Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Tropa de Elite estréia no Festival de Berlim

Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008


CINEMA
Silvana Arantes


‘Tropa de Elite’ estréia hoje no festival de Berlim


‘O longa-metragem ‘Tropa de Elite’, concorrente brasileiro ao Urso de Ouro no 58º Festival de Berlim, faz hoje sua estréia no evento. A sessão oficial competitiva, na sala de projeção do Berlinale Palast, sede da disputa, ocorre às 16h (13h, no horário de Brasília).


Estarão presentes o diretor, José Padilha, e parte da sua equipe -os atores Wagner Moura (Capitão Nascimento) e Maria Ribeiro (Rosane, a mulher do capitão), o fotógrafo Lula Carvalho e o produtor do filme e sócio de Padilha, o cineasta Marcos Prado (‘Estamira’).


Os outros dois filmes da competição (entre 21 longas) programados para hoje são o alemão ‘Kirschblüten – Hanami’ (o desabrochar das cerejas), de Doris Dörrie, uma tragicomédia sobre a vida amorosa de um homem, e o chinês ‘Man Jeuk’ (o pardal), de Johnnie To, sobre jovens delinqüentes.


O festival anuncia os vencedores e entrega seus prêmios no próximo sábado.


No fim de semana passado, ‘Tropa de Elite’ começou a ganhar a atenção da imprensa internacional em Berlim. A revista ‘Hollywood Reporter’ citou-o como o título ‘que está sendo promovido como o novo ‘Cidade de Deus’.


A ‘Screen’ publicou no sábado entrevista com Padilha, em que ele afirma: ‘[No Brasil] Muitas pessoas me pararam na rua para dizer que estavam gratas porque o filme dá à polícia o que ela merece. Obviamente, não foi o que tentei fazer’.


‘Tropa de Elite’ aborda o consumo e a repressão ao tráfico no Rio sob a ótica de um capitão do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) da PM, que pretende deixar a função, mas não sem antes encontrar seu substituto.


‘Fome’


Em busca de co-produtores e/ou distribuidores internacionais, Padilha e Prado trouxeram ao Mercado do Filme de Berlim, realizado paralelamente à competição, ‘um roteiro debaixo do braço’, que volta a tratar do consumo de drogas no Rio, nos dias atuais e pela perspectiva dos usuários.


O filme, cujo título provisório foi ‘Posto 9’, terá o nome de ‘Paraísos Artificiais’ e será dirigido por Prado e produzido por Padilha. A produção de ‘Paraísos Artificiais’, no entanto, não deve retardar a carreira de Padilha como diretor.


Ele já tem quase pronto o documentário ‘Fome’, com o qual imagina ‘acender outro debate importante no Brasil, sobre os programas sociais’.


Autor do multipremiado documentário ‘Ônibus 174’, sobre o seqüestrador do coletivo no Rio, Padilha diz que ‘Fome’ é um filme ‘ao contrário de todos’ os seus anteriores, porque se filia ao cinema direto.


‘Não há nenhuma análise sobre o problema da fome no filme. Ele mostra o tema pelo ponto de vista de quem passa fome, pura e simplesmente. Acho que esse ponto de vista é muito forte e foi ignorado’, diz.


Política


Os políticos do Brasil serão tema de outro filme do diretor, cujo roteiro está sendo escrito pelo sociólogo Luiz Eduardo Soares, co-autor (com Rodrigo Pimentel e André Batista) de ‘Elite da Tropa’, versão literária de ‘Tropa de Elite’.


Inicialmente anunciado como ‘O Corruptólogo’, o longa deverá chamar-se ‘Nunca Antes na História deste País’.


Mas é provável que o próximo filme de Padilha seja uma produção hollywoodiana. Incluído em recente lista de ‘dez diretores a observar’ da revista ‘Variety’, Padilha diz que tem recebido muitas propostas dos Estados Unidos e tem interesse em dirigir em Hollywood.


‘É a meca do cinema. Deve ser interessante você poder levar para o set uma tonelada de luz e refletores, não sei quantas gruas, e não ter que ficar fazendo conta. É uma espécie de parque de diversões do diretor. Eu gostaria de experimentar fazer um filme lá’, afirma.


Já a produção da minissérie que daria continuação à história de ‘Tropa de Elite’ não teve avanços. De acordo com Padilha, ainda não houve acordo com nenhuma das emissoras de TV interessadas no projeto. ‘Estamos conversando. Essa é uma coisa que tem que ser feita com calma e direito’, diz.’


 


CARTÕES DO GOVERNO
Valdo Cruz


Demorou por quê?


‘BRASÍLIA – Chefe da Controladoria Geral da União, Jorge Hage revelou-me que há um ano defendia dentro do governo fixar limites nos saques em dinheiro dos cartões corporativos. Seu argumento: ele é tão opaco quanto as ‘contas B’, mecanismo em que o servidor pega o dinheiro e depois presta contas.


Convenhamos, o saque e a ‘conta B’ criam uma avenida para a fabricação de notas fiscais frias. O servidor pode gastar com o que desejar e, depois, arranja uma notinha. Nos dois casos, como diz Hage, a transparência inexiste.


Por que então o governo não adotou a sugestão do ministro responsável pela fiscalização das contas públicas? Bem, o próprio Hage procura justificar a letargia federal. Diz que o timing do governo não é o mesmo da imprensa.


O fato é que o governo só acordou para o tema depois que ele foi lançado à luz do dia pela imprensa. Justiça seja feita, isso foi possível porque o órgão de Hage disponibilizou os dados na internet.


Agora, depois da porta arrombada, o Palácio do Planalto descobriu que estava tudo muito frouxo. Que havia uma farra de saques em dinheiro nos cartões -nada menos que 75% dos R 78 milhões gastos no ano passado.


O que não dá para entender é por que o governo demorou tanto tempo em adotar algo defendido internamente há um ano. Talvez por incompetência. Talvez de propósito. Talvez a mistura dos dois. A CPI dos Cartões Corporativos poderá nos dar a resposta.


CPI que deve aperfeiçoar o uso do cartão, não caminhar para sua extinção como defendem alguns. Afinal, foi ele que revelou o festival de descontrole das compras do governo federal, um abuso do seu, do meu, do nosso dinheiro.


Comissão que também deve restringir tudo aquilo que hoje, disfarçado de sigiloso, pode estar encobrindo gastos irregulares e mordomias injustificáveis.


Enfim, se a transparência ainda não é a ideal, ela avançou. O que falhou, e feio, foi a fiscalização.’


 


Andreza Matais


Tucanos querem abrir duas CPIs para investigar cartões


‘Diante da resistência do governo em criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito mista para investigar o uso de cartões corporativos do governo federal, o PSDB decidiu mudar de estratégia e propor a criação de duas CPIs para o mesmo tema: uma na Câmara e outra no Senado. A idéia será discutida hoje, em reunião dos partidos da oposição na Câmara.


‘Se sair a CPI governista do Senado, faremos uma CPI da Câmara. Esta vai ser uma semana decisiva’, disse o líder do PSDB, deputado Antonio Carlos Pannunzio (SP), para quem a CPI na Câmara contará com o apoio ‘razoável de parlamentares sérios de outros partidos’ fora os da oposição.


O governo teme que uma CPI mista contamine os trabalhos no Congresso, já que envolverá deputados e senadores, por isso trabalha por uma comissão só no Senado. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), prometeu apresentar hoje as 27 assinaturas para criar a CPI, com ou sem o apoio da oposição na Casa.


O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), fará hoje nova tentativa de convencer o governo a aceitar a CPI mista. Ele convidou os líderes do Senado para uma reunião.


Para Agripino, a informação publicada ontem pela Folha de que 44% dos cartões corporativos estão nas mãos de funcionários de confiança do governo reforça a necessidade da CPI.


‘Se formos atrás dessas pessoas veremos que são todos indicados do PT. O grande pecado está nos saques em dinheiro que possibilitam comprar para si e para terceiros’, disse.


A reportagem reforça ‘a suspeita de que houve gasto exagerado’, disse o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ).


O objetivo da oposição é descobrir saques que pagaram despesas pessoais da família do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ‘Esse pessoal já mostrou que não pode ver cofre. O problema não é o cartão, mas a mentalidade de quem o comanda’, disse o senador Heráclito Fortes (DEM-PI).


As declarações do ministro Tarso Genro (Justiça) ontem, de que não há ‘erros’ no uso de cartões e que a oposição criou uma ‘crise artificial’ porque está sem discurso acirrou mais os ânimos. ‘O ministro deveria ter cautela. Isso pode parar nas mãos dele, pois virou caso de polícia’, disse Heráclito.


O líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Alves (RN), disse que a iniciativa do governo de propor uma CPI no Senado dificultará barrar uma CPI também na Câmara. ‘Se o governo tomou a iniciativa no Senado, não tem como orientar contra na Câmara. Mas não acho correto ter duas CPIs para o mesmo assunto’, declarou.


Na contramão dos colegas governistas, Alves reconheceu ‘descuido’ no uso dos cartões. ‘São deslizes que mostram relaxamento, falta de critério.’


Dados do próprio governo indicaram que os cartões foram usados para pagar free shop, hotéis de luxo em feriados, tapioca, aluguéis de carros e até reforma de mesa de sinuca. O escândalo derrubou a ex-ministra Matilde Ribeiro (Igualdade Racial) e levou o ministro Orlando Silva (Esportes) a anunciar a devolução dos R$ 30 mil que gastou até que suas contas sejam auditadas.’


 


Fernando Barros de Mello


‘No exterior, regras claras inibem abuso com cartões’


‘O DIRETOR do curso de economia de São Paulo da FGV diz que os cartões corporativos são parte de uma ‘doença mais grave’, que é a falta de fiscalização e de informação sobre o Estado brasileiro. O autor de ‘Ética e Economia’ (Campus) e ‘A Economia Política da Corrupção do Brasil’ (Senac) estuda ‘governos eletrônicos’. Por isso avalia o uso dos cartões no mundo.


FOLHA – Cartão corporativo é ruim?


MARCOS FERNANDES GONÇALVES – Não. Cartão corporativo é bom, seja numa empresa ou no governo. É muito mais fácil executar pagamentos menores por meio de cartão de crédito. Além disso, gera mais transparência. Anos atrás, dois executivos ingleses de uma empresa gastaram uma quantidade enorme num jantar. Foram demitidos assim que o gasto foi apontado.


Eu vejo o escândalo dos cartões como uma manifestação epidérmica de uma doença mais grave, que é o fato de o Estado brasileiro estar fora de controle, pela falta de fiscalização e informações. A ‘viúva’, o Tesouro Nacional, é a última a saber. Por outro lado, esse escândalo mostra confusões que brotaram na opinião pública.


FOLHA – Quais?


GONÇALVES – O cartão corporativo não é culpado pela fraude, ele é a solução para combater esse tipo de corrupção, porque gera automaticamente a transparência e acaba com essa história de nota, recibo etc. Todo mundo sabe que é fácil pegar, por exemplo, um recibo superfaturado em um táxi, uma prática imoral. Se é cartão de crédito, aparece onde gastou e o valor exato. Ao surgir uma conta estranha, fiscaliza-se. Não por acaso, o escândalo só veio à tona porque os gastos ficaram registrados. Mostrou a importância de um instrumento como o Portal da Transparência. Mas há confusão sobre o que é um escândalo e o que não é.


No caso de um jantar com uma comitiva chinesa, por exemplo, gastar R$ 500 ou R$ 1.000 é normal. Você está recebendo pessoas que representam um governo estrangeiro.


O ponto crítico é o gasto na mesa de bilhar, os saques altíssimos, os gastos sigilosos que ninguém tem idéia do que foi feito ou ter um só cartão gastando R$ 500 mil por ano. Aí é que estão os absurdos.


Os saques são um ponto crucial, porque, nesse caso, o cartão pode ser fonte para caixa dois. De grão em grão a galinha enche o papo, de dez em dez reais se faz 1 milhão.


FOLHA – O que outros países que usam cartão podem ensinar?


GONÇALVES – A primeira questão é fazer um manual claro sobre como usar o cartão. Depois, obrigar os funcionários que vão usar a assinar um termo de compromisso onde está dito que eles vão obedecer o que está no código e que sabem que, se não cumprirem, podem ser processados judicialmente.


Também é preciso esclarecer os usos e, para isso, aulas são dadas a quem tem o cartão. Se fosse assim no Brasil, ninguém poderia dizer que não sabia, que não leu o manual. Mas o governo não tem ainda um manual. Há países onde códigos de conduta detalham como usar o cartão. Os melhores exemplos são Austrália e Nova Zelândia, que estão anos-luz à frente.


FOLHA – Por quê?


GONÇALVES – Nos anos 90, eles fizeram grandes reformas no setor público, informatizando praticamente tudo, o que gerou um subproduto fundamental, mais transparência e controle sobre todos os níveis do governo. O mais importante é ver como os gastos são executados.


Eles criaram governos eletrônicos. Na Austrália, todos os protocolos do governo são informatizados, os processos do Judiciário circulam virtualmente de departamento para departamento. Há até mesmo informações dizendo se o funcionário público está aparecendo no trabalho. Isso gera democracia eletrônica, que não é só apertar um número na urna, mas democracia como melhor sistema de controle sobre os burocratas e os políticos.


FOLHA – Isso ocorre nos cartões?


GONÇALVES – Sim. As faturas são públicas e on-line. A compra do funcionário vai automaticamente para a internet. Nesses países, quem tem cartão está no primeiro e no segundo escalão, ou seja, ministros, assessores, mas também o equivalente a governadores e alguns burocratas de ministérios que podem fazer compras específicas.


O manual de conduta deixa claro como e onde pode ser usado: viagens, jantares, alimentação, combustível e gastos inesperados. Só que existem tetos fixados para gastos e para saques em dinheiro, que varia entre regiões.


Outro ponto é que os gastos inesperados ou pequenos gastos não dão problema, pois o funcionário é obrigado a provar imediatamente por que o gasto foi inesperado e isso também é publicado na internet. Quebrou um carro? Prove. Teve problema de saúde? Prove.


FOLHA – Por que o mecanismo é eficiente na Austrália?


GONÇALVES – Porque o superior é obrigado a ficar de olho. Um funcionário que responde ao superior só pode realizar saques com cartão se autorizado.


Mais do que isso, se um subordinado faz um gasto indevido, o superior também é culpado. Uma regra onde o chefe é o direto responsável pelas ações do chefiado cria incentivos naturais ao controle. Nesses países, está na lei que o chefe é o imediato responsável juridicamente pelos gastos.


No ministério australiano, se um chefe-de-gabinete faz um gasto indevido, o responsável é o ministro. O burocrata abaixo do chefe-de-gabinete faz gasto indevido? O responsável é o chefe-de-gabinete. É claro que o subalterno também é punido, mas, no limite, gastos pouco razoáveis de um ministro podem derrubar até mesmo o primeiro-ministro. Como resultado, o superior fica no cangote do funcionário; está todo mundo com o rabo preso, no bom sentido.


FOLHA – Há outros países que estão mais avançados no uso do cartão ?


GONÇALVES – A experiência dos outros países é mais recente. A França tem um bom sistema, com manual e limite para saques e gastos. Os cartões estão nas mãos do presidente, do primeiro-ministro e dos ministros, além de alguns assessores.


Mas não tem magia. Lá a informação é totalmente pública, na internet. A ex-primeira-dama Cecília Sarkozy abriu mão do cartão não porque fez gastos indecentes, mas porque a vida privada dela ficava explicitada. Ela fez uma escolha.


Eu pesquisei cartões corporativos exaustivamente e podem até existir outros países que usem, mas não divulgam as informações na internet, um pressuposto básico do sistema.


FOLHA – Nos países citados, o controle como o feito pela CGU no Brasil é importante?


GONÇALVES – Sim, mas a questão é que não é o único controle. Austrália e Nova Zelândia têm auditoria anual das contas de todo o governo, mas os ministérios fazem auditorias internas muito sérias.


O controle francês é feito por auditoria interna nos três Poderes e uma auditoria externa, feita por uma espécie de Tribunal de Contas.


É interessante que Tribunal de Contas como conhecemos só existe no Brasil e é uma boa idéia, só que mal utilizada. Em São Paulo, é complicado o governador indicar conselheiros para o TCE. Agora, o Tribunal de Contas da União faz um trabalho sério.


FOLHA – Como controlar no Brasil?


GONÇALVES – Sou a favor de auditoria de empresas privadas no governo. No caso dos cartões, se quisesse, o governo poderia fazer um estudo para calcular quanto se gasta em média em uma viagem, com hotel, alimentação. Poderia fazer por cidade brasileira ou média nacional. Depois, um cálculo para regulamentar saques para gastos imprevistos, que nunca passa de 20% a 30% do total. Emergência pressupõe valores modestos. Assim, determina-se tetos e limites e, conseqüentemente, quem extrapola limites.


FOLHA – O que acha dos gastos sigilosos com cartões do governo?


GONÇALVES – Existem gastos que não podem ser mesmo publicados, como gastos em áreas estratégicas militares, exemplo do submarino nuclear brasileiro. Ou então questões geopolíticas. Mas, em qualquer país razoável, uma comissão bicameral, Câmara e Senado, analisa e acompanha tais gastos.


Agora, confidencialidade com gasto em jantar, pagamento de hotel, compra de carne para o presidente não tem o menor cabimento. O problema central não é a carne para o presidente ser risco à segurança, mas gastos sem transparência.


FOLHA – Há diferença entre o cartão de débito usado em São Paulo e o cartão de crédito federal?


GONÇALVES – A diferença prática é financeira, porque no cartão de crédito você paga depois, enquanto o de débito é um cheque eletrônico e o dinheiro sai no ato da conta do governo. No governo de São Paulo há uma conta para esses gastos e há limite para gastos de cada cartão.


Mas a rigor não há muita diferença. O mais importante é a transparência, essência do governo eletrônico. A sociedade ficou de olho nos cartões e isso ficará. Cartão de crédito do governo não era muito fiscalizado. E é fácil fiscalizar.


FOLHA – Governo eletrônico é caro?


GONÇALVES – Não! É barato, porque elimina papel, recibos, notas, diminui a oportunidade de corrupção e o custo da transação. Isso traz economia para o Estado. O pior (ou melhor) é que governo eletrônico é uma invenção brasileira, criada com o sistema de licitação eletrônico feito no governo Mario Covas em São Paulo. Isso foi levado depois para outros países.’


 


Daniel Bergamasco e Adriana Küchler


Mau uso nos EUA acaba em multa e cadeia


‘Entre kit de fabricação de cerveja, TVs de plasma, próteses de silicone e clubes de strip-tease, os Estados Unidos têm assistido ao mau uso de cartões de crédito corporativos. Mas, sob vigilância crescente de órgãos de transparência e congressistas, as punições vão de multa a cadeia.


Um funcionário do Exército, condenado a oito meses de prisão, teve de devolver os US$ 61 mil gastos com seu cartão em compras como aparelhos de áudio e vídeo.


Em 2004, Peter Sylver, do alto escalão do condado de Nassau, no Estado de Nova York, foi a júri acusado de gastar US$ 4.700 de seu cartão para fins pessoais e ainda de assediar sexualmente uma funcionária. Por ter confessado os crimes, foi condenado só pelo assédio, a três anos em liberdade condicional.


Russell Harding, alto funcionário da Prefeitura de Nova York na gestão de Rudolph Giuliani, também foi levado a júri por pagar despesas em resorts com o cartão e comprar presentes para os amigos.


Auditorias nas faturas de cartões de funcionários da Marinha, em 2002, e do Departamento de Segurança Interna, em 2006, mostraram abusos.


Os funcionários têm a liberdade de usar o cartão para comprar itens que julgarem necessários para executar melhor a função. Mas um funcionário da guarda costeira comprou um kit de fabricação artesanal de cerveja por US$ 227. Por US$ 7.000, iPods foram adquiridos por agentes de serviço secreto.


De empregados da Marinha, vieram gastos com roupas, cassinos, bares e clubes de strip-tease. Um deles pagou o silicone de uma garçonete. Nos EUA, o limite do cartão varia de acordo com órgão e a função, mas pode passar dos US$ 100 mil anuais.


Na Argentina


A extensa agenda de viagens da presidente Cristina Kirchner em 2007 gerou suspeitas sobre o mau uso do dinheiro público e virou objeto de investigação de ONGs e jornalistas.


A revista ‘Noticias’ calculou em setembro que uma viagem oficial à Alemanha e à Áustria da então candidata teria custado ao menos 840 mil pesos (cerca de R$ 470 mil). Cristina foi criticada por suas viagens dispendiosas.


A cada viagem da então primeira-dama, o ex-presidente Néstor Kirchner emitiu decretos determinando que o Ministério das Relações Exteriores deveria assumir os custos.


O valor de todas as visitas de Cristina ao exterior foi estimado em mais de US$ 4,8 milhões. Só existem estimativas porque, afirma a revista, os gastos com viagens são ‘inacessíveis’ e se transformaram em ‘segredo de Estado’.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


O progresso do Brasil


‘O ‘Financial Times’ carimba, no editorial ‘Brazil’s progress’, que o país vai bem na crise global. Se ‘há menos de dez anos o país tremia ao primeiro sinal de instabilidade, hoje, em contraste, ele parece imune’.


Mas não, ele não vai se desligar ‘completamente das tendências globais’. Daí para a conclusão de sempre, de que para o futuro ‘é vital libertar a regulamentação empresarial’, realizando ‘as reformas das pesadas normas tributárias e antiquadas regras trabalhistas’.


SÓ A CANA SALVA


No texto ‘mais popular’ no ‘New York Times’ e outros, novos estudos apontam que ‘quase todo biocombustível’ provoca mais efeito estufa do que os combustíveis atuais. ‘A única exceção possível é a cana do Brasil’, diz o ‘NYT’.


TUPI E A INVEJA


Mais da BG, que divide com a Petrobras o campo Tupi, nos jornais britânicos. Hoje ‘pode ser peixinho’ se comparada a Shell ou Chevron, diz o título do ‘Telegraph’, ‘mas a BG é o foco da inveja das gigantes’.


JÁ NA BOLÍVIA…


Longa reportagem ontem no ‘Washington Post’ deu que o Brasil voltou a investir na Bolívia por ‘razão simples: não tem alternativa’. Mas o ‘La Razón’ diz que a Bolívia negocia reduzir o suprimento à Argentina -e pede ao Brasil que ceda um pouco à vizinha.


E NO OYAPOCK


Lula e Nicholas Sarkozy se encontram amanhã em Saint-Georges-de-l’Oyapock. Na pauta, segundo o ‘Libération’ e outros, os brasileiros que invadem a Guiana, pelo ouro.


GLOBO, RECORD E O ABORTO


O ‘JN’, quarta, deu em manchete a nova Campanha da Fraternidade, ‘Escolhe, pois, a vida’. Cobrou o Supremo contra direito ao aborto, pesquisa com células-tronco etc. Para o ‘Jornal da Record’, sábado, as ‘posições rígidas’ católicas ‘vão na contramão’ do Ministério da Saúde, que vê ‘abortos clandestinos como questão de saúde pública’.


No exterior, entre outros, o argentino ‘Clarín’ destacou no seu enunciado que a Igreja ‘confronta o governo Lula’.


A VIDA CORAJOSA


O ‘Dayton Daily News’, da cidade de origem da missionária em Ohio, deu ontem o lançamento da biografia ‘The Greatest Gift: The Courageous Life and Martyrdom of Sister Dorothy Stang’, que está saindo no terceiro aniversário do assassinato. Apesar do título, a obra destaca sua vida e não a morte


A GUERRA CIVIL


Barack Obama estava ontem nas manchetes on-line do Oriente ao Ocidente, pela vitória nas quatro primárias. No ‘NYT’, o colunista Frank Rich previu ‘guerra civil’, com Hillary Clinton opondo latinos a negros. Aqueles podem decidir a primária do Texas, última chance da democrata.


Já o colunista Nicholas Kristoff fechou a semana dando como os evangélicos conservadores vêm se aproximando de Obama -em sua reação ao republicano John McCain.


O PROTÓTIPO


Além dos colunistas do ‘NYT’ com livre acesso on-line, a novidade na cobertura eleitoral são os ampliados sites Politico.com e Talking Points Memo. O TPM de Joshua Marshall (esq.) ganhou longo perfil da ‘GQ’, que o aponta como ‘protótipo’ para o futuro do jornalismo investigativo


OUTRA PAUTA


Juntando ‘furos’, links e blogs, o TPM à esquerda e o Politico.com à direita seguem pauta de maior apelo on-line. Abrindo o fim de semana, por exemplo, o primeiro destacou e o outro seguiu a história de um âncora do canal MSNBC que ofendeu a filha de Hillary.


OBSOLETISMO


Enquanto isso, ‘NYT’, ‘WP’ e ‘WSJ’ traziam nas manchetes on-line o apoio indireto do ‘pato manco’ George W. Bush a McCain. É por essas e outras que o crítico de mídia do próprio ‘NYT’ trata a cobertura em geral, até aqui, por ‘obsoleta’.’


 


TECNOLOGIA


Folha de S. Paulo


Após recusa, Microsoft deve apelar a acionistas do Yahoo!


‘DO ‘FINANCIAL TIMES’ – A Microsoft trabalha para levar sua proposta para comprar o Yahoo! diretamente aos acionistas da empresa, após a recusa do conselho pela oferta, no valor de US$ 31 por ação. O site de buscas planeja rejeitar oficialmente hoje a proposta da Microsoft, segundo uma fonte.


Os últimos capítulos da negociação sugerem o início de uma ‘prolongada e sangrenta’ batalha pelo controle do Yahoo!, com lances abertos sobre quanto valeria o site e quanto a Microsoft deveria pagar pelo seu controle. A Microsoft contratou negociadores que podem inclusive tentar derrubar o veto do conselho, na reunião de acionistas em junho.


Steve Ballmer, chefe-executivo da Microsoft, já deixou claro a determinação de não aceitar um ‘não’ como resposta. Na carta em que fez a proposta pelo Yahoo!, ele disse que a companhia se ‘reserva o direito de tomar todos os passos necessários’ para concluir a negociação.


O conselho do Yahoo! se reuniu na sexta-feira para discutir a oferta em dinheiro e ações, avaliada em US$ 44,6 bilhões. Para o conselho, a proposta ‘desvaloriza enormemente’ a empresa.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Governo reabre investigação contra Globo no futebol


‘O governo federal reabriu no ano passado investigações para apurar indícios de práticas anticoncorrenciais por parte da Globo na compra do Campeonato Brasileiro de Futebol.


As investigações tiveram origem em 1997 e estavam paralisadas desde 2004. A Folha apurou que dois fatores impulsionaram a retomada do processo administrativo, aberto na Secretaria de Direito Econômico (SDE), do Ministério da Justiça: o descontentamento do presidente Lula com a cobertura da Globo da campanha eleitoral de 2006 e pressão de parlamentares ligados à Igreja Universal, cujo líder, Edir Macedo, é dono da Record, hoje maior rival da Globo na disputa por direitos esportivos.


Em ofício de 9 de outubro, a SDE pediu à Globo cópias de contratos, valores pagos e recebidos de 2002 a 2007 pelo Campeonato Brasileiro em cada plataforma (TV aberta, paga e pay-per-view), custo dos comerciais, lista dos dez programas mais vistos em cada ano e audiência detalhada dos dez maiores eventos esportivos.


A Globo respondeu parcialmente em 29 de outubro, em caráter sigiloso e ‘sob protesto’, apontando ‘irregularidades’ no processo. A principal é que as investigações, segundo determinação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), deveriam se limitar a 1997, 1998 e 1999. Assim, a SDE estaria extrapolando ‘o escopo da investigação’.


No ofício, os advogados da Globo manifestam estranheza com a retomada das investigações, ‘após três anos sem nenhuma movimentação instrutória’ e ‘sem esclarecer o motivo e a razão’. Outro ponto levantado pela Globo foi o fato de as investigações terem sido retomadas justamente com um ofício à Record, no qual perguntava à concorrente sobre seu interesse pelo Brasileirão.


A Globo omitiu dados sobre valores pagos e receitas e não forneceu contratos. Foi advertida de que poderá ser multada.


Procurada pela Folha, a Globo não se manifestou. A Secretaria de Direito Econômico fez o mesmo, argumentando que não pode falar sobre processos em andamento.


CASA NOVA 1 Galvão Bueno está alugando um apartamento em Mônaco. Deve morar no principado europeu de abril a outubro. Nesse período, só trabalhará nas Olimpíadas, Fórmula 1 e jogos da seleção. Dificilmente virá ao Brasil para narrar algum jogo do campeonato nacional.


CASA NOVA 2 Já o ‘Bem, Amigos’, programa de Galvão no SporTV, será apresentado, pelo menos uma vez por mês, de um novo estúdio em Roma. Quando Galvão não puder fazer o programa, será substituído por Luís Roberto. O estúdio de Roma será inaugurado no ‘Bem, Amigos’ de hoje, em edição especial.


PEDE PRA ENTRAR O Telecine comprou na semana passada os direitos para TV paga de ‘Tropa de Elite’.’


 


Sandro Macedo


No oitavo ano, ‘CSI’ troca Sony por AXN


‘A oitava temporada da série ‘CSI – Crime Scene Investigation’ começa a ser exibida hoje na TV paga brasileira com uma novidade: o seriado migra do canal Sony para o AXN (que pertence ao mesmo grupo). Assim, o AXN apresenta a partir deste ano as três franquias -completadas com ‘CSI – Nova York’ e ‘CSI – Miami’.


A original e mais famosa, que se passa em Las Vegas, acompanha o cotidiano de um grupo de peritos da polícia forense na capital do jogo. A atual temporada começou nos EUA em 27 de setembro de 2007 e já estava no 11º programa, em 10/1, quando precisou ser interrompida devido à greve dos roteiristas, que afeta várias séries televisivas.


Desde então, o canal CBS está reprisando os episódios. O primeiro capítulo do oitavo ano (‘Dead Doll’) é uma continuação do último episódio da sétima temporada, quando o ‘assassino das miniaturas’ finalmente é preso, mas, antes, coloca em risco um dos membros da equipe liderada por Grissom (William Petersen).


Todos os principais atores continuam no elenco no começo de 2008, mas a série deve ter desfalques antes da metade da temporada. Em compensação, os ‘especialistas em cena do crime’ ganham o reforço da personagem Ronnie Lake (interpretada por Jessica Lucas) a partir do terceiro episódio.


CSI – 8ª TEMPORADA


Quando: hoje, às 20h; reprises ter., às 10h e 15h; e dom., às 12h, 19h e 23h, no AXN’


 


ELEIÇÕES NOS EUA
Álvaro Pereira Júnior


Os artistas amam Obama; coitado


‘ATÉ HOJE, eu me julgava incapaz de dizer não a qualquer coisa que a Scarlett Johansson pedisse. Mas agora, depois de ver um vídeo de apoio a Barack Obama -que circula na internet e do qual a deusa participa- começo a mudar de idéia.


O vídeo se chama ‘Yes, We Can’ e tem um formato muito engenhoso. Com a tela dividida, de um lado o pré-candidato democrata faz um discurso, e do outro alguém famoso declama, simultaneamente, as mesmas falas de Obama. Aos poucos, vai entrando um fundo musical e, sutilmente, as falas vão se transformando na letra de uma canção.


A concepção musical é de will.i.am, do Black Eyed Peas, e a direção, de Jesse Dylan, filho do Bob.


Celebridades americanas como John Legend, Herbie Hancock, Common, Kareem Abdul Jabbar, Tatyana Ali e Nick Cannon, além da Scarlett, surgem no vídeo para dar força. Você pode assistir aqui: www.youtube .com/watch?v= jjXyqcx-mYY.


Apoio de famosos bem-intencionados, elogios da imprensa liberal, coleção de slogans ‘do bem’, clima riponga nos comitês eleitorais… Sei, sei. Você se lembra do que estava fazendo na noite de 21 de janeiro? Eu me lembro: fiquei grudado na CNN, vendo o debate entre os pré-candidatos democratas na Carolina do Sul.


Não sei se minha TV estava com defeito, mas vi um Obama inseguro, sem domínio dos temas debatidos, ser trucidado pela Hillary Clinton. Foi sangrento, nem parecia que eram do mesmo partido.


Obama saiu gaguejando. Hillary, triunfante.


Não pense que me iludo com Hillary, jeca e malandra como o marido. Mas uma coisa ela não é: amadora.


E esse Barack Obama, cercado de atores, rappers, fashionistas e roqueiros, com uma campanha rica mas que faz a linha ‘voluntários de boa vontade’… Desculpe, Scarlett, esse cara não dá -triste, mas política não é rock and roll.’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008


CARTÕES DO GOVERNO


Carlos Alberto Di Franco


Farra sob sigilo


‘A Presidência da República tem pelo menos 150 cartões corporativos, conforme levantamento obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo. Segundo a repórter Sônia Filgueiras, juntos, os titulares desses cartões gastaram no ano passado R$ 6,2 milhões. Do grupo, apenas 68 servidores tiveram suas despesas divulgadas no Portal da Transparência, mantido pela Controladoria-Geral da União (CGU) na internet. Ou seja, cerca de 80 funcionários ligados à Presidência realizaram despesas que foram omitidas no site. Os servidores cujos nomes e despesas não são divulgados no portal gastaram, conforme o levantamento, R$ 5,3 milhões ao longo de 2007, e R$ 1,4 milhão foram sacados em espécie.


A farra com o dinheiro público já derrubou uma colaboradora do presidente Lula. Matilde Ribeiro, ex-ministra da Igualdade Racial, pediu demissão, 19 dias depois de o Estado ter revelado que ela foi a campeã de gastos com o cartão. Incapaz de justificar os abusos com o cartão de crédito corporativo, seguiu o receituário dos envolvidos no escândalo do mensalão: renunciar e submergir. Na seqüência, o ministro do Esporte, Orlando Silva, anunciou a devolução de cerca de R$ 31 mil também gastos com o cartão.


Na lista dos funcionários da Presidência da República divulgada no portal estão dois servidores que fizeram compras quase integralmente em São Bernardo do Campo (SP), onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem residência. Nessa relação está também o tenente-coronel de Infantaria Rawlinson Souza, ajudante-de-ordens do gabinete do presidente da República. Ele gastou R$ 5,1 mil com papelaria e compras em supermercados em 2007.


O portal traz ainda os gastos realizados por dois militares destacados para fazer a segurança da filha do presidente Lula, Lurian Cordeiro Lula da Silva, em Florianópolis (SC). Um deles, João Roberto Fernandes Júnior, usou o cartão corporativo para pagar despesas em lojas de materiais de construção, autopeças, ferragens, supermercados e postos de gasolina. Entre abril e dezembro de 2007, foram gastos R$ 55 mil, como divulgou o jornal Folha de S.Paulo.


O que chama mais a atenção são os gastos na loja Comércio de Autopeças Badu. Desde o início de 2007, são gastos mensais, em vários dias diferentes, com notas que variam de R$ 100 a R$ 800, valor-limite de cada nota por dia. No dia 13 de novembro, por exemplo, Fernandes registra notas diferentes de R$ 650, R$ 800 e R$ 750. Segundo o controlador-geral da União, Jorge Hage, para gastos previsíveis é necessária licitação.


Segundo o chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Jorge Félix, os gastos desses funcionários são sigilosos e não deveriam estar no Portal da Transparência. A afirmação do ministro está na contramão dos valores que compõem um país democrático. A sociedade tem o direito legítimo de saber o que se faz com o dinheiro do contribuinte. E a autoridade pública tem o dever de informar. Ademais, é ridículo ocultar gastos em supermercado, postos de gasolina, churrascaria, magazines e outros comércios sob o manto protetor da segurança nacional. O princípio constitucional da publicidade, pelo qual qualquer cidadão tem direito a obter das autoridades públicas informações de interesse pessoal e geral, é a pedra de toque da democracia. O secretismo de Estado é um perigo para as instituições e uma poderosa alavanca da corrupção.


‘A imprensa’, dizia Ruy Barbosa, ‘é a vista da Nação. Por ela é que a Nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam. (…) O poder não é um antro: é um tablado. A autoridade não é uma capa, mas um farol. A política não é uma maçonaria, e sim uma liça. Queiram, ou não queiram, os que se consagraram à vida pública, até à sua vida particular deram paredes de vidro. Agrade, ou não agrade, as constituições que abraçaram o governo da Nação pela Nação têm por suprema norma: para a Nação não há segredos; na sua administração não se toleram escaninhos; no procedimento dos seus servidores não cabe mistério; e toda encoberta, sonegação ou reserva, em matéria de seus interesses, importa, nos homens públicos, traição ou deslealdade aos mais altos deveres do funcionário para com o cargo, do cidadão para com o país.’


Pois bem, caros leitores, um abismo separa os ideais de Ruy Barbosa dos usos e costumes dos nossos governantes. É preciso, insisto, derrubar a esdrúxula alegação de que as despesas presidenciais devem ser mantidas em sigilo por questão de segurança. Os brasileiros, como bem lembrou o jornalista Merval Pereira, estão cansados das mentiras seguidas de confissões públicas de acordos eleitorais azeitados a dinheiro; dos pagamentos na boca do caixa; do troca-troca de partidos estimulado a partir da Casa Civil, no que parecia uma estratégia política superior e se revelou, ao final, uma simples compra e venda de consciências; dos dólares na cueca e nas malas; do pagamento recebido em contas no exterior pelo publicitário oficial do governo; etc.


Precisamos rediscutir um novo conceito de espaço público que, sem prejuízo da presunção de inocência e da legítima preservação da intimidade, reconheça a imperiosa necessidade da informação transparente como valiosa arma da sociedade democrática no combate à chaga da corrupção.


A imprensa está fazendo um bom trabalho. Cabe ao governo, por iniciativa própria ou empurrado pela força investigativa do Congresso Nacional, lancetar um tumor que pode comprometer todo o organismo.


Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo, professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia’


 


TV PÚBLICA
Luciana Nunes Leal


TV Brasil pode ter verba própria


‘O relator da medida provisória que cria a TV pública – em funcionamento desde dezembro -, deputado Walter Pinheiro (PT-BA), propõe a criação de um fundo específico para a emissora que deverá render cerca de R$ 300 milhões este ano, além dos R$ 350 milhões já previstos no Orçamento da União. A verba seria retirada do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel), que arrecada cerca de R$ 3 bilhões por ano, pagos por operadoras de telecomunicações.


Segundo Pinheiro, o novo fundo garantiria autonomia à TV Brasil e evitaria que a emissora ficasse dependente da decisão governamental sobre liberação ou não da verba do Orçamento. ‘Só com recursos orçamentários, a TV fica dependente da vontade do governante’, argumenta o relator. ‘Não está na lei, mas a intenção é que os recursos do fundo sejam crescentes e, com o tempo, a emissora possa abrir mão da verba orçamentária’, diz Pinheiro.


A partir de hoje, o deputado vai distribuir cópia do relatório para os deputados e pretende ainda esta semana começar a negociar a votação da MP em plenário com os líderes da oposição. Pinheiro ressaltou que os recursos retirados do Fistel não implicarão aumento de taxas pagas pelas empresas de telecomunicação.


Entre outras modificações propostas no relatório está a restrição às propagandas, para proibir ‘autopromoção do poder público’, com veto à divulgação de obras e de distribuição de benefícios oferecidos pelos governos. As empresas privadas não poderão anunciar produtos e serviços, mas apenas divulgar seus nomes como ‘apoiadoras culturais’.


Pinheiro propõe também mudanças no próximo conselho curador da emissora, acrescentando um representante indicado pela Câmara e outro, pelo Senado. O relator quer ainda que os integrantes da sociedade civil no conselho tenham pelo menos um representante de cada região do País. Outra idéia é a criação de um ouvidor da TV pública, espécie de ombudsman para fazer críticas diárias. O relator espera que os deputados votem a MP no dia 18.


Sete MPs trancam a pauta do plenário. A que cria a TV pública é a quarta na fila das votações.’


 


FRANÇA
Matthew Campbell


Detalhes sobre romance de Sarkozy chegam às livrarias


‘The Sunday Times, Paris – Havia sete outras pessoas ao redor da mesa de jantar, mas Nicolas Sarkozy só tinha olhos para uma. Ele pediu desculpas a sua anfitriã, que estava sentada à sua direita, e nas duas horas seguintes conversou exclusivamente com a bela cantora italiana à sua esquerda. A ex-top model Carla Bruni, 40 anos, correspondeu ao flerte.


Depois da sobremesa, para diversão dos outros convidados, ela perguntou ao líder francês se ele tinha um carro a sua espera. ‘Tenho’, respondeu Sarkozy, acrescentando que lhe agradaria muito acompanhá-la até em casa.


Diante da casa de Carla, no elegante 16º Departamento de Paris, ela o convidou para um café. ‘Nunca no primeiro encontro’, respondeu solenemente o presidente de 53 anos. Foi provavelmente a primeira vez que ela ouviu uma resposta assim.


Semana passada, a França recebeu seu primeiro relato completo do que pode se tornar o romance mais bem documentado da história moderna. Três livros que foram encaminhado às pressas para a gráfica contam como foi a ‘ligação perigosa’ e o casamento no Palácio do Eliseu, há uma semana, do presidente com a ‘prima donna’, que é como andam chamando a nova primeira-dama francesa.


Os assessores presidenciais estão ansiosos para ver se os livros venderão bem. Tudo porque a felicidade do ‘superpresidente’ coincidiu com a queda de sua popularidade. Será que seu índice de aprovação aumentará com o affair com Carla Bruni? Será que o público francês cairá sob o feitiço da moça, exatamente como Sarkozy?


Christine Richard e Edouard Boulon-Cluzel, autores de Carla Bruni, sentimental itinerary? Who is she really? (‘Carla Bruni, itinerário sentimental: Quem é ela de fato?’) contam que Sarkozy viu Carla pela primeira vez no Eliseu em novembro, quando ela integrou uma delegação que lhe apresentou um relatório sobre a indústria fonográfica francesa. Eles não se falaram, mas ela ficou de olho nele.


Os autores citam Carla dizendo a uma amiga que, embora não tivesse votado nele, ficou ‘gamada’ por Sarkozy durante a campanha eleitoral do ano passado. A ex-modelo, cujas conquistas incluem os astros do rock Mick Jagger e Eric Clapton e o bilionário americano Donald Trump, disse a outra amiga pouco antes do encontro com Sarkozy: ‘Eu agora quero um homem com poder nuclear.’


Sarkozy atravessava uma péssima fase. Ele sempre sonhou com a presidência, mas ultimamente a vida ia de mal a pior. Depois de assumir o cargo, Cécilia, sua mulher nos últimos 11 anos, divorciou-se dele dizendo estar apaixonada por outro homem.


O presidente precisava de diversão e chamou Jacques Seguela, um ex-assessor de imprensa socialista, e perguntou se ele conhecia a tal italiana. Sarkozy reclamou da solidão e pediu para que ele armasse um jantar em sua casa com a presença dela.


No início, ela pareceu resistir. Afinal, Carla já havia dito publicamente que se opunha às políticas dele. Sarkozy lhe disse que a má imagem que a esquerda francesa tinha dele se baseava em um ‘equívoco’, que fora ele que abrira o governo a mulheres e minorias, não seus adversários. E seguiu falando sobre o fracasso de seu casamento com Cécilia e sobre como estava solitário em seu palácio.


No dia seguinte, o ‘Sarko’ começou a bombardeandeá-la com mensagens de texto e buquês de flores. Depois vieram os jantares à luz de velas no Eliseu e presentes de luxo.


Enquanto o amor florescia, Sarkozy tentava concentrar-se no trabalho, mas era evidente que estava com a cabeça nas nuvens. Segundo Paul-Eric Blanrue e Chris Laffaille, no livro Carla and Nicolas: Chronicle of a dangerous liaison (‘Carla e Sarkozy: crônica de uma ligação perigosa’), em 20 de dezembro ele chegou 18 minutos atrasado a uma audiência com o papa porque estava ocupado enviando mensagens para ela do celular.


Na véspera do Natal, ele surpreendeu Carla em casa, quando ela estava jantando com seu ex-namorado Raphael Enthoven, o filho de 7 anos e dois amigos. ‘Hora de fazer as malas’, disse Sarkozy, após desculpar-se pela interrupção. ‘Estamos partindo para o Egito. Saímos de madrugada.’


Enquanto Cécilia nunca mostrou interesse em ser primeira-dama, Carla parece estar à vontade. Ela já começou a usar sapatos baixos para não diminuir seu marido – em razão da diferença de altura, Cécilia era conhecida como a ‘torre de controle de Sarkozy.’


Carla será uma primeira dama incomum. Embora provavelmente não volte a desfilar, deve continuar cantando. Seu novo álbum sai no mês que vem e tem uma canção, My drug (‘Minha droga’), em homenagem ao amado. Lutando para conquistar apoio antes das eleições municipais de março, Sarkozy deve estar louco para que a canção seja um sucesso.’


 


INTERNET
Marili Ribeiro


Web busca novas fontes de receita


‘Com 98% da receita publicitária global derivada de links patrocinados, o portal Google, que tem em seu site de busca o coração do negócio, decidiu ampliar a atuação comercial do site de vídeos YouTube. Apresentou para anunciantes e agências no Brasil o que já vem utilizando lá fora há cerca de um ano: os novos formatos de anúncios online para os anunciantes aproveitarem a popularidade do YouTube em ações de marketing.


A companhia busca alavancar sua receita que, no ano passado, foi de US$ 16,5 bilhões. Para os analistas de Wall Street, o Google peca pela concentração em uma única fonte de renda. Cenário que pode piorar se o rival Yahoo for adquirido pela Microsoft. A disputa dos gigantes pela liderança na internet tende a ficar mais acirrada.


Embora menos expressivo no ranking das preferências do consumidor brasileiro, que aqui são influenciadas por sites locais, como UOL e IG , no cenário externo o Yahoo está à frente do Google em matéria de comercialização de espaço publicitário. Segundo o vice-presidente do Yahoo no País, André Izay, apenas 50% do faturamento do portal está atrelado ao link patrocinado. No ano passado, o Yahoo faturou em todo o mundo US$ 6,96 bilhões.


‘Oferecemos soluções integradas porque somos um portal que atua 360 graus, ao oferecer conteúdo integrado a outras plataformas. Não nos limitamos a ser um serviço de busca’, diz. ‘Para 2008, por exemplo, já vendemos duas – para Coca-Cola e Samsung – das quatro cotas possíveis do pacote de Olimpíadas. E temos promoções e interação com outros sites do grupo, como o Flickr (de fotos)’, acrescenta.


Descobrir formas de explorar comercialmente canais online que explodiram espontaneamente é uma realidade diante da crescente influência da internet na vida cotidiana. Fato projetado por todas as análises sobre o futuro da comunicação. No Brasil, a verba publicitária destinada ao segmento não passa de 5% dos investimentos totais, ou cerca de R$ 400 milhões. Nesse volume, não está contabilizada a receita dos links patrocinados,ainda não aferida pelo mercado.


‘É inegável a força do online’, diz Raul Orfão, diretor da agência Tribo Interactive. ‘O YouTube é a Rede Globo do futuro, em termos de entretenimento e audiência, e o Google, a central de comunicações.’


Uma das ferramentas apresentadas pelo Google, o Brand Channel, estreou experimentalmente nos últimos meses em ações das marcas Nescau, da Nestlé; Fruthos, o suco do Grupo Schincariol; e Seda, da Unilever. É um recurso semelhante ao hotsite , antes desenvolvido nas páginas dos anunciantes, só que para ocasiões específicas e promoções interativas.


A vantagem de fazê-lo no YouTube, fora a economia de custos de manutenção, como aluguel de banda, é a possibilidade de se partilhar o fenômeno de público desse canal, estimado em 8 milhões de ‘visitantes únicos’ por mês. Essa medida refere-se ao interesse do usuário em relação a determinado site, pois contabiliza uma única vez todas as entradas feitas pelo internauta durante um período determinado.


Os internautas residenciais no País somam pouco mais 20 milhões. No total, há 40 milhões usuários conectados.


‘O YouTube é um ambiente de valor por oferecer audiência qualificada’ diz Marco Bebiano, diretor de relacionamento com agências do Google. Entre as promessas de novos espaços comerciais está o uso do InVídeo, que possibilita ao anunciante interferir, por meio de uma inserção, em um vídeo em cartaz. Seria como aproveitar o sucesso do filme Tapa na Pantera atrelando ali um comercial. O vídeo obteve 5 milhões de exibições únicas em um ano em cartaz no YouTube.’


 


Rodrigo Brancatelli


Começa hoje em SP a Campus Party Brasil, ou a ‘Woodstock dos Nerds’


‘A Bienal do Ibirapuera será invadida hoje por monitores, CPUs, mouses e um mundaréu de aficionados por tecnologia na primeira Campus Party Brasil, evento que ocorre há 11 anos na cidade espanhola de Valência. Trata-se de uma espécie de acampamento coletivo – ou lan house faraônica -, onde cada um leva seu computador para ficar a semana inteira conectado. Os próprios visitantes se referem ao evento, que vai até domingo, como ‘Woodstock dos Nerds’ – ou, simplesmente, ‘Nerdstock’. ‘É uma chance de conhecer pessoas do mesmo gosto, trocar idéias, ter idéias e aprender coisas novas’, diz o engenheiro Vinicius Domingues, de 31 anos, que já viajou três vezes à Espanha para participar da Campus Party.


Cerca de 3 mil pessoas são esperadas no Campus Party Brasil – outros 13 países ganharão edições até o ano que vem. Durante a semana, participantes podem se envolver em áreas tão diferentes quanto videogame, criação e desenvolvimento de softwares, robótica, música e até astronomia. Pelo menos 130 oficinas e atividades estão agendadas – a programação será aberta por um vídeo gravado especialmente pelo físico Stephen Hawking.


Para os visitantes não se entediarem com seus computadores, haverá toda uma estrutura com lojas, lanchonetes, quadras de futebol, cinema, shows com DJs e uma arena de paintball. Mas a grande vedete do acampamento será mesmo a conexão de internet disponível – exatos 5 gigabytes, o que, para uma pessoa que não entende nada de tecnologia, significa abrir sites numa velocidade 5 mil vezes superior do que a do computador de casa.


‘O Campus tem um lado social, de festival’, diz o diretor do evento, Marcelo Branco. ‘Mas a maior bandeira é pelo compartilhamento de informação. Queremos discutir todo o processo que leva à construção do conhecimento pela internet, para entender melhor o que vivemos hoje com a tecnologia.’’


 


LUTO
O Estado de S. Paulo


Morre o fotógrafo Allan Grant


‘NYT – Morreu, no dia 1º de fevereiro, aos 88 anos, o fotógrafo da revista Life Allan Grant. De acordo com sua mulher, Karin Grant, ele sofria do mal de Parkinson e morreu em sua casa. Ele ficou famoso ao registrar testes da bomba atômica no Deserto de Nevada (EUA). Além disso, fotografou celebridades de Hollywood, como foi o caso da atriz Marilyn Monroe, clicada por suas lentes dois dias antes de morrer. Fotografou também o vôo inaugural, de menos de 10 minutos, feito por Howard Hughes em seu hidroavião, o Spruce Goose em 1947. Ele chegou a produzir documentários educativos, pelos quais foi indicado para o Emmy.’


 


CINEMA
Luiz Carlos Merten


Até agora, só filmes fracos em Berlim


‘É hoje o grande dia do Brasil aqui na Berlinale. Às 9 da manhã (6 horas no Brasil), o Capitão Nascimento invade, de arma na mão, o Palast – o palácio do Festival de Berlim – para a sessão de imprensa de Tropa de Elite. À tarde, 16 horas locais, ocorrerá a sessão oficial, em presença do diretor José Padilha e do ator que transformou o personagem numa referência para o imaginário dos brasileiros, Wagner Moura. Há grande expectativa em relação a Elite Quad (título internacional). Jornalistas de diversos países perguntam que ‘raio’ de filme é este que virou assunto na imprensa estrangeira antes mesmo de estrear nos cinemas do País?


Como reagirão os europeus ao Bope e à truculência do Capitão Nascimento? O mistério vai se dissipar daqui a pouco, mas uma coisa é certa, Tropa de Elite é diferente de todos os filmes exibidos até agora. Desde sexta-feira, já foram vistos sete, quase a metade dos 18 filmes que concorrem ao Urso de Ouro. Com algumas exceções, a seleção está fraca e, mais do que isso, estranha. Embora tenha a fama de ser o mais político dos festivais, Berlim tem uma atração toda especial por histórias sobre famílias disfuncionais e relações terminais. Vários filmes tratam desses temas, aos quais acrescentam uma perturbadora atração pelo abuso infantil.


Crianças foram seqüestradas e prostituídas em Gardens of the Night, de Damian Harris; o menino de Júlia, de Erick Zoncka, bolina a mulher bêbada e adormecida; e em Fireflees in the Garden, de Dennis Lee, a tia é totalmente consciente do desejo que desperta no sobrinho. Nenhum dos filmes citados é bom, mas o de Zoncka consegue ser o pior de todos. Como o talentoso diretor de A Vida Sonhada dos Anjos entrou nesta roubada? Ele admite haver-se inspirado em Glória, de John Cassavetes, mas perdeu o foco ao contar a história desta mulher autodestrutiva – interpretada por Tilda Swinton – que seqüestra um garoto para reaproximá-lo da mãe e embarca numa viagem que a leva ao México, onde o menino é seqüestrado por profissionais do crime que ameaçam matá-lo.


Zoncka dispersou mais ou menos 30 filmes em um. Ele pode ter achado que seria um charme, mas não dá para acreditar em Tilda Swinton de arma na mão, enfrentando seqüestradores mexicanos. O filme é horrível. Vamos aos bons. O mexicano Lake Tahoe, de Fernando Eimbcke, parece que não tem história – um jovem sofre um acidente de carro e anda atrás de uma oficina mecânica, envolvendo-se com várias figuras -, mas é um filme de autor, e radicalmente novo, em que todos estes episódios, aparentemente desconexos, se articulam para elaborar a dor da perda. O carro é o de menos. O garoto perdeu o pai e isto fragilizou a vida familiar.


Do Irã veio The Song of Sparrows, de Majid Majidi, que mostra uma imagem rara do país. Um homem que trabalha na criação de avestruzes é demitido e vai parar com sua moto em Teerã. Assim, sem mais nem menos, um sujeito monta na sua garupa e a moto vira um táxi que confronta o personagem com uma ambição que ele não sabia possuir. Majidi mostra imagens de crianças invisíveis nos semáforos da grande cidade. No final, o título explica-se porque o herói precisa se fragilizar para recuperar suas qualidades humanas.


Ontem à tarde, Penelope Cruz – um dos rostos de L’Oréal – e a marca de cosméticos é uma das patrocinadoras do Festival de Berlim – fez a maior sensação, ao mostrar Elegy, que fez sob a direção de Isabel Coixet, ao lado de Ben Kingsley. O filme é uma adaptação do livro de Philip Roth sobre professor maduro que se envolve com uma aluna. Amor, beleza, a degradação da beleza, a trágica consciência da finitude humana – Elegy trata de muita coisa, mas o desfecho melodramático meio que dilui suas melhores qualidades.’


 


TELEVISÃO
Julia Contier


Mutantes em alta


‘Diferentemente da série Heroes, que reduziu o número de mutantes quando viu sua audiência cair, a novela Caminhos do Coração, da Record, investiu nos mutantes – agora são 38 personagens geneticamente modificados -, diminuiu a participação de núcleos secundários e viu o ibope subir.


Em janeiro de 2008, Caminhos do Coração fechou com uma média de 15 pontos de audiência. Já em janeiro de 2007, a novela anterior, Vidas Opostas, fechou o mês com média de 13 pontos. Nessa altura do enredo, Vidas Opostas estava com média geral de 12 pontos e Caminhos está com 14 pontos – um aumento de 15%.


O sucesso da trama tem sido maior entre as mulheres e na classe C. Conforme a última pesquisa parcial do Ibope, entre o público do folhetim, as classes A e B representam 20%, a classe C, 49%, e as classes D e E, 32%. As mulheres são responsáveis por 60% da audiência.


Se Caminhos vai bem, o mesmo não vale para a trama das 7, Amor e Intrigas. A promessa do vice-presidente Comercial da Record, Walter Zagari, era de que o enredo atingisse 17 pontos de média. Mas, em janeiro, não passou de 8 pontos.’


 


 


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