Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Thomaz Souto Corrêa

‘Durante a conferência da Associação Internacional de Jornais, realizada em Istambul no mês de maio, a grande novidade para mim foi a confirmação de que a diminuição de formato está dando certo em alguns jornais e revistas, especialmente na Europa.

Durante essa conferência, foi também publicado o relatório anual feito pelo Innovation International Media Consulting Group, chamado Innovations in Newspapers, que confirma a tendência citada acima.

Por que acho essa tendência importante? Porque pode estar aí uma das chaves para o problema de conquistar leitores mais jovens, de que todo mundo se queixa.

A primeira diminuição de formato em revista foi feita pela Glamour, da Condé Nast, na Itália. Foram lançadas simultaneamente, lado a lado, a revista com o formato tradicional, e uma réplica exata da mesma edição em formato menor, que tem o tamanho um pouco mais comprido do que o de Seleções. Essa edição de formato menor sumiu rapidamente das bancas.

As mulheres adoraram. A versão compacta, agora chamada de ‘bag mag’, é mais prática de manusear, cabe dentro da bolsa, dá a impressão de ser mais portátil. E, o que não é detalhe, custa mais barato. Em poucos meses, a versão maior foi descontinuada.

A mesma experiência foi tentada na Grécia, com o mesmo resultado: sucesso absoluto do bag mag.

Mas o grande lance de coragem da Condé Nast aconteceu no ano passado, quando optou por lançar Glamour na Inglaterra já com o formato menor. Em três meses a revista tirou o primeiro lugar da Cosmopolitan, até então a feminina mais vendida naquele mercado.

James Brown, um dos fundadores da famosa Loaded, a primeira revista masculina inglesa do gênero escrachado, inovou mais uma vez ao fazer a primeira masculina no formato bag mag: Jack, que nasceu com uma frase em cima do logotipo, dizendo ‘publicada pelo melhor editor de revista do mundo: eu.’ Assinado: James Brown.

A coragem dos ingleses foi confirmada também no setor de jornais. O primeiro jornalão importante a diminuir o formato de ‘broad sheet’ para tablóide foi o The Independent, de Londres, que usou a mesma tática da Glamour na Itália: foi para a banca com os dois formatos.

Nove semanas depois da novidade trazida pelo The Independent, o vetusto The Times copiou a estratégia do rival e colocou os dois formatos na banca. Ambos viram a circulação crescer. Oito meses depois do lançamento, The Independent tirou o formato tradicional da banca, enquanto The Times ainda mantém as duas versões.

O grande desafio para os chamados ‘quality papers’ era desmistificar o formato tablóide, reservado na Inglaterra aos jornais de escândalos. Tanto que tiveram a preocupação de aparecer para os leitores com layout muito parecido com o do tamanho maior. Era preciso não descaracterizar a seriedade tanto de fachada, quanto de tom jornalístico.

O que ajudou na assimilação do formato menor pelos leitores dos jornalões ingleses foi o enorme sucesso dos tablóides distribuídos gratuitamente nas entradas e saídas dos metrôs. Sem apelar para sensacionalismo, mas oferecendo um noticiário compacto, fácil de ler, os ‘free metros’ conquistaram rapidamente um leitor mais jovem, que não tinha o hábito de ler os jornalões.

A propósito dos jornais gratuitos de metrô, de 237 mil exemplares diários em 1999, a circulação atual na Inglaterra é de quase 900 mil exemplares. A empresa sueca que está lançando free metros no mundo inteiro já alcançou uma circulação de 5,5 milhões de exemplares em 16 países.

E, em todo lugar, a mesma constatação: é o leitor mais jovem que consome esse tipo de jornal, mais ilustrado, mais fácil de ler. Na Polônia, dois meses depois do lançamento, o tablóide Fakt tornou-se o maior jornal do país, com mais de 500 mil exemplares – neste caso vendidos – diariamente.

Só que essa nova geração de tablóides é bem diferente daquela de alguns tradicionais jornais europeus, como Libération e Le Monde na França, ou El País, na Espanha. O editor-chefe de Fakt chama a publicação de ‘picture newspaper’. E acrescenta que é um jornal ‘mais rápido, mais moderno, que surpreende o leitor com idéias e descreve os acontecimentos de maneira clara e simples’.

Ou seja: está conquistando um leitor com menos tempo para ler, porque navega na internet, que vive grudado no celular, com o qual tira fotos, faz vídeos curtos, manda os mesmos como anexos de e-mail, e vê canais de notícias, ouve rádio, lê revistas, confirmando a tese de que – para nós, comunicadores – o grande concorrente é o tempo dos comunicados.

E ainda tem gente com medo de mudar, inclusive eu.’



MERCADO EDITORIAL / LIVROS
Correio Braziliense

‘A aflição dos pequenos livreiros’, copyright Correio Braziliense, 7/7/04

‘Os heróicos pequenos livreiros de Brasília devem ter passado uma noite de aflição. Angústia que vem num crescendo desde a notícia da chegada da gigante francesa Fnac à cidade. A rede mundial de produtos culturais causa terremoto toda vez que pousa seus poderosos pés numa nova região. De um lado, é motivo de festa para os viciados em livros, cds, dvds, cinema, fotografia, eletrônicos.

De outro, é o triunfo da globalização – com sua inescapável perversidade. Anunciam-se, informa Lourenço Flores, o insone proprietário da Esquina da Palavra, lançamentos com 20% de desconto, vantagem que os pequenos não têm nenhuma condição de oferecer, sob pena de falência imediata.

‘Ela (a Fnac) é grande demais! É poderosa demais! Vinte por cento de desconto nos lançamentos é um apelo forte demais pra gente enfrentar numa situação econômica como essa’, agonia-se Flores. Escolado pelas subseqüentes crises no ramo de livros, o veterano Wilson Hargreaves, da Casa do Livro, olha a aterrissagem do boeing e espera a ventania passar, os passageiros descerem e tudo se reacomodar, para então avaliar os estragos. ‘Vamos ver que acervo eles terão. Se será diversificado ou se vai atender ao cliente convencional de livrarias de shopping. De início, o público vai ficar fascinado. Será um choque de animação.’

A festa de chegada da superpoderosa Fnac, por si só, confrange os livreiros independentes. Regina Casé, Ney Matogrosso, Washington Olivetto, Zélia Duncan, Paulo Caruso e o Rappa, todos ao mesmo tempo num só lugar numa só noite em Brasília. Leio que haverá um tapete vermelho destinado a levar os convidados para dentro de uma tela de cinema – numa referência ao Woody Allen de A Rosa Púrpura do Cairo – e champanhe francês. Meia Brasília foi convidada.

‘Estou com síndrome de pânico’, brinca (por enquanto, não há muito o que fazer) Luíza Neiva, há seis anos resistindo com sua pequena Café com Letras. Ela já sabe que a Fnac vai engolir todos os lançamentos de livros importantes na cidade. ‘Passei um tempão tentando falar com a Record para trazer a Lya Luft, que já tinha topado lançar o Perdas & Ganhos na livraria. Mas não consegui falar com ninguém que pudesse autorizar o lançamento. Imagine de agora em diante quem vai trazer Lya Luft e outros grandes?’, pergunta Luíza.

Não é de hoje que os pequenos livreiros independentes estão sendo expulsos do mercado pelas grandes redes de lojas de livros. A comédia romântica Mensagem para Você, com Tom Hanks e Meg Ryan, beliscava suavemente a questão. As acolhedoras livrarias, ponto de encontro de escritores, intelectuais, professores, estudantes, autodidatas, em resumo, apaixonados por leitura, vêem sendo estropiadas pelas gigantes dos livros.

Mas há um otimista que recusa o pânico. O livreiro Briquet de Lemos, dono de uma casa especializada em livros de arte, tenta espelhar-se nos mercadinhos das superquadras que resistiram aos super, mega, hipermercados. ‘Vamos ver como será o atendimento deles. Será personalizado? Vai atrair o cliente que está acostumado, por exemplo, a ir à livraria do Lourenço (Flores) porque sabe que lá ele vai saber qual o melhor romance de determinado autor, o que deve ler primeiro… Na Fnac vai ter isso?’’



RESPONSABILIDADE EDITORIAL
Débora Pinho

‘STJ decide se diretor de redação responde por texto assinado’, copyright Consultor Jurídico, 6/7/04

‘O Superior Tribunal de Justiça decide, nos próximos meses, uma questão polêmica que irá se refletir diretamente no funcionamento das redações de jornais. O STJ dirá de quem é a responsabilidade pelo que o jornal publica: se do jornalista que assina a reportagem, do diretor de redação que dá as ordens na casa, ou da empresa que edita o veículo.

A resposta à questão já começou a ser dada pela Segunda Seção do STJ. Por ora, o placar está em 3 a 1 e não é bom para os diretores de redação. O julgamento foi interrompido por pedido de vista do ministro Castro Filho.

O caso se refere a uma ação de indenização por danos morais ajuizada pelo ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro, José Maria de Mello Porto contra Maria Elizabeth Tude Junqueira Ayres, a entrevistada que deu as informações, Celina Côrtes, a repórter que assinou a reportagem que provocou a reação do juiz, e Wilson Figueiredo, então diretor de redação do Jornal do Brasil. A reportagem intitulada ‘Juiz suspende decisões do presidente do TRT’ foi publicada em 24/7/93.

O juiz Mello Porto, que ensaiou sua candidatura ao governo do estado do Rio ao tempo em que era presidente do TRT, tem uma longa história de disputas judiciais com jornalistas. Moveu ações contra a colunista Danuza Leão e o jornalista Orlando Carneiro, ambos então do Jornal do Brasil, e contra Marcelo Auler, à época em O Dia. Processou também os procuradores da República que investigaram sua gestão à frente do TRT-RJ.

A Justiça de primeira instância julgou extinto o processo contra os três réus. Entendeu que apenas a empresa jornalística, no caso o Jornal do Brasil, deveria responder pelas informações que publicou.

Mello Porto apelou ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que reverteu o entendimento de primeira instância e reconheceu a responsabilidade da fonte de reportagem e dos jornalistas, tanto do repórter, como do diretor de redação. Wilson Figueiredo, que ocupava o posto na época, entrou com recurso no STJ contra a decisão do TJ do Rio.

O relator da matéria na Segunda Seção do STJ, ministro César Rocha, rejeitou o recurso especial. Segundo ele, cabe ao diretor de redação ‘determinar a linha editorial do periódico’.

O ministro Fernando Gonçalves e a ministra Nancy Andrighi acompanharam o relator. O ministro Aldir Passarinho discordou do relator. Segundo ele, o jornalista é o dono das informações apuradas e do texto. Assim, não cabe ao diretor de redação a responsabilidade pela notícia assinada.

Depois de Castro Filho, votarão os ministros Pádua Ribeiro e Barros Monteiro. O presidente da Seção, Carlos Alberto Menezes Direito, só vota em casos de empate.

Advogados rejeitam responsabilidade de diretor de redação

O advogado Alexandre Fidalgo, especialista em danos morais e crimes de imprensa, também defende a tese de que o diretor de redação não é responsável por textos assinados. ‘Argumentar que o diretor de redação tem dever de ofício de dar a palavra final sobre eventuais acusações e omissões é interpretar a lei longe de seu objetivo’, diz.

Para Fidalgo, quem entende assim desconhece a prática do jornalismo em uma redação. A apuração, o trabalho de campo, a formatação do texto é de quem assina e assume a responsabilidade. ‘O diretor de redação não escreve a notícia. Se muito, dá orientação e revisa a abordagem dada. Se o autor do escrito não declina de sua responsabilidade, a decisão a ser seguida, mesmo no âmbito civil, é responsabilizar quem assina a reportagem e a respectiva empresa de comunicação’, afirma o advogado.

Fidalgo explica que quando o texto é assinado, mas não é o jornalista o verdadeiro autor da notícia, o fato deve ser informado em juízo para que o responsável responda por eventuais erros. O advogado acrescenta, ainda, que ‘na hipótese de texto não assinado, quem responde é o redator da seção em que é publicada a notícia, como define o artigo 28 da Lei de Imprensa’.

Para o advogado Sérgio Toledo, um dos autores do livro Dano Moral — que trata do tema em suas páginas –, a responsabilidade pelo que sai publicado no jornal é da empresa que o edita. ‘Os jornalistas não são donos dos jornais. A responsabilidade pelos erros é da empresa de comunicação’, afirma.

Toledo admite até que se possa responsabilizar o jornalista que assina o texto, mas em nenhuma hipótese seus superiores na redação. O advogado embasa seu entendimento citando a Súmula 221 do STJ:

‘…são civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação’.

Os advogados Nilson Jacob e Rodrigo Jacob, especialistas em crimes de imprensa, também defendem a tese de que a responsabilidade pelo texto é de quem o assina. Jacob livra a cara dos diretores de redação com o argumento de que ‘não se pode estender a responsabilidade para terceiros’ sobre eventuais erros. Isto, por sinal, é o que prevê a Lei de Imprensa.

Os advogados citam acórdão do Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo onde se afirma que…

‘…a Lei de Imprensa adotou o princípio da responsabilidade sucessiva, e não da simultânea. Sendo assim, se o autor do escrito difamatório é identificado, ele é quem responde penalmente, não podendo ser atribuída, responsabilidade solidária com o diretor do jornal, ou qualquer outra pessoa’.

Um advogado, especializado em danos morais e imprensa, lembrou que normalmente a ação é movida contra o veículo de comunicação. Para o advogado, quem deve ser responsabilizado é o jornalista responsável pela notícia. ‘Não é justo o diretor de redação responder pelos textos de um jornalista subalterno. Ele confia nos jornalistas e, apesar de ser o chefe, não pode ficar preso a detalhes de cada notícia’, concluiu.’