Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Veja

ELEIÇÕES 2006
Diogo Mainardi

Ginecomastia, sanfoneiros, pobres

‘‘Nos últimos quatro anos, Lula enriqueceu. Colocou jaquetas nos dentes e Botox na testa. Mas continua com uma cara autenticamente pobre. Mais do que Alckmin. Mais do que Heloísa Helena. Mais do que Cristovam Buarque. O maior atrativo de Lula é sua cara. O eleitor pobre olha para ele e vota’

O programa eleitoral começou na terça-feira. No dia seguinte, a notícia mais lida na Folha Online era sobre o comediante Ceará. Nada sobre Lula. Nada sobre Geraldo Alckmin. Nada sobre Heloísa Helena.

Eu desconhecia o comediante Ceará. Ele é imitador de Silvio Santos. De acordo com a Folha Online, foi parar no hospital por causa de uma ginecomastia. A ginecomastia é o aumento do volume das mamas no homem. Em geral, é provocada por medicamentos ou distúrbios hormonais.

Ceará sofreu uma cirurgia plástica para a retirada das mamas e, poucas horas depois, já estava perfeitamente restabelecido. O eleitor consciencioso pode deplorar a apatia política dos internautas da Folha Online, que perdem tempo com futilidades. Mas o fato é que a ginecomastia de Ceará é um assunto muito mais interessante do que o programa eleitoral. O desmaio de Ana Paula Arósio, protagonista de Páginas da Vida, é um assunto muito mais interessante do que o programa eleitoral. A filha adotiva de Regina Duarte, protagonista de Páginas da Vida, é um assunto muito mais interessante do que o programa eleitoral.

Acompanhei a estréia da propaganda de todos os candidatos a presidente. Menos a de Geraldo Alckmin. Como já esclareci aqui na coluna, pretendo evitar qualquer contato com sua campanha, porque temo desistir de votar nele. Quando ele apareceu na tela, mudei imediatamente de canal, para um velho espetáculo musical na RAI. Li que a trilha sonora do programa de Alckmin, assim como a de Lula, foi feita por um sanfoneiro. Precisamos urgentemente de uma reforma política que proíba o emprego de sanfoneiros na propaganda eleitoral.

O programa de Lula foi muito simples e eficiente. Primeiro apareceu Lula, com um sorriso apatetado, dizendo as mentiras de sempre e penando para seguir o teleprompter. Depois apareceu o retrato de um monte de gente feia e pobre. O locutor disse: ‘Lula tem a cara do povo’. É verdade. Nos últimos quatro anos, Lula enriqueceu. Colocou jaquetas nos dentes e Botox na testa. Mas continua com uma cara autenticamente pobre. Mais do que Alckmin. Mais do que Heloísa Helena. Mais do que Cristovam Buarque. O maior atrativo de Lula é sua cara. O eleitor pobre olha para ele e vota.

Lula só conseguiu chegar até o fim de seu mandato porque tucanos e pefelistas calcularam que seria melhor poupá-lo, aplicando-lhe um astuto ‘impeachment nas urnas’. O que nenhum deles parece ter compreendido foi que a contrapartida do impeachment nas urnas era a anistia nas urnas. Foi para isso que Lula trabalhou nos últimos meses. Se sua cara de povo o reeleger, o lulismo será perdoado de todos os seus crimes. Aos eleitores, restará apenas discutir sobre a ginecomastia.’



TELEVISÃO
O fator Silvio

Marcelo Marthe

‘Nos últimos meses, a competição pela vice-liderança na TV brasileira tornou-se acirrada. Por muito tempo em segundo lugar no ranking, só abaixo da Globo, o SBT agora tem sua posição ameaçada pela Record. Mas a emissora dispõe de uma arma peculiar: o fator Silvio Santos. O apresentador, como se sabe, possui um imenso carisma – e é também imprevisível. A mais recente prova disso é o programa Topa ou Não Topa, que o SBT transmite desde o começo do mês. Versão nacional de uma atração veiculada em mais de trinta países, ele teve seus direitos comprados da produtora Endemol, inventora do Big Brother e sócia da Globo no Brasil (o que não deixa de ser irônico, já que o SBT foi acusado de plágio por ambas quando fez o Casa dos Artistas, há cinco anos). Apesar de importada, a fórmula é puro Silvio Santos: a cada edição, um candidato concorre a até 1 milhão de reais tendo de adivinhar quanto há de dinheiro dentro de 26 malas. O apresentador antecipou a estréia em uma semana, de surpresa, para bater de frente com o primeiro episódio de O Aprendiz 3, o reality show do publicitário Roberto Justus na Record, no domingo 6. Venceu o embate por 15 a 8 pontos de média.

No mercado publicitário, calcula-se que os custos de premiação sairão mais em conta para o SBT que os 5 milhões de reais gastos pela concorrente só com a divulgação de O Aprendiz. A malandragem de Silvio deu mote a uma piada que circulou em e-mails no SBT: fazer televisão é coisa para profissionais, não para um aprendiz, riram os funcionários da casa. Não por coincidência, a Record passou a exibir sua atração mais tarde depois da surra. Mas, como Silvio é imbatível em matéria de inconstância, o bom desempenho não foi suficiente para manter o Topa ou Não Topa no mesmo horário. Na semana passada, já se anunciava que a atração seria transferida para as noites de quarta. Se vai continuar lá, é provável que nem Silvio saiba ao certo.

O Topa ou Não Topa envolve cálculos matemáticos e regras um tanto intricadas. Nos Estados Unidos, esse detalhe não escapou ao humorístico Saturday Night Live, que já mostrou uma sátira na qual os participantes, o apresentador e até as modelos que exibem as tais malas em cena se revelam perdidos. Ao contrário do que a intuição faria supor – e aí é que está a pegadinha -, o participante leva vantagem quando escolhe as malas que contêm valores menores e se sai mal quando tira as boladas mais altas, numa escala que vai de 50 centavos ao prêmio máximo. De tempos em tempos, ele tem de decidir se prefere continuar na gincana ou embolsar a soma oferecida por um ‘banqueiro’ de mentirinha, que surge envolto em sombras. Até agora, o maior ganhador foi um analista de sistemas paulista, que obteve 329.000 reais. Mas sabe-se que, num dos programas gravados e ainda não exibidos, um sortudo abocanhou o milhão.’



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Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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