Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.
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Folha de S. Paulo
Quarta-feira, 3 de setembro de 2008
ELEIÇÕES
TSE mantém restrição a campanha on-line
‘O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) manteve restrições ao uso da internet para divulgação de informações sobre candidatos ao negar a concessão de uma liminar em um mandado de segurança do portal iG.
A empresa alegou que as proibições são ilegais por ferirem os direitos à expressão, opinião e informação previstos na Constituição. O ministro do TSE Joaquim Barbosa, porém, negou o pedido de anulação imediata das restrições.
A ação judicial do portal busca anular os artigos 18 e 19 da resolução nº 22.718 do TSE, que define que a propaganda eleitoral na internet só será permitida na página do candidato destinada à campanha.
O texto legal proíbe que as demais ferramentas virtuais -como sites de relacionamento, salas de bate-papo e blogs- divulguem informação que configure propaganda favorável ou contrária a candidato.
O TSE se baseou na lei 9.504, de 1997, que equiparou legalmente as empresas de internet às de rádio e TV -que só podem funcionar após a obtenção de concessões públicas. A equiparação faz com que as companhias de internet não possam emitir opinião nem dar tratamento diferenciado aos candidatos. Por meio da ação o iG busca ser enquadrado na situação legal dos jornais e revistas, que, por funcionarem independentemente de concessões, não sofrem restrições. A lei também proíbe que as empresas vendam espaço publicitário na internet a partidos políticos.
Na decisão, Barbosa afirmou que as razões apresentadas pelo iG não ‘traduzem violação a direito líquido e certo, suficiente para afastar a aplicação da resolução do TSE’. ‘Assim, não vislumbro, no momento, a alegada inconstitucionalidade’ afirmou, sucintamente.
O mérito do mandado de segurança ainda será julgado pelo plenário do TSE.
O diretor de Conteúdo do iG, Caíque Severo, disse lamentar a decisão do tribunal. ‘Ainda há chance de termos sucesso na ação. É a liberdade de utilização da rede como forma de expressão que está em jogo’, afirmou.
Dulce Artese, gerente jurídica do iG, disse esperar que a inconstitucionalidade dos artigos seja reconhecida no julgamento do mérito da ação.
Colaborou a Reportagem Local’
BISBILHOTICES
Fernando Rodrigues
O grampo é cultural
‘ST. PAUL, MINNESOTA – Aqui, na convenção republicana, por óbvio não se fala nada a respeito da grampolândia em Brasília. Mas entro no assunto para concordar com a definição do Estado brasileiro (‘frouxo, inerme, ausente’) feita ontem por Clóvis Rossi.
Arrisco-me a ampliar o conceito.
O Estado brasileiro gosta dessa esculhambação geral. A falta de controle serve muito bem aos políticos.
Eles vão se acomodando ao problema em vez de resolvê-lo. Quando cheguei a Brasília, na década de 90, um senador da República dado a bizarrices havia encomendado um revestimento acústico completo para seu gabinete. Rico, pagou de seu bolso.
Não seria melhor denunciar as tentativas de escuta clandestina em vez de revestir o gabinete?, perguntei na minha ingenuidade de neófito brasiliense. A resposta: ‘Impossível. Não vale a pena comprar essa briga. Eles ouvem quem eles querem. Não quero me indispor. Então, tento me proteger’.
Mais adiante, durante o episódio dos grampos na Telebrás, em 1998, agentes do antigo SNI e dos porões do governo militar tiveram a ousadia de grampear uma conversa do presidente Fernando Henrique Cardoso. Vários políticos tiveram acesso às fitas. Cada um divulgou a parte que mais lhe convinha. Eram de oposição e da situação. Não há notícia de nenhum ter tentando realmente acabar com a mania nacional dos grampos.
Esses fatos se deram no governo FHC. Agora, sob Lula, pouca coisa mudou. É difícil afirmar ter havido um aumento dos grampos. Certamente as mazelas do país estão mais visíveis. Sabe-se até quantas linhas são monitoradas: 397 mil.
Lula começou a atacar o problema pelo lado mais frágil. Afastou a direção da Abin. Incomodar as telefônicas, exigindo investimentos para tornar a burla mais difícil, é algo que ficará para depois. Típico.’
Clóvis Rossi
Perguntas, só por perguntar
‘SÃO PAULO – 1 – Se o delegado Paulo Lacerda foi afastado da Abin em benefício da ‘transparência’ da investigação sobre o grampo no telefone do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, significa que ele, se mantido no cargo, ‘embaçaria’ o processo?
2 – Se é assim, como a lógica elementar indica, não seria o caso de demiti-lo em vez de afastá-lo temporariamente? Afinal, um funcionário suspeito de ser capaz de atrapalhar uma investigação não deve chefiar nada, certo?
3 – Se Lacerda fez um bom trabalho na PF -e o fez, sim-, por que agora humilhá-lo publicamente com o afastamento que coloca em suspeição sua lisura?
4 – Se Lacerda foi preventivamente afastado, por que não o foi também o general Jorge Félix, afinal, superior hierárquico de Lacerda como chefe do Gabinete de Segurança Institucional? A lógica não deveria ser a mesma?
Ainda mais que o próprio general, segundo a Folha, teria dito que a principal hipótese para os grampos é um ou mais funcionários da Abin terem sido contratados pelo banqueiro Daniel Dantas para executar o trabalho.
Se essa informação é correta, então o general demonstra ter ‘hipóteses’ antes mesmo de a investigação começar, o que pode, ante seu nível hierárquico, conduzir o processo investigatório a uma linha que, de repente, é incorreta.
4 – Se, como já disse orgulhosamente o ministro da Justiça, Tarso Genro, todo mundo deve falar ao telefone com a ‘presunção’ de que alguém está ouvindo, por que os chefes do crime organizado, mesmo quando presos, continuam falando ao telefone, até dos presídios, com a maior tranqüilidade e, portanto, sem tal ‘presunção’?
Ou será que é mais difícil -além de bem mais perigoso- grampear prisioneiros condenados do que cidadãos em liberdade e sem crimes a eles imputados?’
TODA MÍDIA
Admite e nega
‘Não havia notícia mais clara e o ‘Jornal Nacional’ se virou com ‘O ministro Jorge Félix depõe na CPI dos Grampos, admite que as gravações clandestinas no Supremo podem ter sido uma obra de funcionários da Agência Brasileira de Inteligência, mas defende a cúpula da Abin’.
No ‘Jornal da Record’, em outra versão, ‘Ministro nega que agentes da Abin tenham feito escutas ilegais, Garibaldi Alves manda investigar se grampos saíram do Senado e o presidente Lula fala do escândalo pela primeira vez’.
Na manchete da Folha Online, ‘Lula diz que afastou cúpula da Abin por transparência’.
A INAUGURAÇÃO
O show do pré-sal enfrentou o ruído do grampo por toda parte, aqui. E no exterior havia outro: na manchete on-line do ‘Financial Times’, ‘US$ 100 pela frente’.
O preço do petróleo desaba e Lula surge, dos telejornais à home do UOL (acima), coberto de óleo e com um modelo de barril como troféu. No enunciado, ‘Lula inaugura extração do pré-sal’. Mas ecoou por Bloomberg e outras agências, ‘Brasil bombeia primeiro óleo pré-sal’, ‘Lula molha suas mãos na nova riqueza do Brasil’ etc.
Na manchete da Reuters Brasil, ‘Petrobras é a ‘mãe da indústria’, diz Lula’, com Dilma. Mas o ‘JN’ escondeu, só tinha câmeras para Edison Lobão.
‘ADORO O CIRO’
Em treinamento para ser candidata, Dilma Rousseff surgiu à tarde na manchete do G1, ‘Brasil achou petróleo atrás do galinheiro, diz Dilma sobre pré-sal’. Nos canais de notícias, o trecho completo do discurso, falando do Sítio do Pica-Pau Amarelo. E depois, respondendo: ‘Adoro o Ciro, é um grande amigo’.
‘GRANDES AMIGOS’
Já Ciro, questionado sobre Dilma, apoiou compor chapa, sem dizer quem encabeçaria. ‘Militamos no mesmo campo e somos grandes amigos.’ Quanto a Aécio Neves, ‘não é provável’: ‘A Dilma é figura extraordinária, como o Aécio, sendo que tem mais estrada na vida nacional, embora nenhuma na eleitoral’.
O PRÉ-SAL
Mal noticiou a ‘festa do governo’, como chamou na escalada, e o ‘JN’ deu reportagem alertando que ‘as técnicas ainda não estão desenvolvidas’
A ESTRADA
Em destaque no Globo Online e no ‘Globo’, com eco no exterior pela Associated Press, ‘José Serra quer construir uma nova estrada Rio-São Paulo’
GERALDO E AS FOFOCAS
Em nota da Veja.com, ontem no final da manhã, a ‘pesquisa diária’ da campanha de Marta Suplicy, com ‘surpresa: Gilberto Kassab alcançou Geraldo Alckmin’. Alckmin teria 20%, Kassab, 18%.
Ato contínuo, na manchete do Terra para a entrevista que fez ontem com o candidato tucano, ‘Alckmin: apoio a Kassab no segundo turno é especulação’, aliás, feita pelo próprio Kassab, um dia antes no portal. Em entrevista no grupo Estado, depois, Alckmin questionou a prioridade da mídia para ‘as fofocas da corte’.
O FIM DA HEGEMONIA
Francis Fukuyama, de ‘O Fim da História’, em novo artigo publicado no ‘FT’, ontem: ‘As duas últimas administrações podiam contar com a hegemonia americana tanto em economia como em segurança militar. A próxima administração não pode, e uma tarefa crítica será equilibrar o que nós queremos com o que podemos, de maneira realista, alcançar’.
E Martin Wolf, o célebre colunista do ‘FT’, também ontem: ‘A eleição presidencial nos EUA pode determinar a natureza do próximo, possivelmente último, período de hegemonia global anglo-americana’.
Fukuyama avisa para não esperar que Obama e McCain tratem do tema, na campanha.
O MAGNATA
Rupert Murdoch diz à ‘Vanity Fair’ que encontrou Obama e tentou ‘trégua’. Mais: ele já ‘considera a fantasia’ de comprar o ‘New York Times’’
ACADEMIA
USP engaveta investigação sobre plágio
‘Após mais de um ano, as investigações sobre o grupo de físicos da USP (Universidade de São Paulo) acusado de plagiar diversos artigos científicos foram encerradas. A comissão de sindicância que apurou o caso finalizou em abril um relatório feito a pedido da Reitoria da USP, mas a reitora Suely Vilela se nega a divulgar o conteúdo do documento.
O episódio envolve o diretor do Instituto de Física da USP, Alejandro Szanto de Toledo, e o vice-diretor da Fuvest, Nelson Carlin Filho. Os dois lideram o grupo que assinou ao menos três estudos com trechos de texto copiados de trabalhos do físico Mahir Hussein, já aposentado, e de outros autores.
Físicos que dizem ter sofrido tentativas de intimidação afirmaram à Folha que a reitoria se nega a divulgar o documento público e já estudam entrar na Justiça para obtê-lo.
Hussein e outros físicos afirmam que a demora da universidade em tomar providências abre espaço para que Szanto, ainda na diretoria, adote medidas de retaliação.
Segundo o físico Elcio Abdalla, um dos que encaminharam a denúncia à reitoria, Szanto quer tirar autonomia do Departamento de Física Matemática, ao qual Hussein é afiliado.
‘Se isso for aprovado’, diz Abdalla, ‘nós teremos que ministrar apenas os cursos que a comissão de ensino indicar. Perderíamos a autonomia que temos hoje com relação ao ensino -e nós queremos ter autonomia porque temos nossas próprias posições acadêmicas’.
O Departamento de Física Matemática, cujos professores foram adversários políticos de Szanto na última eleição para diretor, é hoje uma das unidades de pesquisa mais produtivas da USP, com dez professores titulares e seis membros da Academia Brasileira de Ciências. Hussein, atual ganhador do Prêmio Martin Gutzwiller de Física, da Sociedade Max Planck, quer continuar trabalhando na USP como colaborador aposentado. Enquanto ele cumpria o ano acadêmico vinculado ao prêmio na Alemanha, Szanto despejou-o de sua sala na USP. Ele ocupa agora um espaço improvisado.
Um professor que tentou defendê-lo foi alvo de uma ‘moção de censura’ da Comissão de Ética da USP -que ainda não se pronunciou sobre a denúncia de plágio.
‘A Comissão de Ética está muito preocupada em manter a ‘etiqueta’, mas não se pronuncia sobre o conteúdo’, diz Paulo Nussensveig, professor que foi investigado durante o caso mesmo sem ter relação com o episódio. Segundo ele, houve uma tentativa de desvirtuar o objetivo da sindicância.
‘Fui chamado a depor em janeiro, sob ‘suspeita’ de ser o responsável por ‘vazar’ o assunto para a Folha originalmente’, conta. ‘Um dos objetivos da comissão era desqualificar um parecer que eles tinham solicitado sobre o caso porque o parecerista seria meu parente. Eles não mantiveram sigilo sobre a identidade do parecerista, o que é praxe nesses casos, e o parecerista não foi avisado de que sua identidade poderia ser revelada ao acusado.’
Apesar das pressões, um parecer que indicaria plágio aparentemente foi validado. Quando o relatório finalmente ficou pronto, o Departamento de Física Matemática solicitou uma cópia, mas a reitoria negou, alegando que o processo ainda ‘encontra-se em tramitação junto aos órgãos competentes’.
‘Não sei por que a reitora está fazendo isso’, diz Hussein. ‘Eu diria que, se ela não quer divulgar esse relatório, é porque ele é negativo em relação ao professor [Szanto].’
Outro lado
Procurada pela Folha desde abril, a reitora Suely Vilela tem se negado a dar entrevista sobre o assunto. Carlin, da Fuvest, assumiu responsabilidade pessoal pelo trabalho copiado na revista ‘Physical Review C’, em carta aos editores. Contudo, nunca falou à imprensa sobre o episódio.
No ano passado, Szanto afirmara à Folha que os textos copiados não eram plágio e sim ‘erros de referenciamento’. Procurado desde anteontem para comentar as acusações de intimidação, não respondeu e-mail nem ligações até o fechamento desta edição.’
INTERNET
Google lança programa para navegar na internet
‘O Google ataca novamente, desta vez com um navegador de internet. Depois de se consolidar como o mecanismo de buscas mais usado do mundo, segundo a Nielsen NetRatings e a comScore, a empresa criada por Larry Page e Sergey Brin em 1998 investe no mercado de browsers, dominado pelo Internet Explorer, da Microsoft, e disputado, também, pelo Mozilla Firefox.
Desde a tarde de ontem, é possível fazer o download da versão beta (de testes) do Chrome por meio do endereço www.google.com/chrome. O navegador está disponível em 43 línguas, incluindo o português do Brasil.
Feito em código aberto (que permite a qualquer desenvolvedor implantar modificações), o Chrome tem como objetivo facilitar a experiência do usuário na internet e se baseia na idéia de que o navegador é uma ferramenta para alcançar o que importa, como páginas, sites e aplicações.
‘Antigamente, os sites eram grandes blocos de texto. Hoje, passamos o dia no computador e temos uma complexidade no uso -o usuário navega, ouve música, assiste a vídeos. Os engenheiros do Google notaram que algumas coisas tinham que mudar’, disse Felix Ximenes, gerente de comunicação do Google Brasil.
Por enquanto, o programa está disponível apenas para Windows.
Por dentro
Os pilares do Chrome são velocidade, estabilidade e segurança, diz o Google.
A velocidade de navegação no Chrome é superior à do Firefox, segundo Marcelo Quintella, gerente de produtos do Google. ‘Qualquer aplicação em Javascript vai ter ganho de performance’, disse.
Nos testes da Folha, o navegador se mostrou bastante rápido tanto para iniciar quanto para acessar páginas.
A tela inicial do Chrome reúne nove sites mais acessados pelo usuário -eles mudam conforme a navegação.
O navegador usa a interface de abas (ou guias), popularizada pelo Firefox e também adotada pelo Internet Explorer.
Se algum site causar travamento, é possível fechar apenas a aba em que ele está, em vez de o navegador inteiro.
A barra de endereços também funciona como campo de pesquisa. Se você digita uma URL (endereço de internet), o navegador ‘entende’ que se trata da procura por um site. Se você digita um nome, o browser faz a pesquisa.
Em relação à privacidade, o principal atrativo do Chrome é a janela anônima, que não guarda informações sobre a navegação, como cookies, histórico e senhas.
O Google não revela quanto foi investido na criação do Chrome -apenas que o processo levou cerca de um ano e foi conduzido por engenheiros de todo o mundo.
Segundo a Net Applications, o Internet Explorer detém 72% do mercado de navegadores. Em seguida vêm o Firefox, com 20%, e o Safari, com 6%.’
Emerson Kimura
O lado negro do Google
‘‘Don’t be evil’, não seja mau. Esse é o lema corporativo adotado pelo Google, que promete no seu código de conduta ‘fornecer aos nossos usuários acesso imparcial a informação, focar em suas necessidades e dar-lhes os melhores produtos e serviços que pudermos’. O lema ‘é também sobre fazer a coisa certa de um modo mais geral -a seguir as leis, a agir com honra, a tratar aos outros com respeito’.
Mas será a maldade algo mensurável? Para o Google, sim -pelo menos quando entram em jogo certos interesses. ‘Nós fizemos um escala de maldade e decidimos que não fornecer nada seria um mal pior’, disse Eric Schmidt, chefe-executivo da empresa, em 2006, a respeito do fornecimento do serviço na China, onde o buscador aceitou adotar restrições impostas pelo governo do país .
No próximo domingo, o Google completa dez anos de sucesso e polêmica, com incontáveis -mais de cem- intimações e processos judiciais.
Em abril, um casal de Pittsburgh (EUA) acusou o Google de invasão de privacidade após sua casa, que fica em uma rua particular, aparecer no Street View, recurso que exibe seqüências de fotografias de várias localidades em 360º no nível do solo. Não foi o primeiro caso do tipo -há relatos de imagens de homens saindo de casas de strip-tease ou enfiando o dedo no nariz.
A solução dada pelo Google: o interessado deve solicitar a remoção da imagem por meio de ferramenta do próprio site. Ou seja, quem não queria aparecer no mundo exposto pela empresa precisava avisá-la disso, já que ela agia como se todos quisessem dar as caras. Os incomodados que se retirassem.
Em 2002, Daniel Brandt, um voraz crítico do Google (por interesses pessoais, há quem diga), já questionava o rastreamento de informações dos usuários -como termos pesquisados, datas e número do IP do usuário.
O Gmail e outros produtos aumentaram consideravelmente a quantidade de informações pessoais armazenadas pelo Google, e a oferta pública de ações levantou dúvidas sobre o que a companhia poderia fazer com esses dados a fim de maximizar seus lucros para agradar seus investidores.
No ano passado, a ONG Privacy International classificou 23 empresas de acordo com suas práticas em relação à privacidade. Apenas o Google atingiu o nível mais grave. Apesar de tantos apelos, foi somente em julho deste ano que o Google colocou um link na página principal do site para o seu Centro de Privacidade.
Outro lado
‘Não conseguimos antever todos os problemas, debates éticos e filosóficos’ que um produto poderá causar, diz Felix Ximenes, diretor de comunicação do Google Brasil. ‘Qualquer empresa que investe em tecnologias novas vai se deparar com problemas.’
E, quando a discussão ocorre, o Google não fica parado, diz ele, dando o exemplo do Street View, que agora tem um software que automaticamente borra o rosto das pessoas e a placa dos carros fotografados. De fato, nos testes da Folha foi difícil achar esses elementos com nitidez.
O diretor diz que não é preciso se preocupar com os cookies, pois eles são utilizados apenas para melhorar as buscas do usuário. Para ele, toda essa preocupação com a privacidade é ‘justificável’, mas as pessoas podem ficar tranqüilas quando a empresa é ‘séria’.
Quanto às acusações de violação de direitos autorais por meio da busca de textos de livros, Ximenes explica que as obras são disponibilizadas pelo Google apenas após acordo com os donos dos direitos.
CONSPIRAÇÃO
‘Master Plan’ (masterplanthemovie.com) é um filme ‘sobre o poder do Google’; dirigido por Ozan Halici e Jürgen Mayer, foi baseado no livro ‘The Google Story’, do jornalista David Vise’
Daniela Arrais
Diários de escritor George Orwell são publicados em blog em ‘tempo real’
‘Em seu livro ‘1984’, George Orwell abordou um mundo sem privacidade, controlado pelo ‘Grande Irmão’. Décadas e várias edições de ‘Big Brother’ depois, qual não seria a surpresa do escritor inglês ao ver seus diários publicados na internet?
A iniciativa é do instituto britânico Orwell Prize, que passará quatro anos alimentando o blog Orwell Diaries (www.orwelldiaries.wordpress.com).
Os textos, escritos entre agosto de 1938 e outubro de 1942, serão postados em tempo real, 70 anos depois que as primeiras palavras foram escritas por Orwell, diz texto no blog.
A idéia de publicar os escritos é fazer os leitores enxergarem o mundo pelas lentes do escritor. Dos diários domésticos, surge um Orwell desconhecido, que tem curiosidade por plantas, animais, trabalhos em madeira e, principalmente, quantos ovos suas galinhas colocam, diz o site.
Nos diários políticos, Orwell se mostra preocupado com a guerra civil espanhola, por exemplo.’
Rafael Capanema
Folclorista brasileiro ganha blog
‘Luís da Câmara Cascudo (1898-1986): folclorista, jornalista, historiador, etnógrafo, biólogo e, desde 2005, blogueiro.
O Blog do Cascudo (www.memoriaviva.com.br/cascudo/blog) reproduz textos da coluna Acta Diurna, assinada diariamente por Cascudo no jornal ‘A República’ entre 1939 e 1960 -a periodicidade do site, porém, é semanal.
Quem mantém o blog é Daliana Cascudo, neta do folclorista e diretora do Memorial Câmara Cascudo, em Natal (RN).’
TELEVISÃO
MTV corta sinal e processa Sky por pirataria
‘A MTV do Brasil deve entrar nos próximos dias com uma ação penal contra o presidente da Sky, Luiz Eduardo Baptista da Rocha. Argumenta que a Sky transmitiru seu sinal para São Paulo nos últimos três meses sem autorização contratual, o que configuraria pirataria.
Anteontem, às 17h45, a MTV desligou o equipamento (decoder) que permitia à Sky enviar seu sinal aos assinantes. A Sky imediatamente colocou no lugar da MTV brasileira o sinal da MTV Hits (gerada nos EUA).
O processo e o corte de sinal são os mais novos capítulos de disputa que a TV do Grupo Abril trava com a segunda maior operadora do país, com 1,7 milhão de assinantes.
Em maio, MTV e Sky trocaram acusações na imprensa porque a operadora deixou de irradiar a emissora para todo o país, limitando seu sinal a SP.
O contrato da Sky para transmitir a MTV venceu em dezembro e foi renovado, por carta, até maio. A MTV queria reajuste de 20% no valor (R$ 0,43) que recebia por assinante. Por ser operadora via satélite, a Sky não é obrigada a carregar a MTV. Mas também não pode transmiti-la sem autorização.
Procurado, o presidente da Sky não se manifestou. A operadora apenas informou que avisou seus assinantes de que a MTV poderia sair do ar, que as duas empresas, após dez meses, ‘não chegaram a um acordo comercial compatível’ e que as negociações continuam.
COMEMORAÇÃO
Apesar da baixa audiência, a equipe do ‘Olha Você’ saiu para comemorar após a estréia, anteontem. Ontem, dizia-se nos corredores do SBT que o brinde era por Silvio Santos não ter tirado o ‘não-programa’ (de tão ruim) do ar antes de meia hora de exibição.
DECEPÇÃO
‘Olha Você’ marcou 3,7 pontos (antes, o SBT dava 5 pontos das 17h às 18h). Ficou em quarto no Ibope, atrás de Globo, Band e Record _que, em baixa no horário, agradece.
RAQUETADA
‘Mulheres Apaixonadas’ reestreou na Globo (‘Vale a Pena Ver de Novo’) com 15,7 pontos no Ibope. Foi mais do que a reestréia de ‘Cabocla’ (13,5), mas menos do que ‘Coração de Estudante’ (17,2).
REBELDE
A Record desistiu de inaugurar sua parceria com a Televisa, em março de 2009, com a novela ‘Betty, a Feia’. O primeiro título da sociedade será uma adaptação de ‘Rebelde’.
ALTERNATIVA
A Globo está reprisando ‘JK’ (2006) durante o horário eleitoral noturno em Brasília. Como o sinal trafega por satélite, quem tem antena parabólica pode captar a minissérie.
REFORMA JÁ
Setores da Record defendem uma reforma radical e urgente na programação vespertina (período do dia em que a emissora tem pior desempenho no Ibope). Avaliam que já passou da hora do ‘Balanço Geral’ (que agora investe no filão de ‘casas misteriosas’) e do ‘Programa da Tarde’ saírem do ar.’
Bruna Bittencourt
MTV acompanha sucesso de Timbaland
‘No fim dos anos 90, Timbaland já havia produzido Missy Elliott, Jay-Z e Snoop Dogg, entre outros grandes nomes do rap, e lançado dois álbuns, ‘Welcome to Our World’ e ‘Tim’s Bio’. Mas foi a partir de 2006 que ele ficou conhecido além do gênero, quando deu uma direção ao pop de Nelly Furtado em ‘Loose’, disco que produziu quase inteiro, e assinou com outros a produção de ‘Future Sex/Love Sounds’, de Justin Timberlake, com quem divide o hit ‘SexyBack’. No ano seguinte, Timbaland trabalhou com M.I.A., em ‘Kala’, Björk, em ‘Volta’, e, finalmente, Madonna, que também escalou outros superprodutores, como Pharrell Williams e Nate ‘Danja’ Hills, para ‘Hard Candy’ (2008). De olho em sua popularidade, a MTV gravou em 2006 ‘Diary Timbaland’, programa em que seguiu o produtor durante dias. Timbaland aparece fazendo piadas em sua mansão, mais piadas em seu estúdio, sendo assediado por mulheres, distribuindo autógrafos na noite, gravando clipe com Justin Timberlake (‘My Love’), fazendo show em Las Vegas… E até divertido, mas não é o foco do programa explicar como ele ficou tão rico e famoso ou qual o seu talento como produtor.
DIARY TIMBALAND
Quando: amanhã, às 19h30; reprise no domingo (7/9), às 13h30
Onde: na MTV
Classificação indicativa: livre’
LITERATURA
Bienal do Livro tem queda de público de 10%
‘A 20ª edição da Bienal do Livro de São Paulo, que terminou no dia 24, teve queda de cerca de 10% em seu público na comparação com 2006, quando 811 mil pessoas estiveram no evento. Neste ano, em 11 dias, 728 mil pessoas foram ao pavilhão do Anhembi, segundo a organização. Entre os compradores, a média de livros adquiridos subiu de 3,45 para 4,97 por pessoa.’
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O Estado de S. Paulo
Quarta-feira, 3 de setembro de 2008
BISBILHOTICES
Fortemente constrangido
‘O envio da diretoria da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para o altar dos sacrifícios já no primeiro dia útil da crise instalada no fim de semana, quando a revista Veja exibiu prova da existência de uma usina de invasões de privacidades em Brasília, foi entendido como um sinal de rigor e agilidade por parte do presidente Luiz Inácio da Silva.
Houve, de fato, uma alteração no padrão habitualmente adotado no Palácio do Planalto para a administração de escândalos. Mas nada que autorize entusiasmos com a rapidez e a austeridade da ‘ação’ do presidente da República.
Primeiro, porque não foi uma ação, foi uma reação. Segundo, não foi rápida e, terceiro, não revelou o vigor e sim a fragilidade de Lula diante de um Supremo Tribunal Federal unido e disposto ao combate, caso se repetisse o roteiro de sempre.
Aquele velho conhecido: surge a denúncia, uma sindicância interna é aberta, a Polícia Federal inicia inquérito para investigar ‘a fundo’, ministros produzem versões contraditórias sobre o episódio, o Congresso põe o caso em alguma CPI e o presidente Luiz Inácio da Silva queda-se em mutismo absoluto esperando a passagem do vendaval.
Se a coisa fica muito feia, toma-se a corda em seu lado mais fraco, providencia-se ali uma punição a título de satisfação ao público e assunto encerrado.
Desta vez, o governo fez uma passada meteórica pelas preliminares e apresentou logo um suspeito. E por que fez isso? Porque se viu diante de uma emergência: ou fazia alguma coisa logo, apresentava um alvo qualquer, ou se arriscaria a se tornar ele mesmo o alvo de uma artilharia pesada.
A cobrança pública por providências, desde sábado, não partiu de um Congresso desmoralizado, nem de uma oposição acuada ou de uma opinião pública difusamente indignada.
Quem pressionava era a cúpula do Poder Judiciário, a guardiã da Constituição, dona da palavra final sobre as leis, a única instituição com poder e credibilidade suficientes para, em determinado momento – não precisava nem dizer, bastava insinuar que o presidente da República hesitava na defesa do Estado de Direito -, levar Lula às cordas.
Daí a necessidade de alterar a programação habitual e começar pelo fim: a apresentação do suspeito. Um ato inédito. O governo sempre se recusou a adotar o método consagrado no governo de Itamar Franco, quando seu então braço direito, Henrique Hargreaves, foi afastado do Palácio em função de denúncias envolvendo irregularidades nos Correios e reconduzido ao posto depois de inocentado.
Não que tenham faltado cobranças nesse sentido, ao contrário. As inúmeras foram rechaçadas pelo governo Lula sob o argumento da presunção de inocência e que demissões, mesmo temporárias, equivaleriam a condenações antecipadas.
A regra, até agora seguida sem exceção, levaria à suposição de que o governo agiu agora de forma diferente porque já dispunha de base sólida para apresentar o suspeito sem correr o risco de transformá-lo em réu injustamente.
A reação das autoridades ontem em Brasília mostrou que, quem chegou a essa conclusão, precipitou-se. Do vice-presidente da República, José Alencar, ao ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, passando pelo chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, general Jorge Felix, saíram todos em defesa do diretor demitido da Abin, Paulo Lacerda.
Um homem inatacável, um profissional bom e confiável, uma vítima de armação de gente interessada em desmoralizar a agência foi o mínimo que se ouviu a respeito da pessoa apresentada na noite anterior como chefe dos principais suspeitos.
Junto a esses elogios, ganharam reforço também as versões sobre a possibilidade de as escutas ilegais não terem sido produzidas dentro do aparelho de Estado, mas por quadrilhas de ‘ouvidores’ (no mau sentido) do setor privado, vale dizer, Daniel Dantas.
Uma hipótese nem de longe a ser jogada fora, dada a trajetória de obscuridades protagonizadas pelo esquisitíssimo rapaz.
Agora, se vai nessa direção a desconfiança mais forte e se no dia seguinte o governo inteiro põe a mão no fogo por Paulo Lacerda, por que o afastamento em regime de exceção?
Por qualquer caminho que se vá, chega-se ao mesmo lugar: para proteger o presidente Lula de uma confrontação com o Supremo Tribunal Federal no âmbito onde este é autoridade máxima e àquele cabe submissão absoluta jurada no ato da posse: a legalidade.
Enaltecido o presidente poderia ser caso tivesse sido dele a iniciativa de compreender o significado da disseminação dos grampos. Mas tal entendimento não havia ainda se apresentado à cena, a despeito das várias denúncias (inclusive do próprio presidente do Supremo) sobre a propagação da invasão de privacidade da capital da República.
Apareceu apenas quando a situação foi traduzida para o idioma de Lula, um ás na distinção entre o que pode lhe render benefícios ou lhe causar prejuízos políticos no exercício do poder.’
ELEIÇÕES
Justiça proíbe Maluf de usar ‘relaxa e goza’ na TV
‘A Justiça Eleitoral concedeu liminar determinando que o candidato do PP à Prefeitura de São Paulo, Paulo Maluf, retire do ar propaganda gratuita de rádio e TV que mostra a voz da ex-prefeita e candidata do PT, Marta Suplicy, sugerindo à população relaxar e gozar. A declaração foi feita por Marta no ano passado, em meio à crise do setor aéreo. A frase, porém, foi utilizada por Maluf em publicidade que abordava problemas na área da saúde.
A decisão de proibir a veiculação da propaganda foi tomada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) a partir de representação do PT. Na avaliação de estrategistas de campanha, Maluf acabou prestando serviço à própria petista ao utilizar a gafe fora do contexto, por meio de trucagem, e com o objetivo de degradar a adversária.
Na avaliação de um marqueteiro, feita antes mesmo da decisão do TRE, se alguém pensava em usar esse episódio na campanha contra Marta, agora ficou impedido. A assessoria de Maluf informou ontem à noite que vai recorrer da decisão, tomada pelo juiz Claudio Luiz Bueno de Godoy.’
O Estado de S. Paulo
TSE volta a barrar propaganda em site
‘Mais uma vez o Tribunal Superior Eleitoral se recusou a mexer na resolução da Corte que proíbe a publicação de opiniões sobre candidatos na internet. O portal iG fracassou na tentativa de obter aval para vender espaço publicitário relacionado às propagandas eleitorais. O vice-presidente do TSE, Joaquim Barbosa, afirmou que a resolução apenas repetiu regras que já valiam nas eleições de 2004 e 2006. Para decidir em caráter definitivo o Ministério Público Eleitoral emitirá parecer e o plenário do TSE julgará o mérito.’
INTERNET
Google acirra briga com a Microsoft
‘O Google lançou oficialmente ontem seu navegador de internet, o Chrome. Com o novo produto, a empresa, mais conhecida por seu site de buscas, entra em uma área que é o coração da operação de sua grande rival, a Microsoft. Com o Internet Explorer, a Microsoft domina 73% desse mercado no mundo.
Mas a meta do Google não é só tirar mercado da rival em navegadores. A empresa quer tornar o uso de serviços prestados via internet tão fácil quanto programas instalados no computador. O Google já tem, por exemplo, serviços na internet para substituir a suíte de aplicativos Office, da Microsoft. Chamada Google Docs, ela inclui processador de textos, planilha eletrônica e apresentações. Com o Chrome, a experiência de usá-las se torna ainda mais próxima da de usar o Office.
‘O Chrome é uma plataforma para rodar aplicativos da web’, afirmou Felix Ximenes, diretor de comunicação do Google Brasil. A empresa qualificou o Chrome como estável, rápido, robusto e confiável, adjetivos normalmente mais usados para sistemas operacionais.
Para a Microsoft, guerra de navegadores não é novidade. Na década de 1990, a empresa travou uma grande batalha contra a Netscape, que dominava o mercado e acabou sumindo. A guerra foi declarada quando Marc Andreessen, co-fundador da Netscape, começou a dizer que o sistema operacional ia se tornar irrelevante, pois todo software rodaria no próprio navegador de internet. De certa forma, o que o Google faz hoje é materializar essa visão.
A Microsoft reagiu ao lançamento do Google. ‘O mercado de navegadores é altamente competitivo, mas as pessoas irão escolher o Internet Explorer 8 pela forma como ele coloca os serviços da maneira que elas querem, nas pontas dos dedos, respeita as escolhas pessoais sobre como elas querem navegar e, mais do que qualquer tecnologia de navegador, as coloca no controle de seus dados pessoais na internet’, disse Dean Hachamovitch, gerente-geral do Internet Explorer da Microsoft, em comunicado.
O fato de o Google ter lançado o Chrome primeiro para o Windows mostra claramente que o alvo a ser atingido é a Microsoft. ‘As versões para Mac e para Linux serão lançadas em breve’, disse Ximenes.
O movimento coloca em risco, no entanto, o Firefox, navegador com código aberto com 19% do mercado. John Lilly, presidente do Mozilla, responsável pelo Firefox, escreveu em seu blog que a entrada do Google nesse mercado era ‘inevitável’. O Google é a principal fonte de receita do Mozilla, tendo pago, em 2006, US$ 56 milhões para ser a primeira página padrão do navegador.
O Google Chrome foi lançado simultaneamente em mais de 100 países e em 43 idiomas, incluindo o português. Ao mesmo tempo em que o Google ataca o mercado da Microsoft, a gigante do software investe em serviços online, de olho na publicidade ,que é a principal fonte de receita do Google. A tentativa frustrada de comprar o Yahoo tinha como objetivo conquistar uma boa fatia do mercado de buscas.
SURFANDO NA REDE
73% é a participação de mercado do Internet Explorer, da Microsoft
19% é a fatia do Firefox, do Mozilla, navegador com código aberto que tem acordo com o Google
6% é quanto tem o Safari, da Apple, terceiro colocado no mercado de navegadores’
Steve Lohr, The New York Times
Chrome marca a volta da guerra dos browsers
‘O navegador é uma porta universal de entrada para a internet, e o uso de software e serviços via rede mundial aumenta rapidamente. O browser se torna cada vez mais essa porta para a internet nos celulares e outros equipamentos móveis, ampliando a utilidade da rede e da publicidade na rede. O Google, afirmam os analistas, não poderia permitir que a Microsoft continuasse a dominar o mercado de browsers sem enfrentar um desafiante direto.
O Google já concorre com a Microsoft em busca e publicidade online. Ambas produzem software para celulares. O Google compete cada vez mais com a Microsoft em software de produtividade básica, como processamento de texto, planilhas, apresentações e correio eletrônico. O Google tem software baseado na rede nesses mercados, que constituem alternativas de baixo custo ou gratuitas para o lucrativo software de PCs da Microsoft.
Apesar dos conflitos freqüentes com a Microsoft – como a influência para frustrar a tentativa de aquisição do Yahoo -, o Google se tornou líder somente em busca e em publicidade de busca. Mas não tem de ganhar a guerra dos browsers. Do ponto de vista estratégico, a abertura de mais uma frente contra a Microsoft obriga a empresa de software a desviar recursos que seriam usados para defender outros produtos.’
O Estado de S. Paulo
Na Microsoft, presidente cria blog para falar com funcionário
‘O blog já é uma ferramenta de comunicação consagrada na internet, mas seu uso dentro das empresas ainda é bastante restrito. E foi esse o tema do presidente da Microsoft Brasil, Michel Levy, em sua palestra no Conarh 2008
O próprio Levy criou e mantém um blog interno disponível para todos os funcionários da Microsoft, onde escreve sobre temas que julga ser relevantes, curiosos ou de interesse de todos, com objetivo de estimular o debate e a interatividade.
‘É fundamental associar a tecnologia de informação com a cultura da empresa, até porque o grande diferencial competitivo de uma organização é sua cultura de valor. O blog deve ajudar a difundir isso’, afirmou.
Mas a participação dos funcionários no projeto não foi tão fácil como se imaginava. Levy conta que no seu primeiro ?post? falou sobre equilíbrio entre ambiente de trabalho e vida pessoal, levantando inclusive diversas questões. ‘Me preparei no dia seguinte imaginando que ia responder a dezenas de comentários, e havia apenas um.’
O presidente da Microsoft, entretanto, persistiu na idéia. ‘Com uma certa freqüência na publicação de mensagens e muita disciplina, fui conseguindo aos poucos melhores resultados’, diz.
Hoje, com oito meses de blog, Levy tem um número que considera razoável de comentários a cada novo texto publicado e acha que essa proximidade entre líder e funcionários resulta em confiança. ‘As organizações precisam criar uma comunicação interna eficiente e a vantagem do blog é que além de informativo, ele é colaborativo e interativo.’’
CINEMA
Luiz Carlos Merten
Passe de bola por trás das câmeras
‘É a pergunta que você, cinéfilo, com certeza já se deve ter feito – por que Walter Salles, um dos importantes diretores brasileiros (e com uma estável carreira internacional), volta e meia sente essa necessidade de compartilhar a realização com Daniela Thomas? E outra – como e por que o filho do banqueiro (seu pai, Walter Salles, foi um dos homens mais ricos do Brasil) fez essa opção por contar histórias de excluídos, marginalizados, ou utopistas como o jovem Che Guevara? Essas e outras perguntas foram levadas a Waltinho, como é chamado, e a Daniela Thomas, que na semana passada participaram, em São Paulo, de rodadas de entrevistas promovendo Linha de Passe, novo filme da dupla, premiado em Cannes – melhor atriz para Sandra Corveloni – e que estréia na sexta, dia 5.
E, então, por que compartilhar a direção? Não adianta dizer que Daniela é sua alma gêmea porque essa união fraterna vale para alguns filmes, não para todos.
Walter Salles – Fazer filmes não é uma atividade solitária. Muita gente se envolve e participa do processo, mas, apesar disso, e de estar sempre trocando informações com artistas e técnicos, dirigir tem um lado solitário, sim. Daniela e eu combinamos que temos carreiras -solos, mas a cada década, ou menos, vamos fazer um filme juntos. É uma parceria que vem dando certo e, ao mesmo tempo, satisfaz a minha necessidade do outro, para me completar. Co-dirigir com ela me estimula e também me completa. Estamos no nosso quarto trabalho (NR – os longas Terra Estrangeira e O Primeiro Dia, o episódio de Paris Eu Te Amo; mas Daniela corrige e diz que é o quinto, acrescentando o curta Amor e Armas, sobre Adão Xalebaradã) e ela me completa. No set, basta às vezes uma troca de olhares para estarmos em sintonia.
Mas você ainda não respondeu à pergunta. Por que essa necessidade vale para certos filmes, somente. E como é – você pega o telefone e diz, ?Daniela, vamos fazer um filme??
Daniela Thomas – É assim mesmo. Ele ligou e me disse que queria fazer um filme. Walter tinha idéias sobre uma família desprovida da figura paterna, uma figura em que a mãe cumpre as duas funções e é também o pai. Ela teria esses filhos, e um deles seguiria o sonho de milhões de brasileiros, que elegem o futebol como veículo para sair da exclusão social. Quando o Walter propôs a idéia fundadora, ela já veio com uma forma. Os irmãos precisavam se apoiar, a casa teria de funcionar como um centro de suporte para todos e a bola não poderia cair. Veio daí o título – em futebol, a linha de passe é a jogada em que os atletas dominam a bola entre si, sem perder o controle dela. Mas isso foi só o começo. Foi um filme que demorou muito para ser feito, na verdade, para ser escrito. Trabalhamos cinco anos no roteiro, George Moura e eu. Bráulio Mantovani (de Cidade de Deus) ajudou a redirecionar o projeto, quando entrou em crise (NR – Quando o co-roteirista de Central do Brasil, João Emanuel Carneiro, utilizou elementos do filme, como o motoboy com sensibilidade artística, para a novela que escreveu na Globo, Cobras e Lagartos).
Outra pergunta que muita gente se faz é por que você, Walter, rico, bonito e bem-sucedido, um aristocrata, fez essa opção pela periferia e pelos excluídos, que está em praticamente todos os seus filmes?
WS – Mas eu não sou um aristocrata. Aristocrata era o Luchino Visconti, que fez filmes como Rocco e Seus Irmãos, que foi uma referência importante para todos nós. Meu pai foi um homem bem-sucedido, mas foi o primeiro na família dele a ter um diploma. Minha mãe, descobri enquanto fazia o filme, foi secretária na Central do Brasil. Se um realizador fosse obrigado apenas a olhar para sua classe social, Visconti não teria feito Rocco nem A Terra Treme ou Obsessão. Pierre Verger também não teria abandonado uma vida confortável em Paris para fotografar na África ou na Bahia. Na classe social de onde eu venho, é fácil blindar um carro, colocar o vidro escuro e fingir que os problemas não existem. Só que eles existem e não tenho vontade de chamar o Bope para resolvê-los. Acho que a gente só se completa no outro (já disse), naquele que é diferente de você. Não é uma constatação romântica, e sim uma necessidade.
Linha de Passe trata de um tema freqüente na filmografia de vocês – a falta do pai.
WS – Já vem desde Terra Estrangeira, que também era marcado pela ausência do pai e, inclusive, o personagem derivava para Portugal, fazendo o caminho inverso do colonizador, indo em busca do pai que nos abandonou. Mas não quero psicanalisar. A ausência do pai é um dado estatístico brasileiro. Cerca de 20 ou 25 por cento das famílias possuem essa lacuna e, nelas, a mulher desempenha a função de mãe e pai, exatamente como faz a Cleuza (Sandra Corveloni) no filme. O roteiro, inclusive, perpetua essa tendência, porque o Dênis, um dos filhos (o motoboy), é pai de um menino que não o reconhece e até chora quando o vê. É um problema crônico que atravessa gerações e se constitui numa vertente importante para entender o País.
É um filme que foi muito escrito e, ao mesmo tempo, tem uma pegada documentária muito forte.
DT – Isso também fazia parte do conceito do filme. Walter queria que Linha de Passe tivesse um pé no documentário.
WS – Num certo sentido, é o oposto de Central do Brasil. Central era um filme no qual a precisão era necessária. Em Linha de Passe, queria, e a Daniela foi muito solidária desde o roteiro, que São Paulo e a realidade da família, dos garotos, invadisse o longa. O roteiro já previa isso – uma porosidade que teria de ser invadida e preenchida durante a filmagem.
Qual será a estratégia de lançamento do filme?
WS – Desde o início pensamos em Linha de Passe como um filme pequeno, em que fosse possível arriscar. A boa reação e o prêmio em Cannes ampliam um pouco as possibilidades, mas o DNA do filme permanece o mesmo. Linha vai ser lançado com 50 cópias, o que pode ser considerado um lançamento médio. Os filmes que Daniela e eu co-dirigimos fizeram uma média de 100 mil espectadores. Imagino que o Linha possa ir um pouco além dos números de Terra Estrangeira, mas não devemos esperar muito mais.’
TELEVISÃO
Do livro para a tela
‘Um livro de auto-ajuda bem debochado pode virar uma série produzida por um casseta. Trata-se de Uma Piada Pode Salvar Sua Vida, do casseta Beto Silva. O lançamento é uma ficção que mistura humor e um pouco da história de vida do autor, que garante que foi salvo pelo riso.
‘Eu era um engenheiro bem-sucedido quando surgiu a oportunidade de escrever para o TV Pirata e tive de fazer essa escolha, o que mudou toda a minha vida’, conta ele. ‘Esse é o ponto de partida do livro, que brinca com essa coisa de auto-ajuda, oferecendo piadas para resolver grandes dilemas’, continua. ‘Pretendo transformar esse material em algo para TV, mas estou ainda estudando o formato.’
Beto diz que a publicação – idéia antiga dele – pode dar origem a um quadro no Casseta & Planeta, ou a uma série para TV paga. ‘Há piadas ali um pouco radicais demais para a Globo. Teria de dar uma editada’, conta, rindo. ‘Mas talvez para a TV paga role melhor. Nem que não seja uma série, podem ser programetes com dicas de um guru’, continua. ‘Só espero que as pessoas não levem o livro muito a sério e sigam os conselhos que dou nele. É ficção, pessoal!’’
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