Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

TSE pede a Lula que esclareça
os gastos com publicidade


Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Globo


Quarta-feira, 14 de junho de 2006


ELEIÇÕES 2006
Isabel Braga


TSE vai notificar Lula sobre gastos com publicidade


‘BRASÍLIA. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vai notificar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que, num prazo de cinco dias, dê esclarecimentos sobres os gastos do Executivo com publicidade institucional nos últimos três anos, tanto na administração direta como na indireta. A notificação do presidente foi determinada pelo ministro Carlos Ayres Britto, relator da petição apresentada pelo PFL e PSDB, que querem saber se os gastos estão dentro do limite legal.


Ayres Britto argumentou que a notificação de Lula obedece ao princípio do contraditório e da ampla defesa. Por isso deu ao presidente prazo de cinco dias para se manifestar-se sobre o conteúdo da petição. A Advocacia Geral da União (AGU), que dará os esclarecimentos à Justiça Eleitoral, não se pronunciou porque não havia recebido a citação.


No último dia 31, os presidentes do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), e do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), entregaram a petição e o pedido de investigação dos gastos com publicidade ao presidente do TSE, ministro Marco Aurélio de Mello. Os dirigentes partidários se referiram às peças de publicidades feitas por estatais como a Petrobras e a Eletrobrás.


PT consegue tirar frase contra Lula de site do PFL


Tucanos e pefelistas argumentam que o presidente pode ser beneficiado por essas propaganda neste período pré-eleitoral. A investigação do TSE poderá resultar, na opinião dos adversários de Lula, na proibição de veiculação de algumas campanhas oficiais, principalmente do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal (CEF) e outras, caso seja comprovado o uso excessivo de recursos em publicidades este ano.


Pela legislação, as despesas públicas com publicidade em ano eleitoral não podem superar a média dos gastos dos últimos três anos ou a despesa do ano anterior. PFL e PSDB já moveram dezenas de ações contra Lula e o PT, alegando propaganda eleitoral antecipada. Mas até agora, apesar de reconhecer problemas em algumas propagandas, como aconteceu na semana passada com um programa de rádio da CEF, o TSE tem poupado Lula. A Caixa foi multada em cerca de R$ 20 mil, mas os ministros concluíram que Lula não pôde ser responsabilizado.


Ontem, o PT obteve uma vitória no TSE. O ministro Marcelo Ribeiro concedeu liminar pedida pela partido que proíbe o PFL de exibir, em seu site na internet, mensagem sobre Lula e vários petistas. Entre as mensagens está a frase ‘Chega de corrupção! Em 2006, Lula não!’. Para o ministro, a frase configura propaganda eleitoral antecipada, na forma negativa.’


INTERNET
O Globo


Serviço de e-mail da Yahoo sofre ataque de vírus


‘LAS VEGAS. A Yahoo Inc., maior provedora de serviços de e-mail do mundo, informou segunda-feira à noite que um vírus afetou ‘uma pequena parte’ de seus mais de 200 milhões de usuários. A praga, do tipo worm (verme, que se auto-reproduz), chama-se Yamanner e vem em um e-mail com o assunto ‘New Graphic Site’. Uma vez aberta, a mensagem infecta o computador e se espalha para os endereços cadastrados naquela conta de e-mail, informou a Yahoo.


Basta abrir o e-mail com o vírus para infectar a máquina, alertou a empresa de segurança Symantec, ao contrário da maioria das pragas, que vêm num anexo. A Yahoo pediu que os usuários atualizem seus programas antivírus e bloqueiem qualquer e-mail do remetente ‘av3@yahoo.com’.


A porta-voz da Yahoo, Kelley Podboy, disse em nota que já foram tomadas as medidas necessárias para proteger os usuários de novos ataques desse vírus.


O Yamanner, detectado pela primeira vez segunda-feira, foi classificado como sendo de baixo risco por Trend Micro e McAfee – mas de risco elevado pela Symantec. A praga explora uma vulnerabilidade na tecnologia Javascript utilizada para facilitar o uso do programa de e-mail. Também surge com a variante JS.Yamanner.’


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 14 de junho de 2006


COPA 2006
Errei, sim


João Ubaldo Ribeiro


‘Está certo, mereço a gozação que estão fazendo com meu prognóstico de 4 a 0 em cima da Croácia. Errinho bobo, três gols não fazem tanta diferença assim, mas, de qualquer forma perder da Croácia continua a ser contra as leis da Natureza. E, vamos ser sinceros, acho que ninguém ou quase ninguém esperava que a seleção jogasse desse jeito incompreensível, como já comentam os alemães. Sustento que os croatas são ruins de bola, o que fez parecer que nossa defesa é impecável, notadamente no primeiro tempo. Mas admito que se, no segundo tempo, eles não fossem individualmente tão ruins assim, a gente podia ser o 1º exemplo de uma lei da Natureza violada.


O quadrado mágico, como vocês viram, é mágico mesmo: quase fez com que a qualidade do futebol brasileiro desaparecesse, como aquelas moças que David Copperfield manda para o espaço. Ninguém por aqui, a começar pelos alemães, ficou satisfeito com o que viu. Os comentaristas alemães não foram muito condescendentes com a nossa exibição e até a cara do Ronaldinho, que se mostra sempre alegre, estava amarrada, no fim do jogo. ‘Decepção’, reclamaram os comentaristas unanimemente. ‘Os brasileiros não convenceram.’


E não convenceram mesmo. O próprio Ronaldinho, considerado por eles o nosso melhor (ou menos ruim, dirão os torcedores mais exaltados) jogador em campo ontem, continuou sua misteriosa metamorfose quando joga com a camisa da seleção. Fez um par de belas jogadas e quase um gol de cabeça, mas errou muitos passes e esteve longe de mostrar a exuberância, a velocidade e a visão de jogo que esbanja no Barcelona. Quanto ao Ronaldo Fenômeno, cujo semblante, depois de sua saída, era a imagem da tristeza e da decepção, foi o que se viu.


E foi também, para chateação pessoal minha, porque gosto dele, o alvo principal dos comentaristas. Não sei como isso foi calculado, mas um comentarista afirmou que, durante toda sua participação, ele nem suou nem chegou a correr um total de 2 quilômetros. ‘O boi do futebol’ foi a designação que lhe arranjaram. Não concordo com isso, mas não posso negar que ele não jogou nada, nem Robinho teve tempo suficiente para mudar a cara da partida.


Bem, vamos admitir que o peso dessa estréia e da pressão contínua que os jogadores sofrem por todos os lados foi o principal responsável por essa estréia frustrante, mixuruca mesmo. Obrigação de ser o melhor do mundo e ganhar de qualquer jeito não é fácil para jogador nenhum. E, afinal, vencemos, continuamos no mesmo ‘futebol de resultados’. Ganhei até eu, que nunca mais faço previsões sobre placar nenhum. E o Brasil, já dá para notar, não é mais o favorito que era aqui. Rezemos.’


INTERNET
O Estado de S. Paulo


Ameaça à internet livre


‘No ano passado, coerentemente com a política do governo de Bush de colocar os interesses do Big Business em primeiro lugar, a Comissão Federal de Comunicações dos Estados Unidos (FCC, na sigla em inglês) cometeu uma enormidade que passou algo despercebida do grande público – no país e no exterior. O órgão que regula a indústria da comunicação americana, em sentido amplo, simplesmente pôs abaixo o princípio graças ao qual a internet se tornou o que é: o espaço mais livre já concebido pelo homem para a disseminação instantânea de informações, idéias, expressões culturais, facilidades de comércio e formas de entretenimento.


O princípio que surgiu com a internet e a FCC implodiu é o da chamada ‘neutralidade na rede’, que obriga as empresas de telefonia e televisão a cabo, que abrem aos interessados as portas do sistema (via provedores de acesso) e administram o tráfego no seu interior, a dar a todas e quaisquer mensagens que por ele circulem, geradas por provedores de conteúdo (sites e blogs) e usuários de correio eletrônico, tratamento técnico rigorosamente igual. Ou seja, além de manter o livre fluxo da comunicação online, provedores e teles devem garantir que tudo na internet trafegue com a mesma rapidez, sem privilégios de espécie alguma.


A mudança aprovada pelos fundamentalistas de mercado da FCC permitirá a tais empresas criar pistas de alta velocidade para as mensagens de quem lhes pague o equivalente aos pedágios nas estradas físicas. A questão foi parar no Capitólio. A Comissão de Comércio do Senado americano está para decidir se acaba, ou não, com ‘a tecnologia livre e aberta que fomenta a inovação, o crescimento econômico e a comunicação democrática’, conforme a apropriada caracterização dos professores Lawrence Lessig, de Stanford, e Robert McChesney, de Illinois, em artigo para o Washington Post, transcrito segunda-feira neste jornal sob o título Nada de pedágio na internet.


Considerando o pantagruélico apetite por lucros das megacorporações do setor, como AT&T, Verizon e Comcast, e a influência desmesurada dos seus lobbies em Washington, não será surpresa se o pior acontecer – a menos que o clamor da ‘sociedade em rede’, para usar o termo cunhado pelo sociólogo catalão Manuel Castells, impeça os congressistas, neste ano eleitoral nos Estados Unidos, de tomar uma decisão funesta que repercutirá no mundo inteiro. ‘Sem a neutralidade da rede, a internet começaria a ficar parecida com a TV a cabo’, comparam os professores Lessig e McChesney. ‘Meia dúzia de grandes empresas controlarão o acesso ao conteúdo e sua distribuição (grifo nosso), decidindo o que você vai ver e quanto vai pagar por isso.’


Contra a possível apropriação da internet pelas gigantes da telefonia e da TV a cabo – aprofundando o processo liberticida de concentração da mídia global, principalmente nos Estados Unidos, de que já participam -, uma das vozes mais eloqüentes que se fizeram ouvir no Senado americano foi a do matemático e cientista de computação Vinton Cerf, de 62 anos, um dos principais criadores, se não o principal, da internet. ‘As telecoms querem nos impor um modelo do século 19 no mundo do século 21’, diz ele, citado pela revista The Economist. No modelo velho, o usuário pagava por chamada telefônica ou por correspondência despachada. No modelo novo, os usuários, sejam colossos multinacionais ou pessoas modestas, apenas pagam pelo acesso à rede. O preço varia conforme a velocidade da banda utilizada. Não há despesas de transporte ou de entrega.


Se prevalecer a lógica do Big Business, adverte Cerf, ‘cada vez que eu passar um e-mail, terei de pagar por isso’. E não é que as operadoras de telefonia ou cabo estejam propriamente passando necessidades com o atual sistema de assinaturas, o pagamento de um fixo mensal aos provedores de acesso, que garante a preciosa ‘arquitetura aberta’ da rede. Se esse sistema desaparecer, não apenas estancará ou se reverterá a tendência de diminuição da exclusão digital no mundo, mas também estarão criadas as condições para o controle político-econômico da internet.


Instalados nos postos de pedágio da rede, os magnatas do setor poderão discriminar financeiramente sites e blogs, valendo-se dessa inédita modalidade de poder de polícia sobre o que circula na quase sempre livre autopista da informação.’


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O Congresso deve ficar fora da web


‘The Washington Post – O Senado americano realizará hoje audiências sobre a ‘neutralidade da rede’. A idéia é que os condutores e fios que formam a internet devem tratar todos os conteúdos igualmente. Uma aliança, cujos membros vão desde a Coalizão Cristã até a MoveOn.org, está exigindo que o Congresso estabeleça esta neutralidade em forma de lei. Essas entidades temem que, do contrário, os donos das companhias condutoras – empresas a cabo, companhias telefônicas e assim por diante – ofereçam conteúdo corporativo de alta velocidade cobrando taxas elevadas , enquanto direcionam sites políticos na web e aficionados pela web para um caminho secundário de informações lentas.


Esses argumentos são ampliados pelas grandes empresas de internet – Google, Microsoft, eBay – que desejam que seus serviços sejam entregues rapidamente mas não querem que os donos dos condutores cobrem taxas deles. Embora esta coalizão tenha perdido uma votação na Câmara na semana passada, suas perspectivas são melhores no Senado. (The Washington Post Co. tem redes de banda larga que podem cobrar de sites na Web para entrega rápida. Também produz conteúdo na Web que pode estar sujeito a tais taxas, assim tem interesses em ambos os lados da questão.)


Os defensores da neutralidade sugerem, absurdamente, que uma internet não neutra fique parecida com uma TV a cabo – um meio de comunicação através do qual é oferecido somente conteúdos de empresas. Esta analogia deixa de lado o fato que o mercado de conexões de internet, diferentemente do de televisão a cabo, é competitivo. Mais de 60% dos códigos de endereços postais (CEPs) dos Estados Unidos são atendidos por quatro ou mais provedores de banda larga que concorrem entre si para dar aos consumidores o que eles querem – acesso rápido para o leque completo de sites na web, incluindo os da liga de futebol de seus filhos, das fotos de seus primos, o MoveOn.org e a Coalizão Cristã. Se um provedor de banda larga tornar mais lento o acesso para os blogueiros alternativos, a blogosfera se erguerá em protesto e o provedor poderá perder clientes.


A analogia com a TV a cabo é duplamente errada porque a cultura da mídia é um reflexo da tecnologia. A TV a cabo tem sido a província de estúdios de Hollywood porque fazer uma comédia de situações (sitcom) é dispendioso e difícil – embora isso esteja mudando com as câmeras de vídeo digitais baratas. Da mesma forma, a internet é a província dos experimentadores e aficionados porque criar seu próprio site na Web é barato e fácil. Graças à tecnologia, a internet sempre será uma mídia relativamente democrática cujas barreiras para entrada são baixas.


O argumento sério em favor da neutralidade da rede não tem nada a ver com o fantasma da televisão a cabo. É que uma rede não neutra erguerá barreiras para entrada apenas ligeiramente – mas o suficiente para ser alarmante. Usando uma analogia muito melhor – os supermercados competitivos visam agradar os clientes oferecendo todos os tipos de mercadorias, mas o inventor de um novo salgadinho tem que passar pelas dificuldades das negociações para ter um espaço para exposição do seu produto e poderá acabar na prateleira de baixo, o que diminui seus incentivos. Da mesma forma, se os proprietários dos condutores da rede oferecerem para as empresas em rápida ascensão serviços mais lentos do que os oferecidos às empresas já estabelecidas no mercado, o incentivo para inovar sairá prejudicado.


Será que o serviço de mensagens instantâneas ou telefonia pela internet teriam decolado se seus inventores tivessem que implorar às firmas de banda larga para portá-los? Esta preocupação não pode ser exagerada. As empresas ascendentes já enfrentam barreiras, enquanto as firmas estabelecidas já têm o reconhecimento da marca e investem em truques para fazer seus sites descarregarem mais rapidamente. A barreira extra criada pela falta de neutralidade da rede provavelmente será menor porque os donos dos condutores sabem que os consumidores querem acesso aos inovadores.


Porém, o outro lado tem argumentos poderosos. Se você quer inovação na internet, precisa de melhores portadoras – portadoras mais rápidas, menos suscetíveis aos hackers e spammers e melhores de formas que ninguém até agora pensou. A falta de incentivos para a inovação das portadoras é mais premente que a falta de incentivos para criar novos serviços na web.


É possível constatar esse desequilíbrio na baixa valorização que Wall Street faz das empresas de infra-estrutura de internet como a Verizon (relação preço-lucro = 12) e seu encantamento com as firmas de serviço de internet como a Google (relação preço-lucro = 69). Pode-se ver, também, no fato de que a infra-estrutura de banda larga dos EUA está atrás da do Leste da Ásia e da Europa. A permissão para que os construtores de infra-estrutura da internet recuperem seus investimentos cobrando os Googles e os Amazons pelo uso da rede equilibraria os incentivos para inovação. Ironicamente, uma rede não neutra aceleraria a disseminação de banda larga veloz capaz de oferecer filmes, permitindo que os amadores com câmeras de vídeo rivalizem com os estúdios de Hollywood. Os defensores da neutralidade que criticam a TV a cabo corporativa devem levar isso em consideração.


O aspecto mais fraco da defesa da neutralidade é que os perigos alegados são hipotéticos. Parece improvável que os provedores da banda larga piorem os serviços da web que as pessoas querem e muito mais provável que usem a não neutralidade para cobrar por serviços aprimorados que dependem da entrega rápida e confiável, tais como alta definição em tempo real ou dados confiáveis para monitores do cardíacos. Se isto mostrar ser ruim, o governo deve interferir. Mas não deve oprimir a internet com uma regulamentação preventiva.’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Rede quer aumentar a trama, autor não


‘Se depender de Lauro César Muniz, sua trama, Cidadão Brasileiro, não ganhará a ‘esticadona’ que a Record quer. A exemplo de Prova de Amor, a emissora pensa em espichar Cidadão até janeiro de 2007. Conseguiu, sem problemas, que o autor a estendesse até novembro. Agora, janeiro parece fugir completamente dos planos Muniz.


‘Isso ainda não está decidido. Se ela for até a primeira semana de janeiro, terá 257 capítulos. É muito’, fala o autor. ‘Eram 174 capítulos. Depois passou para 203 com o término de novembro’, continua. ‘É desgastante para todos, especialmente para o elenco.’


O autor diz que vai ponderar com a direção da emissora contra o aumenta da trama, que, segundo ele, será bom até para a próxima novela.


O pretexto da Record para esticar Cidadão é a produção de sua próxima novela, O Senhor da Guerra, de Marcílio Moraes. A emissora quer evitar lançar o folhetim em plena época de eleições e também não quer ficar com uma brecha no horário de novelas. A emissora não quer reprisar outra trama por enquanto, e precisa de tempo para uma nova escalação de atores.’


Luiz Carlos Merten


Ronald Golias solta seu bordão e chama o Cride na TV paga


‘Tem gente que ainda pensa com a mentalidade dos anos 1970, quando o Brasil foi tricampeão do mundo e a ditadura se apropriou da vitória para o seu projeto político e ideológico. Esse fervor do brasileiro pelo futebol volta e meia provoca polêmica. Uma amiga, numa recente viagem ao exterior, irritou-se porque todo mundo só falava em Ronaldinho. ‘Por que não falam da gente como a pátria do Chico Buarque?’


São tantos os fatores que explicam a paixão do brasileiro pelo futebol. Um deles, e não o menor, é esse sentimento de que somos bons demais com uma bola. Ronaldinho, o Gaúcho, faz coisas que desafiam a lei da gravidade. Robinho é aquela alegria. Levando a ideologia para o gramado você pode vibrar com os 3 a 0 que a República Checa aplicou nos EUA. Não adianta, numa coisa eles não são bons.


Desvarios à parte, o Brasil muitas vezes tem complexo de inferioridade. A finesse não é nosso forte. Nosso humor é chancho, expresso por artistas como Oscarito, Grande Otelo, Dercy Gonçalves, o próprio Mazzaropi, que fazia aquele jeca tão engraçado. O Dono da Bola, hoje no Canal Brasil, às 22h40, não é sobre futebol. Mas a comédia de J.B. Tanko com Grande Otelo e Ronald Golias expõe a arte popular do humorista que divertiu o Brasil com o bordão ‘Ô Cride!’’


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 14 de junho de 2006


COPA 2006
Carlos Heitor Cony


A boa nova


‘RIO DE JANEIRO – Pelo que me lembre, nunca houve evento internacional tão badalado quanto a atual Copa do Mundo. Os atentados de 11 de setembro de 2001 também ocuparam a mídia de todo o mundo, mas foi um acontecimento inesperado e com seqüelas que ainda não acabaram. É evidente que não se pode fazer uma comparação de valor entre os dois eventos. Fico apenas na enxurrada de palavras e de imagens que ambos geraram e continuam gerando.


Impossível prestar atenção aos jogos com o tsunami de informações, críticas, elogios, dados relevantes e irrelevantes de cada jogador e de cada partida. Fiquei sabendo, por exemplo, que um craque de Angola nasceu em 1982 -podia ter ido dormir sem essa.


No que diz respeito às nossas cores, nunca um fato foi tão anunciado quanto o jogo Brasil e Croácia. Com o detalhe esclarecedor: o Brasil estréia contra a Croácia. Na realidade, a informação é velha de pelo menos dois meses. Mas até ontem, minutos antes de começar a partida, os locutores e comentaristas se esgoelavam, na base de ‘o Brasil estréia contra a Croácia’.


Quando Cristo nasceu, dizem os Evangelhos, os anjos anunciaram a boa nova aos pastores da Judéia na base do ‘Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade’. Nos presépios, há uma faixa com a mesma novidade.


Foi o que faltou nesta Copa do Mundo: o coro dos anjos, arcanjos, serafins, querubins. E potestades estenderem no céu, de norte a sul, uma faixa com a boa nova dos nossos tempos: ‘O Brasil estréia contra a Croácia!’.


Nada perdemos por esperar. Na próxima Copa, é possível que os patrocinadores providenciem uma milícia de anjos, arcanjos, serafins, querubins e potestades, que tocarão suas trombetas anunciando mil vezes a estréia do Brasil.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Apanhando da bola


‘Contra o resto do mundo, o locutor Galvão Bueno ainda chama Ronaldo de Ronaldinho e, mais ainda, de ‘fenômeno’ -como fez ontem, no monopólio de transmissão da Globo. Ao longo de toda a narração, não levantou uma restrição ao jogador.


Por outro lado, na metade do primeiro tempo:


– Kaká não começou bem.


Depois do gol, início do segundo tempo, ele seguiu reclamando que ‘Kaká perdeu a bola’ etc. No final, enquanto os canais esportivos, rádios e sites elegiam Kaká o melhor da partida, Galvão Bueno lançava Dida para ‘grande nome do jogo’.


Para contraponto, na ESPN Brasil o comentarista José Trajano citava o comentarista Altafini, da Sky italiana, ‘o nosso Mazzola’, para quem ‘Ronaldo está embaraçado’. Ao que o brasileiro acrescia, de sua parte:


– Mas o Kaká está resolvendo.


Até a SporTV, da Globo, não se cansava de proclamar que Ronaldo ‘não entrou em campo’. Aliás, para os dois canais esportivos, nem Ronaldo nem Adriano.


No desabafo do blog de Juca Kfouri no UOL, com o jogo correndo:


– Com dois tanques lá na frente não dá. Não fosse o tirambaço de Kaká, de esquerda, e este segundo tempo seria torturante.


Depois, ‘Ronaldo está apanhando da bola’.


Na manchete do UOL, ‘Brasil derrota Croácia com gol de Kaká’.


Globo.com e Globo Online, ligados ao monopólio de Galvão Bueno, foram além, com as manchetes ‘Kaká salva o Brasil’ e ‘Ufa! Kaká decide para a seleção’.


No exterior, a mesma coisa. Minuto a minuto, o site do ‘Guardian’ comemorou, ‘What a goal from Kaká!’, que gol de Kaká.


Sobre Ronaldo, no início do segundo tempo:


– Será que Ronaldo vai perder um quilo ou outro?


Na home do ‘Washington Post’, ‘Kaká levanta o Brasil’. Nas páginas iniciais do espanhol ‘El País’ ao argentino ‘La Nación’, fotos de Kaká e a expressão ‘golazo’.


Nos sites dos jornais esportivos, o espanhol ‘Marca’ e o argentino ‘Olé’ foram na mesma linha, destacando que ‘uma genialidade de Kaká’ deu a vitória.


De todo modo, para o ‘WP’ ‘os campeões mundiais não mostraram a auto-confiança habitual’. Para o francês ‘Le Monde’ e o espanhol ‘As’, foi ‘sem brilho’.


Para o ‘La Nación’, ficou ‘longe de mostrar fantasia’. Para o ‘Marca’, faltou o tão propagandeado, pela Nike, ‘jogo bonito’.


INOCENTE


A ‘notícia bombástica’, na descrição de William Bonner no dia anterior, não era nada ou quase. Do mesmo Bonner à manchete de futebol da Folha Online, até pouco antes de começar o jogo:


– Juiz italiano inocenta Cafu de falsificação.


No dia anterior, poucos diferenciavam entre o promotor e a Justiça. Ontem, no ‘JN’, enfim, ‘o juiz não aceitou a recomendação do ministério público’.


Mas cabe recurso.


IMPACTO MUNDIAL


Ontem, blogs brasileiros reclamavam de Ronaldinho, que escreveu artigo para o argentino ‘Clarín’.


O brasileiro elogiou as ‘grandes selecciones’, como a argentina, sob o título ‘Quando Messi jogar, será um impacto mundial’.


EM SETE MESES


No que restou de política, a manchete da Folha Online ao SBT foi ‘Ibope mostra ascensão de Lula e estabilidade de Alckmin’.


Na síntese do blog de Josias de Souza, ‘em sete meses, Lula ganhou 16 pontos, Alckmin parou’.


Para registro, só o ‘JN’ não deu na escalada de manchetes -e mal noticiou.


CHEGOU A VEZ


Paralelamente, a blogosfera brasiliense se alvoroça com a anunciada intimação de 80 nomes do ‘chamado valerioduto tucano’.


‘Chegou a vez do PSDB’, diz Ricardo Noblat. E Josias de Souza sublinha que, ‘no instante’ em que se anunciam as intimações, ‘Alckmin convida o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Jr. para seu comitê financeiro’.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Novela abolicionista é acusada de racismo


‘A novela das seis da Globo, quem diria, está sendo acusada de racismo. O Ministério Público do Estado da Bahia instaurou um inquérito civil para investigar se a trama abolicionista de ‘Sinhá Moça’ não estaria deturpando a história da escravidão no Brasil e, na contramão das ações afirmativas, prejudicando a auto-estima da população negra e afro-descendente.


Para o promotor de Justiça Almiro Sena Soares Filho, a novela erra ao mostrar o negro extremamente passivo e sofredor, que precisa de heróis brancos para se libertar.


‘A novela é questionável. Aquilo não é bem a história do negro brasileiro, é uma história deturpadíssima, que omite os quilombos e as revoltas lideradas por negros’, diz Soares Filho. ‘Tudo indica que a novela é racista, ainda que o autor não tenha tido a intenção.’


A Globo se defende dizendo que ‘Sinhá Moça’ é uma obra literária. O promotor não acha isso razoável. ‘Não se pode abordar um fato desses [300 anos de escravidão] sem responsabilidade histórica.’


Soares Filho espera o laudo de dois especialistas em história para tomar uma decisão. ‘Vou negociar uma reparação.’


Em carta ao MPE da Bahia, a Globo afirmou que o objetivo da novela é ‘entreter, informar e educar’. ‘O caminho dos negros é longo, árduo e penoso, mas a liberdade lhes aguarda no fim, tal qual aconteceu na história do Brasil’, escreveu.


MISTÉRIO REVELADO Vai ser no final do capítulo de ‘Belíssima’ do dia 24, um sábado, que Cemil (Leopoldo Pacheco) saberá que o chato Nikos (Tony Ramos) é seu pai. A reação dele, no entanto, o público só verá na segunda-feira.


MONOPÓLIO 1 Em parte turbinada pela Copa, mas principalmente por méritos próprios, o capítulo de anteontem de ‘Belíssima’ (agora às 21h30) bateu seu recorde de ‘share’ (percentual de televisores sintonizados): 79%. Ou seja, de cada 100 aparelhos ligados, 79 estavam na novela.


MONOPÓLIO 2 O recorde anterior era de 73%, no auge dos ataques do PCC. Mas o capítulo de 15 de maio deu mais pontos, 60, contra 59 de anteontem. Logo, foi visto por mais gente.


VISÃO DO PARAÍSO 1 Pelo menos neste início de Copa, está dando certo a previsão de Octavio Florisbal, diretor-geral da Globo, de que o evento levantaria a audiência da novela das sete da emissora.


VISÃO DO PARAÍSO 2 Anteontem, tanto ‘Cobras & Lagartos’ (às 19h30) quanto ‘Sinhá Moça’ (18h30) marcaram inéditos 40 pontos. O ‘Jornal Nacional’ deu 48.


OVERDOSE AMARELA Depois das constrangedoras lágrimas de Zagallo e declarações de amor dos jogadores no ‘JN’ de segunda, a Globo abriu o ‘Bom Dia São Paulo’ de ontem com o tema da vitória de Ayrton Senna. Tinha-se a impressão de que a seleção brasileira, que às vezes parece fazer parte do elenco da emissora, já é hexacampeã do mundo.’


INTERNET
Rodolfo Lucena e Juliano Barreto


Criador da web não previa surgimento dos portáteis


‘Normalmente, Vinton Cerf, 62, é creditado como ‘o pai da internet’, mas o pesquisador norte-americano que criou o protocolo IP, que rege a rede mundial, faz por merecer outros apelidos. Poderia ser chamado de juiz, devido à sua atuação à frente do conselho da Icann, em que ajuda a definir os moldes da rede no futuro. O rótulo de vendedor da internet também se adequaria a Cerf, que trabalha como pregador do Google. Em entrevista à Folha, ele detalhou seus planos para o IPv6, sua atuação no Google, e fez previsões para sua ‘filha’.


FOLHA – Em quais pontos a internet precisa evoluir?


VINTON CERF – No início, tudo era feito no ambiente seguro das universidades. Hoje, é preciso reavaliar algumas escolhas. A estrutura do TCP/IP precisa de mais uma camada de informação para trazer maior segurança aos usuários. O ideal seria que o conteúdo fosse codificado durante o envio e o recebimento dos dados.


FOLHA – Teremos mudanças significativas com o IPv6?


CERF – Os sistemas Windows, Mac e Linux já são capazes de trabalhar com IPv6. No Japão, o padrão é usado em larga escala e, no resto do mundo, ele foi adotado por inúmeras empresas. Espero que, quando ele ficar mais popular, ninguém o perceba. A meta é tornar as coisas melhores sem que os usuários precisem se adaptar.


FOLHA – A falta de endereços para novos sites é um problema real?


CERF – Não, creio que ainda há espaço para todo mundo. A meta para criar um novo padrão de endereço é melhorar o que já existe. Em um período longo, os endereços poderão se esgotar. Mas há ainda cerca de 40% de endereços possíveis livres.


FOLHA – Depois de tantos anos lidando com internet, como é trabalhar no Google?


CERF – É revigorante. Ando pelos corredores e vejo jovens lutando para criar coisas novas. Há um entusiasmo muito grande em ver lançamentos quase todas as semanas, e a cultura da empresa facilita a inovação. Mesmo antes de lançar os produtos, eles publicam versões de teste para verificar reações.


FOLHA – Quais seriam os erros cometidos em sua carreira?


CERF – No planejamento do IP, eu deveria ter incluído um espaço maior para as informações, o que facilitaria muito as coisas hoje. Outro ponto fraco foi a previsão do uso da rede em portáteis, o que pede uma reestruturação. No início dos anos 90, também me envolvi no projeto que planejava cobrar US$ 1 para cada e-mail enviado.’


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