MAINARDI vs. KUCINSKI
Em guerra com o lulismo
‘Foi uma semana muito ruim para mim. Fingi que era um jornalista. Não um jornalista qualquer. Fingi que era um jornalista interpretado por Clark Gable, num filme de 1934, de Frank Capra. Não gostei. Nunca mais aceito esse papel. Moro de frente para a praia. O tempo todo eu queria abandonar o trabalho e cair no mar com a molecada. Mas não podia. Porque tinha de esperar o telefonema de um ou a mensagem urgente do outro. No fim, deu tudo errado. Não recebi o telefonema de um nem a mensagem urgente do outro. E não casei com a herdeira caprichosa interpretada por Claudette Colbert. Fiquei esperando à toa. Meu sensacional furo jornalístico fracassou.
Jornalismo é uma má profissão. Não recomendo a ninguém. Nossa sorte é que só os esquerdistas estão autorizados a praticá-lo. Eles merecem. Eles merecem tudo o que há de pior. Nossa sorte é também que só os esquerdistas estão autorizados a criticar a imprensa. Foi o que declarou Bernardo Kucinski numa entrevista de algumas semanas atrás. Para quem não o conhece, Bernardo Kucinski é um assessor de segundo plano de Lula. Ele ganha um salário do governo para recortar e colar as notícias publicadas nos jornais. Entre as muitas tolices que ele já disse, a maior foi que os jornalistas discriminam Lula porque ele é analfabeto. Mas não é apenas porque Bernardo Kucinski disse uma tolice tão grande que, a partir de agora, todas as suas opiniões devem ser necessariamente desconsideradas. Ele está certo, por exemplo, quando afirma o seguinte: ‘A crítica da mídia é um campo naturalmente exercido pelos que têm uma visão crítica dos sistemas dominantes de poder, ou seja, as esquerdas e os liberais-democratas. Noam Chomsky é um dos maiores representantes dessa atividade. Quando a direita faz crítica da mídia, devemos nos preocupar, porque não é usual, especialmente se faz isso em linguagem virulenta, porque pode denotar uma propensão da sociedade a expurgos e queima de livros, como já aconteceu tantas vezes’.
Bernardo Kucinski está certo porque nós, monstros direitistas, realmente somos dados a um expurgo. De fato, se dependesse de mim ele nunca mais arrumaria um emprego em jornalismo. E se dependesse de mim os livros de Noam Chomsky iriam direto para a fogueira. Os únicos que podem criticar a imprensa com autonomia, de acordo com Bernardo Kucinski, são os membros do departamento de propaganda lulista instalado por Luiz Gushiken no Palácio do Planalto. O que mais espanta nesse discurso não é sua palermice esquerdista. Isso a gente tira de letra. O que mais espanta é que, depois de tudo o que aconteceu no último ano, depois de toda a roubalheira, depois de toda a pilantragem, eles, os lulistas, ainda se consideram melhores do que nós. E ainda se consideram com mais direitos do que nós. Lula rachou o Brasil. Os lulistas ficaram de um lado, nós do outro. É guerra aberta.’
VEJA
vs. GAROTINHOLucila Soares
Era pior ainda
‘Em sua última edição, VEJA divulgou os bastidores da pesquisa realizada pelo Ibope sobre a eleição presidencial. Revelou que o resultado do segundo turno foi deliberadamente omitido pela Editora Três, que publica a revista IstoÉ. E enfatizou que tanto a data da divulgação – dias antes de uma importante reunião da executiva do PMDB – quanto o sumiço do segundo turno beneficiavam o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho, pré-candidato peemedebista à Presidência. Na semana passada, Garotinho telefonou à sucursal carioca de VEJA para prestar alguns esclarecimentos. Segundo ele, teriam sido feitas duas pesquisas pelo Ibope. Uma a seu pedido, outra por encomenda da Editora Três. O ex-governador disse ter ficado ‘surpreso’ com dois fatos. O primeiro: o Ibope teria registrado apenas uma pesquisa – a dele – no Tribunal Superior Eleitoral, mas em nome da Editora Três. Essa seria a explicação para a existência de um bloco de perguntas específicas sobre ele. O segundo: as duas pesquisas, ‘realizadas com intervalo de três dias’, teriam chegado a resultados ‘bem diferentes’.
Garotinho comprometeu-se a mostrar à revista os dados discrepantes, mas em lugar disso enviou uma carta à redação na qual critica a reportagem e afirma não ter sido beneficiado pela pesquisa. O ex-governador não poderia mesmo enviar os números que prometeu – o Ibope nega ter feito duas pesquisas. VEJA apurou que a única encomenda foi realizada em dezembro, por Garotinho e Carlos Rayel, um de seus colaboradores mais próximos e ex-secretário de Comunicação do governo de São Paulo na gestão de Orestes Quércia. Posteriormente, o Ibope foi informado de que deveria faturar a pesquisa em nome da Editora Três, que se encarregaria da divulgação. Os motivos do sumiço temporário do segundo turno não foram comentados por Garotinho. Um aliado político seu, entretanto, afirmou que a IstoÉ recebera apenas o resultado do primeiro turno. Mais uma vez, o Ibope nega. A pesquisa completa foi entregue ao redator-chefe da revista, Mário Simas Filho.
A reunião da executiva do PMDB marcou para 19 de março as prévias que escolherão o candidato à Presidência. Garotinho tem, portanto, quase dois meses para tentar convencer seus correligionários de que é o melhor nome para enfrentar Lula e José Serra, que aparecem empatados tecnicamente na pesquisa do Ibope. Seus assessores lhe fariam um bem enorme se o aconselhassem a mudar de estratégia. Porque a mentira, como se confirmou na semana passada, realmente tem pernas curtas.’
TANURE EM AÇÃO
Tanure embolsa 187 milhões de reais
‘O notório e polêmico (bota polêmico nisso) empresário baiano Nelson Tanure está prestes a ficar 187 milhões de reais mais rico – e quem proporcionará essa felicidade a ele será uma estatal. Explica-se: um de seus estaleiros, o Ishibrás, derrotou a Petrobras numa ação de perdas e danos que movia contra a estatal havia doze anos. Tanure questionava alterações de contratos de construção de três petroleiros. A ação já está em processo de execução. Tanure consagra-se, assim, como uma espécie de mestre em ganhar causas milionárias no Judiciário fluminense.
De longe
Quem acompanha o processo de perto estranhou o modo peculiar de agir da Petrobras nesse processo milionário. Um exemplo: é totalmente inusual que uma ação dessa magnitude seja conduzida sem que os chefes do jurídico ou do contencioso assinem alguma petição. E, bingo!, foi exatamente o que aconteceu.’
INTERNET
A muralha do Google
‘Para uma ditadura, não há maior perigo que a livre discussão de idéias e o acesso irrestrito a informação. Já para um site de buscas na internet, a sobrevivência depende da confiança que o público deposita nele – e isso significa dar privacidade e liberdade a quem procura informações na rede mundial de computadores. Foi equilibrando-se entre esses dois princípios que o Google, o sistema de busca mais popular do mundo, inaugurou sua versão chinesa (Google.cn), na semana passada. A empresa foi a última gigante da internet a resistir às condições draconianas do governo chinês para operar em seu território, como o uso de filtros que bloqueiam pesquisas de assuntos considerados subversivos pelo regime comunista. A partir de agora, cada vez que um chinês procurar no Google a expressão ‘Massacre da Praça da Paz Celestial’, estima-se que nove em cada dez páginas serão bloqueadas, como já ocorre com os serviços do Yahoo e da Microsoft no país. Mais de 900 palavras fazem parte de uma lista secreta – renovada regularmente – que o governo chinês entrega às empresas de internet para que façam a censura prévia virtual. A China tem enorme estrutura de monitoramento e censura da internet: são 30.000 funcionários vasculhando a rede, mais que o dobro do efetivo da CIA, o serviço secreto americano.
Ao render-se às regras da China para o setor, o Google deu força ao debate sobre a censura na internet. Na Alemanha e na França, a empresa já barra, em seus programas de busca, sites nazistas ou racistas. Nos Estados Unidos, são eliminadas páginas que desrespeitam direitos autorais. ‘São situações éticas bastante distintas’, disse a VEJA o canadense Ronald Deibert, especialista em mídia digital da Universidade de Toronto. ‘Na Alemanha, França e Estados Unidos, são censuras decididas por democracias, enquanto na China as restrições são impostas por burocratas que não precisam prestar contas à sociedade.’ Poucos dias antes de colocar no ar sua página chinesa, o Google recusou um pedido do governo americano para entregar a relação completa de todas as pesquisas feitas em seu site no intervalo de uma semana. O Departamento de Justiça pretendia usar o material para analisar a eficácia de uma lei de proteção infantil na rede. O Google alegou que a informação feria a privacidade de seus clientes. A empresa viu-se diante de um dilema ético: como era possível ceder à censura de uma ditadura quando, uma semana antes, se recusara a atender a um pedido de um governo democrático? A justificativa encontrada pela direção do Google é que pior do que oferecer um serviço censurado seria ficar fora do mercado chinês – que, em cinco anos, terá mais pessoas conectadas à internet que os Estados Unidos. Para competir de igual para igual com outros sites de busca na China, a empresa precisa ter servidores funcionando no país. Para ficar com a consciência mais tranqüila, o Google não vai oferecer, por enquanto, serviços de mensagem e blogs (diários eletrônicos) aos chineses. Assim evitará dilemas morais já enfrentados por seus concorrentes: no ano passado, informações passadas pelo Yahoo ao governo chinês levaram à prisão de um dissidente político.’
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RODAPÉ