VEJA
Roberto Civita
A verdadeira questão é como fazer
‘No limiar de não apenas mais um ano novo, mas também do segundo mandato do presidente Lula, elenco a seguir algumas reflexões e convicções que constituem a base do que VEJA e seu editor pensam sobre os desafios que o Brasil enfrenta agora.
Do nosso ponto de vista, a recente campanha eleitoral demonstrou que existe um vasto consenso referente à necessidade de acelerar o crescimento econômico do país e, ao mesmo tempo, melhorar a sua distribuição de renda. Entre aqueles que pensam o Brasil, há animadora concordância em que isso exige manter a estabilidade e a previsibilidade econômicas, eliminar as já conhecidíssimas barreiras ao desenvolvimento, combater a corrupção para valer, reduzir drasticamente a ineficiência e o desperdício da administração pública e avançar com energia na melhoria do nosso deplorável sistema de educação. Todas as declarações do presidente Lula, desde sua triunfante reeleição, confirmam que ele compartilha essa visão e está empenhado em – desta vez – fazer todo o possível para implementá-la.
A verdadeira questão, portanto, não está mais no que fazer, mas no como.
Já aprendemos que não bastam boas idéias, discursos e ‘vontade política’ para fazer mudanças. É preciso competência, persistência e a verdadeira capacidade de liderar – que consiste em persuadir as pessoas a seguir o caminho traçado pelo próprio líder. Ou seja, embora nenhum presidente (ou outro governante) possa – sozinho – mudar nada, ele pode e deve apontar o caminho, arregimentar apoios, escolher ministros e assessores competentes, disciplinar quem sair da linha… Enfim, dar o tom e o exemplo.
De seu lado, o novo Congresso precisa mostrar que está aí para algo além de cuidar dos interesses dos seus integrantes ou de suas regiões eleitorais. Precisa demonstrar – pelo menos de vez em quando – que coloca os interesses do futuro do país à frente dos pessoais, políticos ou partidários.
Paralelamente, os responsáveis pelo Judiciário podem e devem colaborar para arrastar o nosso arcaico, excessivamente complexo e desastrosamente demorado sistema para dentro do século XXI, por meio da simplificação, da racionalização e da informatização.
É óbvio que isso tudo não é apenas tarefa da esfera federal: os governos estaduais e municipais também precisam se engajar nas reformas indispensáveis e na gestão responsável do volumoso e sofrido dinheiro público que lhes é confiado.
Aliás, gestão é a palavra-chave para todo o setor público. Enquanto a iniciativa privada nacional avança a passos largos, aplicando os princípios básicos que compõem a essência da boa gestão, o setor público continua ignorando que nada pode funcionar bem enquanto não forem estabelecidas metas claras, prazos para a sua realização, processos inteligentes, controle sistemático, medidas corretivas onde e quando necessário, sanções para os infratores e incentivos para quem merece.
Enquanto não acompanharmos, não medirmos e não cobrarmos, não faremos. Ou, pelo menos, não faremos direito.
Idealmente, toda a sociedade e todos os eleitores deveriam integrar um vasto leque de medidores e cobradores. Não apenas para apontar erros e falhas, mas também para reconhecer, aplaudir e reeleger os governantes e os partidos que entregarem o que prometeram. Sendo, entretanto, que isso é quase impossível nas sociedades de massa, mesmo nas democracias mais avançadas, cabe aos meios de comunicação, e especialmente à grande imprensa, servir como os olhos – e, sempre que possível, a consciência – da nação.
É o que VEJA pretende continuar fazendo, na torcida para que tenha cada vez menos para denunciar e cada vez mais para aplaudir.
Roberto Civita é presidente da Abril e editor de VEJA’
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