cadastradas.


Além do Domínio Público, qualquer um pode consultar ainda textos acadêmicos em dois outros sites: no Portal de Periódicos da Capes, com 9.500 periódicos, e no Portal de Acesso Livre, com 1.050 títulos nacionais e internacionais, além de 175 mil resumos de dissertações e teses defendidas desde 1987.’


CHINA
Editorial


Questão ética


‘As autoridades comunistas de Pequim têm um argumento fulminante contra as críticas que lhes costumam fazer governos e organizações ocidentais, em questões como abertura política e respeito aos direitos humanos: as colossais dimensões do mercado consumidor da China, alvo da cobiça irrefreável de empresas do mundo inteiro, que se mostram dispostas a fazer todas as concessões e a abrir mão de todos os princípios para assegurar uma fatia do bolo chinês.


É lamentável que assim seja: as pressões coletivas das grandes democracias do Ocidente, e de seu mundo empresarial, são a maior esperança, senão a única, de que os chineses façam na esfera política concessões semelhantes às que consentiram em fazer para ingressar na Organização Mundial de Comércio.


Mas o que se verifica no Ocidente é a adoção de uma atitude medrosa que espelha a ambivalência dos dirigentes chineses. Do lado de lá, eles parecem acreditar na possibilidade de abrir gradual e indefinidamente a economia num ambiente político hermeticamente fechado, com primazia absoluta do partido e do pensamento únicos e nenhuma tolerância com a dissidência. Do lado de cá, Europa e EUA cobram da boca para fora liberdades democráticas e respeito aos direitos humanos ao mesmo tempo em que, hipocritamente, abrem mão de sagrados princípios democráticos para conquistar a boa vontade de Pequim.


E a China, sem recuar um passo, dá lições do mais crasso pragmatismo estratégico em vez de assimilar lições de tolerância e democracia. Recentemente, empresas de internet que deram novo sentido ao conceito de liberdade de informação, como Google, Yahoo e Microsoft, renunciaram à sua integridade filosófica em nome da filosofia do lucro, autocensurando-se. Na nova versão do Google baseada na China, o pesquisador interessado na independência do Tibete lerá uma mensagem dizendo que ‘em respeito a leis e políticas locais, partes do resultado não aparecem’. Não há melhor exemplo de conversão da mentalidade ocidental à visão pragmática chinesa de que a busca do lucro é um valor concreto e mensurável, ante o qual todos os princípios se desmancham no ar.’


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 28 de fevereiro de 2006


GUERRA DAS CHARGES
Bernardo Carvalho


Com o rabo entre as pernas


‘A liberdade de expressão garante, em princípio, até ao mais completo idiota, o direito de se manifestar. Você pode achar que é o caso deste colunista. Você pode se irritar, recorrer à Justiça no caso de calúnia ou difamação, mas censurar não está entre as suas opções. E isso é fundamental. É claro que há formas veladas e indiretas (econômicas, por exemplo) de controle dessa liberdade (o jornal pode publicar o idiota X e não o Y, dependendo dos seus interesses). Mas, se não viver num país como a China, o idiota Y sempre poderá recorrer ao seu blog para manifestar as suas opiniões, por mais idiotas que sejam.


Entre as reações na mídia ocidental às manifestações violentas contra as charges que representavam o profeta Muhammad, mais de um escritor ou intelectual acusou o Ocidente de se servir da liberdade de expressão segundo um princípio de dois pesos e duas medidas. Curiosamente, um desses autores, ao mesmo tempo em que condenava as charges, para ele indefensáveis, defendia o direito incontestável à liberdade de expressão de uma obra como ‘Os Versos Satânicos’, de Salman Rushdie, por se tratar de literatura. Ou seja, a arte, por ser arte, deveria gozar de liberdade irrestrita de expressão. Já a charge, por ser charge, deveria estar submetida a critérios mais relativos.


O raciocínio reproduzia um preconceito comum -e uma idiotia. É lógico que ninguém de bom senso confunde uma charge com literatura. Mas o que é literatura para mim pode não ser para o autor do artigo. E é justamente por causa disso que não cabe distinguir entre uma charge e uma obra de arte, nem entre o que é de mau ou de bom gosto, quando o princípio é o da liberdade de expressão.


Você pode, por exemplo, considerar que a obra do Marquês de Sade é ofensiva e de mau gosto, ou que nem é literatura (e, de fato, mesmo na França do final dos anos 50, o editor Jean-Jacques Pauvert foi condenado judicialmente por publicá-la). Reconhecida como literatura, entretanto, a obra de Sade depende tanto do direito à blasfêmia quanto os filmes de Buñuel e os de Almodóvar. Depois do caso das charges, porém, ninguém mais se atreve a fazer o elogio da blasfêmia (do direito de exprimir o que as igrejas condenam como blasfêmia), embora até outro dia essa fosse uma das forças das artes e da literatura ocidentais.


Se amanhã eu resolver fundar uma igreja, o que me é assegurado pelo direito à liberdade de culto, e instituir que eu sou o profeta e que o meu nome não pode ser pronunciado em vão, ninguém, além dos fiéis, vai parar de me chamar pelo nome achando que comete uma blasfêmia. Mas só até a minha igreja congregar milhões de crentes ao redor do mundo, alguns prontos para matar quem abrir a boca para pronunciar o meu nome. Nesse caso, o que vai determinar o que é blasfêmia aos ímpios (aos que não estão nem aí para eu ser ou não o profeta) não é nenhum respeito pelo culto alheio, é o medo. Basta retroceder um pouco na história (e o Ocidente tem o exemplo inesquecível da Inquisição) para entender que, quando querem se impor como absolutas (e, em geral, é essa a sua vocação), as religiões recorrem ao medo.


Numa democracia laica, em princípio, da mesma forma que você deve respeitar e se submeter às regras impostas a todos os que entram numa igreja, numa mesquita, num templo budista ou numa sinagoga, não é obrigado a se submeter a nenhuma dessas regras fora dos âmbitos aos quais elas estão circunscritas, por lei e por direito. Além disso, nem é preciso lembrar, como outros já fizeram, que há uma diferença fundamental entre as palavras e os atos, entre o conflito de idéias e a ameaça à integridade física do indivíduo, entre ser acusado de blasfemar e ser agredido fisicamente ou até executado por ter blasfemado. Isso é o óbvio (ou era). Para além do óbvio, resta a reação do Ocidente, encurralado entre o medo e a má-fé.


Meios de comunicação como a CNN optaram por não reproduzir as charges, mesmo depois de elas já terem se tornado, por força das circunstâncias, fatos jornalísticos. Seria simplesmente humano se tivessem pelo menos a coragem de dizer: nós temos medo, nós não mostramos as charges, porque estamos com medo, em vez de apelar para algum subterfúgio, em nome da conciliação. A maior ameaça não vem de fora. Vem do próprio Ocidente. Daqueles que esperam há anos um pretexto para poder banir tudo o que os incomoda, sob o rótulo de blasfêmia. Nesse sentido, os fundamentalistas de todos os cultos encontraram um grande aliado no politicamente correto.


É verdade que uma justiça de dois pesos e duas medidas é prática regida pelo poder do mais forte, a favor das potências ocidentais, contra a periferia, os invadidos e os explorados, incluindo aí as populações de países de maioria muçulmana controlados por governos corruptos, autoritários e manipuladores, muitos deles aliados dessas mesmas potências. Muito da violência por conta das charges veio de uma reação deslocada e desfocada a esse estado de coisas. Mas é preciso não deslocar e desfocar também as reações no Ocidente. É preciso não começar a dar tiros nos pés. É melhor lutar contra a injustiça e a hipocrisia no Ocidente enquanto isso ainda é possível do que se curvar à evangelização do obscurantismo, ao qual muita gente parece pronta a se converter, de braços abertos ou com o rabo entre as pernas.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo vai à Justiça por Carnaval na internet


‘A Globo decidiu entrar na Justiça com ação contra o canal de TV do portal de internet Terra por suposta violação de seus direitos de imagens dos Carnavais do Rio de Janeiro e de São Paulo.


Para a Globo, o site do grupo Telefônica está veiculando vídeos das escolas de samba acima dos 3% a que tem direito por lei, para fins jornalísticos. Ontem, por exemplo, o vídeo do desfile da Beija-Flor na TV Terra durava 3 minutos. Segundo a Globo, o limite para desfiles do Rio, de 80 minutos, é 2min24s. Das escolas de SP, os vídeos chegavam a 3min04s (o limite é 1min57s).


A Globo informa que irá pedir na Justiça a execução de uma liminar de 2005. A liminar, da 18ª Vara Cível do Rio, proibiu o Terra de veicular mais de 3% dos desfiles (também de São Paulo), sob pena de multa diária de R$ 500 mil. Segundo a Globo, o portal está descumprindo a liminar desde o início deste mês. A emissora irá cobrar a multa de R$ 500 mil diários.


O Terra nega que esteja descumprindo a liminar. Carla Dazzi, diretora de comunicação, afirma que alguns vídeos têm três minutos porque há a inserção de vinhetas e de efeitos de câmera lenta. ‘O Terra continua cumprindo a liminar integralmente. E não filmamos os desfiles, só os bastidores.’


Como detentora dos direitos do Carnaval, só a Globo pode gravar na passarela. Demais veículos, como o Terra, só podem gerar imagens da concentração e dispersão.


OUTRO CANAL


Ofensiva 1 As emissoras começaram a veicular no final de semana campanha por uma TV aberta ‘100% grátis’. Assinada por todas as redes, a peça exalta os grandes eventos que elas transmitem de graça, como o Carnaval e a Copa do Mundo (ambos, da Globo).


Ofensiva 2 A campanha é um esforço pela TV digital. As redes temem que a eventual adoção do padrão europeu ou americano crie um novo modelo de televisão, com a entrada no negócio delas das poderosas telefônicas, que cobrariam por conteúdos audiovisuais distribuídos nas bandas de freqüências de UHF e VHF.


Flop 1 A Globo usou o Carnaval para fazer um teste de interatividade que oferecerá com a TV digital. Assinantes da Sky e da Net Digital puderam acessar, pelo controle remoto, informações como a ficha técnica das escolas e letras dos sambas, durante os desfiles.


Flop 2 No domingo, o recurso não funcionou com as primeiras escolas do Rio. A interatividade só apareceu na madrugada.


Ringue Cinegrafistas da Globo quase saíram no tapa com diretores da Salgueiro, domingo. A escola não os deixava circular na passarela entre suas alas. A Globo protestou: ‘A imagem fica comprometida’, disse a âncora Maria Beltrão. Depois que a escola cedeu, e os cinegrafistas puderam trabalhar livremente. A Globo não falou mais nada. E diretores da escola brigaram entre si por causa da TV.’


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 28 de fevereiro de 2006


NY TIMES vs. BUSH
O Estado de S. Paulo


‘Times’ processa o Pentágono por grampos


‘O jornal The New York Times abriu um processo contra o Departamento de Defesa dos EUA exigindo a entrega de documentos sobre o programa de espionagem doméstica da Agência de Segurança Nacional. O Times foi quem revelou em dezembro que a agência estava grampeando telefones e interceptando e-mails de pessoas suspeitas de terrorismo.’


MEMÓRIA / DENNIS WEAVER
O Estado de S. Paulo


Morre Dennis Weaver, o McCloud da série de TV


‘Morreu Dennis Weaver, que interpretou personagens como Chester Goode em Gunsmoke e o agente McCloud, aquele que andava a cavalo em plena cidade de Nova York na série de mesmo nome. Weaver tinha 81 anos e faleceu na sexta-feira de complicações decorrentes de um câncer, em Ridgway (Colorado), conforme divulgou ontem seu agente Julian Myers.


Weaver começou por baixo e, quando chegou a Hollywood, sobrevivia à custa de um emprego de entregador de flores. A sorte mudou quando lhe ofereceram o papel num novo seriado de TV, Gunsmoke, ambientado no Velho Oeste. A princípio, ele achou que o tipo proposto, Chester, não passava de um idiota. Resolveu enriquecê-lo com o que havia aprendido de interpretação no Actor’s Studio. O resultado foi um personagem um tanto mais matizado, e que teve a sorte de cair no gosto do público. Compreensivelmente, Weaver tinha orgulho de Chester e o comparava, em complexidade, ao Rei Lear, de Shakespeare, um evidente exagero.


Nos anos 1970, Weaver ficou famoso na pele de McCloud, na série de mesmo nome. Considerava este o grande personagem de sua vida. Era um policial originário do Novo México, que chocava os colegas nova-iorquinos pelo fato de andar a cavalo em meio ao trânsito alucinado da metrópole. Como resolvia todos os casos, tinham de tolerá-lo.


O ator trabalhou também em muitos filmes, sendo talvez o mais conhecido Encurralado, um trabalho de início de carreira de Steven Spielberg, de 1971. Nesse enredo kafkiano, Weaver vive o vendedor perseguido por um gigantesco caminhão, sem jamais saber por quê. Fez parte também do elenco do clássico A Marca da Maldade, de Orson Welles.’


MEMÓRIA / OTIS CHANDLER
O Estado de S. Paulo


Morre ex-diretor que mudou o ‘LA Times’


Morreu ontem, na Califórnia, aos 78 anos, Otis Chandler, herdeiro do jornal americano Los Angeles Times. Ele foi responsável por transformar o diário provinciano da família em uma das publicações mais respeitadas do mundo. Chandler pertencia à quarta geração de uma família de editores que comprou o LA Times em 1882. Ele tinha uma doença degenerativa do sistema nervoso, segundo informações do próprio jornal, que dirigiu de 1960 a 1980. AFP’


INTERNET
Steve Lohr


Internet expande o alcance das pequenas


‘A participação da tecnologia nas empresas ocorreu do topo para a base. Dos telefones aos computadores, as grandes empresas chegaram primeiro. Elas tinham meios de arcar com os custos das mais recentes inovações e acumularam os benefícios da maior eficiência, aumento das vendas e da expansão para mercados distantes. À medida que a tecnologia se espalhou e os custos caíram, as pequenas empresas se juntaram à parada, embora a partir da retaguarda.


Agora, este padrão está sendo desafiado por uma revolução da base para o topo, fomentada pela segunda onda de tecnologias na internet, como os serviços de busca fornecidos pelo Google, Yahoo e Microsoft e softwares pela web como serviços de utilidade.


Essa segunda geração de tecnologias na internet, juntamente com as primeiras ferramentas – como a própria web e o e-mail -, estão reduzindo drasticamente o custo da comunicação, encontrando coisas, distribuindo e recebendo serviços online. Isso representa um achatamento nos custos que põe as empresas de pequeno porte em pé de igualdade com as grandes, tornando mais fácil para as iniciantes inovarem, desestruturarem indústrias e até mesmo crescerem rapidamente.


O fenômeno é um grande passo para a democratização da tecnologia da informação. Sua marca vai além dos negócios, sobretudo no impacto social e cultural. Mesmo assim, parece que as pequenas empresas e o mercado que elas representam serão os mais afetados na economia como um todo.


ABAIXO DAS TOP 500


Uma das verdades de longa data é que, embora as pequenas empresas representem um enorme mercado – segundo dados do governo americano, empresas com menos de 500 funcionários respondem por metade da produção econômica e por 60% a 80% dos empregos do país -, é um mercado fragmentado e de difícil acesso. por isso as grandes empresas o evitavam. Mas a Salesforce.com, que fornece softwares de rastreamento e gerenciamento de clientes online, mostrou como prosperar vendendo primeiro para pequenas. ‘Nossa base é a geração de impulso da base para o topo. Usar a web reduz drasticamente o custo das vendas e dos serviços’, disse Phil Robinson, vice-presidente sênior de marketing.


Hoje, a empresa tem mais de 18 mil clientes e vendas superiores a US$ 300 milhões ao ano. Seu único problema parece ser alguns aborrecimentos, como quando a rede da empresa caiu duas vezes nos últimos dois meses. Muitas empresas iniciantes estão seguindo a Salesforce, oferecendo software como um serviço online para chegar até as empresas menores.


A IBM ganha a vida cuidando das necessidades da sua clientela formada pelas 500 maiores da revista Fortune. Mas, no ano passado, começou a oferecer serviços de software baseados na web, como filtragem de spam e de vírus, de início cobrando menos de US$ 2 mensais por funcionário.


‘Anos atrás, a IBM não podia penetrar nesse mercado’, disse James M. Corgel, gerente-geral de serviços para empresas de pequeno e médio porte. ‘Porém, à medida que automatizamos mais, podemos vender para o mercado das pequenas empresas.’


Estudantes de pequenas empresas têm freqüentemente observado que as mais economicamente significativas são as ‘gazelas’, pequenos negócios que se transformaram em dinâmicas empresas de rápido crescimento. As novas tecnologias baseadas na web poderão fomentar uma proliferação de gazelas, estimulando a criação de empregos e de riqueza na economia. ‘Em princípio, isto deverá suspender as barreiras para a entrada e o crescimento de pequenas empresas inovadoras’, disse Frederich M. Scherer, economista e professor da Universidade de Harvard.


Esse princípio tem sido amplamente praticado. Veja o exemplo da Bella Pictures, uma empresa de São Francisco com três anos de existência. Seu objetivo é transformar a empresa de fotos de casamento de um negócio local de qualidade irregular numa empresa nacional de alta qualidade e serviços personalizados. O crescimento tem sido rápido e, na última temporada de casamentos, de maio a outubro, a Bella fotografou 1,3 mil cerimônias.


Os 150 fotógrafos freelance e os 50 consultores da Bella em uma dezena de cidades estão conectados numa rede virtual. Todos os serviços, especificações, preferências da noiva e da mãe da noiva são lançados num programa de gerenciamento de relações com o cliente na Web.


A Bella divulga seu trabalho comprando palavras chaves como ‘fotografia de casamentos’ em mecanismos de busca como o Google e o Yahoo para trazer os clientes para seu site na internet, o bellapictures.com.


A Bella solicita fotógrafos em um quadro de avisos online, e os fotógrafos também apresentam seus portfólios pela rede. Todas as fotos são tiradas com câmeras digitais.


A tecnologia que sustenta a Bella, disse Tom Kramer, um dos fundadores da empresa, só se tornou disponível e acessível nos últimos anos. Softwares sofisticados de rastreamento de clientes e tarefas, disse ele, costumavam estar disponíveis somente como aplicativos de software de um milhão de dólares, com pesadas taxas anuais de manutenção.


Hoje, seu equivalente baseado na web é um serviço pago segundo o uso da Salesforce, que custa à Bella US$ 2 mil por mês. As buscas na internet, listagens online e os álbuns digitais para distribuição das fotografias, acrescentou ele, são todas ferramentas cruciais para a Bella. ‘Nosso negócio teria sido impossível há cinco anos’, observa Kramer.’


TELEVISÃO
Luiz Carlos Merten e Cristina Padiglione


Contratação cria clima no SBT


‘Não é que Ana Paula Padrão e Luiz Gonzaga Mineiro, o diretor de Jornalismo do SBT, não tenham apreciado a contratação de Carlos Nascimento, como uns e outros vêm dizendo por aí. Isso não. Mas o modo como a notícia chegou aos ouvidos da dupla que até então dominava o departamento na Anhangüera está longe de ser a mais elegante. É que sempre se espera mais amabilidade de alguém como Silvio Santos, homem capaz de todos os afagos quando se trata de seduzir alguém a trocar de canal, como aconteceu com Ana Paula e agora, com Nascimento. O patrão é assim mesmo, na linha ‘a mão que afaga é a mesma que apedreja’. Não mais que de repente ele sente necessidade de mostrar quem é que manda.


Foi assim com Adriane Galisteu. De tanto reivindicar investimento em seu programa e uma vaga na faixa nobre, a loira foi punida com as noites de sábado e agora deve voltar para a ingrata grade diária vespertina.


É o modo Silvio Santos de administrar: sempre jogando uns contra os outros. Mas, se Ana Paula e Mineiro foram quase surpreendidos com a contratação de Nascimento, o que vale agora é a esperança de melhor aproveitamento dos investimentos na área.


Num primeiro momento, Nascimento passa a comandar o Jornal do SBT, no lugar de Hermano Henning – que muda seu fuso horário e fará o jornal da manhã. Enquanto isso, dois novos projetos prometem tomar forma a médio prazo: uma revista nos moldes do Fantástico para as noites de domingo e um noticiário regional em São Paulo. A praça paulista é hoje a única, dentro da rede que forma o SBT, que não conta com jornal regional. Não é pouca coisa. Esta demanda tem sido atendida pelos jornais de rede, comprometendo seu ritmo. Não é o ideal. Ainda mais em ano de eleições.’


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