‘O cinema brasileiro termina a temporada de 2004 com uma boa e uma má notícia. A boa é que o número de estréias de longas nacionais vai marcar um recorde desde a retomada: quando estrear no último dia do ano, Meu Tio Matou um Cara, de Jorge Furtado, será o 51.º filme brasileiro a chegar às telas, número bem superior ao do ano passado (30). A má é que, apesar de tanta opção, o público pagante diminuiu 20% em relação ao ano passado, confirmando uma queda anunciada há vários meses. Nem mesmo o fôlego apresentado por Cazuza, o Tempo não Pára e Olga, os dois mais vistos e únicos nacionais a ultrapassarem a marca de 3 milhões de espectadores, foi suficiente para fazer frente aos 4,6 milhões que assistiram a Carandiru, o grande lançamento do ano passado.
Também a participação no mercado, o chamado ‘market share’, caiu de 20% para 15%. ‘E 2005, na melhor das hipóteses, será igual a este ano, senão pior’, prevê Bruno Weiner, diretor da Lumière, distribuidora de Olga. Um dos principais motivos, acredita ele, é a eterna dependência de um número pequeno de filmes ‘de ponta’. ‘Todos os anos, temos no máximo oito longas que canalizam a atenção do público, ou seja, com potencial para atrair mais de um milhão de ingressos. Se esse número não subir, por exemplo, para 15, continuaremos com o problema.’
O empresário observa que, desde 2000, poucos filmes atraem a atenção da maioria dos espectadores, bastando um deles falhar nessa expectativa para os números ruírem. É o caso, por exemplo, de Irmãos de Fé que, com um público de 957 mil pessoas, não repetiu o sucesso da primeira parceria entre o diretor Moacyr Góes e o padre Marcelo Rossi, Maria, Mãe do Filho de Deus, que atraiu, em 2003, mais de 2,3 milhões de espectadores.
Um das razões, segundo Weiner, está nos planos de incentivo patrocinados pelo governo que já atingiram sua possibilidade máxima. ‘É preciso que o governo estabeleça logo as regras para o uso do que é arrecadado em distribuição na produção, o que já é feito pelas distribuidoras estrangeiras. Com isso, as nacionais poderão entrar no mercado com mais agressividade.’ Trocando em miúdos é investir na realização de filmes nacionais uma parcela maior do que é arrecadado com a distribuição.
A frustração nas grandes apostas também contribuiu para a derrocada dos números. Entre os longas lançados com maiores números de cópias, presentes na lista dos dez mais vistos em 2004, apenas Xuxa Abracadabra se aproximou das expectativas: lançado com 305 cópias no final de 2003, ele terminou em terceiro lugar, com cerca de 2,2 milhões de espectadores.
Já Acquária, primeiro filme estrelado pela dupla Sandy e Júnior, foi a maior decepção – lançado com grande estardalhaço com suas 340 cópias, atraiu pouco mais de 800 mil espectadores, público bem inferior se comparado à quantidade de discos vendidos pelos irmãos.
Se a curva do cinema nacional é descendente, o mesmo não se pode dizer da freqüência das salas em geral: em 2004, o número de pessoas nos cinemas cresceu 9% em todo o País, alcançando cerca de 112 milhões de espectadores.
‘É possível que uma menor oferta de filmes nacionais com claro apelo popular tenha contribuído para a queda de bilheteria’, acredita o escritor e roteirista Marçal Aquino, que participou de filmes como Nina e O Invasor. ‘Mas certamente não é a única causa. Houve recuos em todas as áreas da cultura, pois nunca estivemos tão pobres.’
Aquino observa que as qualidades artísticas e técnicas se mantiveram nos filmes exibidos, o que comprova uma consolidação. ‘Outro aspecto é a diversidade temática e de linguagens dessa produção, que mostra vitalidade e ajuda a compor um retrato do Brasil contemporâneo.’’
Beatriz Coelho Silva
‘Previsões indicam crescimento em 2005’, copyright O Estado de S. Paulo, 22/12/04
‘O ano de 2004 não foi tão bom para o cinema brasileiro como 2003, mas está melhor que as previsões iniciais. Faltando dez dias e um fim de semana atípico para o ano terminar, apura-se que o público dos filmes nacionais decresceu (15.413.850 agora ante 19.254.547 em 2003), enquanto o número de ingressos vendidos subiu (104.149.641 agora e 95.001.661 em 2003). Ou seja, a participação de nossos títulos no mercado caiu de 22% no ano passado para 15% em 2004. Não é alentador, mas é melhor que os 12% anunciados em fevereiro e em setembro deste ano, ao Estado, por profissionais de cinema.
Os números são da revista Filme B, especializada em mercado de cinema, e seu diretor, Paulo Sérgio de Almeida, atribui esta pequena reação a dois filmes, Olga e Cazuza, o Tempo não Pára, os únicos com mais de 3 milhões de espectadores e que figuram entre as dez maiores bilheterias de 2004. ‘São surpresas porque não têm o apelo popular de Carandiru ou Cidade de Deus, que alavancaram as bilheterias em 2003 e 2002, respectivamente’, comenta ele. ‘Em compensação, A Dona da História ficou aquém do esperado. Previa-se a repetição de A Partilha (ambos têm Daniel Filho na direção, estrelas globais no elenco e são baseados em peças teatrais de sucesso, mas o primeiro teve 1.260.492 espectadores em 2003, enquanto o segundo fez 1.447.428 em 2001).
O secretário de Audiovisual do Ministério da Cultura (MinC), Orlando Senna, não considera esses dados desanimadores, pelo contrário. ‘É um recuo esperado. O desempenho de 2003 foi acima do normal e a queda de agora não quebra a curva ascendente desde a retomada’, garante Orlando Senna. ‘É difícil fazer previsões, mas 2005 deve ter crescimento, porque teremos mais lançamentos que em 2004 e o número de salas pode aumentar, com a linha de financiamento aberta pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, em convênio com o MinC. As cidades médias, entre 100 mil e 200 mil habitantes, devem ser as mais beneficiadas.’
Almeida concorda com Senna em quase tudo, a não ser no aumento do número de salas para 2005. ‘Deve continuar mais ou menos em 2 mil, pois não estão construindo novos cinemas atualmente’, diz. Ele ressalta que, em compensação, há lançamentos promissores para o ano que vem, embora concorde com Senna que, previsão na sétima arte é sempre um risco. Além de Meu Tio Matou Um Cara (estréia no dia 31 e, portanto, soma bilheteria em 2005), que sai com 150 cópias, logo no início do ano saem o filme da Xuxa (com 350 cópias), Tainá 2 e O Casamento de Romeu e Julieta (ambos com 200 cópias). Todos são cand idatos a blockbusters. E há filmes como O Mistério de Irma Vap e A Casa de Areia, bons de festivais que são chamariscos de público.
Segundo Almeida, os números deste ano refletem a falta de títulos nacionais fortes e também grandes lançamentos americanos, como Homem-Aranha e Harry Potter e azarões, como A Paixão de Cristo e Garfield, sucessos inesperados de bilheteria. Juntos tiveram 21.203.260 espectadores, um quinto do total. ‘Em 2005 não deve haver filmes estrangeiros como esses’, avisa Almeida, ressaltando que o benefício para os brasileiros é relativo. ‘É preciso olhar o mercado como um todo, sem esperar que o filme nacional tome o espectador do estrangeiro’, explica. ‘O importante é haver um crescimento real. Se mais gente for ao cinema, a produção nacional e a estrangeira serão beneficiadas. E hoje o público já acredita no filme feito aqui, o que é um resultado positivo da retomada.’
O produtor Leonardo Monteiro de Barros, da Conspiração Filmes, lembrou, em setembro, que a situação brasileira não difere de outros países, como Itália, Inglaterra, Alemanha e Espanha. ‘Lá, a média fica entre 10% e12%. Na França sobe para 30% ou 40% em conseqüência do investimento maciço do Estado’, comenta, observando que o mercado só cresce se a oferta de filmes aumentar. Nesse sentido, a situação é promissora, pois dos 32 títulos de 2003, chegou-se a 51 este ano e deve-se alcançar 55 ou 56 no ano que vem.’
O Estado de S. Paulo
‘Nos Estados Unidos, bilheteria continua em queda’, copyright O Estado de S. Paulo, 22/12/04
‘Será que os filmes estão crescendo e as audiências diminuindo? Essa é uma das conclusões que sobressai dos resultados dos longas americanos em 2004, ano em que os estúdios aumentaram os valores das produções – desde Tróia e Eu, Robô até Homem Aranha 2 – mas a quantidade de freqüentadores das salas nos Estados Unidos diminuiu pelo segundo ano consecutivo.
A aproximadamente duas semanas do final do ano, aferições domésticas projetam uma arrecadação total de 9,4 bilhões de dólares, superior aos 9,27 bilhões do ano passado. O sucesso, no entanto, pode ser atribuído ao aumento do valor do ingresso, que ficou 3,85% mais caro, enquanto o número de espectadores caiu 2,25% (no ano passado, a queda foi de 3,8%).
Essa diminuição é especialmente preocupante em um ano em que o controverso filme de Mel Gibson, A Paixão de Cristo, trouxe novos freqüentadores aos multiplexes mas terminou em terceiro lugar nas bilheterias americanas, com arrecadação de 370,3 milhões de dólares. E também o libelo anti-Bush de Michael Moore, Fahrenheit 11 de Setembro, que se tornou um imã para ativistas políticos, mas vendeu 119,2 milhões de dólares em ingressos.
Se o número de espectadores decai, os investimentos continuam em uma espiral ascendente, com os filmes blockbusters normalmente custando mais de 140 milhões de dólares em produção, seguidos de outras dezenas de milhões em divulgação.
Algumas das seqüências mais caras estiveram no topo das listas dos mais vistos, incluindo o primeiro da fila, a animação por computador Shrek 2, que acumulou 441 milhões de dólares no mercado americano e outros 886 milhões no estrangeiro; e Homem Aranha 2, que ficou em segundo lugar nos EUA com aproximadamente 374 milhões, além dos 784 milhões faturados no exterior.
‘O mercado cinematográfico americano é um negócio que já amadureceu, diferentemente daqueles no estrangeiro, onde ainda há a possibilidade de se quebrar recordes’, acredita Dan Fellman, responsável pelo setor de distribuição da Warner Bros. ‘É ali que a expansão vem acontecendo.’
Alguns especialistas em mercado do cinema acreditam que a tendência de grandes orçamentos para filmes épicos e de grandes efeitos especiais deverá ser reavaliada depois dos resultados pouco interessantes deste ano.
‘O problema não é que o maiores estão ficando menores, mas que os orçamentos estão aumentando muito’, confirma Bob Weinstein, co-chairman da Miramax Films. ‘Não se pode ter um crescimento na produção e na divulgação na base de 20 a 30% por ano, enquanto a quantidade de público cai a cada temporada. Com isso, o retorno bruto tem sido de apenas 2, 3, no máximo 4%.’’
PUBLICIDADE
‘Propaganda de bebida alcoólica poderá ter advertência’, copyright Agência Câmara de Notícias, 21/12/04
‘As empresas produtoras de bebidas alcóolicas poderão ser obrigadas a inserir em todo o seu material publicitário a advertência ‘o álcool em excesso faz mal à saúde e pode levar à dependência’. A determinação está no Projeto de Lei 4391/04, do deputado Enio Bacci (PDT-RS).
No caso de material impresso, a advertência deverá ser colocada de forma legível e em cores contrastantes. Também deverá ser circundada por faixa de cor branca ou preta, com espessura mínima de um milímetro, e ter tamanho correspondente a pelo menos 10% da mancha gráfica do anúncio.
Rádio e TV
Já nas peças publicitárias para rádio, a mensagem deverá ser lida com locução diferenciada e audível, não podendo durar menos do que três segundos ou 10% do tempo total da propaganda.
Peças televisivas divulgando a bebida alcóolica também deverão exibir a mensagem, por pelo menos quatro segundos, imediatamente após o filme publicitário. No caso de filmes em vídeo ou no cinema que façam apologia da bebida por meio de merchandising, a advertência deve ser exibida em cartela única, com letras contrastantes e maiúsculas, assegurada a perfeita visibilidade.
Tramitação
A proposta foi apensada ao Projeto de Lei 4846/94, do ex-deputado Francisco Silva (PP-RJ), que proíbe a associação entre bebidas alcóolicas e a prática desportiva, e determina a inserção de advertência sobre o caráter prejudicial do álcool em toda forma de publicidade relativa ao assunto. As propostas serão analisadas por uma comissão especial, que será criada especificamente para estudar o tema.’