ELEIÇÕES 2006
Privatizações: não esqueçam da Varig, 17:59 20/10
‘É muito importante levar a questão das privatizações para os palanques eleitorais. Pena que tanto os estatistas como os privatistas não queiram discuti-la a fundo, para valer. Serviu no contra-ataque aos ímpetos ofensivos de Alckmin para, em seguida, ser encostada. Junto com o aumento dos gastos públicos e o rombo da Previdência, está condenada a um adiamento sine-die.
Desprovida do potencial explosivo do Dossiê Vedoin (um estopim capaz de manter-se aceso ao longo dos próximos quatro anos), a privatização fica confinada aos slogans e palavras-de-ordem das esquerdas e às platitudes liberalóides e conservadoras.
No bangue-bangue das privatizações, os assessores do candidato Lula aferraram-se à hipótese de que os adversários pretendiam privatizar os Correios, a Caixa Econômica, o Banco do Brasil e a Petrobrás. Mas os assessores de Alckmin esqueceram de lembrar a sensacional história de sucesso da Embraer.
Os blogs das duas campanhas parecem ter sido atacados simultaneamente pelo mesmo acesso de amnésia. E esqueceram de que não fosse a privatização da Embratel e a abertura do mercado da telefonia no Brasil, nossa Internet não teria dado o salto espetacular que mudou o panorama da comunicação e da telecomunicação no Brasil.
O Brasil hoje é um país aberto, integrado e informado justamente porque as comunicações saíram da alçada estatal e tornaram-se efetivamente públicas. É claro que os marcos regulatórios são imprecisos e as agências reguladoras jazem emasculadas por um Executivo que não sabe conviver com o sistema de contrapoderes do Estado moderno. Não fosse a privatização das telefônicas ainda teríamos que recorrer aos pistolões para ganhar uma linha telefônica ou, pior, pagar a um político para conseguir uma prioridade nas teles estaduais.
O vergonhoso desfecho da crise da Varig imposto por um governo que se afirma anti-privatista e defensor intransigente do patrimônio público não pode ser esquecido no brevíssimo revival das privatizações.
A solução encontrada para resolver a situação da Varig por um governo que se apresenta como anti-neoliberal pode ser encontrada no primeiro parágrafo de qualquer cartilha privatista: as leis do mercado resolvem tudo.
Não resolvem e não resolveram. Nem a TAM nem a Gol (para citar apenas as maiores beneficiárias da opção privatista do governo Lula) estavam ou estão aptas a atender à fortíssima demanda do transporte aéreo em nosso país. Mais grave ainda: parte da demanda nas linhas internacionais está sendo atendida por empresas estrangeiras. E continuará por muito tempo, talvez para sempre.
No caso da Varig, os nacionalistas que fazem plantão no governo Lula transformaram-se numa tropa de choque abertamente entreguista. Como se dizia antigamente nos comícios do PCB, transformaram-se em ‘lacaios do imperialismo e dos trustes internacionais.’
O agora loquaz ministro da Defesa, Waldir Pires, transformado no porta-voz do lobby que defende a culpa do Legacy na tragédia do Boeing da Gol, não abriu o bico quando o governo estava paralisado sem saber o que fazer diante do colapso de uma empresa como a Varig, apontada como exemplo da nosso empreendedorismo e da nossa competência em matéria de aviação.
O debate sobre as privatizações deve continuar, mesmo que seja tedioso, incapaz de produzir paixões, denúncias, dossiês, farpas ou xingamentos. Mas, em compensação, é um tema de capital importância apto a dirigir os holofotes para a pantanosa situação em que se encontra o projeto das Parcerias Público-Privadas e que, em última análise, deságua na abulia que acometeu o nosso desenvolvimento.
Lembrar a calamitosa ‘Solução Varig’ certamente não tirará votos de Lula nem acrescentará votos a Alckmin. Mas, com toda a certeza mostrará o simplismo e a demagogia que dominam o atual confronto eleitoral.’
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