Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Tomás Eloy Martínez

‘Em um canto perdido do Museu Britânico, em Londres, há uma minúscula tábua de argila na qual estão gravados alguns versos sobre o dilúvio. Esses versos, que pertencem ao poema babilônico Gilgamesh, foram escritos em caracteres cuneiformes há mais de 4.300 anos. A tábua fazia parte da biblioteca do rei Arsubanipal, e é uma das primeiras de que se têm notícia. Os lampejos de imaginação do desconhecido autor de Gilgamesh iluminavam na época apenas alguns seres humanos: quem sabe 200 ou, talvez, mil. Naquele vasto amanhecer da espécie, a leitura era um conhecimento muito menos comum do que os da agricultura e da guerra. As histórias se perpetuavam por meio da voz dos arautos, que cantavam e improvisavam enquanto os demais ouviam e modificavam o que ouviam com as lembranças da memória. A não ser por alguns relatos sobre reis e guerreiros que buscavam a eternidade, aquelas primitivas tábuas de argila só serviam para o comércio e o registro de poucos feitos importantes: vitórias, conquistas, ritos imperiais.

Quem sabe quantos sistemas independentes de escritura eram então concebidos em outras latitudes. O número dos sobreviventes é cabalístico, sete, e todos eles se originaram a leste da Grécia, em Creta, na Mesopotâmia, nos Vales do Nilo e do Indo, entre os grandes rios da China, na meseta de Anatona, na antiga cidade persa de Susa. A espécie humana demorou mais dois milênios para reunir as palavras e estabelecer com elas essa melodia que agora conhecemos na forma do livro. Os primeiros livros não narravam histórias.

Eram fórmulas de adivinhação, interpretações do vôo dos pássaros, do movimento das ervas, do passeio dos animais. Por meio da natureza, o ser humano tentava decifrar o seu destino. E os livros eram parecidos com a fixação do destino, a eternidade imobilizada em palavras.

Talvez a maior maravilha do livro seja sua capacidade de transfiguração, de ser primeiro a voz que vai se enriquecendo ao passar de geração para geração, até que alguém, com medo que a voz se perca nos ventos do tempo, ordena retê-la em páginas manuscritas, como aconteceu com a Ilíada e As Mil e Uma Noites, para que seja mais tarde, folha impressa, biblioteca de Babel, símbolo virtual que desliza nos computadores. Na forma original do livro está, justamente, a escritura, em cuja definição coincidiram Aristóteles, os sábios chineses do século 15, assim como Voltaire e os enciclopedistas. No seu Lógica, Aristóteles disse que ‘as palavras faladas são símbolos da experiência mental e as palavras escritas são símbolos das palavras faladas’. Segundo Tai T’ung, os chineses definiam a escrita como ‘a fala pintada’ e a fala como ‘o hálito das vozes’. Voltaire disse algo parecido:

‘A escritura é a pintura da voz, quanto mais se parece com ela, melhor.’

Em seu extenso amanhecer iletrado, a humanidade compunha livros sem saber, vozes, sucessões de histórias que se espalhavam no espaço público: as praças, os templos, as academias. Não existia a idéia de autor como a conhecemos hoje: escrever, ou criar, era uma tarefa coletiva, uma discussão, um diálogo como os que Platão transcreveu. A Ilíada e a Odisséia foram trabalho de muitos homens ou, talvez, de todos os Homeros que trabalharam nessas obras entre os séculos 8 e 6 antes da era atual. Cada copista da Ilíada adicionava uma linha ou subtraía uma cena, até que esse espaço móvel encontrou seu ponto de fixação; e o mesmo aconteceu com os evangelhos canônicos e com os apócrifos, com os textos de Confúcio queimados pelo primeiro imperador da China e refeitos pela memória de seus discípulos, e até com um romance célebre, o caudaloso e medieval Shui-hu-zhuan, ou À Beira d’Água, cujas centenas de episódios poderiam ser mil, cem mil ou apenas um.

A força do livro está no seu poder protéico, em ser voz, volume ou signo virtual, ou tudo de uma vez, para brotar de uma só pessoa ou encarnar, por si só, toda uma cultura.

Na Antiguidade, aqueles que ouviam as palavras de um livro, ou as copiavam, ou as liam conferindo forma oral ao escrito (porque a leitura em silêncio é, como se sabe, uma cerimônia tardia), estabeleciam uma interação entre o livro e sua comunidade. Ler era algo que pertencia à esfera pública e enriquecer o que se ia lendo com adições ou comentários, em vez de ser proibido, merecia gratidão coletiva. Mesmo que os doutores da Igreja tenham traçado depois uma linha divisória entre o conhecimento privado ou sagrado e o conhecimento público ou leigo, muitos poemas, novelas de cavalaria e relatos populares são fruto de gerações que iam depositando neles seus sedimentos culturais e as suas mudanças de linguagem, como aconteceu com Amadis de Gaula, a Chanson de Roland, o Poema de Cid e o épico anglo-saxão de Beowulf. Ao mesmo tempo, algumas grandes criações individuais começaram a impor a idéia de autor. Essa idéia aparece na Comédia de Dante, nos contos de Geoffrey Chaucer e em uma mulher que veio antes de todos, lady Shikibu Murasaki, que entre os anos de 1001 e 1003 recriou e embelezou a língua japonesa com Genji Monogatari, o primeiro e um dos mais esplendorosos romances de que se tem conhecimento.

A invenção da imprensa deu um salto decisivo na relação entre autor e leitor ao colocar o livro em uma esfera privada. Introduziu-o na intimidade do ser humano, converteu-o em acompanhante dos solitários, em confidente de ilusões e segredos, em transmissor de mensagens cifradas e permitiu que cada frase fosse lida de acordo com o ânimo que cada um tinha em um determinado momento da vida. O sentido dessa frase, por sua vez, podia ir se movendo na imaginação do mesmo indivíduo à medida que o tempo passava, tal como o definiu com precisão Jorge Luis Borges em seu conto Pierre Menard, autor de Quijote.

Pouco depois das primeiras Bíblias de Gutenberg, em 1474, Aldus Manutius empreendeu em Veneza a aventura de publicar algumas obras de que necessitava para seus cursos de humanidades. Imprimiu, primeiro, no formato manual, alguns clássicos gregos: Sófocles, Aristóteles, Platão, Tucídides; seguiu em latim com Virgílio, Horácio e Ovídio; e completou a coleção com dicionários e tratados de gramática. Essas edições, as mais esplêndidas da história da imprensa, nasceram com um propósito ainda mais extraordinário. Manutius as editou sem anotações nem comentários, para que os leitores entrassem nos textos de maneira direta, livres de toda mediação e pudessem dialogar a seu modo ‘com os mortos gloriosos’.

O livro como diálogo com os mortos é uma idéia que vai repercutir cinco séculos mais tarde, quando Michel de Certeau define a história como a entrada em cena de uma população de defuntos e quando Jean-Paul Sartre assinala que toda obra só ganha sentido no momento em que é percebida por outro, apropriada por outro. A intimidade do leitor com o livro engendrou milhares de Don Quixotes, milhares de jovens Werthers, todos igualmente desesperados, mas todos com um desespero diferente; legiões de Madame Bovary, de David Copperfield, de Leopold Bloom, de Humbert Humbert e Lolitas. A intimidade criada pela palavra impressa abarca todos os espectros do conhecimento humano: o cinema, a história, a ciência, a filosofia, aquilo que antes é imaginação e depois signo. Cedo ou tarde, todo signo encontra sua mais nobre forma de disseminação na biblioteca, na forma de manuscrito, de fotografia, de gravuras de época, de ensaio para especialistas, de jornal, revista, livro e de informação virtual.

O reino do virtual nos devolveu, de certo modo, à forma comunitária de ler, de nos comunicar e de interagir por meio dos signos. Assim, a espécie humana foi derivando da ágora original, da criação por camadas superpostas de linguagem, a intimidade entre o autor e o texto, e a partir daí se dedicou a uma forma diferente de ágora, na qual o leitor, só diante de seu teclado, entretece sua experiência com os infinitos textos que se cruzam na rede. Os livros ou informações que circulam nesse espaço virtual podem ser encontrados e tomados por quem quiser – e de chofre, assim acontece com freqüência -, modificados por comentários ou reescrituras que vão nascendo enquanto se lê. Pouco a pouco, esta nova forma de ágora, este purgatório ou paraíso do virtual, começou a crescer como uma árvore indomável. A biblioteca de Babel, na qual Borges incluía todos os livros passados e os não escritos, e as variações de cada um desses livros, chegou antes do que se pensava. Já está entre nós.

O filósofo Paul Virilio escreveu que se o elemento central da modernidade era a velocidade da matéria – Fernand Braudel falava da ‘lentidão dos transportes’ na sua história da civilização européia dos séculos 15 a 18 -, o dado central da pós-modernidade é a velocidade da luz. Virilio escreve: ‘O ser humano se vê superado por uma tecnologia que, no entanto, foi criada pela sua imaginação e pelas suas mãos, capaz de executar ações que vão muito além do que entendemos por passado e futuro.’ Na rede, na internet, cuja dispersão é global, não há na verdade dia nem noite, nem mesmo horas. Leio hoje o que aconteceu ontem na ilha de Páscoa e o que aconteceu amanhã em Tóquio. O meu tempo é duplo, ou múltiplo. Somos, agora, seres imersos em um oceano de tempo que se move em uma velocidade maior que a nossa imaginação.

Seria loucura pensar, como já previram alguns falsos poetas, que a informação virtual acabará com o livro tal como o conhecemos: ou seja, com o objeto retangular feito de papelão ou cartão ou couro, dentro do qual há folhas de papel cobertas de signos. Talvez o livro se transforme em outros livros, já vimos isso acontecer. Talvez as páginas de uma biblioteca inteira possam se mover com um ligeiro roçar do dedo indicador, como me aconteceu quando contemplei, em um museu da Sexta Avenida de Nova York, as fotos de crianças e adolescentes tiradas pelo diácono de Oxford, que conhecemos pelo nome de Lewis Carroll. Mas o livro vai perdurar na forma que assumiu há mais de 550 anos, porque sempre haverá alguém que prefira, ou melhor, escolha alcançar dessa maneira a intimidade com um autor, por meio das páginas que vão cobrando vida enquanto se abrem. Sempre haverá alguém que vai querer voltar para um livro só na edição em que o conheceu pela primeira vez, às dedicatórias, recordações e passados que ficaram unidos a esse objeto.

A palavra escrita perdurou e prevaleceu sobre os incêndios que tramaram sua destruição, desde que o imperador Shih huang-ti, construtor da Grande Muralha, ordenou que se queimassem todos os livros anteriores a ele, com exceção de alguns tratados de agricultura, só para provar – em vão – que a história do mundo começava com seu reinado. O mesmo fanatismo se ensaiou com a biblioteca que os Ptolomeus haviam criado na Alexandria três séculos antes da era cristã, e que sucumbiu ao fogo durante uma das guerras civis que se sucederam sob o imperador Aureliano, até o ano 273. Milhares de livros foram também jogados na fogueira pelos nazistas, em 1933, e de modo mais sigiloso, ainda que não menos vil, vários milhares foram queimados aqui, na praça de um regimento de Córdoba, no início de 1977.

A intolerância cobrou uma das suas mais lamentáveis vítimas em Bagdá, no dia 14 de abril de 2003, um mês depois da invasão do Iraque e o mesmo dia em que se viu a queda de Saddam Hussein. O saque devorou a cidade com um ímpeto cego e a Biblioteca Nacional também caiu nessa tarde. Pelo menos, 800 mil volumes foram, então, queimados e roubados, como se fossem os culpados das desgraças do Ocidente. A coleção de Omar Khayyam foi totalmente destruída, balas de morteiro explodiram com as caixas de microfilmagem e as caixas de documentos do extinto império otomano. Roubaram ou destruíram também as tábuas cuneiformes dos sumérios e quase todas as escrituras babilônicas do poema Gilgamesh. O diretor da biblioteca conseguiu salvar alguns fragmentos de argila, dos quais tirou estes versos: ‘O Bosque se estende por dez mil léguas/ Quem se atreveria a entrar nele?/ Porque o rugido de Huwawa é da tempestade/ porque suas presas vomitam fogo e seu hálito é mortal.’ Essas parcas linhas correspondem à terceira tábua, muito menos afortunada do que a 11.ª, a que fala do dilúvio, no Museu Britânico.

Mas nem o ódio dos bárbaros, nem a intolerância dos injustos conseguiu destruir o livro, cuja memória é também a memória da espécie humana.

Em qualquer uma de suas formas – seja nas tábuas cuneiformes de Gilgamesh, nos livros de orações copiados à mão pelos monges de monastérios medievais ou na primeira Bíblia de Gutenberg, nos folhetins de Dickens, nos três CD-ROMs que compreendem os 30 volumes da Enciclopédia Britânica ou nos arquivos que as pessoas trocam pela internet – o livro nem sempre foi só uma celebração do conhecimento, mas antes de tudo uma celebração da vida. E o que significa celebrar a vida nestes tempos de integração dos mercados, das finanças e da tecnologia? Significa celebrar os valores que definem o melhor do espírito humano: a linguagem, a imaginação, a liberdade, o afã da justiça, a busca da igualdade. Todos, hoje e aqui, continuamos imaginando o Paraíso como uma espécie de biblioteca.’



APRESENTAÇÕES / MILLÔR
Henrique Rodrigues

‘Apresentações empáticas de um mestre’, copyright Jornal do Brasil, 4/09/04

‘Apresentações Millôr Fernandes Record 256 páginas R$ 34,90

Millôr Fernandes, antes de tudo, dispensa apresentações. Esguio a quaisquer rótulos ou definições que se lhe imponham – desde o equívoco no seu registro oficial, quando, em vez de escrever Milton, o tabelião fez o traço do ‘t’ sobre o ‘o’ e não concluiu o ‘r’ -, Millôr vem contribuindo há mais de 60 anos, ininterruptamente, para a disseminação daquilo que, segundo ele, constitui um dos traços mais importantes da sua obra: a vitalidade. Essa característica é notada também na maneira como o guru aprecia a arte e os artistas que o circundam. O livro Apresentações, não tão por acaso lançado no período em que o autor completa 80 anos, vem oferecer a perspectiva sobre cerca de 70 personalidades para quem ele fez textos introdutórios, indicações ou apreciações críticas ao longo dos anos.

Uma vez que Millôr atua com extrema desenvoltura nas mais variadas manifestações artísticas – das quais se destacam poesia, teatro, crônica, tradução, desenho e pintura -, suas opiniões sobre a produção alheia são carregadas de um olhar empático, tal como ocorre na apresentação de um grupo de humoristas cariocas: ‘Parecerá ao leigo (nome com que os educados tratam o imbecil) que é muita ambição para pouca exposição. Mas cada desenho aqui exposto corresponde a 10 mil ações de cada um de nós, pois o que menos fazemos, nós, os humoristas, é humorismo, o que menos praticamos, nós, os desenhistas, é desenhismo’.

Embora o autor trate de si (há algumas apresentações de suas próprias obras, como ocorre no rico prefácio da peça ‘Um elefante no caos’) e dos seus, o conjunto de textos não consiste num apanhado de apadrinhamentos, e sim apreciações feitas com precisão crítica. Esse olhar se mostra sempre agudo e amplo, a partir do qual, muitas vezes, Millôr aproveita para lançar mão da sua iconoclastia incomparável, questionando o establishment.

O humor sem plumas de Millôr dá o tom de Apresentações. Considerando que muitos dos apresentados são humoristas da palavra e/ou do traço, a temática sobressai e revela, em vários momentos, as definições millorianas sobre a atividade, principalmente para negar uma visão banalizadora que o humor possa receber. No texto de apresentação do livro ‘As 13 pragas do século 20’, do hoje (infelizmente) pouco lido JAAB, Millôr afirma que humor ‘não é ser engraçadinho, não é ser a vida da festa, o contador bem-sucedido de piadas em cadeia (ocasionalmente isso vale, mas só ocasionalmente); humor é, sobretudo, mau humor’. O fato de o humor ser mostrado como ‘a quintessência da seriedade’ em vez de uma promoção da campanha do ‘sorria sempre’ assegura, assim, o seu papel ideológico e profissional.

A generosidade do autor tem sido retribuída pelo público a quem a obra dos apresentados se destina, visto que Millôr não perde tempo com quem julga medíocre (a não ser que seja um medíocre célebre, que pode se converter em objeto do seu humor sardônico). Numa carta a Paulo Francis, afirma que ‘a gente, queira ou não, vai deixando pedaços com os amigos, pedaços que nos ligam e interligam.’ Ao fim de Apresentações, é Francis quem apresenta Millôr, retribuindo na mesma moeda o que poderia ser uma resposta de todos os demais citados no livro: ‘Não há ninguém entre nossos profissionais que não reconheça em Millôr uma constância de qualidade quase sobre-humana. (…) Melhora, como os melhores vinhos, com o tempo. Não decai ou tem lapsos. É tinhoso e furioso. Já me irritou quando discordamos à latência homicida. Sempre o admirei e admiro.’ *Mestre em Estudos de Literatura pela PUC-Rio’



JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

‘Mãe do ano’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 4/09/04

‘O considerado Tomaz Teixeira lia o Diário de S. Paulo quando deparou com este, digamos, monumental, abracadabrante título:

Mãe do Guarujá roubou 2 filhos

Intrigado, Tomaz se perguntou:

‘Será que o Guarujá inteiro não bastava? Ela queria ainda mais filhos?!?! Confesso que fiquei emocionado com essa demonstração de amor materno. Certamente, trata-se de mulher com um coração enorme.’

Enorme, Tomaz, enorme. Maior do que o coração da ‘Mãe do Guarujá’ só mesmo o do presidente Lula, que ao perdoar dívidas de mais de um bilhão de reais de ‘países pobres’ ganhará da ONU o título de ‘Mãe do Ano’.

Nesses tão caridosos gestos presidenciais, um pequeno detalhe incomoda Janistraquis: ‘Considerado, com ordem de quem Lula joga fora o dinheiro do contribuinte?!?!?’

Boa pergunta, boa pergunta.

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É de chorar…

Sem tempo nem pra se refestelar na rede armada no centro da Praça do Ferreira, em Fortaleza, o diretor de nossa sucursal nordestina, Celsinho Neto, faz um esforço de reportagem e envia esta:

‘Depois de longo e tenebroso inverno – o trabalho me tem sugado os tutanos -eis que retorno com esta beleza publicada no jornal O Povo. Veja o título:

Tristeza durante o enterro.

Em primeiro lugar, é de doer essa ‘tristeza em enterro’, né mesmo? Ora, e é possível alegria em enterro?!?!? Acho que nem de humorista…

E esse ‘durante’? Quer dizer que antes e depois da chamada ‘passagem do féretro’ não houve tristeza?’

Pois é, Celsinho, Janistraquis concorda: notícia de enterro em O Povo faz o leitor chorar.

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Ménage à trois

Omar Cupini Jr., velho companheiro doutras redações, escreveu à coluna:

‘O portal Ibest, em chamada sobre matéria do Estadão, tascou:

Governo vai indenizar a filha de Olga Benário e Júlio Prestes.

Na matéria o assunto é corretamente focalizado, mas a meninada do Ibest não deveria confundir marquise com quermesse, né verdade?’

É verdade, porém Janistraquis, que acredita em tudo o que lê, como se vivesse em Oslo, encheu-se de autoridade e desabafou: ‘Considerado, deve ter sido por causa desse escândalo que se impediu, com a Revolução de 30, a posse do Júlio Prestes na presidência da República; afinal, não ficava bem, naquela época, tão esquisita ménage à trois: o comandante da Coluna Prestes, sua amante, uma comunista perigosa, e um representante dos barões do café de São Paulo.’

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Confusão

Diretor de nossa sucursal no Planalto, de onde se pode observar o ministro Palocci aumentando os juros, o considerado mestre Roldão Simas Filho lia edição dominical do Correio Braziliense quando esbarrou nesta noticinha da seção Mundo:

Sanxenxo e Baiona (Espanha)

QUATRO FERIDOS NA GALÍCIA

Duas bombas de baixa potência explodiram em Sanxenxo e Baionne (Galícia, noroeste) deixando quatro pessoas levemente feridas, sendo dois espanhóis e dois portugueses(…)A ETA promove há três décadas uma campanha terrorista para reclamar a independência do País Basco.’

Mestre Roldão, que tem entre suas excelentes manias as viagens internacionais, condenou essa confusão geográfica:

‘Sanxenxo fica na Galícia mas Baionne (ou Baiona), não. Nem sequer na Espanha. Fica na França, perto de Biarritz.’

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Monstro anônimo

Nosso considerado leitor Alex Cavalcanti, de Vitória (ES), leu na Gazeta Online:

Após três anos de maus-tratos, um aposentado de 66 anos e sua esposa de 65 anos resolveram denunciar o filho viciado à Delegacia de Proteção ao Idoso de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul (…)

O Estatuto do Idoso motivou a reação das vítimas. Conforme relato da mãe, em uma ocasião ele chegou a esfaquear o pai na nuca. Ela também foi atingida na cabeça, levando 15 pontos. Em outro incidente, o jovem jogou uma toalha no botijão de gás.

Alex ficou impressionado com a violência desse monstro anônimo; afinal, além de quase matar o pai, ainda jogou uma toalha no botijão de gás!!!

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Convivência

O considerado leitor Paulo Roberto Pompêo, de São Paulo, que anda pelas ruas da perigosa capital com um olho embaixo e o outro em cima, notou um dia desses, a conviver lado a lado, em plena harmonia, dois outdoors instalados no estacionamento de um distrito policial:

Cursinho da Poli – Agora tem vaga para todos.

Anglo – Não há lugares marcados na vida. Garanta já o seu.

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Esgarçando

O considerado leitor Sérgio Pavarini envia recuada notinha sobre artigo publicado na Folha de S. Paulo por Gilberto Kassab, deputado federal e hoje candidato a vice-prefeito de SP na chapa do PSDB:

‘O rodapé do artigo explica que o cidadão é economista, engenheiro civil e deputado federal pelo PFL paulista. Pois com tantos predicados, ‘pisou no tomate’ logo no início do artigo, ao escrever que o gigantismo da cidade de São Paulo esgarçou sua tecitura (sic) social’.

Pois é, Pavarini; Janistraquis, que vota em Cunha, tem certeza de que José Serra vai ganhar e será o novo prefeito de São Paulo. Todavia, torcemos para que ele jamais tire férias ou licença do cargo, porque aí Kassab assume e, sem a menor dúvida, esgarçará todas as tecituras…

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Tinhorões

Lula Vieira escreveu em sua coluna do site Sanatório da Imprensa:

O beque da Lusa

A volta do choro e do chorinho aos ouvidos brasileiros, pelo menos àqueles de maior prestígio, muito deve ao lançamento de dois álbuns dedicados ao gênero que foram editados pela Lintas, patrocinados pela Companhia Internacional de Seguros, produzidos por vários cobras da área, executados pelos maiores músicos do país e modestamente criado e dirigido pelo Arturo Gerardo e por este que vos escreve.

Até hoje não sei o que me deu na cabeça quando resolvi batizar o primeiro álbum de ‘Choradas, Chorões, Chorinhos’ que tem um bom som mas que não quer dizer porra nenhuma, como o José Carlos Tinhorão lembrou em uma crítica cheia de ódio e ressentimento por não ter sido chamado a participar.

Janistraquis, que é fã do Lula e também do Tinhorão, lamentou: ‘Considerado, se ainda havia alguma possibilidade de reconciliação entre os dois, esta vai desaparecer quando José RAMOS souber que virou José CARLOS…’

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Fraternidade

O grande brasileiro que é José de Paiva Netto, presidente da LBV e maior comunicador deste país segundo matéria de capa da revista Jornal dos Jornais em 2000, criou em 1996 a Comenda da Ordem do Mérito da Fraternidade Ecumênica. Trata-se de um prêmio a pessoas físicas e jurídicas que se destacam, aqui e lá fora, pelo trabalho em favor de uma sociedade mais solidária.

Personalidades como Kofi Annan, Mário Soares, Pelé, Oscar Niemeyer e o Dalai Lama já receberam a comenda, que terá neste dia 5 de setembro uma edição especial para homenagear Dário Campos, vice-cônsul do Brasil em Nova York, pela contribuição à Comunidade Brasileira; Alci Silva, presidente da Icla Foundation, pelos seus esforços na luta contra a leucemia infantil, e João de Matos, pela criação da Little Brazil Street, designação oficial dada à rua 46 em Manhattan.

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Nota dez

O melhor da semana saiu na coluna de Elio Gaspari em O Globo:

Com as PPPs, Vanderlei ganha medalha de plástico

Pode-se entender melhor o que vem a ser o projeto das Parcerias Público-Privadas de Lula comparando-o com o que houve em Atenas. Um bom exemplo é o caso do corredor Vanderlei Cordeiro de Lima, que arrebatou a história da maratona. É um ex-bóia-fria de 35 anos, patrocinado desde 1999 pelo grupo Pão de Açúcar. Deve receber em torno de R$ 15 mil mensais. Quase todos os 10 mil atletas de 240 países que foram a Atenas receberam alguma forma de incentivo, do beijo da namorada ao contrato da Nike (…) E o que é que as PPPs que Lula quer têm a ver com isso? Ao contrário do que sucede com os atletas, elas pretendem remunerar o fracasso.

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Errei, sim!

‘PAI DOS BURROS – Título do Diário Popular, de São Paulo, sobre a morte do dicionarista Aurélio Buarque de Holanda Ferreira: Morre o pai dos burros. Janistraquis observou, irônico: ‘Era melhor que eles tivessem botado Morre o pai da gente, né, considerado? Afinal, o ‘pai dos burros’ não é o dicionarista, mas o dicionário…’. Tive que concordar.’ (abril de 1989)’