TELEVISÃO
A diva das 7
‘Walcyr Carrasco, o autor de Caras & Bocas, ficou emocionado com a
atuação da macaca Keith, que faz Xico, o chimpanzé pintor da novela das 7. Em
uma cena recente, Denis (Marcos Pasquim), o artista que assinava as telas
produzidas pelo símio, foi desmascarado no meio de uma exposição – e Xico
mostrou sua solidariedade ao dono humilhado, com um abraço e um beijo. ‘Não me
envergonho de dizer que chorei. O bicho é bom demais’, diz Carrasco. A cena
representou um pico de audiência para Caras & Bocas, que chegou aos 36
pontos, batendo Viver a Vida no mesmo dia, com 35. Desde Cobras & Lagartos,
de 2006, não se via uma novela das 7 superando a das 8.
Autor consagrado de novelas das 6, Carrasco não se saiu bem em sua estreia no
horário seguinte, com Sete Pecados, de 2007. ‘Quebramos a cara naquela novela.
Desprezamos a trama central e ficamos perdidos’, admite o diretor Jorge
Fernando. Não foi o único nem o pior fracasso do horário. Com exceção de dois
sucessos de João Emanuel Carneiro, Da Cor do Pecado e Cobras & Lagartos, as
novelas das 7 viveram em crise nesta década. Três Irmãs, de Antonio Calmon,
antecessora de Caras & Bocas, teve média de pífios 24 pontos. O folhetim
atual elevou esse índice em 10 pontos.
A velocidade da trama ajuda a explicar o sucesso. A maior parte das
peripécias se resolve em menos de duas semanas, sem enrolação. Há também o humor
popular – um dos núcleos mais bem recebidos pelo espectador está centrado no
atendente de bar Fabiano (Fábio Lago, o Baiano de Tropa de Elite), que,
desconfiado das traições da mulher, Ivonete (Suzana Pires), perseguiu-a nos mais
variados disfarces – de japonesa a baiana do acarajé. Acima de tudo, porém, há a
macaca – como o público não se cansa de dizer em grupos de discussão. Caras
& Bocas foi esticada em mais de dois meses e deve acabar em janeiro. Será
substituída por Tempos Modernos, do autor estreante na Globo Bosco Brasil. Uma
parte da receita já está dada: narrativa rápida e humor escrachado. E agora
também já se sabe – se falhar a química entre os protagonistas, sempre se pode
chamar a macaca.’
FOTOGRAFIA
Rio 400 graus
‘No Rio de Janeiro de Mario Testino a paisagem é sublime, o povo é alegre, os
homens são esculpidos e as mulheres, bem, as mulheres são Gisele Bündchen,
Isabeli Fontana, Grazi Massafera, Fernanda Lima, Alinne Moraes… E ainda por
cima despidas, de um jeito que só Mario consegue. É um clichê? Sem dúvida. Lindo
de morrer? Absolutamente. MaRio de Janeiro, o livro recém-lançado de Testino,
que aos 55 anos continua a se equilibrar na disputadíssima posição de fotógrafo
de moda mais celebrado do mundo, tem 200 páginas e 107 personagens de todos os
sexos, famosos e anônimos, suficientemente sensuais para torná-lo a coisa mais
disputada em qualquer mesinha de centro – e mantido longe do alcance dos
menores. Todos com o jeito classudo característico do ‘toque de Testino’, o
peruano que descobriu o Rio aos 17 anos e passou o resto do tempo fotografando
mulheres lindas, famosas e provocantes. Em outras palavras, Gisele, sua mais
conhecida inspiração. Até acontecer o encontro mutuamente transformador, Testino
viveu as agruras previsíveis. Morou em um canto de um hospital londrino
abandonado e fazia retratos a 25 euros de aspirantes a modelo. Copiava a
estética dos fotógrafos ingleses que, à época, só queriam saber das modelos mais
transparentemente magras. ‘Foi quando decidi fotografar meninas com cintura e
bumbum que dei certo’, conta Testino em um perfecto português e simpatia à
altura, mais do que suficiente para quebrar as barreiras de celebridades
apressadas e complicadas. Só para começar a lista: Madonna, Angelina Jolie,
Nicole Kidman, Demi Moore, Catherine Zeta-Jones, Julia Roberts, Kate Moss e, no
topo de todas, Diana, em belas e humanas fotos, sem pose de princesa, pouco
antes da morte trágica.
A primeira foto que Testino fez de Gisele foi para a revista americana
Allure, quando a modelo tinha 17 anos. ‘Passei seis meses tentando vendê-la a
produtoras de moda, mas ninguém a queria. Insisti nela e, pouco tempo depois, as
mesmas produtoras diziam que era impossível vender revista sem Gisele’, conta
Testino. É justamente parte desse ensaio que consta do novo livro, com uma
Gisele adolescente e totalmente descontraída em relação ao modelo com o qual faz
par, num show de, digamos, corporalidade. Fazer o posado parecer espontâneo é o
mínimo que se espera de qualquer fotógrafo profissional, mas aquela expressão de
desejo, o olharzinho de vamos ver no que dá, as tatuagens que brotam de lugares
nunca antes desvendados… ‘Ele tem algo que faz a gente tirar a roupa. Não sei
o que esse homem tem’, disse recentemente Fernanda Lima, em um evento em
homenagem a Testino. ‘Ao contrário de muitos fotógrafos, ele põe a mão na
modelo, abraça, sussurra um monte de besteiras no ouvido delas. Isso as deixa
envolvidas em um clima de sedução. O resultado são fotos extremamente sexuais’,
explica um dos mais experientes fotógrafos do país, Clício Barroso. ‘É quase um
flerte o que rola. Se a modelo está linda, fico com a boca aberta, mostrando
como estou louco, mas também, se ela não está se saindo bem, digo ‘você está com
cara de estúpida’, conta Testino, às gargalhadas.
Na abertura do livro de Testino, Gisele assina um depoimento: ‘Nós nos
entendemos. Ele respeita muito os meus limites, mas, ao mesmo tempo, é quem mais
os desafia’. Para Grazi, a experiência de fotografar com Testino foi ‘muito
delicada’ – talvez quem a veja frente a frente com o namorado, Cauã Reymond,
numa espécie de choque tectônico de corpos, use adjetivo diferente. ‘É incrível
como foi tudo simples. Eu já sabia que ele me queria nua. Então, cheguei, tirei
a roupa e fui simplesmente fazendo o que ele pedia. Ele é carinhoso e foi me
levando devagarzinho’, conta Grazi. Para os críticos de Testino, seu trabalho é
‘cosmético’ demais e as fotografadas gostam mesmo é de parecer ainda mais
deslumbrantes do que são (os fotografados também: a beleza masculina é
exaltadamente cultuada por ele). Testino assina embaixo: ‘Nunca deixo ninguém
mal. As modelos confiam em mim porque sabem que não vou sacrificar a beleza
delas para que minhas fotos ganhem força’. E o estereótipo de brasileira sensual
ondulando a caminho do mar? ‘Do Rio para cima, vocês têm muitas modelos
gostosas. Mas há meninas do Sul que mais parecem alemãs. Veja o caso de Raquel
Zimmermann e Carol Trentini’, diz. E qual das infindáveis beldades ele prefere?
‘Ah, a Gisele é incrível, a Fernanda Lima é linda, a Daniella Sarahyba é demais
e a Raquel Zimmermann é uma loucura. Meu coração é brasileiro.’’
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