Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Tulio Brandão

‘O Rio de Janeiro é o carro-chefe de uma campanha publicitária promovida pelo Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) sobre o Brasil em Nova York. Dos sete anúncios previstos sobre o país, três terão a cidade como tema. O primeiro deles está publicado hoje no ‘New York Times’. O presidente da Embratur, Eduardo Sanovicz, diz que o estudo realizado pelo instituto para a campanha demonstra o potencial do Rio:

— A cidade é um dos principais ícones de promoção do Brasil no mercado internacional.

A campanha, produzida pela agência McCann Erickson, faz parte do desenvolvimento da marca ‘Brasil’, feita a partir de uma pesquisa com mais de seis mil estrangeiros. Eles identificaram os chamados produtos-estrela do país: o Rio de Janeiro, a Amazônia, Foz do Iguaçu e Salvador.

No primeiro anúncio, um americano é fotografado no Cristo com o rosto pintado de azul tendo o céu do Rio como fundo. A Embratur quer mostrar o estrangeiro como um torcedor do Brasil, com a cara pintada nas cores que, segundo os turistas, identificam o país.

Segundo o ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, o país recebe cerca de 700 mil americanos por ano:

— Em dois anos, queremos dobrar este número.

Esse trabalho é o primeiro programa científico de divulgação do turismo brasileiro no exterior. Desenvolvido pela Embratur e sob coordenação da empresa de consultoria internacional em turismo Chias Marketing, o plano é resultado de pesquisas com 190 operadores de turismo de 18 países, 1.200 turistas em aeroportos brasileiros e cinco mil estrangeiros em 16 países. A pesquisa custou aos cofres públicos R$ 4 milhões.’



RAÚL RIVERO
Ruth Costas

‘Cuba quer liberdade’, copyright Veja, 27/7/05

‘Na juventude, o poeta Raúl Rivero foi correspondente da imprensa cubana na União Soviética. O contato direto com a pátria do socialismo contribuiu para que desenvolvesse profunda aversão aos regimes totalitários, como o instalado em Cuba, sua terra natal. Fundador da agência de notícias independente Cuba Press, Rivero foi um dos 75 dissidentes presos em 2003. Condenado a vinte anos de cadeia, foi solto em novembro passado devido, em boa parte, à campanha internacional de solidariedade organizada por políticos, artistas e escritores. Contribuiu para sua libertação o fato de o governo de Fidel Castro ter se convencido de que Rivero não sobreviveria na prisão. O poeta, que sofre de enfisema pulmonar e de problemas renais, saiu do cárcere 30 quilos mais magro. Nesta semana, será lançado o primeiro livro de Rivero no Brasil, Provas de Contato, que reúne relatos sobre a repressão política e os abusos de poder em Cuba. Rivero – que o escritor cubano Cabrera Infante qualificava como o maior poeta vivo de Cuba – falou a VEJA de seu apartamento em Madri, na Espanha, onde se exilou há três meses com a mulher e a filha mais nova.

Veja – Por que o senhor foi preso?

Rivero – Fui condenado por ter ‘colaborado com o inimigo’. Em Cuba, basta discordar do governo para ser acusado de estar a serviço do imperialismo e de ser um agente da CIA. Fui preso com 74 opositores, a maioria jornalistas ou ativistas de um grupo dissidente chamado Movimento Cristão Liberação. Esse grupo havia conseguido reunir quase 22.000 assinaturas para convocar um plebiscito sobre o regime castrista. Simultaneamente, eu estava ajudando a lançar três revistas, feitas de forma quase artesanal, que iriam circular em Cuba. Era liberdade demais para um governo que só ouve o que quer.

Veja – Como foi seu julgamento?

Rivero – Foi um circo. Durante todo o processo, os juízes olhavam para o infinito, completamente alheios ao que estava acontecendo dentro do tribunal. A sentença estava predeterminada, e meu advogado tinha mais medo que eu. No canto da sala, já vestido com uniforme de presidiário, eu me perguntava: ‘Meu Deus, nas mãos de quem está a justiça do meu país?’.

Veja – Como foi a vida na prisão?

Rivero – O primeiro ano foi o pior. Ser condenado a vinte anos de reclusão aos 57 anos significa uma pena perpétua. Fui trancado sozinho numa cela sem luz, um cubículo no qual não conseguia dar mais de seis passos. As condições de higiene eram infames. Tinha ratos, baratas, rãs e nuvens de mosquitos. No verão era abafada e no inverno, gelada. O ar não circulava. Na cela em frente havia um grupo de presos muito jovens condenados à morte ou à prisão perpétua por crimes comuns. O objetivo do regime ao me colocar naquele lugar era me desmoralizar. Uma prisão castrista é a ante-sala da morte. Temia ficar louco, ter claustrofobia. Sentia medo de ter medo, porque a sensação de perigo iminente também enlouquece. Fui transferido depois de um ano e passei a dividir uma cela com dois prisioneiros comuns, um condenado por assassinato e o outro por roubo.

Veja – Como o senhor se relacionava com os presos comuns?

Rivero – Eu tinha uma relação muito próxima com eles. Nas prisões cubanas as pessoas mais velhas, como eu, são tratadas com respeito pelos jovens. Eles sabiam que eu era um escritor, um poeta, e não um delinqüente. Com o tempo, criei uma espécie de consultório sentimental. Os presos têm muito medo de que as mulheres os abandonem, e eu escrevia poemas e cartas de amor para eles entregarem às namoradas. Também lhes emprestava livros de poesia, caneta e papel. Conversávamos muito, e hoje estou escrevendo um livro baseado nas histórias brutais de crimes e roubos que eles me contaram.

Veja – O senhor acha possível ocorrer algum tipo de abertura política com Fidel Castro no poder?

Rivero – Fidel jamais abrirá mão por vontade própria de seu poder ilimitado. Enquanto ele estiver vivo, Cuba não poderá pensar em transição democrática. Depois de sua morte, acredito num processo de abertura gradual. Raúl Castro, irmão de Fidel, deverá assumir o poder, mas não terá força para se agüentar por muito tempo. Logo, a pressão da sociedade aumentará. Os membros do Partido Comunista que sabem que o modelo de Fidel é ultrapassado começarão a ganhar espaço. Aos poucos, os cubanos vão recuperar a liberdade de expressão e o direito de ir e vir, e o país retornará ao comércio normal com outras nações. O melhor é que já existe uma geração pronta para dirigir o país nesse período de transição. É formada por gente capacitada, que se prepara para isso em Cuba e no exílio. O novo governo será formado principalmente por jovens.

Veja – Quais serão as maiores dificuldades?

Rivero – Será um desafio mudar a mentalidade das classes dirigentes. As autoridades cubanas estão acostumadas a governar sem prestar contas a ninguém, tanto em Havana quanto nas províncias. Por mais de quatro décadas, os administradores públicos foram indicados pela cúpula do Partido Comunista. Eles nunca foram eleitos e não se preocupam com a aprovação da população.

Veja – Como seria Cuba sem Fidel?

Rivero – O cenário ideal seria o de uma Cuba plural, com partidos políticos, jornais de diferentes opiniões e um Parlamento no qual diversos grupos pudessem debater suas idéias. Os cubanos devem ter o direito de ser donos de pequenos negócios e empresas, o que hoje é quase impossível. Para que esse cenário seja viável, as mudanças precisam ser feitas lentamente e de maneira pacífica. O povo cubano já sofreu muito. Algumas pessoas passaram mais de vinte anos presas e outras morreram afogadas no Estreito da Flórida porque queriam fugir para os Estados Unidos. Muitas famílias estão divididas. Eu, por exemplo, tenho uma filha em Cuba, outra comigo em Madri e mais dois filhos nos EUA. Cuba é um país que não merece continuar sofrendo.

Veja – Os cubanos amam ou odeiam Fidel Castro?

Rivero – Fidel ainda tem algum apoio nos setores conservadores e entre as pessoas mais velhas, que são avessas a mudanças. A juventude sente uma mistura de ódio e indiferença por ele. Cuba é um país seqüestrado por um governo que se equilibra com uma receita de intensa propaganda e violenta repressão à oposição. O discurso oficial é o mesmo desde os anos 70 e já está esgotado. A propaganda baseada no stalinismo não tem nada a ver com a realidade de nosso país tropical nem diz nada às novas gerações. A prova disso é que os jovens cubanos são fascinados pelos EUA e pela sociedade de consumo.

Veja – A hostilidade do regime castrista em relação aos Estados Unidos não é compartilhada pela população?

Rivero – É o contrário. Dois milhões de cubanos moram nos EUA. Enquanto o governo de Fidel insiste que é impossível viver bem num país de capitalismo selvagem como os Estados Unidos, o primo de algum cidadão cubano telefona de lá e diz que comprou um carro e uma casa. Em seguida, manda fotos e vai visitá-lo. Esse testemunho familiar é mais poderoso que a panfletagem grosseira que o governo faz contra os americanos. É por isso que os cubanos arriscam a vida para entrar naquele país. No vizinho capitalista, eles podem abrir negócios, enquanto em Cuba estão proibidos até de instalar uma barraquinha para vender refresco na porta de casa. Quase todos os cubanos têm de viver do salário miserável recebido do governo, e os jovens que querem se casar sabem que não poderão comprar um lugar para morar. Não é que as pessoas sejam máquinas de consumir, mas todo mundo tem pequenas aspirações na vida. Os cubanos querem ter alternativas.

Veja – Até o início da década de 90, Cuba era sustentada pela União Soviética. Como a vida na ilha mudou depois da derrocada do regime soviético?

Rivero – A estabilidade econômica ruiu. Cuba empobreceu e a insatisfação dos cubanos aumentou. Hoje as famílias praticamente vivem do dinheiro enviado por parentes que moram no exterior. Essas pessoas são chamadas de traidoras pelo governo por ter abandonado a pátria, mas os milhões de dólares de suas remessas sustentam a economia da ilha. O governo de Fidel foi incapaz até mesmo de desenvolver a produção de alimentos para atender às necessidades mínimas dos cubanos. Certa vez fiz um levantamento comparando a dieta proposta pela cartilha de abastecimento do governo, que define as porções recebidas por cada cubano, com a comida que era dada aos escravos no passado. Cheguei à conclusão de que os escravos comiam muito melhor. Até a salada servida aos estrangeiros nos hotéis cubanos é importada do México.

Veja – Muitos intelectuais brasileiros têm uma visão idealizada da experiência cubana. O que o senhor diria a eles?

Rivero – Os intelectuais de esquerda da Europa e da América Latina vêem Cuba como um sonho, um lugar lendário em que um sistema alternativo ao capitalismo conseguiu sobreviver. Eles vão para a ilha passar férias uma ou duas vezes por ano, hospedam-se nos hotéis, aproveitam as praias e depois voltam para seu país. Eu respeito a opinião das pessoas que ainda acreditam no sonho cubano, mas não posso deixar de alertá-las: para quem mora em Cuba, a realidade é um pesadelo. Por quarenta anos agüentamos o mesmo governo. Trata-se de uma espécie de aberração do marxismo clássico, que, em vez de socializar a riqueza, socializou a pobreza.

Veja – Os anos 90 marcaram o declínio definitivo da ideologia comunista no mundo. Como o senhor interpreta a resistência em Cuba?

Rivero – Como um capricho pessoal de Fidel Castro, que insiste em manter o poder absoluto à custa da vivacidade e do espírito do povo cubano. Em Cuba, é preciso aplaudir o governo dia a dia, hora a hora.

Veja – Como o controle do Estado se manifesta no cotidiano das pessoas?

Rivero – O método de vigilância e investigação da vida de cada pessoa foi ensinado à polícia cubana pela União Soviética. Existem informantes da polícia em todos os lugares. Não há como escapar. O governo é dono da escola, do consultório médico e do local de trabalho. A polícia política tem nas mãos a vida de cada cidadão e sabe tudo o que ele diz em público.

Veja – A qualidade da educação e da saúde em Cuba era apresentada pelo governo cubano como prova do progresso trazido pela revolução. Como estão esses serviços hoje?

Rivero – O governo cubano afirma que, graças à sua campanha de alfabetização, todo mundo sabe ler e escrever. Isso é verdade. O que ninguém diz é que os cubanos só podem ler o que Fidel quer. Dezenas de escritores estão proibidos em Cuba. É uma crueldade infinita ensinar a ler e depois proibir os livros. A fronteira entre a educação e a doutrinação política é quase invisível. A história de Cuba foi alterada para se adequar à ideologia do regime, e os professores martelam na cabeça das crianças elogios à revolução. Na saúde pública, a situação também é deplorável, a não ser para os dirigentes do Partido Comunista e para os estrangeiros que podem pagar. Quando um cubano é internado, tem de levar os lençóis, a comida, os pratos, a colher e os remédios, porque no hospital não vai encontrar infra-estrutura alguma. Recentemente, Fidel firmou um acordo de cooperação na área de saúde com o governo venezuelano em troca de fornecimento de petróleo. O resultado é que agora até os médicos estão saindo da ilha para atender os habitantes do país vizinho. A saúde dos cubanos não é prioridade.

Veja – Como o senhor vê a aproximação de Castro com Hugo Chávez?

Rivero – Chávez é um clone de Fidel Castro. Ele não usa barba, mas tem o mesmo tipo de delírio: quer ter o poder total, dominar tudo. Seu governo é o principal representante de um populismo que, caso se alastre, pode causar muito estrago na América Latina. A amizade entre Chávez e Fidel é um risco para a região.

Veja – Quando o senhor pretende voltar a Cuba?

Rivero – Depois de me convencer de que não terei de cumprir os dezoito anos que faltam para completar minha pena. O que me tirou da cadeia foi uma licença emitida pela polícia, e não por tribunais. Se eu voltar, posso ser preso imediatamente. Deixei tudo em meu país: minha casa, meus livros, minha infância e juventude. Em compensação, em Madri estou descobrindo o que é ter liberdade para ir aonde quero e me comunicar com as pessoas. Depois de tantos anos, recuperei a dignidade. Eu e minha família temos de trabalhar arduamente, lutar muito para nos manter. Ser livre é uma grande responsabilidade, mas também é uma delícia.’



TELESUR
Laura Mattos

‘Soy loco por ti’, copyright Folha de S. Paulo, 24/7/05

‘Nosso norte é o Sul. Com esse slogan, entra no ar hoje a Telesur, TV financiada pelos governos de Venezuela, Argentina, Cuba e Uruguai e que tem o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No Brasil, a estréia poderá ser vista, a partir das 13h (horário de Brasília), por meio de antenas parabólicas, algumas TVs comunitárias e educativas e pela internet. O canal será bilíngüe, com legendas em português em transmissões em espanhol, e vice-versa, tradução simultânea ou dublagem.

O projeto é do presidente venezuelano Hugo Chávez, enfrenta em seu país oposição da mídia comercial, e a sede é Caracas, o que ajuda a explicar por que, mesmo antes da estréia, essa estação latina já tenha se envolvido em tantas polêmicas. Só nas últimas duas semanas, e apenas para ficar nos ‘incidentes’ da Colômbia, a Telesur virou manchete de jornal em duas ocasiões:

1) Utilizou em uma propaganda o refrão de ‘A Luz de Tieta’, de Caetano Veloso (‘eta, eta, eta, é a Lua, é o Sol, é a luz de Tieta, eta, eta’). Foi acusada de apoiar o grupo terrorista espanhol ETA.

2) Exibiu em vídeo promocional a imagem de Manuel Marulanda, o Tiro Certeiro, líder das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). O governo colombiano se disse ‘magoado’. Chávez respondeu que a questão é retratar ‘eventos históricos’.

A Telesur tem como lema integrar os povos latino-americanos e se contrapor à imagem da América Latina veiculada por grandes redes internacionais. Em outras palavras, tem a CNN como grande inimiga, o que já lhe rendeu o apelido de Al Jazira latina.

A diferença entre o canal árabe e o latino é que o primeiro é privado, e o segundo, financiado por verba estatal de quatro países -o que torna mais política a ‘guerra’ de informações com os EUA.

Nesta semana, como reação ao marketing de lançamento da Telesur, a Câmara de Representantes do Estados Unidos debateu o início de transmissões de rádio e TV a venezuelanos a fim de combater o ‘antiamericanismo’ da Telesur com notícias ‘objetivas’.

Brasil

O Brasil não será sócio, mas dará apoio logístico e prevê troca de conteúdo entre a Telesur e seu futuro canal internacional. Um dos diretores da TV latina é o jornalista brasileiro Beto Almeida, que atuou como âncora nas transmissões experimentais da TV Brasil e será um dos apresentadores da estréia da Telesur.

Almeida conta que conheceu o presidente Chávez em 2000, quando o venezuelano esteve em Brasília para uma palestra. ‘Eu era do sindicato dos jornalistas e entreguei a ele uma carta com propostas para uma integração latino-americana por meio de veículos de comunicação. Ele leu na hora, gostou e disse que ia me convidar futuramente para o projeto da Telesur. Cumpriu a promessa.’

Além do diretor, o Brasil terá dois correspondentes da Telesur.

O canal entra no ar hoje com a instalação do conselho assessor, formado por 35 personalidades de vários países. Após os discursos oficiais, haverá noticiário, documentários e outras atrações.

Sobre Simón Bolívar, que lutou pela independência da América espanhola e pregava a unidade dos países do continente, haverá só na estréia quatro programas (explica-se por que a Telesur, além de Al Jazira latina, é chamada de Al Bolívar). Não é demais?

‘A grande massa desconhece quem foi Bolívar. O que é demais é a Xuxa e o Faustão terem tanto espaço. Na TV há muito tempo para nada’, afirma Almeida.

Na primeira etapa, serão quatro horas inéditas reprisadas ao longo das 24 horas que permanece no ar. Os planos são de aumentar para oito horas em setembro.

Mais de 50% da programação serão preenchidos por noticiários, com reportagens produzidas por jornalistas da Venezuela e correspondentes internacionais (além do Brasil, são mais sete países). Haverá programas sobre música, documentários e filmes latinos. Um dos ciclos é ‘Nojolivud’, uma mistura de ‘nojo’ com ‘Hollywood’, para produções ‘excluídas’ do circuito comercial.

A transmissão é feita via satélite e pode ser captada gratuitamente por antenas parabólicas e qualquer emissora no continente americano, Europa ocidental e norte da África. A Telesur negocia também acordos de transmissão de parte de sua programação por TVs pública, educativas e comunitárias. Tenta ainda distribuição por TV paga, mas teme enfrentar resistência pelo fato de a maioria das operadoras pertencer a grandes grupos norte-americanos.

No Brasil, além dos 12 milhões de parabólicas, há acordo fechado com a comunitária de Brasília e a educativa do Paraná (com transmissão também via internet).’

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‘‘Telespectador verá diferenças entre a TV latina e a CNN’’, copyright Folha de S. Paulo, 24/7/05

‘A diferença entre o jornalismo da Telesur e o da CNN será percebida pelos telespectadores, na opinião do vice-presidente da TV latina, Aram Aharonian. ‘Nosso olhar será distinto do dos norte-americanos, espanhóis, franceses, britânicos etc.’, disse à Folha. Leia abaixo, trechos da entrevista concedida de Caracas.

Folha – O sr. concorda que a Telesur seja a Al Jazira latina?

Aram Aharonian – Deixemos claro: a Telesur é uma empresa multiestatal latino-americana, e a Al Jazira, uma empresa privada. Podemos nos parecer por ter olhares alternativos sobre as supostas realidades mostradas na TV do Norte, por nos opormos à mensagem única.

Folha – Como garantir a independência em uma TV financiada por verba estatal? A programação não poderá sofrer influência dos países e passar ao telespectador a idéia de que seja uma propaganda dos governos?

Aharonian – Devemos diferenciar uma política de Estado de uma política de governo. Os governos não têm por que ter influência na programação, que será desenhada por uma junta composta por comunicadores e documentaristas de vários países, inclusive do Brasil, com recomendações de um conselho formado por 35 personalidade de todo o mundo. Não subestimemos o telespectador, que é quem, no final das contas, tem a capacidade de censura: se não gosta ou se sente enganado, pode fazer um ‘clic’ e mudar de canal.

Folha – Como será a cobertura da política da Venezuela? E da atual crise do governo brasileiro? De que forma serão diferente das apresentadas pelas grandes redes internacionais?

Aharonian – Para as cadeias internacionais, nós, os latino-americanos, existimos só quando há catástrofe. A TV do Norte nos vê em preto-e-branco, e nós somos um continente colorido, plural. Eles nos vêem com os olhos deles, de acordo com seus interesses. Durante 513 anos, temos sido treinados a nos enxergar com o olhar estrangeiro. É hora de começar a usar o nosso olhar, de nos conhecer e reconhecer, aprender a confiar em nossos vizinhos e nos integrar. Notícias da Telesur partem de dois critérios básicos: devem ser contextualizadas e balanceadas, com diversas fontes e opiniões. Não queremos formar moleques ou consumidores, mas cidadãos críticos. A informação do Norte parece balanceada, contextualizada e verdadeira?’

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‘Canal internacional do Brasil estréia até dezembro’, copyright Folha de S. Paulo, 24/7/05

‘O Brasil terá a sua própria ‘Telesur’. O canal público internacional já faz transmissões experimentais e deverá entrar no ar em caráter definitivo até o fim do ano.

A TV Brasil é uma iniciativa ‘co-irmã’ da emissora latina, nas palavras de Eugênio Bucci, presidente da Radiobras (empresa de comunicação do governo federal), que administra o projeto.

A parceria entre os dois canais pressupõe apoio logístico e troca de conteúdos. ‘Encaramos com otimismo as atividades da Telesur, porque vemos nascer na América do Sul um espaço público internacional, que começa a gerar seus próprios veículos de comunicação’, afirma Bucci.

O presidente da Radiobras nega que a emissora será a ‘TV do Lula’. Segundo ele, não será um veículo institucional do governo brasileiro. ‘É uma TV do Estado brasileiro, que pretende reforçar o processo de integração na América do Sul. Não fará promoção do Brasil no exterior. Será bastante informativa, com noticiários e programas de reflexão sobre a diversidade cultural dos países.’

Além da Radiobras, o canal contará com a estrutura das TVs Senado, Câmara e Justiça. Terá programação falada prioritariamente em espanhol. Quando houver a transmissão de algum programa em português, haverá legenda na língua dos países vizinhos.

Outro projeto semelhante é a TAL (TV América Latina), iniciativa da sociedade civil, com associações de diferentes países, e apoio do governo brasileiro.’



WEBJORNALISMO
Mario Lima Cavalcanti

‘O poder de fogo do arquivo noticioso’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 19/7/05

‘Das características naturais da Internet, sempre acreditei no arquivo como um dos recursos mais preciosos para jornalistas. Uma tremenda ferramenta, quando bem organizado pelo veículo. A revista Time deu recentemente um exemplo de como fazer bom uso desse recurso colocando no ar uma nova versão pesquisável (e gratuita) de seu arquivo de mais de 80 anos de capas, que abraça cerca de 4.200 capas desde 1923 até o presente.

Uma coleção como essa já é por si só uma jóia. Mas, além disso, a publicação procurou explorar chamarizes fidelizadores, que vão desde a informação jornalística até souvenires, como a possibilidade de comprar via Internet uma réplica emoldurada de qualquer uma das capas, ou curiosidades, como permitir ao internauta saber qual foi a matéria de capa equivalente à sua data de nascimento. Ainda como atrativo, dentro do arquivo existe o especial ‘80 dias que mudaram o mundo’, que, com uma navegação simples e eficiente, exibe capas com fatos de repercussão mundial que, segundo a publicação, bem, mudaram o mundo.

Arquivos representam um recurso histórico e, ao contrário do que muitos possam imaginar, podem vir a representar também a imagem de uma publicação. Um pequeno exemplo desse poder de fogo para jornalistas: pesquisando no Time Archive por Bill Gates (o primeiro nome que me veio à cabeça e que eu sabia que já havia sido abordado na Time) temos como resultado de busca sete capas onde o sujeito aparece, desde quando os programas de computadores de uso doméstico estavam se popularizando, em 1984, até uma entrevista exclusiva recente falando sobre o X-Box, console criado pela Microsoft e a aposta mais séria da empresa no mundo dos videogames. Uma linha do tempo particular dentro de inúmeras que o arquivo proporciona.

A publicação soube utilizar bem também atributos básicos de arquivo como a ordenação, permitindo a visualização por artigos/capas mais novos ou mais antigos. E em termos de cruzamento estratégico de áreas (e ainda como elemento fidelizador), o arquivo da Time oferece como brinde a leitura na íntegra de artigos de qualquer época que estejam arquivados se o usuário assinar a revista. Bela estratégia, hein?

Profissionais de comunicação envolvidos com o ambiente online devem pensar nas possibilidades com arquivamento de informações. Publicações virtuais devem ter sempre em mente o quanto é importante um bom arquivo noticioso para o leitor e para os próprios jornalistas que nela trabalham. No mínimo o recurso será um passeio histórico curioso para os leitores. Até a próxima!

Em tempo:

– Aconselho uma navegada pelo Omelete, um sítio brasileiro que sabe explorar bem o potencial do arquivamento de conteúdo e do relacionamento de dados.

– Recentemente o Newseum.org colocou no ar uma nova versão do Today’s Front Pages, que exibe diariamente a primeira página dos principais jornais do mundo todo. A nova interface foi construída em Flash e está mais versátil que a anterior.

Conhece algum exemplo de arquivo noticioso de qualidade? Quer fazer algum comentário? Utilize o formulário abaixo e deixe registrada a sua opinião.’