Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Thélio Magalhães

‘O SBT foi condenado em primeira instância a pagar indenização por danos morais a Abrão Couri e a Silvia Cristina Parisi Couri, que teriam sido expostos a situação ‘vexatória e humilhante’ numa pegadinha levada ao ar durante 30 segundos no programa Domingo Legal, do apresentador Gugu Liberato, em 16 de novembro de 1997. O valor da indenização deverá ser equivalente ao preço de um minuto de veiculação publicitária no programa à época da exibição, acrescido de juros e de correção. A emissora de Sílvio Santos deverá pagar ainda as custas do processo e os honorários do advogado da parte contrária, arbitrado em 20% do valor da condenação. O SBT já recorreu ao Tribunal de Justiça e aguarda nova decisão.’



SHOWS DE CALOUROS
Keila Jimenez

‘‘Pai dos calouros’, Remo Menezes gongou Raul Gil’, copyright O Estado de S. Paulo, 20/06/04

‘Ele tem 80 anos, quase 50 deles dedicados aos shows de calouros. A história do veterano da TV Remo Menezes – o pai dos calouros, como é conhecido no meio – se mistura com gongadas, troféus abacaxis, jurados, testes e maestros. Começou como calouro na rádio Cultura em 1941, onde chegou várias vezes à final do concurso mais popular da época, o Peneira Rhodine, vencendo na categoria popular. De tanto freqüentar esses programas, acabou indo trabalhar nos bastidores deles. Foi produtor, coordenador, diretor, jurado, uma espécie de faz-tudo dessas atrações. Participou das produções dos primeiros shows de calouros da TV, como o Revelações Cultura, da TV Cultura, e Calouros Pinga Fogo, da TV Tupi.

Entre todos os animadores dos programas de calouros, o único com quem não trabalhou foi Chacrinha. Remo foi braço direito de Bolinha, Raul Gil e Silvio Santos em suas atrações de auditório. De Silvio, foi braço direito e esquerdo. Começou a coordenar programas de calouros com SS em 1969, a convite do amigo e diretor de TV Luciano Callegari.

‘Acompanhei o Silvio desde que ele comandava o Campeonato de Calouros, na Globo. Fui para o SBT com ele e fiquei durante 13 anos como coordenador do Show do Gongo, que depois virou Show de Calouros’, conta Remo. ‘Eu trabalhava na seleção dos candidatos, ouvia todos e colocava em suas fichas uma nota, de 0 a 10. O Silvio também pedia para colocar na ficha dos candidatos ruins a sigla CG , que queria dizer ‘Com o Gongo’. No final eu sabia pelas fichas quem era bom e quem era terrível (risos)’, continua.

‘Selecionávamos uns 40 participantes. Desses, 20 eram CG. O Silvio gostava de brincar com isso, dizia que dava audiência. Acho que ele gostava mais dos calouros desafinados do que dos bons, se divertia. Às vezes me chamava no palco e perguntava: ‘O que aconteceu com esse calouro ai??’ Eu olhava e dizia: ‘Sei lá, patrão, ele foi bem no ensaio’ (risos)’.

Remo acredita que Silvio Santos deu certo porque era exigente desde seu começo na TV, mas também tinha um grande senso de humor. ‘Pior era quando ele esquecia as fichas dos candidatos no bolso e não chamava todos. Dava até briga nos bastidores.’

Com Bolinha, ficou pouco tempo, mas o suficiente para colecionar pérolas.

‘Uma vez ele me pediu para selecionar um monte de calouros ruins e colocar todos para cantar a mesma música, Coração de Papel, do Sérgio Reis’, conta.

‘Os caras entravam, começavam a cantar e o Bolinha falava: ‘Ah, não, de novo essa música?’. Todos foram gongados naquele dia (risos).’

Com Raul Gil as lembranças também são boas. ‘Conheci o Raul quando ele era calouro. Fiz a inscrição dele em um programa de calouros do rádio, acho que ele foi gongado umas 10 vezes (risos)’, conta Remo. Raul confirma, mas diminui as vezes que foi reprovado. ‘O Remo é uma pessoa muito querida, entende tudo de calouros, ele fez a minha inscrição em um programa… Péra aí (Raul faz pausa) Acho que ele me gongou também. Fui reprovado umas três vezes em um programa de rádio, na época, eu cantava bolero. Alguééém como túúúú…’, cantarola o apresentador.’

‘Depois acabei indo trabalhar com o Raul, já animador, no Caminhos da Fama, na Record. Como essa vida dá voltas’, completa Menezes.

Mesmo sem conhecer uma só nota musical, Remo conta que ficou com o ouvido afinado a ponto de o maestro Zezinho – famoso pelo Qual É a Música?- consultá-lo durante os testes dos calouros. Tanto know how ajudou a revelar talentos de fato. Foi pelas mãos de Remo Menezes que Jair Rodrigues foi cantar em um dos programas de calouros mais famosos da época, o do Antônio Aguiar. ‘Ele cantava bolero na época, levei ele para a Rádio Cultura e logo ele estourou.’ Mas outros calouros famosos passaram pela seleção dele:

Carmem Silva, Angelo Máximo. ‘Silvio Brito não era calouro, mas o levamos no programa Silvio Santos para lançar o seu primeiro disco, em um quadro que dava oportunidade para gente nova’, conta ele.

Desempregado e gongado – Dos calouros que não vingaram, Remo reúne histórias como a de um cara que perdeu o emprego porque faltou no trabalho para ir cantar em um programa. O rapaz processou a empresa e Remo foi chamado para testemunhar na Justiça que o trabalhador de fato foi cantar na TV.

Detalhista com datas e nomes, Remo conta que desde seu início na TV se preocupava com a memória do veículo, que acabou sendo vítima do descaso. O pai dos calouros tinha o costume de fazer cópia dos programas em que trabalhava, da seleção dos calouros, dos telefones de contato. Levava todo esse material para sua casa. Graças a esse hábito, o Show de Calouros, do SBT, sobreviveu às terríveis enchentes na sede na emissora, na época instalada na Vila Guilherme, zona norte de São Paulo. ‘A água entrou e arrasou tudo nas nossas salas. Não sobrou nada’, conta ele. ‘Essa minha mania também ajudou muito quando as emissoras enfrentaram incêndios. Com as minhas cópias dava para recuperar muita coisa e tocar o barco para frente.’

Remo se aposentou e saiu do SBT quando a sede da rede mudou para a Anhangüera. ‘Ficou muito longe para mim. O Silvio queria que eu ficasse, insistiu , mas não dava.’

Sangue – Apesar de ter atuado tanto tempo nos bastidores dos programas musicais, Remo não desistiu da carreira de cantor, continua até hoje cantando em um grupo de seresta da terceira idade. Afinal, o gogó afinado está no sangue. Os Menezes formam uma geração de calouros: os filhos de Remo – uma delas até participou dos programas de Silvio Santos – foram calouros e hoje são cantores da noite. Sua neta, Ana Luiza, foi caloura também, escolhida para a primeira edição do programa Fama, da Globo.

Como cantor, Remo não levou abacaxis, gongadas, nem ganhou grandes prêmios em dinheiro. Um de seus maiores troféus está na parede de sua casa, simples, na zona sul de São Paulo: um quadro em que aparece cantando em um dos primeiros shows de calouros da TV. Pesa também a favor da história da TV sua memória, preciosa e detalhista, de um tempo em que calouros eram calouros de fato. E guarda, como um disco de ouro, um álbum de fotografias em que aparece fazendo o que mais gostava: ajudar seu antigo patrão, Silvio Santos.

Para o pai dos calouros, isso já basta. É melhor do que ir para o trono.’



PROGRAMA HEBE
Franthiesco Ballerini

‘Hebe encarna Branca de Neve sem os anões’, copyright O Estado de S. Paulo, 20/06/04

‘Em tempos de concorrência cada vez mais acirrada com as novelas do horário nobre da Globo e com os humorísticos que as seguem, qualquer pontinho extra que Silvio Santos consiga faturar para ficar menos distante da emissora líder já é lucro. Foi por isso que o Homem do Baú aprovou a idéia da diretora do Programa Hebe, Simone Lopes, de tornar mensal os humorísticos protagonizados pela loira e seus convidados. ‘Queremos interromper a rotina do Programa Hebe uma vez por mês e exibir, no lugar, um humorístico baseado em uma história clássica’, explica Simone.

A primeira experiência foi em setembro do ano passado com Romeu e Julieta, comédia baseada no clássico de Shakespeare protagonizada por Hebe e Golias.

Ambos já haviam brincado com o conto há 50 anos na TV Record. O humorístico, que entrou no lugar do Programa Hebe dia 26 daquele mês, rendeu 17 pontos de audiência, 7 a mais que a média normalmente alcançada pela atração. ‘Eu adoro fazer estas brincadeiras. Sai da rotina. Eu borro a maquiagem só de ler o roteiro’, comenta Hebe.

Na última quarta, foi gravado o programa Branca de Neve e os Sete Peões, baseado no conto de fadas, mas totalmente satirizado pela loira. Para viver a personagem, recorreu a uma peruca morena, o que causou espanto geral no público presente nas gravações. ‘Eu já nem me lembrava de como eu ficava morena. E o pior é que eu já tive cabelos assim’, disse ela ao chegar ao Estúdio 1 do SBT, na Anhangüera.

Homenagem ao pai – E como a história se passa na Fazenda Feguinho (nome em homenagem ao pai de Hebe, Fego Camargo), em vez de anões, sete peões: Zangado (Ratinho), Dengoso (Eri Johnson), Soneca (Solimões), Atchim (Raul Gazolla), Feliz (Jair Rodrigues), Dunga (Reginaldo Rossi) e Mestre (Sérgio Reis), além dos personagens Xodaqui (Rionegro), Zorro (Juan Alba), Valdenor (Gésio Amadeu) e a bruxa Amanda (Lu Grimaldi).

‘Não dava para criar um Dunga para Reginaldo Rossi sem satirizar o conto. E o Dengoso, que tem o jeito afetado que só o Eri Johnson sabe fazer?’, comenta a diretora.

O humorístico está previsto para ir ao ar no dia 5 de julho – isso se Silvio Santos não mudar de idéia até lá, o que não é raro. Meu Cunhado, por exemplo, seriado que hoje registra médias de pelo menos 13 pontos de audiência – índice bom para os parâmetros da emissora -, ficou por dois anos na gaveta.

Aprovados por Hebe, os próximos humorísticos já estão sendo escritos por Magalhães Jr. Serão versões bem-humoradas de A Dama das Camélias, A Gata Borralheira e Noviça Rebelde. ‘Mas a presença do Golias é imprescindível.

Vamos esperar a melhora dele para gravarmos Dama das Camélias’, diz a apresentadora.

Hebe confessa que seu sonho seria fazer uma comédia em um convento, no qual ela faria uma freira ao lado das amigas Nair Belo e Lolita Rodrigues. ‘E eu faço questão que a Madre Superiora seja a Fernanda Montenegro. Já pensou ela dando uma bronca na gente?’, sugere Hebe.

Para este especial, no entanto, Hebe sabe que teria de contar com a improvável autorização da Globo para a liberação das duas atrizes.’