FÓRMULA
Ser viral não é para qualquer um
‘Um novo modelo de negócios para os jornais, um modelo de propaganda que funcione na web, um modelo sobre como ganhar seguidores no Twitter. De forma nítida e mais do que nunca, as pessoas estão atrás de uma fórmula pronta e fácil que possa ser aplicada a qualquer situação.
Adam Penenberg busca apresentar uma delas por meio de seu livro Viral Loop (256 páginas), recém-lançado no Brasil. Viral loop é o rótulo que recebe o conceito utilizado (em algum momento ou sempre) por sites como Flickr, Facebook, Ning, para aumentar o número de usuários. Um usuário adquire a possibilidade e o papel de, indiretamente, angariar mais usuários.
Somente pelo fato de as pessoas usarem um produto, ele cresce e ganha valor. Em outras palavras, o caráter viral é integrado à funcionalidade do produto. Um usuário do Facebook convida outros quatro para utilizarem, os quais, por sua vez, podem convidar mais quatro, e assim por diante. E quanto mais pessoas usarem o Facebook, mais sentido e valor existirá em utilizá-lo.
É um loop virtuoso. Facebook, Google, Amazon e até a Tupperware são algumas das empresas que trabalham com essa teoria.
Parece ser uma ideia nova e genial, porém Viral Loop nada mais é do que um livro sobre efeito de redes (feedback positivo), conceito simples e comum de economia e gestão. Não sei por qual motivo Penenberg, jornalista e colaborador da revista FastCompany, busca dar uma nova roupagem para alguns aspectos da teoria, chamando-a de ‘viral loop’ (talvez seja reflexo da velha mania de achar que a internet mudou os princípios básicos da economia).
Em resumo, a ideia de Viral loop é isso. É um loop de feedback positivo. Penenberg gasta o livro inteiro para explicar como esse conceito e técnicas geradas a partir dele são aplicadas a alguns dos produtos mais populares de empresas de internet, o que faz o livro soar um pouco cansativo (para mim, foi bem tedioso, o autor repete a mesma ideia diversas vezes).
Viral Loop acrescenta muito pouco ao tema. Chega a existir um certo tom crítico em alguns momentos. Segundo Penenberg, se você entrar num círculo virtuoso e não tiver como respondê-lo à altura, o resultado poderá ser desastroso para o seu negócio.
O caso da rede social Friendster ilustra bem isso. Em 2003, o site cresceu, adquiriu um coeficiente viral tão grande, que não conseguiu responder tecnicamente à demanda. A lentidão e quedas constantes do site afugentaram os usuários, que partiram para outros serviços.
É claro que, com o tempo, o mercado aprendeu algumas técnicas para domar esse ‘crescimento viral’, como a exigência de convites para utilizar um serviço (Gmail em seu início) ou de um tipo de email específico (Facebook que, em seu início, somente pessoas com email de universidades podiam se cadastrar).
Contudo, o lado crítico do livro para por aí. Menciona quase nada sobre o quanto o feedback positivo é acompanhado de um feedback negativo – o círculo vicioso do colapso. Ao mesmo tempo que um cresce no mercado, outro diminui. O efeito de redes faz o fraco ficar mais fraco e o forte, mais forte, o que pode gerar extremos em um mercado. Não estamos vendo isso no mercado de busca, com o Google dominando o mercado?
A virtude do livro de Penenberg está justamente quando o jornalista foge do assunto de ‘viral loop’ e fala sobre como surgiram algumas das principais empresas de internet – YouTube, eBay, Hotmail. O autor usa um estilo não técnico, mais próximo de um romance, pouco usual neste tipo de livro, e demonstra ter informações de dentro das empresas.
Talvez encantado pelo discurso de Marc Andreessen sobre o crescimento de usuários do site Ning (cocriado por Marc, um ano depois o Ning entraria em crise por não conseguir reverter crescimento em receita), Penenberg adota um discurso evangelista no assunto. Por isso, à primeira vista, a sensação para quem lê o livro pode ser a de que a viralidade possa ser aplicada a qualquer produto. Basta aplicar algumas técnicas e as pessoas começarão a falar e a usar, de forma espontânea e crescente, o seu produto, em um loop virtuoso.
No entanto, após uma leitura mais atenta e crítica do livro, a sensação é outra. A difusão espontânea entre as pessoas é consequência e não causa. Devido, e antes de tudo, a um contexto, os produtos apresentados no livro ganharam um boca a boca e, por isso, novos usuários.
O Youtube surgiu numa época em que as câmeras portáteis de vídeo ficavam mais populares e, ao mesmo tempo, era frustrante assistir a vídeos na web. Você era obrigado a baixar uma variedade de plugins e programas – RealPlayer, QuickTime, Windows Media Player. O YouTube, ao contrário, se apresentou como um site com vídeos que rodavam em qualquer navegador, sem a necessidade de nenhum programa ou plugin, a não ser o flash, que possibilitava o carregamento mais rápido dos vídeos, mesmo em conexões discada. Ou seja, o YouTube resolveu o problema de assistir a vídeos na web.
O serviço de webmail Hotmail, por sua vez, surgiu numa época em que o email era o principal motivador para as pessoas ficarem na frente dos computadores e, simultaneamente, existia uma nítida demanda para que ele pudesse ser acessado de qualquer lugar. Era desestimulador poder ler os seus emails somente no Outlook ou em um computador específico. O apelo do Hotmail estava em justamente quebrar isso, o email poderia ser acessado de qualquer lugar. A sua utilidade, portanto, era bem clara, e logo gerou um boca a boca espontâneo entre os usuários.
Enfim, são, acima de tudo, bons produtos, com utilidade clara e que surgiram na hora e no lugar certo. Portanto, a mensagem do livro passa a ser outra. Se você quer criar um ‘viral loop’, faça, antes de mais nada, um bom produto. Isso vale para publicações até Tupperware.’
NEWSWEEK
Frase da semana
‘‘Estamos todos numa crise existencial’
Jon Meacham, editor da Newsweek, sobre o anúncio de venda da revista, uma das mais tradicionais dos EUA. A publicação vinha acumulando perda de leitores e anunciantes.
PS – O NYTimes aparentemente já superou esse tipo de crise existencial.’
TRADUÇÃO
Google e Microsoft como tradutores universais
‘O sonho de um sistema universal de comunicação ou um tradutor universal de idiomas ainda está distante. Ainda parece algo de ficção científica.
Para se ter uma ideia, há mais de 60 anos tecnologias de tradução são estudadas. Esse tipo de tecnologia ganhou um impulso durante a II Guerra Mundial e voltou a ganhar mais destaque com o crescimento da internet, campo para a prática de vários idiomas, mas também revelador do quanto o idioma pode ser uma barreira para comunicação e consumo de conteúdo.
Hoje, tecnologias de tradução são uma indústria que movimenta US$ 8 bilhões por ano.
Para alguns, tecnologias como Google Translate e Babelfish nunca serão perfeitas. Serão mais uma ferramenta de produtividade do que um substituto à tradução feita por humanos. Para outras, a precisão dessas ferramentas é somente questão de tempo.
Nesta semana, durante a feira Silicon Valley Tech, a Microsoft apresentou com mais detalhes o Telephone, aplicativo VoIP de tradução em tempo real, que combina 3 tecnologias da empresa – reconhecimento de voz, tradução e transcrição de voz em texto. Uma pessoa fala e o sistema traduz automaticamente em texto e voz. Para resolver o problema da falta de precisão, uma frase é ‘retraduzida’ automaticamente várias vezes.
Depois, o mais interessante, a Google anunciou que o Google Googles, aplicativo exclusivo para Android, será capaz de traduzir textos a partir de imagens tiradas com a câmera do celular. Imagine a situação, você está em um outro país, com um cardápio em chinês em mãos, sem ter nenhuma noção do que está escrito nele. Para resolver isso, basta tirar uma foto do cardápio que o aplicativo transforma a imagem em texto e o traduz automaticamente.’
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Folha de S. Paulo