Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Toni Marques

‘A Rede Record terá de pagar multa no valor de R$ 21.282 por propaganda eleitoral irregular, segundo despacho assinado por Gerardo Carnevale Ney da Silva, juiz da Comissão da Representação e Direito de Resposta da Propaganda Eleitoral. A emissora foi multada por causa do programa ‘Repórter Record’, que veiculou reportagem, no mês passado, sobre a fazenda Nova Canaã, na Bahia, que serviu de propaganda para seu criador, Marcelo Crivella, candidato do PL derrotado nas eleições do Rio de Janeiro.

No despacho, o juiz afirma que a fazenda é obra de Crivella, ‘e, por conseguinte, não há como deixar de reconhecer que a exibição desse empreendimento, em horário nobre da televisão, importou no favorecimento da candidatura do seu idealizador’.

Projeto foi tema de propaganda do candidato

O juiz invocou o Artigo 45 da Lei Eleitoral, que diz que é vedado às emissoras de rádio e televisão, em sua programação normal e noticiário, ‘dar tratamento privilegiado a candidato, partido ou coligação’. Tanto a reportagem constituiu propaganda, afirma o juiz, que Crivella em seu programa eleitoral usou depoimento do apresentador Gugu Liberato: ‘Crivella faz tudo isso (a fazenda) tirando dinheiro do próprio bolso. Imagina o que vai fazer para o povo’. Gugu dizia também que a fazenda é ‘o primeiro grande exemplo que deveria ser seguido por todos os políticos brasileiros’.

O valor da multa foi estipulado levando-se em conta o fato de que a Record teve sua programação suspensa por causa da propaganda, o que implicou prejuízo. Procurada, a direção da Record não se pronunciou.’



TV LATINA
Cláudia Ferreira

‘Latinidade para europeu’, copyright Correio Braziliense, 8/10/04

‘Com previsão de entrar no ar em novembro, a TV Latina, sediada na França, vai oferecer à Europa programação produzida em países como Brasil, Argentina e México

Paris (França) – O outono europeu promete ter as cores ensolaradas dos trópicos este ano. Ao menos na telinha. A primeira rede de televisão sobre a América Latina vai entrar no ar a partir de novembro na Europa. La Latina TV, como foi batizada, será lançada primeiramente na França, em difusão simultânea por cabo e satélite (pelo canal TPS e via Eutelsat) e vai se estender pouco a pouco aos demais países. Foi acreditando num grande interesse do europeu pela cultura latino-americana que o argentino Guillermo Spivak, produtor e realizador de documentários e desenhos animados, idealizou o projeto. Para ele, existe fascínio pelo nosso modo de vida e ao mesmo tempo falta de conhecimento em relação ao que se passa no nosso continente. ‘O objetivo é atender a essa demanda e preencher ao mesmo tempo um vazio que existe no mercado audiovisual europeu no que diz respeito à programação latina’, explica o diretor da rede.

Para conquistar o telespectador, a tevê vai exibir diariamente programas variados sobre música, esporte, turismo, além de filmes, documentários e desenhos. Os pontos altos serão os clipes e novelas – com destaque para as brasileiras (pequeno suspense, pois ainda não foram selecionadas). ‘A música, porque é a maneira mais fácil de integrar as culturas, e as novelas, porque fizeram sucesso enorme em vários países e ainda são desconhecidas por aqui’, lembra Spivak. Eventos esportivos, como campeonatos de futebol e vôlei de praia, pólo e vela, também farão parte da programação.

A rede aposta igualmente num programa chamado La casa, espécie de reality show em que celebridades, políticos e pessoas comuns serão convidados a jantar numa residência, enquanto são filmadas pelas câmeras da Latina TV. Na verdade, serão várias casas, ora no Brasil, ora na Argentina, ora no México. ‘Um jeito diferente de mostrar o estilo de vida, os hábitos alimentares, a decoração, a moda e os temas das discussões nos países’, conta.

Ano do Brasil

Como 2005 será o Ano do Brasil na França (iniciativa do governo francês para homenagear países amigos), a Latina TV está antenada nos projetos em andamento. De cara, metade da programação vai ser dedicada à produção brasileira. ‘Vamos tentar transformar um evento franco-brasileiro em europeu, através da rede’, ambiciona o diretor. O ministro da Cultura do Brasil, Gilberto Gil, esteve recentemente na França para discutir as festividades. Estão previstas atividades culturais variadas, como exposições de pintura e artesanato, estandes com comida e bebidas típicas, filmes… Os pontos culminantes prometem ser um show aberto de Caetano Veloso e um carnval à brasileira pelas ruas de Paris.

Para o horário nobre, a Latina TV reservou programação especial sobre o Brasil: filme sobre o estádio do Maracanã, documentário sobre o presidente Lula, a Copa Amazonas, a Ópera de Manaus, o carnaval do Rio de Janeiro e a festa do boi-bumbá de Parintins. O diretor da rede afirma que a linha editorial vai se basear mais na qualidade dos programas do que nos clichês. ‘O público espera em geral o que é mais familiar, mas vamos além, para mostrar não simplesmente o que se espera ver. Vamos ter bossa nova e carnaval carioca, sim, mas também rock e pop e carnaval de Recife, por exemplo.’

Criador da In Deed Paris, produtora e realizadora de documentários e desenhos animados relacionados à América Latina, Spivak lamenta a pouca mobilização para divulgar o potencial econômico e turístico da América Latina no velho continente. Para agravar a situação, as televisões européias mostram principalmente o lado negativo e miserável dos países sul-americanos, o que acaba desestimulando as pessoas a escolherem-nos como destino de suas viagens. ‘La Latina pretende ser uma tevê culta, dinâmica, festiva, sexy, ensolarada e positiva’, diz Spivak. Na sua opinião, os turistas não vão se deslocar enquanto não souberem que existem lugares fantásticos para se conhecer do outro lado do oceano. ‘Pretendemos ser uma janela aberta sobre o nosso continente, ajudando a incrementar o turismo e a atrair mais investidores. Se quisermos ser vendáveis, temos que ser visíveis’, argumenta.

Rede poliglota

‘Não apenas visíveis, mas também intelígiveis. Os programas da TV Latina serão exibidos em versão original, ou seja, em português e espanhol, mas com legendas em francês, inglês e alemão. Alguns serão também dublados. Com orçamento de 10 milhões de euros para o primeiro ano, a Latina TV espera atingir, de início, 0,5% do mercado, o que representa cerca de 35 milhões de casas com tevê a cabo ou satélite. O financiamento da rede será misto, dividido entre Europa e América do Sul.

Segundo Guillermo Spivak, os investimentos são majoritariamente europeus, sobretudo de fundos privados do meio audiovisual, ficando o conteúdo da programação e o know how a cargo de empresas sul-americanas. Parcerias já foram feitas com os grupos Tepuy, Inca e Imagen Satellital e acordos com a Varig e as Linhas Aéreas Argentinas estão em fase de negociação. A publicidade nos intervalos dos programas deverá também ser importante fonte de recursos da rede.

Inaugurada no dia 4 de outubro, em Cannes, durante o Mipcom – grande mercado internacional dedicado ao setor audiovisual -, a Latina TV ficará 24 horas no ar, sendo cerca de seis horas de programação própria e o restante de redifusão. As equipes de produção vão estar instaladas nos países da América Latina, principalmente Argentina, Brasil e México, ficando a montagem a cargo da equipe na França.’



NET EM CRISE
Ricardo Muniz

‘Net luta pela adesão de minoritários a plano de reestruturação’, copyright Portal Exame, 7/10/04

‘A Net Serviços continua o esforço, iniciado há três meses, para colocar de pé o plano de reestruturação da dívida de 1,49 bilhão de reais. Nesta quinta-feira (7/11) diretores da companhia se reuniram com investidores na sede da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) para explicar detalhes e prognósticos de sucesso da operação destinada e tirar a Net do default, situação em que se envolveu no final de 2002 (leia reportagem da revista EXAME sobre os desafios das Organizações Globo, logo após a morte de seu fundador, Roberto Marinho, em agosto do ano passado). A reestruturação precisa conquistar até 30 de novembro a adesão de 95% do total de credores para que se torne efetiva.

O plano foi apresentado pela primeira vez em 28 de junho e consiste basicamente na conversão de parte da dívida em ações, na previsão de dois cronogramas alternativos de amortização da dívida remanescente e na oferta pública de um novo lote de 1,8 bilhão de ações a um preço mínimo de 35 centavos por ação (entenda os detalhes da operação) para captar mais recursos e destiná-los à amortização de dívidas.

Naquela ocasião, a divulgação do entendimento com os principais credores foi tumultuada pela notícia da disposição da Telmex de tornar-se sócia da Net, desde que o acordo com os credores realmente saia do papel. ‘Fomos atropelados porque a Globo [controladora da Net] negociou com a Telmex e o anúncio foi feito no mesmo dia. Ficou difícil separar as duas coisas’, diz Leonardo Pereira, diretor financeiro e de relações com investidores. ‘De lá para cá, já fizemos oito ou nove reuniões de esclarecimento como esta, aqui e fora do país.’

Na platéia desta manhã, alguns acionistas minoritários revelaram desconforto com um dos mecanismos encontrados pela direção da Net para obter alívio financeiro. Na oferta pública de ações, o preço das preferenciais (cerca de 1,1 bilhão de ações) será definido pelo mecanismo de bookbuilding, respeitado o mínimo de 35 centavos por ação válido para as ordinárias – valor ratificado em agosto por um laudo independente. Caso haja captação superior a isso, graças a uma cotação maior do que a mínima, 80% dos recursos extras serão direcionados ao pagamento de dívidas. Só que os atuais preferencialistas terão de pagar mais do que queriam pelas ações (eles pediam o direito de pagar 0,35 por ação), e quem se negar, mantendo a carteira atual, vai perder participação no capital da empresa.

Francisco Valim, diretor-geral da Net, tentou convencer os minoritários de que a eventual perda de participação no capital será compensada pela redução do peso da dívida (o alvo é baixar a relação dívida líquida/Ebitda de 3,4 vezes hoje para uma vez e meia e antecipar ao máximo a geração de lucro líquido), impactando positivamente o valor da ação. Ao mesmo tempo, Valim pressionou pela aceitação dos termos do acordo: ‘A empresa não saiu da crise. Operacionalmente teve avanços radicais, mas somos uma empresa em default’ (não era o que o executivo dizia em 28/6). ‘Estamos em trégua, mas a guerra não foi vencida. Uma ação judicial chegou a ser apresentada, mas foi retirada por causa do acordo de credores, que expira em 30 de novembro.’

‘Azaração’

A direção da empresa também deixou claro que a oferta pública é crucial para acelerar os entendimentos com a Telmex. Caso não haja demanda pelas ações, os credores vão recebê-las como parte do pagamento, conquistando junto fortes direitos sobre as decisões operacionais da companhia. ‘Essa influência dos credores nas operações atrasaria a chegada do parceiro estratégico, por complicar a negociação’, afirma Pereira. ‘Nossa situação com a Telmex é de azaração de festa, aqueles olhares à distância, nem chegamos a pegar na mão’, diz Valim.’