Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Veja

TELEVISÃO
Marcelo Marthe

O poderoso nerd

‘Nos fóruns de ficção científica da internet, muito se tem debatido sobre um certo Padrão – série de fenômenos sobrenaturais ligados entre si. Especula-se também a respeito das motivações do personagem conhecido como Observador – um careca soturno que sempre está por perto quando esses fenômenos ocorrem. Ou se a exposição a uma sequência específica das cores verde e vermelho induziria mesmo a um transe hipnótico. O seriado Fringe, que estreou nos Estados Unidos no fim do ano passado e há três semanas no canal pago brasileiro Warner, tem farto material para quem gosta de queimar os neurônios desvendando tramas com referências científicas e teorias conspiratórias. Essa turma já teve como ídolo Chris Carter, criador do extinto Arquivo X. Hoje, a seara tem novo dono: o americano J.J. Abrams. As digitais do produtor, roteirista e diretor estão num programa de ação como Alias ou num filme arrasa-quarteirão como Missão: Impossível III, passando pela história de monstro Cloverfield. Seu maior troféu, contudo, é Lost. Graças à série sobre os sobreviventes de um desastre aéreo perdidos numa ilha bizarra, ele passou de prodígio em quem poucos investiam a uma das mentes criativas mais assediadas do showbiz. Embora não repita o fenômeno, Fringe obtém audiência suficiente para manter seu prestígio. Abrams logo se confirmará de vez como o nerd-mor do pedaço: em maio, estreará nos cinemas o 11º filme da saga Star Trek, que tem sua direção.

Abrams se envolveu em Lost para socorrer a rede americana ABC, que tinha em mãos o argumento do programa, mas não sabia como transformar aquilo em algo instigante. ‘Logo percebi que a melhor forma de uma trama de mistério prender o espectador era criar tantas reviravoltas e desdobramentos paralelos que ele não tivesse tempo de respirar’, disse ele a VEJA (leia a entrevista abaixo). Confundir também é a palavra de ordem em Fringe. Só que aqui se emula francamente Arquivo X: a história é centrada numa agente do FBI, Olivia Dunham (Anna Torv), e fala de uma teoria conspiratória que envolve o governo americano e uma empresa de alta tecnologia. De paranormalidade a terrorismo biológico, cabe tudo na salada. Abrams em geral atua nos primeiros episódios das séries e, depois, deixa o trabalho a cargo de outros profissionais. Boa parte das pirações de Lost, por exemplo, saiu da cabeça do parceiro Damon Lindelof.

Filho de um produtor de filmes para a TV, Abrams conviveu com equipes de gravação desde a infância. Na pré-adolescência, já dava mostras de seu pendor para o ramo: num curta-metragem em super-8 produzido com um colega, a trama versava sobre uma boneca assassina capaz de levitar. Ele tem 42 anos e está casado há treze com a relações-públicas Katie McGrath (o casal tem três filhos). Tempos atrás, a mulher entregou que Abrams não raro passa o dia trancado em casa de pijama, a ler e escrever. ‘J.J. é um ser de outro planeta’, declarou ela.

J.J., O CRÉDULO

TEORIAS BIZARRAS

J.J. Abrams: ‘Sei de gente perfeitamente racional que teve encontros com fantasmas’

Criador de séries como Lost e Fringe, que acaba de estrear no Brasil, o americano J.J. Abrams reinventou as séries de mistério na televisão. De Los Angeles, ele concedeu a VEJA uma entrevista em que fala sobre ETs, fenômenos paranormais e teorias conspiratórias – nos quais diz acreditar.

Fringe lida com teorias conspiratórias. Por que isso faz sucesso?

As teorias conspiratórias dão ao espectador uma sensação de conforto. A possibilidade de que o mundo seja controlado por uma organização ou sistema é assustadora. Mas, ao mesmo tempo, fornece um sentido à vida: se isso existir, então há um objetivo maior por trás de tudo. Não se pode esquecer que uma parcela das pessoas leva essas coisas muito a sério. Para Roberto Orci, um de meus parceiros na criação de Fringe, o envolvimento do governo americano em conspirações como as do programa é um fato.

O senhor também se inclui entre os crédulos?

Em muitos casos, sim. Tome-se o exemplo dos ETs. Não creio que os discos voadores sejam necessariamente naves alienígenas. Mas, que eles existem, não há dúvida. Acredito, ainda, que fatos relacionados a isso são mantidos em segredo por organizações, corporações e governos. O silêncio do FBI e das Forças Armadas sobre as aparições de óvnis e abduções tem sua razão. São assuntos estratégicos porque envolvem tecnologias ainda não dominadas e têm o potencial de causar pânico.

O senhor acredita também em paranormalidade?

Já ouvi tantos relatos convincentes que não posso descartar o fenômeno. Sei de gente perfeitamente racional que teve encontros com fantasmas. E tenho amigos de confiança que ouviram ou sentiram a presença de pessoas mortas. Quando coisas bizarras assim são vivenciadas por gente séria, fica difícil dizer que não há alguma dose de verdade.

Os mistérios de Lost são debatidos por milhões de pessoas. Como criar um universo paralelo tão sedutor?

Adoraria se houvesse uma fórmula. Mas, infelizmente, não sei a resposta. Talvez porque, apesar de estarem mergulhados numa realidade fantástica, os personagens são pessoas comuns. Além disso, Lost é um quebra-cabeça desafiador. Eu e meus colaboradores nos divertimos ao bolar cada reviravolta.

Muitos fãs reclamam que Lost ficou mirabolante. O que está ocorrendo?

Vou lhe dizer o que ocorre: esse pessoal não é nerd o suficiente. Nunca perdemos o controle. Ao fim da trama, todas as pontas se ligarão.’

 

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