Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Thomas Friedman


‘É difícil não tomar nota de duas histórias contrastantes que vêm correndo lado a lado na última semana. Uma delas diz respeito aos protestos violentos desencadeados no mundo muçulmano por um relato publicado na ‘Newsweek’, segundo o qual interrogadores americanos de Guantánamo teriam profanado o Alcorão, atirando o livro no vaso sanitário. Apenas no Afeganistão, pelo menos 16 pessoas morreram em protestos antiamericanos ligados a essa notícia. Espero sinceramente que o artigo da ‘Newsweek’ seja incorreto, porque seria ultrajante se interrogadores americanos tivessem se comportado assim.


Dito isso, porém, nos mesmos jornais podemos ler as notícias mais recentes vindas do Iraque, onde homens-bomba baathistas e jihadistas mataram 400 muçulmanos iraquianos nos últimos 30 dias, em sua maioria civis xiitas ou curdos que faziam compras em feiras, acompanhavam enterros, iam à mesquita ou se ofereciam como voluntários para integrar a polícia.


No entanto esses assassinatos em massa -essa profanação e esse desmembramento de muçulmanos reais por outros muçulmanos- não motivaram uma única passeata de protesto em parte nenhuma do mundo muçulmano. E não li sobre uma única fatwa decretada por qualquer clérigo muçulmano fora do Iraque condenando esses assassinatos indiscriminados de xiitas e curdos iraquianos por esses homens-bomba jihadistas, muitos dos quais, segundo o ‘Washington Post’, estão vindo da Arábia Saudita.


O silêncio do mundo muçulmano em torno da profanação real de iraquianos, somado a seu ultraje diante da alegada profanação do Alcorão, traz à tona aquilo que enfrentamos em nossa tentativa de estabilizar o Iraque -e também revela qual é a única estratégia viável para seguirmos adiante.


O desafio que enfrentamos no Iraque é tão grande precisamente porque as transferências de poder que os EUA e seus aliados estão tentando arquitetar nesse país são tão profundas, em termos tanto religiosos quanto políticos.


Em termos religiosos, se você quiser saber como o mundo árabe sunita vê o fato de um xiita ser eleito para presidir o Iraque pela primeira vez na história, pense em como os brancos do Alabama teriam se sentido se um governador negro tivesse tomado posse nesse Estado em 1920. Alguns sunitas nem sequer vêem os xiitas como muçulmanos autênticos e são indiferentes a sua vitimização.


Ao mesmo tempo, politicamente falando, alguns regimes árabes preferem ver o caldo entornar no Iraque para que o processo de democratização não possa se estender a seus países.


É por esse motivo que seus jornais oficiais raramente descrevem os assassinatos de civis no Iraque como massacres ou atos de terror. Esses crimes geralmente são descritos, de maneira ‘higienizada’, como ‘resistência’ contra a ocupação.


É preciso que, dentro do Iraque, sunitas dignos de crédito sejam persuadidos a fazer parte do processo político e da redação da Constituição, desde que não tenham as mãos sujas de sangue da época de Saddam. E, fora do Iraque, a equipe de Bush precisa exigir que a Arábia Saudita e outros aliados-chave árabes denunciem e desacreditem o desprezível assassinato de muçulmanos por outros muçulmanos no Iraque.


A melhor maneira de respeitar e homenagear o Alcorão é viver segundo os valores de misericórdia e compaixão que ele prega.’



INTERNET


Marina Faleiros


‘Cuidado ao usar a internet: o chefe pode estar olhando ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 19/05/05


‘Usar o e-mail da empresa para fins pessoais – principalmente se o conteúdo for ofensivo ou pornográfico – pode ser o caminho mais rápido para uma demissão por justa causa. É o que indicou, esta semana, o Tribunal Superior do Trabalho, em decisão inédita que autoriza as empresas a rastrearem e lerem os e-mails corporativos de seus funcionários. A ação surgiu de uma disputa judicial do HSBC Seguros contra um funcionário, demitido por enviar pornografia com o e-mail da empresa. Fora do Brasil, outro caso famoso foi a demissão do presidente da Boeing, Harry Stonecipher, cujos e-mails foram interceptados também por terem conteúdo erótico.


Para Luiz Wever, sócio diretor da Ray & Berntson Brasil, que recruta executivos, as pessoas devem manter um e-mail pessoal para se comunicar com amigos e fazer isto em casa, nos momentos de lazer. ‘A empresa não pode estar vinculada com qualquer informação que possa denegrir sua imagem’, diz. Carlo Hauschil, diretor geral da Hewitt, consultoria de RH, afirma que os jovens são, principalmente, os que têm o hábito de utilizar internet de forma indevida no serviço. ‘É preciso verificar se tem algum tipo de assunto ou tema que extrapole para algo que prejudique a corporação’, alerta.


Para evitar problemas como o do HSBC e da Boeing e aumentar o foco no trabalho, é que Rodrigo Pimenta, diretor executivo da Madis Rodbel, fabricante de pontos eletrônicos, decidiu bloquear a abertura de alguns tipos de arquivos e impediu a entrada em sites com palavras restritas, além de sites de e-mails, Orkut e uso de MSN, programa de mensagens instantâneas da Microsoft. ‘Envolvi os funcionários num trabalho conjunto e chegamos à conclusão de que deveríamos ter um controle para que os funcionários tivessem maior produtividade’, conta. Segundo Pimenta, algumas pessoas chegavam a perder 30% do seu dia de trabalho com distrações do meio eletrônico. Agora, o acesso livre é permitido apenas depois do expediente.


Na Clássico Consultoria Contábil, o sócio Nivaldo Cleto leva a sério a questão do foco no trabalho e chega a incluir na lista de sites proibidos mais de 20 endereços por semana. ‘A internet é algo que fascina muito e comecei a perceber que as pessoas navegavam em sites com conteúdo totalmente fora da área de trabalho e no e-mail pessoal, às vezes, gastavam de três a quatro minutos por mensagem. Vi que perdia dinheiro e produtividade’.


As empresas, diz Paulo Kretly, gerente geral da Franklyn Covey Brasil, mais do que nunca querem funcionários que mostrem resultados. ‘Se a pessoa não tiver capacidade de decidir quando e que tipo de comunicação usar, se distrai e cai num ciclo de improdutividade’. Hauschil também considera a seleção essencial: ‘Quanto mais meios de comunicação temos, mais fácil e mais poluída ficam as informações, o que impõe uma capacidade seletiva maior’, diz.


Já Marcos Hashimoto, professor da Business School São Paulo na área de desenvolvimento organizacional, defende que as empresas devem, sim, liberar a internet e estabelecer uma relação de confiança com o funcionário, o que, por si só, minimizaria o uso da internet para fins pessoais. ‘Muitas vezes as idéias são inovadoras porque os funcionários têm contatos pessoais com o mundo exterior’. Para ele, proibir o livre acesso é nivelar funcionários por baixo. ‘É difícil estabelecer como a criatividade surge, mas quando a pessoa tem variedade de experiências e se desconecta da situação, é que uma idéia aparece’, diz. Hashimoto, no entanto, afirma que não há mal nenhum a companhia alertar um funcionário, caso ele faça uso indevido, por exemplo, do e-mail corporativo. ‘Mas elas precisam usar de forma madura ferramentas para vasculhar e-mails, como rastrear algumas palavras, porque senão também acaba virando uma caça às bruxas’, afirma.’



***


‘No MSN, 25% fazem fofoca de trabalho’, copyright O Estado de S. Paulo, 19/05/05


‘Uma pesquisa divulgada esta semana pela Akonix mostra que a utilização de programas de conversa instantânea, grande parte das vezes, é feita apenas para diversão, e não trabalho. O estudo, focado na Inglaterra, mostra que pelo menos 25% dos usuários os utilizam para fazer fofocas no trabalho e, entre jovens de 18 a 29 anos, 80% têm o programa para conversar com amigos e familiares durante o serviço.


No Brasil, a utilização destes softwares nas empresas também já é comum. ‘Mas este tipo de programa tem o mesmo poder de distração de um telefonema, ou até mais, porque, às vezes, a gente não tem limite para parar de conversar’, diz o assistente comercial Giancarlo Arena. Ele conta que aprendeu a se controlar depois que o departamento de informática da sua empresa detectou que ele usava durante muito tempo a internet. Seu chefe foi avisado: ‘Era tão rotineiro que não percebia. Meu superior me alertou e pediu que eu usassse menos, aí aprendi a me controlar’, diz.


Já Mariana Caló, estagiária da Produtora Profile, também acha que o MSN pode atrapalhar, mas consegue ignorar bem as conversas quando precisa. Além disso, ela cita a economia de pulsos telefônicos: ‘A empresa tem filial em São José do Rio Preto e me pedem para ficar conectada, pois é muito melhor para nos comunicarmos de forma mais barata’.


De acordo com Ricardo Moncayo, desenvolvedor da TCP do Brasil, o MSN nem sempre é aproveitado nas empresas como deveria. ‘É mais uma desculpa para que as pessoas tenham contato com seus amigos a qualquer momento’, diz. Hoje, ele acha que as conversas atrapalham, pois tem novas funções e muito trabalho. No entanto, ele diz que na área de informática há um momento em que é necessário um descanso. ‘É preciso se distrair e conversar com pessoas. Para isso, o MSN é muito bom’.’



SOFTWARE LIVRE


Renato Cruz


‘Software livre embala crescimento da Conectiva’, copyright O Estado de S. Paulo, 19/05/05


‘A Conectiva, maior empresa brasileira de Linux, reinaugurou esta semana seu escritório de São Paulo. Ele havia sido fechado depois do aperto forte nos cintos, que aconteceu antes de a empresa ser comprada pela francesa Mandrakesoft, hoje Mandriva, em fevereiro. ‘Foi realmente um movimento muito positivo para o software livre no Brasil’, afirmou o diretor-presidente da Conectiva, Jaques Rosenzvaig. ‘Trouxe investimentos ao País e abriu novos mercados.’ O Linux é o principal concorrente do Windows, da Microsoft.


A Conectiva tem cerca de 60 funcionários. ‘Um quinto já trabalha em projetos para o mercado internacional’, explicou o executivo. ‘Estamos alinhados à política governamental de exportação de tecnologia.’ A tendência é que aumente a venda de serviços de tecnologia para o exterior. Na Europa, a Mandriva tem 70 funcionários.


Ontem, o presidente mundial da Mandriva, François Bancilhon, foi palestrante no Congresso de Informática Pública (Conip), em São Paulo, onde explicou como se ganha dinheiro com software livre, que não exige pagamento de licenças e pode ser copiado e modificado pelo usuário. ‘As pessoas não precisam de caixas, mas de soluções’, afirmou o executivo. ‘Podemos oferecer preços que equivalem a um quarto ou um terço das soluções proprietárias (com pagamento de licenças) e oferecer mais flexibilidade.’


Hoje, somente 10% do faturamento da Mandriva correspondem a serviços. ‘Queremos mudar isto’, explicou Bancilhon. Na Conectiva, por outro lado, 70% da receita são serviços. ‘Este foi um dos motivos que nos levou a comprar a empresa’, afirmou o executivo. ‘Queremos aproveitar esta experiência.’


Mas por que a empresa francesa já usa o nome Mandriva e a Conectiva não? ‘Entre setembro e dezembro, iremos lançar uma nova versão de nosso produto, que irá se chamar Mandriva 2006, e unirá o que existe de melhor nas duas distribuições’, explicou o executivo francês. ‘A partir daí, tudo vai se chamar Mandriva.’


Bancilhon apontou que o mercado de software livre, assim como outras áreas na tecnologia da informação, está pronto para a consolidação. ‘Existem duas opções: consolidar ou ser consolidado’, disse o executivo. Por isso, a empresa estuda novas oportunidades de fusão na Europa e, principalmente, na Ásia, onde sua presença não é muito forte. ‘O mercado chinês é muito importante para nós’, explicou Bancilhon. ‘Esperamos anunciar pelo menos mais um negócio até o fim do ano.’ Juntas, a Mandriva e a Conectiva devem ter faturamento anual de US$ 10 milhões.


Rosenzvaig mostrou-se animado com o programa PC Conectado, onde computadores populares, com preço de até R$ 1,4 mil, receberão financiamento especial do governo, que exigiu o uso do software livre. ‘Devemos anunciar em breve acordos com os fabricantes.’’



Clarissa Oliveira


‘‘PC Conectado pode estimular pirataria’’, copyright O Estado de S. Paulo, 19/05/05


‘O PC Conectado, projeto de computador popular que faz parte do plano de inclusão digital do governo federal, tende a estimular a pirataria de software se for equipado apenas com o sistema operacional de código aberto Linux. A avaliação foi feita ontem pelo advogado André de Almeida, consultor jurídico da Business Software Alliance (BSA) e membro do Conselho Nacional de Combate à Pirataria do Governo Federal. Ao contestar a defesa do software livre adotada pelo governo federal, o especialista argumentou que uma parcela dos consumidores tende a buscar distribuidores ilegais para adquirir o Windows, software proprietário desenvolvido pela americana Microsoft.


Apesar de reconhecer que o uso do Linux representa uma redução no custo final do equipamento, Almeida sustentou que parte dos usuários estaria disposta a pagar mais pelo sistema da Microsoft. ‘Existe no governo uma política equivocada que dá prioridade a um sistema sobre o outro’, disse Almeida, durante o anúncio de um estudo sobre a evolução da pirataria no Brasil e no mundo. ‘O PC Conectado, da forma como está, vai incentivar a pirataria. Se os consumidores não tiverem opção na hora da compra eles podem buscar programas pirateados’, acrescentou o consultor.


Anunciado no ano passado pelo governo federal, o programa PC Conectado pretende facilitar a compra de computadores com acesso à internet pela população de baixa renda. De acordo com as regras anunciadas recentemente, os computadores que forem incluídos no programa também terão de rodar o sistema operacional Linux. No entanto, a Microsoft também apresentou uma proposta para equipar o micro com uma versão mais barata de seu sistema operacional Windows.


O presidente da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes), Jorge Sukarie Neto, também criticou a atitude do governo, argumentando que o consumidor deve ter a possibilidade de escolher qual plataforma é mais adequada às suas necessidades. ‘O software aberto tem de ser visto como mais uma alternativa’, disse. Ele contestou também a idéia de que uma campanha de adoção do software livre no Brasil seria a solução para reduzir a pirataria. Segundo ele, plataformas como o Linux devem ser vistas apenas como uma parte de uma política mais ampla para solucionar o problema.


O estudo anunciado ontem pela BSA mostrou que a pirataria voltou a crescer no Brasil, após ter atravessado um período de queda nos últimos anos. Os dados, coletados pelo IDC, mostraram que 64% dos softwares vendidos no País no final do ano passado eram piratas, em comparação a uma taxa de 61% registrada um ano antes.’



RÁDIO EM ALTA


Renato Cruz


‘Nos EUA, rádio digital revoluciona o mercado ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 19/05/05


‘Com quatro anos de operação, o rádio digital por assinatura, via satélite, começa a se tornar popular nos Estados Unidos. As empresas XM e Sirius competem com as tradicionais emissoras AM e FM. As mensalidades estão em cerca de US$ 13. A maior delas é a XM, com mais de 4 milhões de assinantes. Ela oferece 67 canais de música sem comerciais, 64 de esportes, entrevistas, notícias e entretenimento, e 21 de informações sobre o clima e o trânsito das principais áreas metropolitanas dos EUA. A empresa usa dois satélites geoestacionários fornecidos pela Boeing e pela Alcatel.


Com mais de 1 milhão de assinantes, a Sirius oferece 65 canais de música sem comerciais e mais 55 de notícias, entrevistas e esportes. O principal mercado é o automotivo. As empresas têm acordos com grandes fabricantes para que os veículos já venham com os rádios pré-instalados.


Nos EUA, as rádios AM e FM também estão migrando para a tecnologia digital, que, além de melhorar a qualidade do som, abre espaços para outros serviços, como a transmissão de até três programas simultâneos na mesma faixa, de sons e de imagens.


A tecnologia usada nos Estados Unidos é chamada de In Band, On Channel (Iboc). Ou, em português, na mesma faixa e no mesmo canal. Ela permite transmitir simultaneamente os sinais digital e analógico, sem a necessidade de faixas adicionais. Cerca de 300 estações americanas estão digitalizadas, de um total de 14 mil. No Brasil, ainda não existe rádio digital.’