FORBES
Cíntia Borsato
Bilionários, mas nem tanto
‘O tradicional ranking dos bilionários da revista Forbes, divulgado na semana passada, mostra que a crise fez encolher a fortuna dos homens mais ricos do planeta – e não foi pouco. Juntos, eles perderam nada menos do que 2 trilhões de dólares, o equivalente ao PIB da Itália. O clube dos endinheirados também perdeu centenas de sócios. A lista, que reunia 1 125 bilionários em 2008, agora traz 793 nomes, 30% a menos. Uma redução no número de bilionários não ocorria desde 2003, quando o levantamento da Forbes espelhava os efeitos da crise desencadeada pela bolha da internet. O que o atual ranking mostra são os estragos da crise financeira sobre fortunas como a do megainvestidor Warren Buffett, que neste ano foi suplantado por Bill Gates no posto de o homem mais rico do mundo. Com a queda de 50% no valor das ações de sua holding, Buffett ficou 25 bilhões de dólares mais pobre. É curioso observar que Gates, mesmo vendo subtraídos 18 bilhões de dólares de seu patrimônio, ainda conseguiu recuperar o topo do ranking, que havia ocupado por treze anos. O patamar pós-crise, no entanto, é outro. Para se ter uma ideia, com os 40 bilhões de dólares que tem hoje, o fundador da Microsoft estaria apenas em sétimo lugar na lista do ano passado.
Há treze brasileiros no ranking da Forbes, uma baixa de cinco nomes em relação a 2008. Dez deles são de São Paulo, a nona cidade com maior número de bilionários no mundo. Ainda de acordo com o levantamento, a maior fortuna do país é a do empresário Eike Batista, amealhada com negócios na área de mineração. Em seguida vêm o banqueiro Joseph Safra e o investidor Jorge Paulo Lemann. Com seus 7,5 bilhões de dólares (900 milhões de dólares a mais do que no ano anterior), Eike figura entre os raros exemplos de aumento do patrimônio. Apenas 44 bilionários conseguiram o feito. No caso de Eike, entre um ranking e outro ele lançou três novas empresas na bolsa e ainda vendeu uma delas, por bom preço, antes da crise. Quem ficou para trás foi o empresário Antônio Ermírio de Moraes – o campeão entre os brasileiros no ano passado, atualmente na sexta posição. Ermírio perdeu 7,2 bilhões de dólares.
Entre os países emergentes, a Rússia foi aquele onde o número de bilionários mais despencou: 55 dos 87 que haviam aparecido no ranking anterior ficaram de fora. Daí Moscou ter deixado de ser a cidade com a maior concentração de bilionários, título conquistado em 2008, que agora é de Nova York. O empresário russo Oleg Derispaska, que estava entre os dez mais ricos do mundo, passou a ocupar a 164ª posição. O novo ranking também não favorece a Índia. Antes, os indianos estavam representados com 53 nomes. Sobraram 24. Parte disso se explica pela enorme desvalorização das moedas da Rússia e da Índia diante do dólar. O rublo, por exemplo, caiu 50%. Como a conta das fortunas é feita em dólar, tais países saem em desvantagem. Some-se a isso uma queda violenta no mercado de ações – na Rússia, ela foi de 68% –, e o resultado é o que se vê no ranking da Forbes.’
TECNOLOGIA
Camila Pereira e Cíntia Borsato
Feitos para a internet
‘Um computador para acessar a internet, que pesa pouco mais de 1 quilo e cabe confortavelmente numa bolsa de mão. Esse é o conceito dos netbooks, aparelhos que surgiram para atender ao desejo das pessoas de permanecer conectadas onde quer que estejam. Eles não são feitos para armazenar muitos arquivos, tampouco para rodar programas mais pesados, como aqueles que lidam com gráficos e imagens. Tiram proveito, em vez disso, dos sites que hoje permitem aos usuários manter seus textos, fotos, vídeos e mensagens (toda a sua ‘vida digital’, em suma) arquivados on-line. Com menos memória e menor capacidade de processamento de dados, os netbooks podem custar até um terço do preço de seus irmãos mais velhos, os notebooks – e essa é outra de suas características essenciais. Números recentes atestam o sucesso desse minicomputador portátil. O primeiro netbook, que surgiu em 2007 nos Estados Unidos e um ano depois no Brasil, vendeu no ato 1 milhão de unidades. Patamar que se tornou modesto perto dos 12 milhões do ano passado – e ínfimo diante das projeções para 2009, traçadas pela consultoria Gartner. A previsão é que as vendas neste ano aumentem 80%, oito vezes o ritmo de crescimento dos notebooks. O cenário de crise econômica favorece as versões menores. ‘A lógica atual é a de que quanto mais barato, melhor’, diz Angela McIntyre, consultora da Gartner.
As líderes no mercado de netbooks, curiosamente, não são as mais conhecidas entre as fabricantes de computadores, mas, sim, duas companhias de Taiwan – a Acer e a Asus. Há ainda outra taiwanesa na lista das cinco maiores, a MSI. ‘Nosso grande objetivo é alcançar a liderança no segmento de net-books’, resume Philip Chen, responsável pela área de computadores portáteis da MSI no Brasil. Os asiáticos começaram a explorar esse filão um ano antes de gigantes como Dell e HP. Uma das razões para a dianteira diz respeito à linha de produção mais variada dessas empresas, que se especializaram em fornecer componentes para as grandes marcas mundiais. Para se ter uma ideia, de cada três PCs vendidos no mundo, um vem com placa-mãe produzida pela Asus. Ao lidarem com uma gama variada de peças, tais companhias ganham agilidade para inovar. O que também abriu espaço para os asiáticos foi a falta de interesse manifestada, inicialmente, pelos demais. ‘Empresas como Dell e HP achavam que os netbooks eram muito simples para as necessidades de seus clientes, poderiam piorar a percepção sobre suas marcas e ainda ofereciam margem de lucro baixa perto da que alcançavam com modelos mais sofisticados’, avalia Willy Shih, professor da escola de negócios da Universidade Harvard. Hoje, essas empresas pensam diferente. ‘Estamos apostando alto nesse novo mercado’, diz Cláudio Raupp, um dos vice-presidentes da HP no Brasil.
A Intel passou três anos desenvolvendo um chip específico para os netbooks – hoje o mais encontrado nos aparelhos à venda. O grande desafio dos cientistas era conseguir colocar num chip com um terço do tamanho do tradicional a tecnologia necessária para um bom processador. E o mais difícil: fazer isso garantindo um preço final mais baixo e um consumo menor de energia, algo fundamental num computador cujos principais diferenciais são o baixo custo e a portabilidade. O chip da Intel sai por um preço 40% menor que o de um notebook e consome um décimo de energia. É isso que faz a bateria do netbook durar quase o dobro. ‘Essa invenção foi decisiva para viabilizar o negócio’, diz Reinaldo Affonso, diretor de desenvolvimento tecnológico da Intel na América Latina.
A ideia de um computador portátil mais enxuto surgiu dez anos atrás, nos laboratórios do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). O objetivo era criar laptops muito baratos para que fossem distribuídos, por governos, aos alunos de países mais pobres. O programa está em curso, e a tecnologia desenvolvida lá serviu de base para os primeiros netbooks comercializados pelas empresas. A experiência mostrou, no entanto, que as pessoas queriam algo um pouco mais sofisticado – e o mercado se adaptou a isso. Daí o aumento no tamanho da tela original, a inclusão da placa wireless e a troca do sistema operacional Linux pelo Windows XP, o que contribuiu para o preço subir dos 188 dólares cobrados pelo MIT para pelo menos 300 dólares. Não chegou a prejudicar as vendas. O faturamento com os netbooks foi de 5,2 bilhões de dólares em 2008. Quem demonstra mais interesse por eles são estudantes, executivos em busca de leveza e até gente mais velha que jamais teve um computador. Isso inclui os brasileiros. Até o fim do ano, serão vinte os modelos à venda no Brasil – mas o preço ainda é alto, por volta de 1 300 reais. O que pode torná-los mais econômicos é a recente parceria firmada entre fabricantes de netbooks e operadoras de celular, como Vivo e TIM. Elas já vendem netbooks com preços até 30% menores. Ao subsidiarem parte do aparelho, querem atrair clientes que farão ali uso do serviço de banda larga móvel. Sinal do enorme potencial dos minicomputadores.’
TELEVISÃO
Silvia Rogar
A Bollywood da Globo
‘As novelas da Rede Globo já tiveram gravações em Atenas e Macau, em Praga e Miami, em Moscou e Bali. Sempre uns poucos capítulos, em geral para dar um brilho ao começo da história e garantir flashbacks glamourosos ao longo da trama. Não é o que ocorre em Caminho das Índias, o atual folhetim das 8 horas da Globo. Do início ao fim, a novela de Glória Perez terá peripécias ambientadas no Rajastão, o maior estado indiano, onde vivem os personagens do núcleo central da história. Ao longo de um mês, uma equipe de quarenta pessoas se dividiu entre cinco cidades indianas e captou imagens de monumentos e palácios, de festas e da vida cotidiana, de cerimônias religiosas e do trânsito caótico. Também foram gravadas cenas com parte do elenco em locais turísticos como o Taj Mahal (que não fica no Rajastão). Manter uma equipe estacionada na Índia pelos sete meses de duração de uma novela seria, contudo, impraticável. Por isso, o drama do amor impossível de Maya (Juliana Paes) e Bahuan (Márcio Garcia) desenrola-se na cidade cenográfica mais imponente da história da Globo. São 12.100 metros quadrados de Índia reproduzidos no Projac, a central de produções da emissora, num trabalho que levou dois meses e envolveu 180 operários, mais sessenta profissionais responsáveis pelo paisagismo e pelos detalhes do cenário. A cidade propriamente dita, com suas ruas, becos, casas, lojas, palácio e templo hindu, ocupa 9 600 metros quadrados. Os outros 2 500 metros quadrados pertencem ao Rio Ganges, construído a partir de um lago artificial que já existia no Projac. Os custos de produção só não explodiram porque esse Rajastão de folhetim aproveitou em grande parte a estrutura da Portelinha de Duas Caras, que ocupava 8 000 metros quadrados. O arruamento e 50% das construções do núcleo indiano são adaptações da favela que movimentou o enredo da novela de Aguinaldo Silva. Com isso, manteve-se o custo por capítulo em 430 000 reais, dentro da média do horário.
A Índia criada pela equipe de Glória Perez é bem bollywoodiana (a pujante indústria de cinema indiana tem o apelido de Bollywood). O país tem uma sujeirinha aqui e um quebradinho acolá, mas não deixa entrever nem de longe a miséria da Índia real. Só ficaram o pitoresco e o colorido: riquixás, tuk-tuks (triciclos motorizados), ônibus enfeitados e barraquinhas e lojas com produtos populares. Desses últimos, 80% foram comprados diretamente na Índia pela produção de arte. São xales, instrumentos musicais, flores e imagens de deuses hindus em profusão. Uma indiana que mora no Brasil se encarrega de revisar os cartazes e letreiros escritos em hindi. Também fazem parte da festa três vacas e três cabras, que perambulam pelos cenários à vontade, fazendo o que bem entendem, e 100 figurantes, que encarnam transeuntes e profissionais de rua, como vendedores de chá, entregadores de marmita, dentistas e limpadores de orelha (quem já foi à Índia sabe que limpadores de rua seriam mais úteis).
Em Caminho das Índias, várias técnicas de construção de cenários vêm sendo testadas pela Globo, algumas pela primeira vez. Alguns pisos, por exemplo, são reproduções de originais indianos, fotografados e impressos digitalmente em uma lona fosca, inclusive com suas imperfeições. Treliças e grades trabalhadas, que mais lembram rendas, ganharam forma por meio de um processo computadorizado, que recorta fibras de madeira com precisão. Já os relevos decorativos das construções foram artesanalmente esculpidos em isopor e, depois, recriados em fibra de vidro. Foi dessa maneira que se moldaram uma versão reduzida do Palácio dos Ventos, cujo original está em Jaipur, e o templo cenográfico, com esculturas de deuses hindus trabalhados em sua fachada. ‘É um tipo de acabamento que apenas dois anos atrás não seria possível’, afirma o diretor de arte Mário Monteiro, há 41 anos na emissora.
Em novelas anteriores, a Globo reproduzia no máximo bairros, com esquinas e casas bem marcadas e identificáveis. Em Caminho das Índias, a lógica é inversa. Para dar a ideia de uma grande cidade, foi preciso construir espaços versáteis. O beco onde se concentram algumas lojas, por exemplo, foi erguido com cinco saídas. As lojas de Opash (Tony Ramos) e Manu (Osmar Prado) ficam praticamente frente a frente no cenário. Para evitar que o espectador perceba a proximidade física (afinal, no início da novela os dois personagens não se conheciam), o truque é fazer Manu usar sempre a entrada dos fundos.
Graças aos efeitos visuais, imagens feitas na Índia tornam-se pano de fundo de cenas gravadas no Brasil. Assim, os onipresentes morros de Jacarepaguá, bairro onde fica o complexo de estúdios da Globo, foram substituídos pelas colinas do Rajastão. O recurso também é usado para dar vida ao falso Rio Ganges. A Globo construiu uma escadaria que serve de palco para atividades como a lavagem de roupa e cremações à beira da água. Atrás, veem-se imagens captadas na Índia e selecionadas de acordo com o contexto da cena. Sagrado para os hindus, o Ganges da Globo tem, como vizinho, uma construção para lá de profana: a casa do Big Brother.’
Marcelo Marthe
A casa da TPM
‘Em sua nona edição, o Big Brother Brasil reafirma a vocação de ser um laboratório experimental de psicologia evolutiva. O comportamento dos participantes ilustra à perfeição certos princípios da biologia darwinista. Se há dois anos o programa mostrou como se comportam os grupos sob domínio de um ‘macho alfa’ (no caso, Diego, o Alemão), a edição atual é uma aula sobre a competitividade feminina. Nunca existiu tanto predomínio de mulheres na casa. Já houve sete para apenas dois marmanjos – com a saída da modelo Maíra, no paredão da semana passada, ficaram seis. Além de serem maioria, elas dão o tom ao jogo: o nerd Flávio e o sensível Max, que usa maria-chiquinha, não se impõem. ‘Na ausência de um macho alfa, as fêmeas tendem a competir pela liderança’, observa a psicóloga Lidia Weber, da Universidade Federal do Paraná. Essas disputas, diz a estudiosa, podem se dar em torno de qualquer insignificância. De fato, uma simples toalha esquecida na sala vira motivo para batalhas campais. Nos corredores da Globo, o programa ganhou um apelido: ‘a casa da TPM’.
A pior briga foi entre Maíra (que, mesmo eliminada, ainda dá o que falar: circula na internet um vídeo de sexo estrelado por ela) e Francine. ‘Fran’ reagiu como uma tigresa acuada quando a outra cresceu os olhos para cima de seu namoradinho, Max. ‘Eu arrebento a cara dela’, vociferou. Em resposta, Maíra chamou a inimiga – que outro dia se surpreendeu ao descobrir que Angola fica na África – de burra. Nessas disputas, a promotora de eventos Naiá e a advogada Ana Carolina aliaram-se. Na semana passada, a dupla – conhecida como ‘vovó e netinha’ – encasquetou com Priscila porque ela descartou a gema dos ovos ao fazer uma omelete. A mesma Priscila já foi o centro da fofoca na casa. Entre risadinhas, as demais participantes insinuaram que a autodeclarada jornalista exerceria uma profissão bem mais antiga. Nos primórdios da humanidade, as mulheres permaneciam nos acampamentos cuidando da prole e ‘discutindo as relações’ enquanto os homens caçavam, o que, segundo os teóricos, explicaria a propensão feminina para intrigas e fofocas. É como sentenciou vovó Naiá: ‘Mulher, quando quer, procura pelo em ovo – e encontra’.’
Sérgio Martins
Choque de civilizações
‘Desde a semana passada, um novo vídeo de Mallu Magalhães circula no site YouTube. Não, não é mais um versão caseira de seu hit Tchubaruba: trata-se da participação da cantora paulistana no Domingão do Faustão, da Rede Globo, líder de audiência no seu horário. Mallu, de 16 anos, distingue-se do artista típico que se apresenta lá: não tem dezenas de milhares de discos vendidos – Mallu Magalhães, seu trabalho de estreia, está na casa dos 19.000 – e não é bancada por uma grande gravadora (veja o quadro). Ela é um fenômeno ‘alternativo’: a menina de jeitinho tímido-pretensioso despontou no ano passado divulgando sua música na internet. No MySpace, site de relacionamentos que foi sua base de lançamento, a página de Mallu teve 3,5 milhões de acessos. Essa marca impressionante, no entanto, empalidece diante dos números da televisão: em poucos minutos, no Domingão do dia 8, Mallu alcançou, no mínimo, 12 milhões de pessoas.
Faustão saudou Mallu como o ‘fenômeno da internet’. Mas a menina com um esquisito olho pintado não foi exatamente fenomenal: visivelmente assombrada, respondeu a algumas perguntas com um lacônico ‘ã-hã’ e caiu na defensiva quando o nome de seu namorado, o músico Marcelo Camelo (um marmanjão de 31 anos, por sinal), foi mencionado. Faustão enfatizou que não estava se intrometendo na vida privada da menina – só queria saber se os dois tinham planos de gravar alguma coisa juntos. As duas músicas que ela cantou tampouco pareciam apropriadas para o programa: o esforço das dançarinas para coreografar o folk minimalista de Mallu foi doloroso.
Faustão convidou Mallu em busca de um verniz moderno, mas também com a louvável intenção de apresentar ao seu público uma novidade. Ao aceitar o convite, a garota arriscou-se a perder pontos com alguns de seus ‘velhos’ fãs, para os quais o Domingão é um templo da breguice. Dito e feito: em fóruns da internet logo surgiu o surrado clichê de que ela se vendeu ao sistema – uma bobagem, é claro. Se Mallu foi ao programa é porque, apesar do arzinho de artista avoada, ela não descuida dos seus interesses nem deixa passar oportunidades que a ajudem a construir uma carreira: seu primeiro CD, por exemplo, foi gravado com o dinheiro que uma empresa de telefonia celular lhe pagou para usar uma de suas canções num anúncio. Tanto o apresentador quanto a cantora ousaram – e não colheram nem um sucesso nem um fracasso completo. A bizarra participação de Mallu no Faustão atesta apenas que o biscoito fino da internet e as massas domingueiras do Faustão ainda não se misturam bem.’
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