Leia abaixo os textos de terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ Folha de S. Paulo
Terça-feira, 26 de setembro de 2006
ELEIÇÕES 2006
TRE nega a Requião censura contra reportagem da Folha
‘A coordenação jurídica da campanha à reeleição do governador licenciado do Paraná, Roberto Requião (PMDB), tentou impedir a publicação de uma reportagem da Folha ainda em apuração pelo repórter Rubens Valente e tentou convencer o Ministério Público a pedir à Justiça a quebra de sigilo telefônico da correspondente da Folha em Curitiba, Mari Tortato, e de mais três jornalistas da ‘Gazeta do Povo’.
Todas as investidas da Coligação Paraná Forte (PMDB-PSC) buscaram proibir na imprensa notícias da investigação da PIC (Promotoria de Investigações Criminais) sobre uma suposta quadrilha de arapongas que tinha como líder o policial civil e ex-assessor do governo Délcio Augusto Rasera, que está preso.
O caso envolve pessoas do primeiro escalão do governo Requião na investigação.
A tentativa de impedir a publicação da reportagem da Folha foi negada pela Justiça Eleitoral no domingo. O juiz Munir Abagge, do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), disse que conceder a liminar pedida pela campanha de Requião seria ‘gritante censura prévia’.
A coligação e o secretário-geral do PMDB-PR e candidato a deputado estadual, Luiz Cláudio Romanelli, ingressaram no sábado no TRE com um pedido de tutela inibitória para impedir a publicação de uma reportagem de Valente sobre um conjunto de escutas, supostamente ilegais, atribuídas a Rasera. Numa das gravações, Romanelli, presidente licenciado da Cohapar (Companhia de Habitação do Paraná), conversa com outro integrante do governo. O diálogo envolve o nome de Requião.
O repórter da Folha telefonou para Romanelli na sexta para ouvir sua versão sobre as interceptações. No sábado à tarde, a coligação protocolou o pedido de tutela inibitória da notícia. O pedido de liminar tentou ainda estender a proibição à publicação de outras reportagens que envolvessem documentos que a coligação considera ‘obtidos ilicitamente’, por quebrar o segredo de Justiça da investigação.
‘Não é de se supor, como querem fazer crer os representantes, que um jornal desta respeitabilidade, desta projeção nacional, apresente reportagens ilícitas, obtidas ilicitamente, e que as divulgue também com o propósito ilícito. A Constituição Federal estabelece o direito à liberdade da imprensa sem censura de qualquer natureza’, disse o juiz.
Por decisão editorial -e sem saber do pedido de liminar-, a Folha publicou no domingo outra reportagem envolvendo o policial Rasera e suas ligações com o governo Requião.
Sigilo telefônico
A operação para tentar inibir o trabalho da imprensa sobre o caso Rasera teve um primeiro lance na sexta. Em nome da coligação pró-Requião, o advogado Cezar Eduardo Ziliotto protocolou na Corregedoria Geral do Ministério Público um pedido de providências ao procurador-chefe, Ernani de Souza Cubas Jr., para que fosse à Justiça pedir a quebra de sigilo telefônico da repórter da Folha e de Caio Castro Lima, Karlos Kohlbach e Celso Nascimento, da ‘Gazeta do Povo’, sob o argumento de que informações e documentos resguardados pelo sigilo de Justiça vazaram.
O pedido de providências acusava ainda os jornalistas de ‘agir ilegalmente para obtenção de prova ilegal’ e dizia que as notícias do caso Rasera se prestam a ataques no programa eleitoral gratuito do candidato do PDT ao governo, Osmar Dias, contra Requião.
Depois de sugerir que o vazamento ocorre no Ministério Público, a coligação também pede a quebra do sigilo telefônico dos promotores envolvidos na investigação.
Ontem o corregedor do Ministério Público do Estado informou que o pedido de providências não foi analisado porque o advogado esqueceu de juntar aos documentos uma procuração de que representa a coligação pró-Requião.
Denúncias
A PIC protocolou ontem na Justiça duas denúncias contra a suposta quadrilha de grampos ilegais. De 20 pessoas denunciadas, uma detinha cargo no governo Requião: o presidente da Imprensa Oficial do Estado, João Carlos de Almeida Formighieri. Rasera foi denunciado como chefe da quadrilha.
Ele também foi denunciado à Vara de Inquéritos de Curitiba sob acusação de posse ilegal de armas de fogo. A Folha não localizou os advogados de Rasera e Formighieri ontem.’
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Presidente de estatal se diz surpreso
‘O presidente de Furnas, José Pedro Rodrigues de Oliveira, declarou-se surpreso com a informação de que a ajuda financeira a entidades filantrópicas foi intermediada por cabos eleitorais do ex-diretor Marcos Cerqueira Lima.
‘Nunca soube que cabos eleitorais cadastrassem as entidades’, afirmou. Segundo ele, as doações foram pulverizadas entre dezenas de municípios, e os projetos tiveram parecer jurídico favorável.
Ele disse que as doações foram suspensas em junho e só serão reiniciadas, com novas regras, ao término das eleições.
A principal mudança será a divulgação dos recursos na internet.
Segundo Oliveira, as doações obedecem a critérios definidos: só podem ser contemplados municípios situados em bacias hidrográficas utilizadas por Furnas e os benefícios devem ser destinados apenas a instituições de utilidade pública em dia com as receitas federal, estadual e municipal.
O ex-diretor de Relações Institucionais Marcos Cerqueira Lima tentou justificar o alto volume de recursos liberados para entidades de Pouso Alegre e outras cidades dizendo que elas estão na bacia hidrográfica que forma o lago de Furnas que nunca haviam recebido ajuda financeira da estatal.’
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ANJ critica ‘vocação autoritária’ de Requião
‘A ANJ (Associação Nacional de Jornais) afirmou ontem que o pedido de quebra de sigilo telefônico de jornalistas do Paraná por parte da coligação do governador licenciado Roberto Requião (PMDB) ‘demonstra vocação autoritária e falta de espírito democrático’. Em nota, o presidente da entidade, Nelson Sirotsky, classificou de ‘absurda a pretensão do candidato’. Leia a íntegra da nota:
‘A ANJ (Associação Nacional de Jornais) protesta com veemência contra a iniciativa do governador licenciado do Paraná e candidato à reeleição, Roberto Requião, de pedir ao Ministério Público a quebra do sigilo telefônico dos jornalistas Caio Castro Lima, Karlos Kohlbach e Celso Nascimento, da ‘Gazeta do Povo’, do Paraná, e Mari Tortato, da Folha de S.Paulo. A absurda pretensão do candidato está relacionada à cobertura jornalística que os repórteres vêm realizando a respeito dos grampos telefônicos feitos pelo policial civil Délcio Rasera, ex-funcionário da Casa Civil do governo do Paraná, e que se apresentava como assessor do governador licenciado. A coligação partidária do candidato tentou também exercer censura prévia, pedindo ao Ministério Público a proibição de publicação de matéria sobre o caso pela Folha de S.Paulo, mas o Tribunal Regional Eleitoral negou a liminar.
É lamentável que candidatos a mandatos populares pretendam impedir o livre acesso da sociedade às informações e, mais grave ainda, pressionar profissionais da imprensa mediante a quebra do seu sigilo telefônico. O pleno exercício do jornalismo é de interesse de todos os cidadãos e a tentativa de cerceá-lo demonstra vocação autoritária e falta de espírito democrático.
A ANJ espera que a Justiça, da mesma forma que se recusou a exercer censura prévia sobre a Folha, não acate o injustificável pedido de quebra do sigilo telefônico dos jornalistas. Seria uma agressão à liberdade de imprensa e um desserviço à democracia.
Nelson P. Sirotsky
Presidente da Associação Nacional de Jornais’’
Fumaça contra o fogo
‘O REVESTIMENTO ELEITORAL do dossiê Vedoin, em vez de esvaziar com sua descoberta pela Polícia Federal, inverteu a direção e cresceu tanto que, a essa altura, está reduzido a mero elemento de campanha. Com a repetição sem fim das poucas verdades apuradas, acusações no varejo e suposições a granel, instaurou-se uma barafunda em que ficam perdidas a noção dos crimes efetivamente ocorridos e a presunção das responsabilidades objetivas e seus respectivos graus.
Pelo visto, só depois das eleições fatos e hipóteses sob investigação poderão superar as pressões e explorações, e tomar o caminho conveniente à sua apuração e à opinião pública.
A Polícia Federal está retardando a investigação, como diz em uma de suas várias e graves insinuações o procurador da República em Mato Grosso, Mário Lúcio Avelar, e dizem oposicionistas em geral? Ou as peculiaridades do caso, como os depoimentos combinados pelos envolvidos e as fontes variadas do dinheiro, forçam investigações mais lentas?
Há muitas indagações soterradas pela disputa eleitoral. Quais são, afinal, os delitos motivadores dos inquéritos? A compra e venda de informação nesse caso seria um delito, que deixa de sê-lo quando em múltiplas atividades do dia-a-dia? Entre elas, certas práticas de jornais e telejornais, a venda de nossos endereços e cadastros pessoais, e outras tantas? Nada obceca mais os políticos do que obter informações. Da sua busca por meios nada éticos nas campanhas eleitorais, com a participação muito compensatória de jornalistas, Plínio Fraga deixou valioso artigo na Folha de domingo (‘A luz que vem do subterrâneo’, pág. A2).
O que os petistas do caso fariam com o dossiê fornecido pelos Vedoin, já que não integrava o material para a reportagem publicada por ‘IstoÉ’? Não há, até agora, nem especulação a respeito. Mas é um componente de muita importância no caso. Primeiro, porque ao tal dossiê não foi dado uso algum, o que pode descaracterizar prática delituosa. A possibilidade, porém, da existência de um plano de uso delituoso daria ainda mais gravidade ao caso. Neste último caso não estaria, necessariamente, a divulgação documental, dependendo de como fosse feita e com que afirmações.
A promessa de revelações tão interessantes quanto esclarecedoras está na procedência do dinheiro. Já se sabe, no entanto, que a especialidade típica dos petistas é a frustração de promessas. Não fossem os dólares denunciadores, talvez nos brindassem com a alegação, de montagem muito fácil, de que o dinheiro veio de doações a serem ou já declaradas.
O fato é que dos jornais, da TV e das rádios sai tanta fumaça que não se consegue ver o fogo.’
Kennedy Alencar e Pedro Dias Leite
Escândalo faz Lula estudar sua ida a debate na TV Globo
‘Apesar dos sinais públicos de que evitaria debates no primeiro turno, a crise do dossiê levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a considerar seriamente a possibilidade de ir ao confronto entre presidenciáveis da TV Globo, marcado para depois de amanhã, no Rio de Janeiro. Segundo um integrante da cúpula da campanha, a possibilidades de Lula ir ao evento estava ontem em ‘70%’. Na semana passada, era de ‘50%’.
Se faltar, Lula será atacado pelos adversários, que ganharam munição com a tentativa de petistas de comprar um dossiê contra o candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra. Se comparecer, o presidente teria como rebater ataques: mostraria que não teme o escândalo do dossiê nem teria nada para esconder.
A Folha apurou que a campanha de Lula não chegou ainda aos ‘100%’ de confirmação por três motivos. O principal é o temor de uma forte agressão da senadora Heloisa Helena (PSOL), que, na visão petista, seria capaz de um ato de forte constrangimento para Lula.
Segundo motivo: deixar aberta a possibilidade de desistir, se for conveniente para a estratégia de tentar vencer no primeiro turno (domingo).
Por último, a campanha do presidente avalia que uma negativa em cima da hora seria menos desgastante politicamente. Dizer sim agora fecharia a chance de recuo. Dizer não equivaleria a noticiário negativo antecipado, inclusive com a contrariedade da principal rede de TV do país.
Reconsideração
Um sinal de que cresceu a chance de o presidente ir ao debate foi o cancelamento de um evento amanhã. Lula teria assim mais tempo para se preparar. Na quinta-feira à noite, hora do debate, está previsto um comício de encerramento da campanha em São Bernardo do Campo (SP), mas Lula pode cancelá-lo na última hora.
Além de Lula e de Helena estão convidados os candidatos Geraldo Alckmin (PSDB) e Cristóvam Buarque (PDT). Só o petista ainda não confirmou sua presença. Auxiliares de Lula analisaram as declarações de Helena ao longo da campanha. Acham que ela poderia chamá-lo de ‘ladrão’ ou dizer que ‘tem vontade de vomitar ou cuspir’ nele, no PT e no governo federal. Simbolicamente, dizem os assessores, isso seria péssimo para a imagem presidencial.
Além do ‘fator Helena’, um eventual desempenho ruim poderia elevar a chance de segundo turno. Mas Lula tem se mostrado confiante e avaliado que as regras não permitirão massacre. Outra vantagem de comparecer ao debate seria marcar diferença com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, tucano como Alckmin. Lula poderia dizer ao candidato do PSDB que Fernando Henrique Cardoso se recusou a debater com os demais candidatos em 1998, mas ele não.’
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Lula diz que é prejudicado pela imprensa
‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se queixou ontem do tratamento dado a ele pela imprensa. Comparando com o tratamento dado ao governo anterior, do tucano Fernando Henrique Cardoso, Lula se disse prejudicado: ‘Se a nossa querida imprensa brasileira houvesse tido comigo a condescendência que teve com FHC, eu teria 70% dos votos’, disse.
O presidente, que participou do comício de encerramento do campanha petista em Porto Alegre, no qual estiveram presentes cerca de 10 mil pessoas, começou seu discurso -de 40 minutos- cumprimentando as autoridades e a imprensa. Disse que esse cumprimento mostrava o quanto ele está tranqüilo. No seu discurso, Lula voltou a se comparar com os ex-presidentes Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart.
Sobre Getúlio, ele lembrou a crise política pela qual o presidente passou antes de se suicidar. Já sobre JK, disse que ele foi acusado de ‘ladrão’ e teve o seu reconhecimento 50 anos depois. A respeito de Jango, lembrou que ele foi derrubado pelo golpe militar de 1964.
Referindo-se a crise do dossiê contra tucanos, Lula disse que quer que a Polícia Federal investigue a fundo e chegue à ‘verdade’. Ressalvou que essa tem sido a atitude da PF durante o seu governo.
‘Mas quero saber também saber o que há dentro daquele dossiê’, disse Lula, sendo aplaudido neste momento. Ainda falando sobre a crise do dossiê, Lula fez uma referência a seus adversários: ‘Eles que elevem o nível do debate’. Antes do comício, o candidato petista vistoriou as obras dos Centro de Excelência e Tecnologia Eletrônica Avançada, que se tornará a primeira fábrica de circuitos integrados do Brasil.
O ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) voltou a defender um grande acordo com os outros partidos caso Lula seja reeleito. Mais cedo, como presidente, Lula foi ao lançamento da pedra fundamental das obras de ampliação de uma usina termelétrica por meio de capital chinês em Candiota (RS).
Numa fala de improviso na sede da usina, Lula disse que o Rio Grande do Sul esteve abandonado nos últimos anos. ‘A minha preocupação com o Rio Grande do Sul é talvez a maior de todos os Estados.’ Entre os gaúchos, a rejeição a Lula cresceu nos últimos meses por conta das crises na agricultura e em setores como o calçadista e o moveleiro.
Colaborou EDUARDO SCOLESE, enviado especial a Candiota (RS)’
Luiz Fernando Vianna
Filósofo condena desempenho da imprensa na crise do dossiê
‘O filósofo Renato Janine Ribeiro, que já declarou voto em Lula, disse ontem à noite, no seminário ‘O Esquecimento da Política’, que ‘há uma opinião pública expressa nas intenções de voto e uma opinião pública expressa na imprensa. São totalmente diferentes entre si’.
Para a imprensa, ‘a maior parte da população pobre foi comprada por bolsas e não tem nenhuma preocupação ética, que é um apanágio apenas da classe média. Sustentar que a classe média e a classe rica são as únicas que se preocupam com a ética me parece colidir em demasiado com a realidade’. Ele lembrou 1964, quando a imprensa ajudou a demolir o Estado de Direito.
O filósofo defendeu o ator Paulo Betti, que disse que ‘não se faz política sem meter a mão na merda’. ‘Na nossa imprensa, o problema é a dificuldade dela com o espírito democrático. (…) É preciso aceitar as diferenças. Nossa imprensa tem muita dificuldade com isso. Se alguém hoje coloca em dúvida alguma afirmação que a imprensa faz, essa pessoa é denegrida imediatamente. Vejam o que houve com Paulo Betti. Ele simplesmente citou uma peça de Sartre, um dos maiores autores do século 20. Está sendo execrado’.’
TODA MÍDIA
Esforço de mídia
‘Lula fala a três rádios, na reprodução da Globo
Lula, nas palavras de Fátima Bernardes, ‘atribuiu ao presidente do PT a responsabilidade’ pelo dossiê. Foi ‘a três emissoras de rádio’. Na reprodução da Globo, ele nem cita o nome de Ricardo Berzoini, que por sua vez ‘não quis comentar a declaração’. Foi a manchete do dia, da Folha Online aos telejornais.
Terra e iG preferiram destacar, não a declaração, mas a estratégia lulista, no texto ‘Lula faz esforço de mídia e pode ir ao debate da Globo’, da Reuters Brasil. É o mesmo ‘pode’ do blog de Josias de Souza, sábado, no post ‘Se cair, Lula pode ir ao debate’. Com certeza, na agenda, só entrevistas para Record e mais rádios.
Comício em favor de Lula em Caruaru, só ontem no ‘NYT’
ROHTER, DE CARUARU
Atrasado em relação ao ‘International Herald Tribune’, seu jornal em Paris, o ‘New York Times’ publicou ontem reportagem de Larry Rohter sobre Lula, escrevendo de Caruaru. Sob o título ‘Conforme o Brasil se prepara para votar, mancha do escândalo parece se esvair’, ele prevê ‘reeleição com vitória esmagadora’ -e só lá pelo meio um parágrafo entre colchetes avisa de ‘um novo escândalo’.
Os blogs de David Cameron, Lionel Jospin e Hillary Clinton, parte da ‘tendência social’ que no Brasil chegou a incluir, por alguns dias, o tucano José Serra
ATINGIU O PICO
Bons tempos aqueles, dois anos atrás, em que buscar um blog de Bresser-Pereira ou Ricardo Noblat levava dias.
Agora, como descreve com ironia o ‘Financial Times’, da democrata americana Hillary Clinton ao conservador britânico David Cameron e ao socialista francês Lionel Jospin; do primeiro-ministro da Hungria ao presidente do Irã, blogar ‘atingiu o pico’. A tendência já seria de queda.
O que não impede as estréias sem fim, diárias, ontem de Zeca Camargo, que se junta a Tão Gomes Pinto etc. etc. Isso, para ficar nos jornalistas, sem falar dos candidatos em todos os níveis -a começar de um tal Blog do Geraldo.
VIOLÊNCIA CRUCIAL?
Ontem foi a vez da Reuters de dizer que a ‘Violência de gangues é questão crucial na eleição brasileira’. Poderia afetar Geraldo Alckmin, ‘frustrando o segundo turno’.
ESTRANGEIRA
‘Wall Street Journal’ etc. noticiam a compra da Inco pela Vale por US$ 17,3 bi. Diz o ‘NYT’ que a ‘companhia estrangeira corrói o status do Canadá da mineração’.’
INTERNET
Democracia digital
‘JOVENS DE antigamente -e muitas, até hoje- costumavam registrar suas alegrias e tristezas em um caderninho ou livreto, o diário, que era fechado a sete chaves, para que suas confissões não fossem lidas por abelhudos, em casa ou na escola.
A tecnologia da informação, com a internet, os computadores de alta capacidade de processamento, os softwares avançados e a banda larga (ainda que com muitas falhas) mudaram esse hábito. Hoje, proliferam os diários digitais, os blogs, em que as pessoas registram de opiniões sobre política, futebol e música a temas específicos, como defesa do consumidor -sem a intenção de fazer propaganda em causa própria, juro!, direito, jornalismo, automóveis etc.
Rapidamente, um tema ganha relevância, e até repercussão nacional ou mundial, ao ser divulgado e comentado em um blog. Mas blogs e as trocas comunitárias de e-mails são, para os consumidores, forças ainda pouco exploradas. Porque não há como as empresas não se manifestarem sobre e-mails que se propagam on-line, atestando problemas em produtos ou serviços.
Da mesma forma, os blogs são veículos excelentes para discutir segurança veicular, liberdade para os testes comparativos de produtos e de serviços, estatuto do torcedor, tarifas bancárias, dificuldade para cancelar um contrato de telefone celular ou de banda larga. Blogs de defesa do consumidor são olhos e ouvidos atentos às benesses pré-eleitorais, aos crimes contra os direitos de quem adquire produtos e serviços, públicos ou privados.
São as ágoras digitais, em que, a exemplo dos primórdios da democracia na Grécia, se discute de tudo, abertamente. Lamentavelmente, o clima de confronto político que se instaurou no Brasil, nos últimos anos, propiciou o surgimento de uma ‘tropa de vigilantes partidários’, que acompanha todas as manifestações do pensamento na internet, refutando com raiva, violência e deselegância comentários baseados em fatos.
Quem tem um blog com alguma repercussão sabe exatamente a que me refiro. Essa é uma subutilização dos diários, pois as discussões de temas que interessam ao eleitor, ao contribuinte, ao consumidor são esteios de sua cidadania. Tratá-los como uma briga entre seguidores de seitas políticas é lastimável, uma perda de tempo e de oportunidade.
Temos não só que participar dos debates dos blogs, intensificando a cobrança de nossos direitos de consumidores, como estimular a criação de outros espaços como os que já existem (hoje, principalmente, vinculados aos grandes jornais). E cobrar das empresas às quais emprestamos nossa fidelidade de compra que se exponham também com blogs -estima-se, hoje, que dezenas de milhares de companhias, em todo o mundo, tenham diários digitais.
Críticas, sugestões, dúvidas e elogios -por que não?- chegam on-line a quem de direito, publicamente, o que é muito mais eficaz. A liberdade de expressão é o melhor antídoto à tentação, às vezes confessada em jantares íntimos, de restringir a democracia. Ponto para a tecnologia e para seus usuários.
NA INTERNET – http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br’
TV DIGITAL
Estúdios querem TV digital ‘protegida’
‘Os estúdios de Hollywood estão se preparando para combater a pirataria no Brasil em uma nova frente: a TV digital.
O presidente da MPAA (Motion Picture Association of America, que reúne os seis maiores estúdios dos EUA), Bob Pisano, disse que a associação está conversando com emissoras de TV, como Globo e SBT, e com possíveis fabricantes da ‘set-top box’ (caixinha de conversão, que permitirá ver TV digital em televisores normais) para evitar que o sinal digital fique desprotegido.
Pela avaliação da MPAA, os produtores de conteúdo, como os estúdios, podem até mesmo parar de vender conteúdo às TVs brasileiras se não houver codificação do sinal para evitar a pirataria.
‘Nós não favorecemos um ou outro padrão da TV digital. Estamos preocupados com a proteção do conteúdo. Sem a proteção, qualquer um com um computador se torna um retransmissor internacional’, disse Pisano.
TV na internet
Ele se refere ao fato de que seria fácil ligar a saída digital de uma ‘caixinha’ ou de um televisor digital ao computador, gravar um programa que está passando na TV e colocá-lo na internet.
De acordo com Steve Solot, vice-presidente da MPA (Motion Picture Association, braço internacional da MPAA) para a América Latina, os estúdios estão fazendo sugestões às emissoras, a fabricantes e ao Ministério das Comunicações sobre como usar a tecnologia de codificação na TV digital.
Pisano diz, porém, que a tecnologia de proteção da TV digital não impedirá o telespectador de gravar um programa para uso pessoal, desde que o conteúdo não seja distribuído.
Downloads
O presidente da MPA disse também que os estúdios têm que agir mais rapidamente para satisfazer o desejo do consumidor por filmes em vários formatos -como downloads para assistir no computador ou em aparelhos portáteis e DVDs para ver no home theater.
‘As pessoas que fazem filmes têm que perceber que o download [legal] tem que estar disponível o quanto antes’, disse Pisano, que acrescentou que a penetração da banda larga em uma determinada região ou país vai definir se haverá oferta de download legal de filmes.
‘O problema é que, quando o fator novidade passar, quem vai querer assistir a um filme na tela pequena do computador? Talvez a tela do computador passe a servir para assistir a programas curtos, como vídeos de música, comédia ou notícias, e o home theater, para assistir a filmes’, afirmou Pisano.
Ele acrescentou que, no Brasil, algumas pessoas do setor querem tornar obrigatória a ‘janela’ entre a estréia do filme no cinema e o lançamento em DVD. ‘Mas os piratas não respeitam isso. Temos que fazer com que a experiência no cinema seja tão superior que as pessoas queiram ir.’’
TELEVISÃO
Globo lança TV nos EUA e fala com russos
‘Depois de três anos de estudos e negociações, começa a operar nos Estados Unidos em 1º de dezembro o PFC, o segundo canal internacional global da Globo. O PFC (Premiere Futebol Clube) será um canal só de futebol brasileiro, que transmitirá mais de 300 jogos por ano e programas do SporTV.
Assim como o pioneiro Globo Internacional, que já tem cerca de 400 mil assinantes, o PFC será dirigido a brasileiros que vivem no exterior.
Nos EUA, a Globo já fechou parceria com uma grande operadora de TV via satélite. Negocia agora com gigantes do cabo.
O canal estará disponível aos assinantes nos EUA em 1º janeiro, depois de um mês de operação experimental. O PFC será vendido como canal premium, no qual o assinante paga um valor extra na mensalidade. Custará entre US$ 10 e US$ 15.
A Globo estima que o PFC terá 40 mil assinantes até o final de 2007, quando já terá sido lançado na Europa, Ásia e África. Em cinco anos, acredita a empresa, atingirá 110 mil.
O PFC não trará grandes custos, afinal todo o seu conteúdo já é produzido pela Globosat.
A Globo tenta agora dar um passo mais ousado: negocia a co-produção de minisséries com TVs estrangeiras, com programas produzidos no Brasil e exibidos apenas no exterior. Há conversas com uma rede alemã e outra dos EUA, mas as negociações mais avançadas são com uma TV da Rússia.
ÚLTIMA HORA 1 A Record negocia com Mário Frias (‘Floribella’) para ele ser o protagonista de ‘Vidas Opostas’, novela que já está sendo gravada. Depois de sondar várias atrizes da Globo, a rede ainda não achou a mocinha de sua próxima novela das oito.
ÚLTIMA HORA 2A Record tem pressa para fechar com os intérpretes do mocinho e da mocinha da novela. Parte do elenco da produção, incluindo o protagonista masculino, tem viagem marcada para Portugal no dia 14.
ÚLTIMA HORA 3A Globo também enfrenta dificuldade de escalação. As gravações para sua próxima novela das sete, ‘Pé na Jaca’, começam na próxima semana, em Paris. E ainda falta um dos quatro protagonistas masculinos.
MARKETING DESNUDO 1O vídeo em que Daniella Cicarelli transa com seu namorado em uma praia está sendo um ótimo negócio para a MTV. A emissora espera bater recorde de audiência com o VMB de 2006, que acontece na próxima quinta-feira e que terá Cicarelli como mestre-de-cerimônias, ao lado de Cazé e Marcos Mion.
MARKETING DESNUDO 2 A MTV já anunciou que fará piada envolvendo Cicarelli, mas fará segredo, aumentando a expectativa do público.
PARANORMAL TOTALA Band começa a exibir em novembro a minissérie ‘Taken’, de Steven Spielberg, cujos direitos comprou no início de 2005. Vencedora do Emmy em 2003, ‘Taken’ conta a ‘história’ de pessoas que se envolveram com extraterrestres.’
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Trump inicia seleção de seu 4º aprendiz
‘Conseguir um emprego pode ser uma tarefa difícil. Mas pode se tornar um inferno quando o avaliador é um duro empresário que, com uma boa dose de sadismo e arrogância, expõe seus defeitos e falhas em cadeia nacional de TV.
Com essa receita, o canal People & Arts estréia hoje, às 22h, a quarta temporada do programa ‘O Aprendiz’, reality show comandado pelo magnata Donald Trump.
O formato já é conhecido, e o gênio do apresentador, também. A novidade parece ser o fato de o ‘elenco’ ter sido selecionado pelo próprio Trump.
Desta vez, ele diz ter reunido as principais qualidades para se fazer um programa de boa audiência. ‘Pela primeira vez, eu mesmo escolhi os participantes e estou muito satisfeito com os resultados. Tenho de tudo, beleza, inteligência e dinheiro’, afirmou Trump, que também é produtor-executivo da série, na época do lançamento do programa nos EUA, em setembro do ano passado.
Entre os participantes que competirão durante 13 semanas por um emprego na Trump Organization, estão um ex-jogador da NFL (liga profissional de futebol americano) transformado em vendedor executivo, um inventor, uma proprietária de uma cadeia de salões de beleza e spas, uma jornalista financeira e um gerente de riscos, entre outros.
O APRENDIZ – 4ª TEMPORADA
Quando: hoje, às 22h
Onde: People & Arts’
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O Estado de S. Paulo
Terça-feira, 26 de setembro de 2006
ELEIÇÕES 2006
Aldo acusa oposição de ‘brincar com a democracia’
‘O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acusou ontem a oposição de ‘brincar com a democracia’ e com a vontade do povo e tentar vencer a eleição presidencial ‘no tapetão’, referindo-se às muitas ações dos aliados do tucano Geraldo Alckmin contra Lula na Justiça Eleitoral.
‘Imagino que há campanha entre os adversários do presidente querendo levar a eleição para o segundo turno, independentemente da vontade do eleitor, porque acha que assim é melhor’, disse. ‘Mas é melhor para quem, cara pálida? Quem tem que decidir é o eleitor’, disse, sem explicar como a vontade do eleitor pode ser desconsiderada. Ele associou as ações dos oposicionistas com golpes e tentativas de golpes no País. ‘Como essas forças procederam em 1954, em 1955, quando tentaram, no golpe, impedir a posse do presidente Juscelino Kubitschek, como procederam em 1961, em 1964, porque em todos esses episódios essas forças foram rejeitadas pelo povo, derrotadas nas urnas. Então, essas forças sempre procuram um atalho. E o atalho muitas vezes é um golpe no tapetão, é uma sentença de um tribunal’, discursou. ‘Aqueles que respeitam a democracia devem ter compromisso e respeitar a vontade do povo brasileiro.’
Aldo se referiu ao pedido do PSDB e do PFL de investigação do suposto envolvimento de Lula na operação de compra do dossiê Vedoin, contra candidatos tucanos. ‘O desejo dessas vozes das trevas, do desespero, daqueles que não acreditam na democracia nem na vontade do povo, não encontrará respaldo no Tribunal Superior Eleitoral. O TSE não vai acolher nenhum tipo de chicana, nenhum tipo de conspirata para tirar do povo o direito de eleger o presidente.’
Ele admitiu que o caso do dossiê atrapalha a campanha de Lula. ‘Por mais que as pessoas que o conhecem saibam que ele não tem nada a ver com esse tipo de manobra espúria, mesmo que ele condene de forma veemente, mesmo que ele repudie como todo mundo repudiou, é claro que fica algum prejuízo.’
As declarações de Aldo irritaram o líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), que acusou Lula. ‘Quem deu golpe foi ele e seu partido, o PT, ao usarem meios ilícitos para divulgar um falso dossiê que ajudaria uma candidatura derrotada em São Paulo’, afirmou. ‘Quem não é democrata é o partido, porque democracia e corrupção não combinam.’
O deputado Júlio Redecker (PSDB-RS) disse estranhar as declarações, ‘que de democráticas não têm nada’. ‘Esperava que o Aldo defendesse a apuração sobre a origem do dinheiro usado na compra do dossiê, e não adotasse essa postura de que contra o PT não se pode investigar nada’, criticou.’
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ANJ critica Requião por tentar abrir sigilo de jornalistas
‘A Associação Nacional de Jornais (ANJ) divulgou ontem nota em reação à decisão do governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), tomada na semana passada, de pedir à Corregedoria-Geral do Ministério Público a quebra de sigilo telefônico de quatro jornalistas, da Gazeta do Povo e Folha de S. Paulo, por causa de reportagens sobre o escândalo dos grampos no Estado. Para a ANJ, o caso demonstra ‘vocação autoritária e falta de espírito democrático’.
‘A absurda pretensão do candidato está relacionada à cobertura jornalística que os repórteres vêm realizando a respeito dos grampos telefônicos feitos pelo policial civil Délcio Rasera, ex-funcionário da Casa Civil do governo do Paraná, que se apresentava como assessor do governador licenciado’, alertou o texto, assinado pelo presidente da ANJ, Nelson Sirotsky.
‘A coligação partidária tentou também exercer censura prévia, pedindo a proibição de publicação de matéria sobre o caso’, diz a nota.
Para a entidade, ‘é lamentável que candidatos a mandatos populares pretendam impedir o livre acesso da sociedade às informações e, mais grave ainda, pressionar profissionais da imprensa mediante a quebra do seu sigilo telefônico’.
RECUO
Ontem, em meio à repercussão do episódio, o coordenador jurídico da coligação de Requião, Luiz Carlos Delazari, disse que tudo não passou de um mal-entendido. ‘O setor jurídico não havia decidido sobre isso’, garantiu.
Irritado, Delazari disse, ao telefone, que o pedido para quebrar sigilo dos jornalistas seria extinto. ‘Não há procuração nos autos e não vamos anexá-la’, afirmou. ‘E não vou declarar mais nada.’ Para dar continuidade ao processo, o MP pediu que o advogado apresentasse uma procuração de que seria o representante da coligação.
O pedido para quebrar o sigilo havia sido encaminhado por outro advogado da coligação Paraná Forte, Cezar Ziliotto. Ele argumentava que o processo das escutas corria em segredo de Justiça e o vazamento de depoimentos e documentos poderia configurar ‘ato ilícito’.
O Sindicato dos Jornalistas do Paraná também emitiu uma nota para ‘deplorar’ a atitude da coligação, por tentar ‘intimidar e restringir o trabalho’ dos repórteres. ‘Se documentos sigilosos foram vazados à imprensa, que se investigue e que se punam os responsáveis. O que não se admite é a tentativa de políticos impedirem ou intimidarem jornalistas no exercício de sua atividade.’
DENÚNCIAS
Enquanto isso, a Promotoria de Investigação Criminal protocolou duas denúncias envolvendo os acusados de grampo no Paraná. O primeiro, na Comarca de Campo Largo, onde o processo começou, cita 20 pessoas por interceptação telefônica, quadrilha armada e advocacia administrativa. A outra, em Curitiba, contra Rasera, por porte ilegal de armas e munições.
Entre os denunciados está também o diretor da Imprensa Oficial do Paraná, João Carlos Formighieri.’
CASO CICARELLI
TJ manda sites tirarem do ar vídeo de Daniella
‘A modelo Daniella Cicarelli e o economista Renato Malzoni puderam comemorar a primeira vitória em uma ação que pode levar anos. O casal está processando os sites que divulgaram o vídeo em que os dois foram flagrados aos beijos e carícias tórridas na Espanha. Ontem, quando o escândalo completou uma semana, o Tribunal de Justiça de São Paulo concedeu liminar obrigando os sites IG, Globo.com e YouTube a tirar do ar as cenas que Daniella protagonizou com o namorado. Caso não respeitem a decisão, estão sujeitos a multa diária de R$ 250 mil.
O desembargador Ênio Santarelli Zuliani entendeu que a exposição da intimidade do casal na praia de Cádiz – que começa com carícias na areia e acaba em uma cena de intimidade sexual no mar – não justifica a veiculação indiscriminada das imagens. ‘Trata-se de um passo importante na luta para preservar os direitos do casal’, disse o advogado Rubens Decoussau Tilkian.
Casos parecidos com o de Daniella já foram alvo de disputas judiciais. Um jornal do Sul do País teve de responder a processo por publicar as imagens de uma mulher de topless na praia em reportagem sobre um dia de verão excepcionalmente quente. Ao ver a foto, ela entrou com ação contra o jornal, mas perdeu. O juiz ainda advertiu a mulher para que tomasse mais cuidado em público.
No caso de Daniella, a modelo, segundo a Justiça, não foi mero pano de fundo de uma notícia. Zuliani ficou convencido de que houve intenção clara de expor especificamente Daniella.’
ITÁLIA
Telecom Italia nega envolvimento em grampos
‘O ex-presidente da Telecom Italia e presidente da Pirelli, Marco Tronchetti Provera, negou ontem que a operadora esteja envolvida na rede de espionagem que envolveu grampos e obtenção de dados por meios ilícitos, investigada pelas autoridades italianas. ‘A Telecom Italia não grampeia telefones’, afirmou Tronchetti. ‘Nas 344 páginas (de documentos oficiais) não existe uma única linha que fale de grampos feitos pela Telecom Italia.’
Segundo o executivo, a maior operadora italiana e sua controladora, a Pirelli, foram as prejudicadas no caso. Entre os acusados está Giuliano Tavaroli, ex-diretor de Segurança da Telecom Italia, que seria o líder da rede. Tronchetti disse acreditar que Tavaroli deixou a empresa em março. Anteriormente, havia sido noticiado que o acusado havia trabalhado na empresa até setembro.
Cerca de 100 mil pessoas foram espionadas na Italia. Além de Tavaroli, é acusado Guido Ezzi, responsável pela segurança na Pirelli. A rede espionou políticos, jornalistas, celebridades e dirigentes financeiros. Segundo autoridades de Milão, se tratava de ‘um instrumento evidente de pressão e ameaça’. Não foi esclarecido oficialmente para quem as informações teriam sido levantadas.
Tronchetti deixou este mês o comando da Telecom Italia, depois que seu plano de separar as divisões de telefonia fixa e móvel, para uma possível venda da última, ter sido criticado duramente pelo governo italiano. No Brasil, a TIM, que pertence à Telecom Italia, é a segunda maior operadora de celular.
Ontem, o ministro italiano da Justiça, Clemente Mastella, que ordenou investigação sobre como os grampos são feitos na Telecom Italia, disse acreditar que seu telefone de casa e seu celular estão grampeados. ‘O som vem e vai’, disse Mastella. ‘Posso ouvir como se alguém estivesse tossindo, e algumas vezes a linha cai.’
A Telecom Italia informou oficialmente às autoridades do mercado acionário que mantém o plano de separar as operações de telefonia fixa e móvel, mas que não contratou consultores para vender quaisquer ativos. O novo presidente da operadora, Guido Rossi, informou que a divisão das operações tem como objetivo enfrentar a competição dura no setor de telecomunicações, colocando o foco na oferta de banda larga e conteúdo aos clientes. O primeiro-ministro italiano, Romano Prodi, se opôs à reorganização, ante a possibilidade dos ativos da companhia serem vendidos para estrangeiros.
Como outras operadoras européias, a Telecom Italia enfrenta queda de receita trazida por novas tecnologias, como ligações via internet. Os preços das ações da companhia caíram quase pela metade desde que Tronchetti Provera assumiu sua direção em 2001.
Prodi fechou um acordo com a oposição, dirigida por Silvio Berlusconi, para editar um decreto lei para destruir toda informação levantada pela rede de espionagem. A decisão foi mal recebida pelo Judiciário, pois determina, na prática, a destruição de provas.’
TELEVISÃO
Etienne Jacintho
‘Para incrementar seu time de personagens únicos, o Universal Channel estréia amanhã, às 23 horas, a série Psych, que acompanha o trabalho de Shawn Spencer (James Roday), que desenvolveu uma grande habilidade de dedução ao ser treinado por seu pai, um policial. Com sua astúcia, Shawn ajudará a resolver crimes em Santa Barbara.
O problema é que o emprego de consultor da polícia só chegou às suas mãos por meio de uma mentira. O departamento acredita que ele seja um vidente – como a personagem Allison Dubois de Patricia Arquette, em Medium, em cartaz no canal Sony. Mas ele não tem sonhos nem entra em contato com mortos nem com energias alheias. No entanto, para preservar seu emprego, Shawn faz as maiores palhaçadas para que acreditem que ele é realmente um vidente. A primeira temporada foi muito bem nos Estados Unidos.
Está aí mais um personagem peculiar que, junto com Monk (Tony Shaloub) e House (Hugh Laurie) – dois dos grandes astros do Universal Channel -, provavelmente conquistará a simpatia do público. E esse é um trunfo do canal que, desde sua reformulação e mudança de nome (antes era USA) tem investido bastante em séries e conseguiu montar uma grade competitiva em relação a outros canais do gênero.
Além de Monk, House e Psych, o Universal Channel exibe Law&Order e Law & Order: Special Victims Unit, The 4400, Crossing Jordan e algumas gerações de Jornada nas Estrelas.
Claro que ainda falta acertar a programação de seriados para que o canal chegue a lutar em pé de igualdade com seu maior concorrente, o Warner Channel, mas a seleção de atrações está no caminho certo e faz jus ao seu slogan nos Estados Unidos: ‘Um canal onde os personagens são bem-vindos.’
entre- linhas
Depois de Cicarelli, Juliana Paes virou alvo do YouTube. Cena da atriz nua na novela Celebridade (2003) se transformou em hit de acessos no portal. Resta saber se a atriz irá reclamar.
O programa Hoje em Dia, da Record, estréia hoje um novo quadro, o Costureira Nota 10. Duas costureiras vão confeccionar uma roupa para a apresentadora Ana Hickmann desfilar. A vencedora receberá um prêmio de R$ 5 mil.
A segunda temporada de Supernanny já tem data de estréia: dia 8, com direito a festa de lançamento.’
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O Globo
Terça-feira, 26 de setembro de 2006
ELEIÇÕES 2006
Ataque de Lula à imprensa provoca reações, 26/09/06
‘As críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT à cobertura da mídia sobre o escândalo da tentativa de compra por petistas de um dossiê contra tucanos provocou o debate: jornais, TVs e revistas estariam exagerando nos relatos do caso? Não, na opinião de jornalistas e políticos ouvidos pelo GLOBO. Para uns, Lula e o PT deveriam lembrar que a mídia foi canal para o crescimento do partido e do candidato, em outros tempos.
Para outros, é preciso destacar que o episódio da compra do dossiê contra o candidato do PSDB ao governo do estado de São Paulo, José Serra, foi criado por integrantes do partido de Lula, não por jornalistas.
O presidente corre riscos ao tentar triunfar sobre conquistas democráticas, na opinião do deputado federal Paulo Delgado (PT-MG). Aliado de Lula, o deputado afirma que o presidente, o PT e os petistas deveriam se contentar em vencer as eleições. Ele lembra que as críticas e cobranças a quem está à frente das pesquisas são necessariamente maiores:
– Nós estamos cuspindo na rotativa em que comemos. O PT é um produto da imprensa. A imprensa sempre ampliou a nossa voz e a nossa luta. A cobertura democrática cobra mais do vencedor. Sempre. O PT sabe disso. É obrigação da imprensa livre. Nós devemos nos contentar em vencer as eleições. E não em triunfar sobre a liberdade de imprensa e de opinião – afirmou o petista.
‘Ele quer criar ambiente de cizânia’, diz Dines
Em discurso para militantes sábado, em São Paulo, o presidente atacou o que chama de ‘partidarismo da imprensa’ e pediu uma ‘cobertura republicana’ do escândalo. O texto de abertura da última edição do boletim eletrônico do PT, intitulado ‘Força do povo, fraqueza da mídia’, afirma que a mídia ‘continua elitista e não aceita que o povo seja capaz de pensar, sem depender da intermediação dos autoproclamados formadores de opinião’.
O jornalista Alberto Dines, editor do ‘Observatório da Imprensa’, afirma que o discurso de Lula e de seu partido, nos últimos tempos, está ‘esquizofrênico’. A mídia, segundo ele, ‘tirou o PT e o presidente da obscuridade’.
– O presidente xinga e quer virar a mesa. Eles querem criar uma tensão. Isso vai ter conseqüências terríveis. Percebe-se que o objetivo é prejudicar a imprensa, que tem se comportado muito bem, que tem conseguido vencer o corporativismo. Ele quer criar ambiente de cizânia, de suspeição.
Para Dines, Lula não tem equilíbrio suficiente para conduzir momentos de crise:
– O Lula está melando o jogo, porque é árbitro engajado. Ele não tem equilíbrio para ser árbitro. Por mais que se queira separar do Hugo Chávez, ele é igual ao Chávez.
O diretor de Redação do jornal ‘O Estado de S.Paulo’, Sandro Vaia, sustenta que a imprensa está cumprindo sua obrigação ao cobrir e dar espaço em suas edições ao episódio, sem ‘partidarismos’.
– Se o próprio presidente diz que os assessores que provocaram esse último escândalo são ‘aloprados’, o que deveria a imprensa fazer? Tanto o presidente da República como seu partido tentam acusar a imprensa de ‘ataques e manobras’ atribuindo-lhe até preconceito de classe, quando na verdade os atores do escândalo são todos membros do partido, comandados por seu próprio presidente, que foi afastado do comando da campanha – afirmou Vaia, para quem Lula e o PT estão confundindo o conceito do que é ‘republicano’.
– Nem o presidente da República nem seu partido têm a menor noção do que querem dizer quando falam em ‘cobertura republicana’. Eles estão confundindo os interesses da República com seus interesses partidários e eleitorais.
O tom usado por Lula no último domingo se confronta com o que adotou, por exemplo, em entrevista concedida ao Jornal da Band, no último dia 14:
– A liberdade de imprensa não é um desejo. É um compromisso de vida, até porque sou presidente por causa da liberdade de imprensa. Não que eu sempre concorde com o que a imprensa faz. Às vezes, ela condena inocentes, perdoa culpados. A imprensa também erra. Mas o exercício da democracia permite isso. Na melhor das hipóteses, o leitor vai julgar – disse o presidente, na época.
Ex-petista, o deputado federal Chico Alencar (PSOLRJ) afirma que os jornais – ‘como todos os velhos marxistas do PT sabem’ – tiveram papel importante na ‘elevação da consciência política do povo’.
– O problema é que o Lula, para justificar seus erros, infantiliza o povo. Ele está propondo que o povo não leia mais nada, que só escute a voz dele. É um quê de absolutismo.
Para ele, como na época do Brasil absolutista, imprensa boa é imprensa oficial. O deputado diz não acreditar na imparcialidade da mídia, mas ressalta que as opiniões dos órgãos de imprensa têm ficado restritas aos editoriais. Para ele, quem deu margem ao noticiário negativo foi o PT:
– A mídia no pior dos casos até aumenta, mas não inventa. E o que o PT deu de chance para esse noticiário acontecer…
O jornalista Marcelo Beraba, ombudsman da ‘Folha de S.Paulo’, afirma que a imprensa tem agido corretamente ao dar visibilidade ao caso:
– O dossiê, origem da última crise, não foi criado pela mídia, mas pelos membros do PT. A imprensa age de forma correta ao dar visibilidade ao caso e ao exigir que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal investiguem as denúncias – disse o jornalista.’
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Tema vira discussão na internet
‘O debate em torno do papel da mídia na cobertura do escândalo que envolve a campanha de Lula provocou acaloradas discussões cibernéticas entre o jornalista Luiz Weis, do ‘Observatório da Imprensa’, e o filósofo Emir Sader.
Em resposta a um artigo do filósofo, num blog, em que afirma que ‘o povo não acredita na imprensa (as exceções são conhecidas: Carta Capital, Carta Maior, Caros Amigos, Brasil de Fato e várias outras vozes dissonantes, alternativas, embora minoritárias)’, Weis reagiu: ‘A imprensa tem fé pública para a sua missão fundamental, que é a de fiscalizar os governos. Essa fé pública é posta a prova dia a dia nos quatro cantos do mundo, que não censura a informação’, diz Weis, no site do Observatório da Imprensa.
Emir Sader questiona, no blog, os critérios da imprensa para organizar debates públicos ‘com as pessoas que lhes interessam, no cenário que preferem, com as perguntam que privilegiam’. O filósofo afirma ainda que os meios de comunicação tentam ‘desesperadamente’ assumir uma representação ‘que ninguém lhes atribuiu’, na tentativa de influenciar o eleitorado.
Ele sustenta que a imprensa já teria ‘perdido’ esses eleitores, diante das políticas sociais e do ‘instinto social consolidado no voto do povo’. Luiz Weis enumera casos recentes em que o papel da mídia foi apenas o de noticiar os escândalos.
‘Foi a mídia que fabricou a ‘abominável’ tentativa petista de ‘fazer negócio com bandido’ (Lula), para comprar um dossiê contra José Serra?’, questionou Weis, usando palavras de Lula. ‘Já se disse que, numa escolha hipotética, seria melhor não ter governo do que não ter imprensa’, conclui o jornalista.’
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