Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Veja

LULA E A IMPRENSA
Veja

Más notícias, presidente

‘Por que Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa e o casal Kirchner tratam a imprensa como inimiga? Porque na Venezuela, na Bolívia, no Equador e na Argentina de seus sonhos não há lugar para jornais, revistas e redes de televisão independentes. Para essa gente, notícia é só aquilo que seus ministros da propaganda dizem que é notícia. Todos eles suprimiram a liberdade de imprensa ou estão em via de fazê-lo. Esperam um dia atingir o controle total da informação obtido pelas grandes ditaduras do século passado, prática que é mantida ainda por seus irrelevantes sobreviventes atuais: Cuba e Coreia do Norte. Nesses países não existe imprensa. Não existem repórteres. Não existem jornais. Não existe democracia. Não existe liberdade. Portanto, não existe notícia. Cubanos e norte-coreanos vivem vidas miseráveis, privados das mínimas exigências da subsistência civilizada, mas os papéis pintados periódicos daqueles países não relatam a triste realidade.

Por onde se olha na América Latina, há um governante com a ideia fixa de que seus fracassos seriam menos gritantes se só existisse a imprensa oficial. O Brasil vinha sendo a excepcionalidade na região. Agora o próprio presidente Lula está desenhando o que ele imagina ser a imprensa ideal. ‘Não acho que o papel da imprensa é fiscalizar. É informar’, disse Lula há duas semanas. Na quinta-feira passada, ele voltou à carga com o seguinte discurso, direcionado a repórteres que cobriam uma cerimônia que reunia catadores de papel, em São Paulo: ‘Hoje vocês têm a oportunidade de fazer a matéria da vida de vocês. Se vocês esquecerem a pauta do editor de vocês e se embrenharem no meio dessa gente (…) Publiquem apenas o que eles falarem. Não tentem interpretar’.

É espantoso. Lula não lê jornais. Mas quer ensinar como editar jornais. Má notícia, senhor presidente. Ter 80% de popularidade não credencia ninguém a ser repórter ou editor. Não existe jornalismo a favor. Não existe jornalismo feito pelo estado. Não é atributo do Poder Executivo traçar limites para o exercício da imprensa. A liberdade de expressão não pertence ao universo oficial dos gabinetes executivos, não tangencia os planos de governo e não obedece às orientações dos ministérios da propaganda. Seus limites estão estabelecidos na Constituição e eternizados na cultura dos países democráticos. Os próprios leitores e a Justiça punem os jornalistas que ultrapassam os limites éticos.

A imprensa tem sido vilanizada no Brasil por duas razões principais. A primeira decorre da noção primitiva que alguns ideólogos do petismo têm do Brasil, que para eles é uma grande e simplória terra ideal: a ‘PTópolis’, habitada por pessoas que têm papéis claramente definidos, como a Patópolis, de Walt Disney. Os habitantes de PTópolis também são divididos em classificações rígidas. Existem os que ocupam o andar de cima e os do andar de baixo; os pretos e os brancos; os ricos e os pobres; os bons e os maus; os produtores e os usurários; os amigos e os inimigos do rei… A segunda razão é o fato de que, quando a cúpula de PTópolis e seus corruptos do coração produzem escândalos – e eles os produzem aos montes –, a culpa nunca pode ser do líder ou de seus próximos. A imprensa livre é um estorvo em PTópolis. Ela insiste em investigar, fiscalizar e dar nome aos bois. Em PTópolis, idealmente, só deveriam exercer o jornalismo as pessoas designadas para isso pelo estado. No mundo perfeito de PTópolis não há lugar para algo imperfeito, barulhento, enxerido, investigativo, teimoso, livre, falível e, algumas vezes, até irresponsável como é a imprensa. PTópolis: ame-a ou deixe-a!’

 

TELEVISÃO
Bruno Meier

Brinde de boas-vindas

‘Os pinguços costumam dar personagens marcantes nas novelas de Manoel Carlos. Foi assim com Orestes (Paulo José), de Por Amor, e Santana (Vera Holtz), de Mulheres Apaixonadas. Em Viver a Vida, Renata, interpretada por Bárbara Paz, também anda sempre abraçada à garrafa. Trata-se, porém, de uma nova categoria de alcoólatra: aspirante a atriz e modelo com problemas de autoestima, Renata sofre de drunkorexia, ou anorexia alcoólica, distúrbio alimentar que leva as pessoas a substituir a comida por bebidas alcoólicas. Na cena mais pesada da personagem até agora, Renata aparece na casa de amigas com machucados no rosto e no braço. Fora pisoteada em uma festa, na qual desabou depois de umas talagadas. A atriz de 35 anos está estreando na Globo. Cotada para papéis em folhetins anteriores da emissora, não emplacou porque tinha uma certa ‘cara de SBT’. Bárbara, afinal, foi a vencedora do prêmio de 300 000 reais do reality show Casa dos Artistas, sucesso na emissora de Silvio Santos em 2001.

Ao menos três produções – foi sondada para Páginas da Vida, Mulheres Apaixonadas e até para viver a drogada Mel em O Clone – poderiam ter contado com a atriz, mas a decisão final batia na trave por causa do passado. ‘Queria ter escrito uma personagem para ela em outras novelas, mas não foi possível. Sua imagem estava totalmente ligada a Casa dos Artistas’, diz Manoel Carlos. No SBT, ela esteve ainda em três novelas, Marisol, Cristal e Maria Esperança. ‘Aprendi a fazer TV lá’, diz a atriz – que, diga-se, carregou uma certa ‘interpretação mexicana’ para a Globo. Nascida em Campo Bom, cidadezinha do Rio Grande do Sul, Bárbara perdeu o pai com 6 anos de idade, vítima de cirrose (‘Só pode ser ironia do destino’, comenta). Para ajudar com as despesas da família, fez um pouco de tudo: vendeu artesanato, animou festas infantis, foi balconista. Quando tinha 17 anos, sua mãe morreu. Ela então foi estudar teatro em São Paulo, com o dinheiro que ganhava como modelo (na época, era contratada da Ford Models). Em 1992, um acidente de carro deixou a atriz com 500 pontos no rosto. As duas cicatrizes que até hoje tem na face enterraram sua carreira de modelo. ‘Mas não quero vender a história da órfã que deu certo’, diz a atriz, hoje casada com o cineasta Hector Babenco.

Para interpretar Renata, Bárbara emagreceu 4 quilos e buscou inspiração na doidona Amy Winehouse. Nas próximas semanas, a personagem vai chegar ainda mais perto da sarjeta – entrará em depressão quando seu namorado, Miguel (Mateus Solano), romper com ela. Os espectadores com quem a atriz cruza já andam preocupados. ‘No avião, se eu não aceito um lanche da aeromoça, pedem para eu me alimentar direito. E, quando vou ao restaurante, todo mundo diz para tirar a bebida da minha frente’, conta Bárbara.’

 

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