Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Valdo Cruz e Fernando Rodrigues

‘Protagonista das principais disputas no governo Lula, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, evitou ao máximo ofender personagens que estiveram em campo oposto ao seu dentro do governo na entrevista concedida à Folha. Motivo: ‘Fim de ano, vou sair de férias, o ano está terminando bem, não quero problema para mim’.

Com quase dois anos de governo, Dirceu diz não enxergar erros decisivos na administração Lula. Admite, porém, que não repetiria algumas ações, mas não revela quais são: ‘Eu não posso falar, se eu falar vira problema político’.

Ao responder a respeito do caso Waldomiro Diniz, seu ex-assessor flagrado pedindo propina a um empresário, Dirceu diz que nada foi achado dentro da Casa Civil.

Sobre sua mudança de posto na reforma ministerial, sua versão está em linha com a do presidente: ‘Eu não quero voltar para a articulação política. Considero uma página virada na minha vida’.

Apesar do comedimento verbal, um traço da personalidade de Dirceu segue intacto. Sua auto-estima segue em alta. Na transcrição completa da entrevista gravada (pouco mais de uma hora), conta-se 94 vezes o pronome ‘eu’. O governo (‘nós’) surge 44 vezes.

A entrevista foi concedida na última sexta-feira, no gabinete da Casa Civil, no 4º andar do Palácio do Planalto. De lá, o ministro avista o Lago Paranoá e um condomínio ilegal à sua margem: ‘É o que eu falo. O Brasil é um país incrível. Aqui até os ricos fazem invasão’.

Folha – Como será seu fim de ano?

José Dirceu – Entro em férias por 15 dias. Volto no dia 3 de janeiro.

Folha – O sr. vai aonde?

Dirceu – Para a casa de minha mãe, que está com 85 anos. Todos os meus irmãos vão estar lá. Por enquanto, só vou para Minas.

Folha – Nestes dois anos, qual foi a principal falha do governo?

Dirceu – Eu não vejo algo que seja decisivo que nós tenhamos errado. Outra coisa é o que não conseguimos fazer por causa das circunstâncias, das limitações do país. Eu acredito que fizemos as reformas mais importantes para o país, temos de fazer ainda a política e a sindical. A do Judiciário estamos fazendo. O governo cuidou da governabilidade de uma maneira razoável, cuidou bem do problema da estabilidade, o país está muito menos vulnerável.

Folha – Mas o sr. não vê nenhuma falha em dois anos de governo?

Dirceu – Deixa a oposição apontar as falhas.

Folha – Nestes dois anos de governo, o que o sr. não repetiria?

Dirceu – Eu não posso falar, se eu falar vira problema político. Infelizmente, essas coisas eu não posso falar. Eu não posso falar as coisas que eu não repetiria porque envolve outras pessoas, envolve decisões que eu tomei.

Folha – Uma só, ministro.

Dirceu – Veio uma aqui na minha cabeça que se eu falar vira… Muitas coisas eu não repetiria. Tudo o que eu falo depois vira problema político. Não vou falar.

Folha – Tem hora que o sr. fala bastante.

Dirceu – Fim de ano, vou sair de férias amanhã [sábado], o ano está terminando bem, não quero problema para mim.

Folha – A alta dos juros neste final de ano não é algo errado?

Dirceu – Minha opinião sobre a questão é pública e notória. O Copom quer trazer a inflação para o núcleo central dela e acha que há pressões inflacionárias por causa da demanda. É uma visão para controlar a inflação. Como o Banco Central tem autonomia, como as metas de inflação foram estabelecidas pelo governo, você tem é de viabilizar o financiamento, o investimento na infra-estrutura, educação, a política industrial.

Folha – O sr. desistiu da questão?

Dirceu – Quando o presidente convoca o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, a Câmara de Política Econômica, quando ele submete à coordenação de governo a discussão sobre qualquer matéria, eu dou minha opinião. Se o presidente convocar uma reunião para falar de política monetária e fiscal, eu dou minha opinião. Mas quem dirige a política monetária e fiscal é o ministro Palocci, e o BC tem autonomia.

Folha – Por que o sr. e Palocci tiveram há pouco uma discussão mais séria sobre política econômica?

Dirceu – Só vale a pena fazer reunião se tiver o caráter para cada um falar o que pensa, o que acha. Eu falei o que eu penso, o que acho, sobre uma série de questões. Eu não tenho nenhum problema com o Palocci por causa disso, continuo trabalhando com ele da mesma maneira. O problema é que cada um dá a sua versão. Como eu não dou minha versão…

Folha – O sr. pode contar a sua.

Dirceu – Eu não posso, não vou fazer isso. Isso envolve a presença do presidente na reunião e eu nunca faço isso. Foi uma conversa na Granja do Torto, aberta, livre, com alguns ministros que o presidente convidou. Eu falei o que eu pensava. Mas isso não estremeceu minhas relações com o Palocci. Aliás, essas opiniões, em geral, ele já conhecia. A diferença é que eu falei na frente de outras pessoas.

Folha – Quais são essas opiniões?

Dirceu – São muitas questões, não quer dizer que eu divirja do Palocci em todas.

Folha – Sai a reforma ministerial?

Dirceu – Agora, não. Saiu da pauta do país. O governo está terminando o ano bem. No começo do ano, o presidente vai retomar as discussões com a base aliada.

Folha – Vai reduzir o número de 36 ministérios?

Dirceu – Não, isso não é um problema grave do governo agora. Há eficiência para tomar decisões.

Folha – O sr. gostaria de retomar a articulação política do governo?

Dirceu – Eu não quero voltar para a articulação política. Considero uma página virada na minha vida. Pelo menos, na vida do governo do presidente Lula. Não quero voltar para o Parlamento neste momento. Enquanto o presidente me fizer merecedor da confiança dele para exercer o cargo de ministro, eu vou ficar aqui.

Folha – É intenção do governo ter Roseana Sarney como ministra?

Dirceu – O presidente nunca colocou nada para nós, tirando o caso do Pedro Henry, do PP.

Folha – O líder do PP, Pedro Henry, já está certo?

Dirceu – Certo, não, porque quem decide é o presidente. O PP indicou o nome dele. O presidente tem uma excelente relação com ele. Mas essa questão está parada para janeiro, não está na agenda.

Folha – O governo contou muito com a oposição para aprovar as reformas no primeiro ano. Agora, porém, o sr. vem tendo uma política de enfrentamento com a oposição.

Dirceu – Eu nunca fui contra negociar com a oposição, eu sempre negociei. Eu nunca rompi com a oposição. Foi a oposição que, a partir do caso Waldomiro Diniz, desencadeou uma campanha contra mim, rompeu com o governo e começou a querer desestabilizar o governo e passou a fazer oposição de obstrução. Eles querem passar para a sociedade que eu criei uma situação que inviabilizou a negociação com a oposição. Eu seu a favor da negociação. Mas eu não posso aceitar os ataques da oposição, eu tenho o direito de responder às críticas.

Folha – O sr. não exagera no tom das críticas à oposição?

Dirceu – Eu não exagero no tom: é o meu estilo. Eu preciso que a sociedade conheça o ponto de vista da oposição e o do governo. Eu sou transparente. O governo não pode aceitar certas teses da oposição se elas não correspondem à realidade. Quando correspondem, temos de aceitar e corrigir.

Folha – O sr. tinha uma boa relação com Fernando Henrique Cardoso, ela acabou depois das críticas?

Dirceu – Eu tenho boa relação com ele. Mas isso é natural, o PSDB é oposição, eles estão tentando construir um discurso. Está difícil para eles, porque eles começam a construir e os fatos desmontam. É natural que a oposição faça críticas. Eu só quero ter o direito de responder, de confrontar, para a sociedade tomar a decisão. Como nesse caso de que falaram que nós somos ineficientes. Foi o que eu fiz. Uma coisa é dizer que a administração tem problemas de gestão, mas dizer que nosso governo é menos eficiente que o governo dele eu não aceito.

Folha – Mas em duas áreas os tucanos parecem ter sido melhores que vocês, como educação e saúde.

Dirceu – Na área social não é o que as pesquisas estão mostrando. O governo está bem.

Folha – Nós estamos falando de saúde e educação.

Dirceu – Nós não somos piores que eles em educação e saúde. Os problemas nessas áreas o governo está equacionando. Até o quarto ano vamos mostrar isso.

Folha – Por que os formadores de opinião não captam essa boa imagem do governo na área social?

Dirceu – É uma questão que nós temos de analisar, porque os formadores de opinião, inclusive até os nossos, não só os da oposição, não captam. Não tenho resposta.

Folha – Já parou para analisar?

Dirceu – Quem tem de analisar isso é a Secretaria de Comunicação, o ministro Luiz Gushiken.

Folha – O sr. acha então que a falha é de comunicação?

Dirceu – Não, não acho que é a comunicação. É um problema político, de expectativa sempre maior da sociedade em relação ao governo do PT. Em segundo, precisamos divulgar mais e melhor o que fazemos. Terceiro, enfrentamos muitos problemas nestes dois anos: não dá para fazer tudo.

Folha – Qual o balanço que o sr. faz do caso Waldomiro Diniz?

Dirceu – Eu não quero falar disso não, já falei demais sobre isso.

Folha – Seus adversários o criticaram muito, dizendo que o sr. tinha ao seu lado um assessor que estava fazendo tráfico de influência.

Dirceu – Quando ele deu uma entrevista à revista ‘Época’, ele contou tudo o que fez, e a fita fala por si só. Nada mais ele fez no governo. Se houve uma devassa sobre esse caso no país maior, eu quero saber qual foi, tanto na minha vida, na minha família, como com o meu filho, na Casa Civil. Se houvesse qualquer coisa do Waldomiro na Casa Civil ou no Parlamento teria se tornado público.

Folha – A mídia tem sido cruel com o governo?

Dirceu – Não. O que precisa ficar transparente é que a mídia muitas vezes tem interesses, tem posição política, avaliação ideológica. Eu acho que a mídia brasileira precisa começar a apoiar candidato em editorial, parar de apoiar candidato de certa forma em matérias de informação jornalística. Eu acho que os jornais que tiveram a transparência de estabelecer ombudsman, manual de redação, relação com a sociedade, precisam discutir o problema eleitoral no Brasil, político-partidário.

Folha – Quando o sr. fala em ombudsman, o sr. está falando diretamente para a Folha?

Dirceu – Não, de todos. Não é especificamente da Folha. Sinceramente, se fosse eu falava. É um problema geral do país. Há muitas tentações, muitos momentos em que os jornais optam por candidatos abertamente e não assumem. Pode assumir, não tem problema, mas assume em editorial. Ficar do jeito que está não é bom.’



Regina Neves

‘Governo comemora campanha pela auto-estima’, copyright Gazeta Mercantil, 20/12/04

‘Iniciativa da Associação Brasileira dos Anunciantes, encampada pelo governo, conseguiu adesão de mais de 100 empresas. Quando a Coca-Cola lançou sua nova marca corporativa no Brasil, em que a tradicional e mundialmente conhecida logomarca vermelha passou a conviver com detalhes nas cores verde e amarelo, o ministro Luiz Gushiken, da Secretaria de Comunicação e Gestão estratégica (Secom), considerou de fato consolidados os esforços desenvolvidos em prol da auto-estima dos brasileiros, tanto pela iniciativa privada, como na campanha da Associação Brasileira de Anunciantes (ABA), quanto em sua própria campanha pessoal junto às empresas para criar um clima de otimismo que auxiliasse a alavancagem econômica do País. ‘A resposta das empresas foi fantástica’, diz o ministro, para quem ‘o estado brasileiro, em crise fiscal, tem que buscar cada vez mais estas parcerias com a iniciativa privada’.

Um balanço dos primeiros seis meses da campanha ‘O melhor do Brasil é o brasileiro’ lançada pela ABA em julho deste ano, e que tem como mote a frase ‘Sou brasileiro e não desisto nunca’, exibe, de fato, números surpreendentes como a expressiva presença na mídia, com inserções que podem ser avaliadas em mais de R$ 50 milhões, em espaços cedidos voluntariamente pelos diversos veículos.

A campanha teve também a adesão de mais de 100 empresas, nacionais e internacionais, que passaram a utilizar, em sua comunicação, a logomarca da campanha. Segundo a ABA, empresas como Bradesco, Petrobras, Credicard, Telemar, Pão de Açúcar, BomBril, Michelin, TAM, Gradiente e AmBev, entre outras, têm utilizado a assinatura e o conceito do movimento em suas campanhas das mais diversas formas.

‘As iniciativas são as mais diversas, como o Pão de Açúcar, que utilizou todo o conceito da campanha no comercial com o maratonista Vanderley Cordeiro de Lima ou a Friboi, que traduziu o mote da campanha para o inglês e o incorporou em todas as embalagens de seus produtos destinados à exportação’ , lembra Gushiken.

A campanha, além disso, apresentou um alto recall – depois da terceira semana de veiculação, foi a quarta mais lembrada no País, segundo o Datafolha, ficando atrás apenas de marcas de cerveja e celular (que tradicionalmente anunciam em grande volume) e ainda ganhou três importantes prêmios no Festival Internacional de Publicidade do Rio de Janeiro, realizado pela ABP (Associação Brasileira de Propaganda): Lâmpada de Ouro na categoria Institucional e Oportunidades; Prêmio Especial dos Delegados, julgado por todos os profissionais que participaram do Festival e o Jeca Tatu, destaque para a publicidade que trabalha ícones da brasilidade.

Desenvolvida voluntariamente pela Lew,Lara, agência que atende a conta institucional da ABA, a campanha ‘Eu sou brasileiro e não desisto nunca’ foi lançada com o objetivo estimular o movimento pró-auto-estima da população brasileira. A frase ‘o melhor do Brasil é o brasileiro’ é inspirada na obra do escritor e folclorista Câmara Cascudo. A campanha ilustra exemplos individuais de persistência, criatividade e superação de personalidades célebres e pessoas comuns, como inspiração para o cidadão brasileiro.

A campanha foi fundamentada em duas pesquisas, uma delas realizada pelo Sebrae, em 2002, que identificou a baixa auto-estima e a valorização apenas do que vem de fora como os maiores problemas e os principais pontos fracos do povo brasileiro.

Outra fonte foi um estudo do instituto Latinobarômetro que constatou que o brasileiro é o povo com a mais baixa auto-estima de toda a América Latina: apenas 4% dos brasileiros declararam ter muita confiança em seus compatriotas, contra 36% dos uruguaios e21% dos colombianos, por exemplo. Segundo a ABA, este é o quadro que está sendo revertido como pode ser comprovado pelo grande número de manifestações expontâneas recebidas pela entidade.

A campanha entra agora em sua segunda fase com a recente inauguração de um hotsite (www.aba.com.br/omelhordobrasil ou no site www.aba.com.br) que tem como objetivo incentivar estas manifestações. O site foi desenvolvido pela Tribo Interactive, agência de marketing digital, que também se engajou voluntariamente na ação. Segundo a ABA, o lançamento do hotsite marca uma nova e importante fase da campanha, pois ele vai atuar como um canal de disseminação e contato com a sociedade.

O hotsite é bancado pelo Grupo Pão de Açúcar e Banco do Brasil. Ao mesmo tempo começam a ser veiculados nas principais emissoras de TV, três novos filmes criados pela Lew,Lara que trazem as histórias de três heróis anônimos brasileiros. A campanha, agora, também ganhou oficialmente a adesão da Secom – o governo já apoiava a iniciativa desde o princípio, inclusive com a presença do presidente da república em seu lançamento, mas passa a ter um papel mais incisivo com o lançamento do livro ‘100 brasileiros’ que tem, como objetivo, estimular a auto-estima através de exemplos de brasileiros notáveis.

‘Nossa intenção é provocar a adesão das empresas para que participem do esforço, estampando imagens e biografias em seus produtos e serviços. Queremos ver reproduções do livro em talões de cheques, cartões telefônicos, agendas, calendários, cadernos e nos mais diversos aplicativos’, diz Gushiken, que comemora os primeiros resultados: as biografias do livro estarão estampadas por exemplo em quatro milhões de contas da CPFL e em 700 mil talões de cheques do Banco do Brasil e já recebeu apoio também da Credicard, Banco Real e Sodexho, entre outras empresas. A tiragem do livro patrocinada pela Secom é de 5 mil exemplares. A obra estará também disponível no hotsite criado pela ABA.

Clima de otimismo

Parceria é a palavra de ordem da Secom para a área de comunicação do governo. O ministro até já estruturou um programa de busca de parcerias a partir do projeto da ABA, segmentando os diversos públicos cada um com seu mote: o indivíduo (o brasileiro tem valor), a família (deve ser fortalecida), a comunidade (força aos grupos sociais), o País (o Brasil tem futuro) e o mundo (o mundo vai nos conhecer). ‘A campanha da ABA responde ao primeiro item e também tenho buscado a parceria das empresas para o item ade (força aos grupos sociais), o País (o Brasil tem futuro) e o mundo (o mundo vai nos conhecer). ‘A campanha da ABA responde ao primeiro item e também tenho buscado a parceria das empresas para o item em ‘O Brasil tem futuroâ’ e com êxito’, garante o secretário.

Gushiken orgulha-se da campanha ‘o Brasil tem futuro’ que ele começou a desenvolver em abril e maio do ano passado quando apesar de indicativos positivos crescia no País um clima de desconfiança quanto a volta do crescimento econômico. ‘Procurei diversas empresas buscando parceria porque uma mensagem positiva naquele momento tinha que partir deles. E empresas como Banco do Brasil, Telamar, CPFL, Itaú, Caixa-PR incluíram o conceito de crescimento em suas campanhas’, diz o ministro. ‘Credicard, AmBev, Pão de Açúcar, Cia. Atletica, entre muitas outras também têm participado’, explica. ‘A UNE também vai incluí-la nas carteirinhas de estudante’, completa.

Para Gushiken, este é um trabalho que depende de parcerias. ‘Nestas campanhas, o papel do governo é de coadjuvante’, frisa. ‘Não temos dinheiro para uma campanha desta envergadura’ (a verba de comunicação oficial do governo para o ano que vem, de R$ 130 milhões, praticamente repete a deste ano). ‘E também a mensagem fica mais forte vindo das empresas, que afinal são principais envolvidas no processo econômico’, diz.

Gushiken diz que sua missão tem sido divulgar a idéia da parceria em campanhas como a da ABA, o que faz em todas as oportunidades. Esta semana em São Paulo, por exemplo, aproveitou 15 minutos do espaço que tinha para falar sobre inclusão digital no seminário ‘Brasil 2005-Perspectivas do setor de Telecomunicações’, promovido pela revista Época, para fazer um balanço das campanhas de auto-estima e otimismo, aos empresários presentes.

‘Aproveito todas as oportunidades’, diz o ministro. ‘Gosto até quando usam o mote da campanha humoristicamente como uma charge de um jornal paulista durante a greve dos bancários que dizia ‘sou bancário e não desisto nunca’, brinca o ministro que se tornou nacionalmente conhecido como presidente do sindicato dos bancários de São Paulo.’

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‘Na onda do verde-amarelo’, copyright O Globo, 20/12/04

‘Governo avalia que campanha gerou inserções de R$ 50 milhões. O ministro Luís Gushiken, da Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica (Secom), está convencido de que o crescimento econômico brasileiro só vai ser efetivo e duradouro quando os brasileiros aumentarem sua auto-estima.

Por isso, ele se tornou o maior divulgador de campanhas como a lançada em junho passado pela Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) baseada na frase do escritor e folclorista Câmara Cascudo – ‘O melhor do Brasil é o brasileiro’-, além de colocar seu empenho pessoal junto às empresas para que seus anúncios passem um clima de otimismo para os cidadãos.

O ministro conta que iniciou esta campanha nos meses de abril e maio, quando, embora os indicadores econômicos mostrassem uma tendência de crescimento, havia um clima de desestímulo no País. ‘Procurei diversas empresas e a resposta foi fantástica’, conta Gushiken, para quem ‘o estado brasileiro, em crise fiscal, tem que buscar cada vez mais estas parcerias com a iniciativa privada’. Um balanço dos primeiros seis meses da campanha ‘O melhor do Brasil é o brasileiro’ da ABA, exibe, de fato, números surpreendentes como a expressiva presença na mídia, com inserções que foram avaliadas em mais de R$ 50 milhões, em espaços cedidos voluntariamente pelos diversos veículos e a adesão de mais de 100 empresas.

A campanha da ABA entra agora numa segunda fase com a criação de um ‘hotsite’ para que os cidadãos tenham um canal para manifestações e com o lançamento do livro ‘100 Brasileiros’, pela Secom. ‘Queremos a adesão das empresas estampando imagens e biografias em seus produtos e serviços’, diz Gushiken, que comemora os primeiros resultados: as biografias do livro estarão estampadas, por exemplo, em 4 milhões de contas da CPFL e em 700 mil talões de cheques do Banco do Brasil, e já recebeu apoio também da Credicard, Banco Real e Sodexho, entre outras empresas.’



Eduardo Scolese e Julia Duailibi

‘Lula quer campanha para enaltecer a família’, copyright Folha de S. Paulo, 18/12/04

‘Satisfeito com o resultado da campanha pela auto-estima nacional veiculada pelas TVs neste ano sem custos para a União, o governo federal promete intensificar em 2005 o que está chamando de PPPs (Parcerias Público-Privadas) da comunicação.

Segundo o ministro Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica), no começo do ano que vem serão procuradas empresas que aceitem bancar mensagens publicitárias que enalteçam o papel das famílias na sociedade. O tema familiar, que lembra campanhas tocadas pela Igreja Católica, foi uma escolha pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Gushiken disse que tais campanhas não têm como objetivo promover a imagem do governo federal e do presidente Lula: ‘O objetivo não é esse. Nem tenho pesquisas a esse respeito’.

Além da exploração da questão familiar, ainda em fase de estudo no governo, já existem outros três subtemas a serem divulgados a partir do ano que vem. São eles: os hábitos saudáveis; a educação começa em casa; a segurança no trânsito.

Em café da manhã ontem com jornalistas, Gushiken admitiu que, sem o patrocínio privado, não há como o governo financiar os custos das inserções desse tipo de campanha na TV.

‘Foi difícil emplacar esse conceito de uma idéia-força, que é adotada pela iniciativa privada. Mas depois deu certo’, afirmou o ministro. Em 2004, as campanhas bancadas pela empresas e veiculadas gratuitamente pelas TVs teriam um custo estimado de R$ 50 milhões. Na Secom, elas são tratadas como as PPPs da comunicação estatal. ‘É a primeira PPP do governo’, disse Gushiken, ao se referir às parcerias.

Gushiken pretende fazer em janeiro reuniões com representantes do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) para apresentar a idéia de empresas do setor de seguros se envolverem numa campanha de educação no trânsito -de forma análoga à da campanha pela auto-estima, na qual foram mostradas cenas do jogador Ronaldo e do cantor e compositor Herbert Vianna.

A campanha, promovida pela ABA (Associação Brasileira de Anunciantes), teve apoio explícito do presidente Lula, que a cita freqüentemente em seus discursos. Aliás, três novos personagens serão destacados na seqüência da campanha, entre eles Chico Brasileiro -faxineiro do aeroporto de Brasília que encontrou e devolveu uma carteira recheada com US$ 10 mil.

Sem exclusão

Segundo a Secom, não há uma exclusão prévia de empresas que queiram participar das empreitadas. Ontem, questionado se vê algum conflito na hipótese de algum fabricante de cigarros demonstrar interesse pelo patrocínio da campanha por hábitos saudáveis, Gushiken disse: ‘O importante é a empresa bancar a idéia. Inicialmente, não fazemos distinção’. Os ministérios da Saúde e do Esporte vão sugerir os enfoques sobre os temas de suas áreas.

Neste ano, além da pregação da campanha da auto-estima, o governo federal pediu o envolvimento de empresários em uma tentativa de promover e popularizar o Sete de Setembro. O governo enviou folders para 2.000 empresas de todo o país com sugestões para que confeccionassem camisas, adesivos, bandeiras e embalagens sobre o tema. Algumas delas toparam a iniciativa.

Também na empreitada patriótica, Lula tirou o desfile dos militares de uma área periférica de Brasília, levando-o para a Esplanada dos Ministérios. Neste ano, cerca de 60 mil pessoas presenciaram a parada cívico-militar.’



Jorge Bastos Moreno

‘É um equívoco do presidente dizer que quem tem fome tem vergonha de dizer que está com fome’, copyright Globo Online (http://oglobo.globo.com/online/blogs/moreno/), 21/12/04

‘Eu sou obeso. Em 2002, passei uma semana numa clínica do Rio entrevistando pacientes e médicos sobre o problema. Descobri que a obesidade, naquela época, já era um problema mais grave do que a fome. Fui ao então ministro Graziano, responsável pelo Fome Zero, perguntar se ele tinha conhecimento disso. Tinha, mas reconheceu que o governo não tinha uma política de combate à obesidade.

Mergulhei fundo no problema da obesidade. Descobri que o obeso sofria mais discriminação do que, por exemplo, um portador do HIV.

Dias desses, num vôo lotado do Rio para Brasília não consegui sentar-me numa poltrona da fileira das saídas de emergência da aeronave. Como a parte das poltronas da classe executiva estava vazia, pedi para sentar-me numa delas. Fui humilhado publicamente por um comissário. Ele preferiu fazer um verdadeiro troca-troca de lugares e me acusou de estar querendo usufruir de um privilégio que eu não tinha. Repito: não tinha nenhuma poltrona normal desocupada. Eu consigo sentar-me normalmente em qualquer poltrona da classe econômica, menos nas que ficam nas saídas de emergência. Alguns passageiros riram da minha situação. Eu tive pena deles, mas continuei indignado com a atitude do comissário. Eu tinha todas as condições profissionais e sociais de me defender. Não fiz. Não usufrui desse privilégio. E chorei por dentro pensando nos obesos indefesos que não podem sequer protestar.

Agora vejo o presidente Lula contestando dados do IBGE que confirmam cientificamente o que apurei em 2002. Seria desrespeitoso de minha parte atribuir a indignação do presidente a um gesto menor de querer valorizar mais a sua menina dos olhos, que é o Fome Zero, temendo que ele fique ofuscado pelo problema da obesidade.

A verdade é que são dois grandes desafios para o governo e para a sociedade. A prevenção, no caso da Aids, provou que uma campanha salva mais vidas e é mais econômica para o Estado. As doenças decorrentes da obesidade custam caro ao Estado e ao cidadão. Matam mais que a fome, alijam pela deficiência física milhares de trabalhadores do sistema produtivo, transformando-os em doentes onerosos para suas famílias e empresas.

Campanhas educativas, dentro e fora das salas de aulas, uma tentativa de mudança radical na dieta alimentar dos brasileiros, combate às discriminações, acesso e conforto aos idosos nos hospitais para que não sejam obrigados a fazer tomografias em hípicas ou zoológicos, assentos dignos em transportes aéreos, ônibus e todo o tipo de transporte coletivo. São medidas simples e eficazes. Punir como propaganda enganosa qualquer título editorial do tipo ‘só é gordo quem quer’, já que obesidade é doença e não desleixo, é uma proposta exagerada e antidemocrática que deixo.

Alguém deve informar melhor ao presidente sobre o problema dessa doença. O fato de ela ser maior e mais grave do que a fome, não ofusca o FOME ZERO. Uma campanha não anula a outra. A não ser que o objetivo seja fazer marketing. Aí, a fome tem mais Ibope que a obesidade. Mas só ibope. Em todo o caso, se o presidente, coitado, continuar zangado com o IBGE por ter divulgado esta triste realidade, concentremos esforços no problema da fome. Apenas uma correção, Senhor Presidente: quem tem fome, ao contrário do que o senhor disse, não tem vergonha de dizer que tem fome. Então, me desculpe, mas o senhor não passou fome. Quem tem fome é porque está no último estágio da cidadania. Ele quer comer. Por isso, a Igreja, essa nossas controvertida Igreja que condena o uso da camisinha, reconhece e apóia o saque, mas não diz isso publicamente por motivos óbvios da preservação da ordem social. O esfomeado saqueador, para a Igreja , não é um assaltante. Assaltante, nesse caso, é quem não sabe distribuir rendas. Portanto, a fome não é vaidade, presidente. Então, por favor, em nome até do seu sofrido passado, nunca mais diga que quem tem fome tem vergonha de dizer que tem fome. Quem deveria ter essa vergonha somos nós, pois como disse Ulysses Guimarães na promulgação da Constituição: ‘Mais miserável do que os miseráveis é a sociedade que não acaba com a miséria’.’