INTERNET
E o ciberespaço foi destruído
‘Já que hoje estou postando sobre termos que estão em risco de extinção, olha o que Clay Shirky, tecnólogo e professor da Universidade de Nova York , falou em entrevista ao The Guardian no domingo.
‘Eu removi o termo ciberespaço do meu vocabulário. A idéia, que cresceu comigo, era de estar em um lugar separado do mundo real, algo que os meus alunos não conseguem identificar mais’.
Faz sentido, né?’
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Zé fini para o termo Web 2.0
‘No post ‘A morte da Web 2.0″, o blog Techcrunch abordou, neste final de semana, um assunto que já foi comentado aqui, no blog – o termo Web 2.0 está cada vez mais em desuso.
Qualquer hora, aparece naquela lista do site Save The Words, do Dicionário Oxford, dedicado a salvar da extinção alguns termos em inglês.
O termo sempre foi considerado redundante por especialistas. O jargão tratava a colaboração na rede como novidade e ignorava um texto histórico de Tim Berners Lee, lá de 1989, que já falava que uma das características, ou poderes, da tecnologia, do uso da web para propagar conteúdo, era a colaboração.
Outro jargão acadêmico e de mercado que não dou muito tempo para sair de moda é ‘mídias sociais’. O post do Techcrunch não comenta isso, mas a expressão, na prática, veio substituir o termo Web 2.0.
Refere-se a ‘plataformas que permitem a disseminação de conteúdos digitais de forma descentralizada, autônoma e colaborativa tecnologicamente’, conforme o pesquisador e professor da Fundação Cásper Líbero Walter Lima a conceituou.
Neste sentido, a expressão ‘mídias sociais’ surgiu mais para delinear um espaço, fazer um contraponto às chamadas mídias tradicionais, que não permitem a disseminação de conteúdo de forma colaborativa e autônoma (e, como consequência e semelhante ao termo Web 2.0, o jargão ajudou a fomentar um mercado de consultoria, palestras e livros de auto-ajuda empresarial).
Porém, na hora que você vê um jornal impresso, uma emissora de rádio e TV, mídias tradicionais, liberarem o acesso público a sua API, a trabalhar de forma aberta com redes sociais e, por outro lado, sites que começaram como blogs (The Huffington Post) se tornarem portais, com uma gestão muito parecida a de organizações de mídias tradicionais, fica difícil diferenciar mídias sociais de tradicionais.
No final (e ainda bem), a tendência é que não haja diferenças e tudo seja simplesmente chamado de ‘Web’ e de ‘Mídia’.’
O FUTURO DOS JORNAIS
Semana da busca do Santo Graal
‘Confesso a vocês, essa semana foi bem entediante para quem acompanha a área de mídia e tecnologia. Tudo por causa de uma série de artigos sobre como os ‘jornais impressos devem ser salvos’.
A discussão aumentou principalmente por que a crise econômica mundial acentuou a da indústria de jornal impresso. Entraram em cena diversos articulistas tentando achar o Santo Graal, a salvação, dos jornais impressos. Apareceu de tudo.
Desde Walter Isaacson, em matéria de capa da revista Time, defendendo o sistema de micropagamento (o mesmo utilizado no iTunes), que já foi discutido e descartado milhões de vezes no passado, passando por Steven Brill, no The New York Times, a favor da volta do conteúdo pago, modelo também experimentado, antes e pós-bolha da internet, sem resultados satisfatórios.
Até chegar ao Kindle, o leitor de ebooks da Amazon, que foi cogitado como salvação para os jornais. Como se um gadget, ainda em caráter de experimento e utilizado por uma parte pequena do mercado, pudesse, de uma hora para outra, salvar empresas de jornais impressos dos efeitos de anos de má administração.
Percebe-se que é um tipo de debate que, na maioria das vezes, gira em círculos, cai um pouco no desespero e que ainda não existe no Brasil por vários motivos.
Primeiro, por que o Brasil é um país emergente, tem uma nova classe média e, por isso, vê os índices de circulação dos jornais aumentarem (em 2008, houve um crescimento de 5%).
Portanto, não dá para tratar o que está acontecendo nos EUA e parte da Europa como regra para todos os países.
Aproveito para fazer várias críticas a essa enxurrada semanal de artigos:
1) Em sua maioria, tratam os jornais impressos como se sempre fossem um negócio lucrativo e que, de repente, foram afetados pela internet. Como se antes não existisse uma crescente crise ou perda de lucros. Existem jornais impressos que passaram a vida inteira no vermelho e até hoje não dão lucro, quando dão, é em uma margem muito pequena. O jornalista e historiador Matías Molina aborda muito bem essa questão em seu livro Os melhores jornais do mundo.
Jornais impressos nunca foram máquinas de fazer dinheiro, mas uma forma de ganhar poder e influência. Quem comprou jornal para ganhar dinheiro quebrou a cara. Portanto, culpar a internet é esquecer o passado. Ela não foi a causadora dessa crise, mas pode ser o ponto final. Essa crise é mais resultado de anos de má administração (falta de investimento em pesquisa e inovação) e efeito de um negócio que nunca foi muito lucrativo mesmo.
2) O modelo do iTunes (de micropagamentos) é exceção e não regra no mercado. Não é por que ele deu certo no mercado de música e voltado para um certo público que vai servir para outros mercados, como o de consumo de notícias.
Além do mais, fechar o acesso em seus sites (para poder cobrar por conteúdo) pode ser muito negativo para os jornais de noticiário mais generalista.
Em tempos de SEO, ficar fora dos resultados de busca é quase suicídio. Representa uma perda grande de tráfego, visibilidade e, a longo prazo, relevância.
3) A culpa da queda do jornal impresso não é dos leitores. Em artigo na Time, Isaacson dá entender que a culpa é dos leitores que, hoje em dia, querem o noticiário de graça. Se existe culpado nessa crise, não é o leitor.
Neste sentido, um dos melhores artigos da semana vem do escritor polonês Henryk A. Kowalczyk. Segundo ele o que está morrendo nestes países é o jornal impresso, ou melhor, o uso do jornal-papel como suporte/dispositivo para entrega das informações, e não o jornalismo em si.
O que vai ao encontro de um artigo do NYTimes, também desta semana, que conclui que de todas as mídias e ao contrário do impresso, a que está sendo menos afetada negativamente pela internet é a TV (diferente do jornal impresso, nas emissoras o online está sendo visto como um complemento da TV e não um competidor). Portanto, a crise é mais focada na mídia impressa.
Kowalczyk aborda que a atividade social de reportar, apurar informações, contextualizar e torná-las mais legíveis para um público sempre estará viva. Enquanto existir uma demanda por esse tipo de informação, mais apurada, legível e organizada, sempre vai existir a atividade de jornalista.
Eu sei que as conclusões do artigo de Kowalczyk são óbvias, mas, em uma semana de tanto ‘achismo’, ele se destaca.
Semana que vem promete ter mais.’
TWITTANDO
Twitter não é ‘mainstream’
‘O estudo da Pew Internet é voltado para o mercado norte-americano, mas ajuda a ratificar aspectos que eram evidentes. Apenas 11% dos americanos entrevistados usam algum serviço que mostra o seu ‘status updating’ (o que você está sentindo, pensando ou fazendo em tal momento).
Apesar de acreditar que, hoje em dia, o Twitter não seria apenas um serviço de ‘status updating’, segundo a pesquisa, ele estaria nesta categoria e, por isso, estaria muito longe de ser um ‘serviço mainstream’, adotado por muitas pessoas.
O que a pesquisa mostra também é que, por enquanto, o Twitter e serviços similares são utilizados, em sua maioria, por um público jovem, ‘heavy internet user’ (utiliza a rede com muito mais frequência do que a maioria das outras pessoas) e usuário constante de tecnologias móveis (76% usa a tecnologia de internet sem fios em pdas, celulares, laptops etc). O que não é nenhuma novidade.
Para mim, o estudo mais interessante atualmente seria sobre os diferentes públicos em torno deste tipo de ferramenta. Percebe-se, por exemplo, que, em relação ao Twitter, os usuários do Plurk, outro serviço que mostra o seu ‘status updating’, são mais jovens e menos ‘heavy internet users’.’
MONARQUIA
Rainha na internet
‘O site oficial da Rainha Elizabeth II entrou no ar. O projeto chama a atenção, pois teve consultoria de Tim Berners-Lee, criador da web, que, em 2004, recebeu da rainha o título de ‘Sir’, Cavaleiro da Ordem do Império Britânico.
Entre as novidades, o destaque está na integração da agenda da rainha ao Google Maps. Com isso, as pessoas poderão conferir em um mapa por onde a rainha passará durante uma visita oficial.
Fora isso, digitalização e publicação de documentos inéditos, como um que descreve uma visita de Alexander Graham Bell à Rainha Vitória, que aproveitou para testar o novo invento de Bell, o telefone.
Apesar de Elizabeth II ter sido uma das primeiras rainhas a enviar um email, isso em 1976, por enquanto, o seu site tem um caráter tradicional, mais de diretório de conteúdos históricos (vídeos, fotos, textos) do que um canal de comunicação mais direta com a população.
O lançamento acontece poucas semanas após a Presidência de Portugal inaugurar o seu perfil oficial em sites como Twitter, Flickr e YouTube.’
BLOG NO JORNAL
Labs do Times Online
‘Quase passou despercebida essa. O Times, de Londres, um dos jornais mais antigos do mundo, também lançou em seu site uma seção/blog no ‘estilo labs’, o Times Online Labs.
É o espaço onde a equipe de desenvolvimento do site do jornal troca e compartilha com os leitores algumas experiências e escreve sobre inovação. (vale lembrar que a equipe de tecnologia do site do jornal brasileiro O Globo também tem um blog parecido).
Por lá, no blog do labs do Times, tem uma notícia boa. Diversas agências públicas dos EUA, Reino Unido e Canadá que, recentemente, liberaram o acesso público a alguns de seus dados para que as pessoas possam fazer mashups e aplicativos abriram um concurso para escolher os projetos que melhor saibam gerenciar e explorar esses dados.
‘O que você faz com um milhão de livros (digitalizados)?’, ‘O que você faz com um milhão de jornais (digitalizados)?’ são as perguntas centrais do concurso, que está em destaque no Times Online Labs.’
PRESIDENTE
Sem querer querendo, Obama impulsiona vídeos online
‘Ontem em sua primeira e já histórica coletiva de imprensa, Obama garantiu mais alguns views e cliques para os sites de notícias que vêm apostando na transmissão ao vivo em vídeo de grandes eventos. CNN, CBS, MSNBC e ABCNews fizeram streaming da coletiva.
O próprio site da Casa Branca fez uma transmissão em vídeo. E até o site de vídeos Hulu abriu o acesso internacional para quem quisesse acompanhar a transmissão ao vivo da coletiva. No Brasil, por exemplo, era possível acompanhar o streaming.
Segundo o site NewTeeVee, com essas transmissões pela web Obama está ajudando a impulsionar a área de vídeos online, principalmente a de transmissão ao vivo (o que era meio esperado, entre os principais apoiadores de sua campanha estão executivos do Vale do Silício).
A sua posse, em janeiro, gerou mais audiência que muita partida final de campeonatos de esportes. A transmissão da cerimônia foi vista por mais de 13 milhões de usuários e os seus discursos no YouTube são mais visualizados que muito videoclipe de banda.
Qualquer assunto ligado a Obama é sinal de audiência, o garantiu ao presidente norte-americano o status de ‘rock star’.
Sinal de que a lua de mel da mídia online com Obama ainda vai continuar. E de que não é à toa que a Casa Branca já demonstra preocupação com a exposição e o uso excessivo da imagem do presidente. Nada mais natural para um político que simboliza tanta mudança nos EUA.’
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