‘OBSERVATÓRIO’ DO MAINARDI
Franklin, o ‘conceituado’
‘No último dia 18, o presidente Lula encaminhou aos senadores a mensagem número 115/06, prorrogando por quatro anos o mandato do irmão de Franklin Martins na ANP. No mesmo dia 18, Franklin Martins anunciou que me processaria por causa da coluna da semana passada, em que citei seu caso para demonstrar a promiscuidade entre jornalistas e políticos.
Franklin Martins alega que seu irmão foi nomeado pelo presidente Lula porque é um ‘profissional conceituado na área do petróleo’. É exatamente o mesmo argumento usado por todos os responsáveis pelo aparelhamento petista: contrataram apenas profissionais conceituados. Eu acredito tanto na palavra de Franklin Martins quanto na de seu companheiro José Dirceu.
Franklin Martins me desafiou a apresentar um único senador que tenha sido pressionado por ele para favorecer seu irmão. Eu sei que Franklin Martins jamais pediu algo a um senador. Eu sei também que muitos parlamentares jamais pediram o mensalão. Foi-lhes oferecido. Eles simplesmente aceitaram.
O Globo noticiou que o irmão de Franklin Martins foi indicado à ANP pelo governador Paulo Hartung, de quem ele seria ‘afilhado político’. Paulo Hartung tem outro ‘afilhado político’ na mesma família. Trata-se da irmã de Franklin Martins, Maria Paula. Ela foi licenciada pela ministra Dilma Rousseff para assumir a diretoria-geral da Aspe, a estatal capixaba que regula o setor do gás. A Aspe é ligada à ANP. Ou seja, o irmão de Franklin Martins trata com a irmã de Franklin Martins. É muito ‘profissional conceituado’ para uma família só.
Em 1997, os diretores de O Globo, seguindo as normas internas do jornal, afastaram Franklin Martins da sucursal de Brasília porque descobriram que sua mulher, a psicanalista Ivanisa Teitelroit, arranjara um emprego no gabinete do líder tucano José Anibal. Quase uma década depois, Franklin Martins ainda não conseguiu entender o que há de errado nisso. Tanto que, no atual governo, sua mulher foi nomeada para o cargo de secretária parlamentar do líder petista Aloizio Mercadante, de acordo com o processo número 004884/05-1. Ivanisa Teitelroit não está mais no gabinete de Aloizio Mercadante. Ela agora trabalha numa subsecretaria do Ministério do Planejamento, na sala 207, 2º andar. Mudaram os patrões, mas a prática continuou igual.
Nas últimas semanas, o que mais se comentou no meio jornalístico foi que Franklin Martins teria integrado o comando que quebrou o sigilo do caseiro Francenildo Costa. É nisso que dá empregar familiares no governo.
Jornalistas não estão acostumados a prestar contas a ninguém. Franklin Martins reagiu de modo claramente desequilibrado ao meu artigo. Chamou-me de ‘difamador’, ‘leviano’, ‘anão de jardim’, ‘doidivanas’, ‘bufão’, ‘caluniador’, ‘tolo enfatuado’ e ‘bobo da corte’. De todos os insultos, só não aceito o último. Quem pertence à corte é ele, que tem o irmão nomeado diretamente pelo presidente da República. Menos adjetivos, jornalista Franklin Martins, e mais fatos.
Franklin Martins não se limita a pertencer à corte: é um súdito fiel. Em seu manifesto contra mim, ele reconhece que tenho o direito de pedir o impeachment de Lula, mas acrescenta que ‘não posso ficar amuado se alguém, por isso, chamar-me de golpista’. Eu não fico amuado. Pode me chamar de golpista, Franklin Martins. Pode me chamar do que quiser. Eu não sou um ‘profissional conceituado’ da área do jornalismo.’
Cartas
Diogo Mainardi
‘Com respeito a Franklin Martins, observo que há pouco mais de um ano, no início dos depoimentos sobre esta nojeira que vivemos, ouvi do referido senhor que o primeiro depoimento do famigerado Marcos Valério havia sido seguro e bem embasado (?!). Após esse comentário, eu, que vinha sendo um ouvinte dedicado do referido senhor, passei a considerar suspeitas suas opiniões. O artigo de Mainardi explica a motivação daquela análise aparentemente burra.
Daniel H. Johnston Maringá, PR
Interessante. Há vários meses vendo e ouvindo um programa da Globo News (Fatos e Versões), vinha achando estranho que o tal Franklin Martins repetisse como um mantra: ‘A CPMI ainda não disse de onde veio o dinheiro do mensalão’, como se isso não estivesse claro depois de meses de depoimentos. Acrescentava: ‘Até agora há muito falatório, mas, de concreto mesmo, nada. Só espuma’. A impressão que me ficava sempre era que lá no fundo ele queria dizer que aquela trabalheira toda não ia dar em nada, ou pelo menos assim gostaria, aparentemente. Agora, graças ao trabalho investigativo do Mainardi, vejo-o envolvido num conluio familiar porque tinha o ‘rabo preso’. Coitado, seu pai, o já falecido jornalista Mário Martins, de marcante posição na antiga revista O Cruzeiro, deve estar na sua tumba revolvendo-se de asco e vergonha, pelo papelão de seus rebentos. Continue, Mainardi, as suas pesquisas investigativas, que, até hoje, não foram desmentidas pelos malandrinhos e malandrões.
Ayrton Gonçalves Por e-mail
Prezo seu conhecimento e sua coluna nos presta um grande serviço ao denunciar vários episódios da lamentável história política que vivemos. Em referência ao último artigo, o senhor deveria se informar melhor sobre a trajetória do senhor Victor Martins. Ele vem de um longo e árduo trabalho pelo desenvolvimento do Espírito Santo e tem notório conhecimento sobre o mercado e a indústria do petróleo. Se nas agências reguladoras e, principalmente na própria Petrobras, forem nomeados para direção técnicos com a capacidade do senhor Victor Martins, e não políticos ou seus indicados como de costume, principalmente neste governo do PT, estaremos mais bem representados.
Fabrício Fontana Vitória, ES’
TABLÓIDES EM ALTA
Encolher para crescer
‘Um dinossauro dos meios de comunicação que parecia fadado à extinção tenta se reinventar com uma fórmula que, se não chega a ser original, tem o mérito de dar o primeiro passo de uma tendência que deve ser seguida por outros grandes jornais brasileiros. Fundado há 115 anos, o Jornal do Brasil, um dos mais influentes do país entre os anos 50 e 90 e que vive nos últimos anos em agonia comercial, adotou uma estratégia ousada. Promoveu uma radical reforma gráfica, que trouxe como grande novidade um novo formato: o berliner, meio-termo entre o tablóide e o tamanho convencional, o standard. Seguiu, assim, uma receita usada por tradicionais periódicos europeus. Só nos últimos três anos, três dos cinco grandes diários ingleses ‘encolheram’ – The Times, The Guardian e The Independent. A trinca, que vinha com tiragens cadentes, passou a vender mais. O sucesso pode ser creditado ao formato – prático de manusear e carregar e, principalmente, mais agradável aos olhos das novas gerações. E com um preço de capa menor, é claro. O fenômeno que agita o mercado editorial europeu e que agora o JB tenta repetir aqui é impulsionado pelo desafio imposto aos jornais para que eles não fiquem relegados à pré-história dos veículos de comunicação: como conquistar novos leitores num mundo cada vez mais dominado por meios mais atraentes para os jovens, como internet, celular e televisão?
Essa preocupação levou a Associação Mundial de Jornais a encomendar à consultoria de mídia Innovation uma cartilha, lançada no mês passado, com cinqüenta estratégias para seduzir mais leitores. O estudo traz um conselho curto e grosso aos donos de jornal: façam como a Coca-Cola. O refrigerante, ensina a cartilha, ‘é o mesmo para um menino de 8 anos e para uma pessoa de 80. O que difere é a estratégia de marketing para fomentar o consumo da bebida desde cedo e desenvolver esse hábito quanto antes’. Seguindo esse raciocínio, o estudo aconselha, por exemplo, que, para conquistar os jovens e fazer com que eles transformem a leitura de jornais em hábito, não se deve encará-los como um segmento a ser explorado na forma de suplementos editoriais. Isso criaria guetos na publicação e acabaria marginalizando o público-alvo. O desafio é explicar ao jovem como os fatos citados no noticiário principal podem influenciar sua vida. ‘Temos de aprender com a (revista semanal inglesa) The Economist. Pode-se ser sério, ter êxito e atrair leitores jovens com um jornalismo desse tipo’, diz Carlos Soria, presidente da Innovation.
Ainda é cedo para saber se o novo JB, que começou a circular na semana passada, vai vingar. Mas a ‘tabloidização’ do veículo já produz no mercado a indicação de que experiências semelhantes poderão ser adotadas em breve nos grandes jornais brasileiros. ‘Esse fenômeno que ocorre na Europa vai chegar ao Brasil. Acho que é uma tendência à qual, mais cedo ou mais tarde, vamos ter de aderir’, afirma Sandro Vaia, diretor executivo de O Estado de S. Paulo.
Outra tendência do mercado editorial brasileiro fomentada por experiências bem-sucedidas lá fora é a dos jornais populares. Também no formato tablóide, adotaram a fórmula de sucesso dos jornais gratuitos que circulam na Europa e nos EUA, com sucesso cada vez maior. Aproveitando o conteúdo gerado por outros jornais do mesmo grupo empresarial e com foco nas classes C, D e E, são vendidos por preços que variam de 25 a 50 centavos. Os Diários Associados botaram nas bancas de Belo Horizonte e Brasília o Aqui, ao preço de 25 centavos, seguindo esse modelo. São jornais que valorizam o noticiário local, com diagramação leve, muita cor e textos telegráficos, que podem ser lidos no trajeto de casa para o trabalho. Em alguns casos, a referência ao tempo de deslocamento ou ao meio de transporte já vem no nome do jornal, como o espanhol 20 Minutos (líder em circulação naquele país), o carioca Meia Hora e o internacional Metro, de um grupo sueco, mas que circula em mais de oitenta cidades do mundo. ‘Isso ajuda a incluir novos leitores no mercado, que amanhã podem ler jornais com um noticiário mais abrangente e profundo’, analisa Agostinho Vieira, diretor da divisão de jornais de O Globo, que lançou no mês passado o jornal popular Expresso, no Rio de Janeiro.’
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