Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Veja

MEMÓRIA / VICTO CIVITA
Roberto Civita

O centenário de Victor Civita

‘Victor Civita, o fundador da Abril e de VEJA, completaria 100 anos nesta semana. Para comemorar a data, resolvemos preparar um documentário – www.centenariovictorcivita.com.br (*) – e um livro (**) sobre sua vida e obra. A prefeitura de São Paulo inaugurará uma praça pública com seu nome ao lado da sede da empresa e – com muito orgulho – expediremos as primeiras cartas levando o selo comemorativo que os Correios lançarão em 9 de fevereiro.

Apesar da dificuldade de qualquer filho escrever objetivamente a respeito de seu pai, acredito poder dizer – sem exagero – que ‘VC’ (como o chamávamos na Abril) foi uma daquelas figuras que alteram os caminhos que percorrem. Sua coragem, sua ousadia, seu entusiasmo permanente e seu espírito empreendedor levaram à criação de revistas e obras culturais que revolucionaram a atividade editorial e enriqueceram a vida de várias gerações de brasileiros.

Victor Civita tinha como sagrado o respeito ao leitor e uma sensibilidade inigualável para compreender o que o público queria e precisava para se informar, se entreter e se educar. Essas contribuições – mais sua preocupação permanente com a integridade, o bom gosto e a excelência – acabaram por transformar a história das publicações no Brasil. Acima de tudo, ele tinha a convicção de que a liberdade de expressão e uma imprensa independente e forte são alicerces fundamentais da democracia.

Em nome de toda a família Civita e dos atuais 6 000 integrantes do Grupo Abril, reafirmo que estamos empenhados em honrar o legado de Victor Civita com jornalismo responsável, permanentemente comprometido com os reais interesses do Brasil e – acima de tudo – com os milhões de leitores que nos honram com sua preferência e sua confiança.

Desde 1950, as revistas, os guias e as obras culturais criados por Victor Civita ampliaram e enriqueceram o mercado brasileiro de publicações

Roberto Civita é presidente da Abril e editor de VEJA

(*) A partir de 8 de fevereiro

(**) Será lançado no segundo semestre’



JORNALISMO & INTERNET
Carta ao leitor

Entre dois mundos

‘Aos 44 anos, Lauro Jardim, chefe da sucursal de VEJA no Rio de Janeiro, está fazendo talvez a mais bem-sucedida transposição do jornalismo semanal de revista para aquele mais nervoso, instantâneo, da internet. Na revista, Lauro assina a coluna Radar, que no site de VEJA ganhou o complemento On-Line. Seu compromisso semanal com os leitores da revista se alia há três meses à sua presença diária na internet, o que exige dele e de Jan Theophilo, seu colaborador direto, atualizações freqüentes, em alguns casos de hora em hora e até de minuto em minuto. Lauro se saiu muito bem no novo meio. No pouco tempo à disposição dos leitores, o Radar On-Line de VEJA tornou-se referência de notícia quente, exclusiva e de qualidade na web brasileira.

No jargão jornalístico, notícias exclusivas e de alto interesse são chamadas de ‘furos’. É destes que o Radar On-Line se alimenta. VEJA e o Radar impresso também são fontes constantes de furos jornalísticos. Mas em que eles diferem e em que se parecem? Diz Lauro Jardim: ‘A maior diferença é a data de validade. Um furo na revista tem de durar até a chegada dos exemplares às mãos dos assinantes e às bancas. Um furo on-line pode durar apenas algumas horas’. Na quarta-feira passada, Lauro movimentou os sites de notícias econômicas ao revelar, horas antes do anúncio oficial, que a empresa chilena LAN e a Nova Varig estavam estudando uma espécie de associação. ‘Às 12h30 mandamos uma mensagem de texto para nossos assinantes desse serviço, logo depois colocamos a informação no site. O anúncio oficial viria só às 14 horas. A comunidade de VEJA On-Line soube antes’, diz Roberto Gerosa, responsável pelo site de VEJA.

Lauro Jardim colocou no Radar On-Line, entre muitas outras, as informações exclusivas de que a Justiça, depois de onze anos, liberara os bens do ex-banqueiro Ângelo Calmon de Sá e de que a CSN decidira disputar a Corus, que ela perderia na semana passada para a indiana Tata Steel. Adiantou o tema central do discurso do presidente Lula à nação depois da reeleição e o encontro dele com o chefão do Google em Davos, na Suíça. Conclui Lauro Jardim: ‘O furo mantém a atenção constante das pessoas bem informadas no Radar On-Line. Isso é gratificante’.’



VEJA vs. TARSO
Diego Escosteguy

Será que ele pode?

‘O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, não esconde de ninguém o desejo de assumir uma das pastas mais cobiçadas do governo: o Ministério da Justiça. Deveria pensar duas vezes. Em um regime democrático, o cargo exige de seu ocupante disposição e, acima de tudo, convicção para defender as garantias constitucionais. O ministro da Justiça, entre outras coisas, deve entender, incentivar e defender a liberdade de imprensa. Na semana passada, em um seminário na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, Tarso mostrou que talvez não seja o mais indicado para o cargo. Ao falar sobre o cenário de degradação da imagem do Parlamento, ele apresentou um problema e um diagnóstico. O problema: ‘O Legislativo foi submetido a uma destruição cruel, a ponto de os deputados, senadores, estivessem ou não envolvidos em irregularidades, se sentirem constrangidos de aparecer em público pelo simples fato de exercer mandato’. Depois, explicou que todo esse processo que ele chama de destruição cruel foi ‘provocado pela imprensa’. Nada mais perigoso do que culpar o mensageiro pela mensagem que ele traz.

Tarso enxerga na publicação dos escândalos petistas ‘uma santa aliança sendo articulada em toda a grande mídia’ para atacar os ‘avanços democráticos’ do governo Lula. Viu isso no caso Palocci. Ao comentar o escândalo dos deputados sanguessugas, ele viu uma ‘grande operação que a oposição vem fazendo, com o apoio político da maior parte da mídia, para sufocar os escândalos tucano-pefelistas’. Em 2004, o ministro publicou o livro Esquerda em Processo. Nele, encontra-se um grupo de idéias que serviriam de inspiração para o que ele chama de socialismo republicano. A imprensa, nesse regime, seria vigiada por um conselho – curiosamente como propôs o governo Lula dois meses antes do livro. Não se sabe se foram as idéias de Tarso que influenciaram o presidente ou se foi mera coincidência de pensamento. Em entrevista, Tarso explicou que liberdade não pode ser ilimitada. Ele defende a regulamentação nas esferas da cultura, do modo de vida das pessoas e até da moral. Mas, para que ninguém se assustasse, alertava: ‘Acho que não cabe ao ministro aplicar suas idéias’. Bem, talvez na atual conjuntura seja mesmo o caso de ter agora um ministro da Justiça cujas idéias sobre os atributos da pasta que ocupa sejam inaplicáveis. É mais seguro.

Poucos – talvez apenas um, Armando Falcão, ministro da Justiça no governo militar entre 1974 e 1979 – ocupantes da pasta da Justiça foram liberticidas. Ao contrário, a pasta foi bem servida. Márcio Thomaz Bastos, que sai, disse em entrevista a VEJA: ‘A imprensa existe para ser livre, não para ser justa’. O grande Rui Barbosa (1849-1923), ministro da Fazenda e, brevemente, da Justiça, via na imprensa as ‘vistas da nação’.Com sua verve peculiar deixou escrito em A Imprensa e o Dever da Verdade, que recebeu reedição recente pela Caixa Econômica Federal: ‘Não exagerou quem disse que a imprensa é a garantia de todas as garantias’.’



MAINARDI vs. GUSHIKEN
Diogo Mainardi

Dioguildo que se dane

‘- Meu telefone deve estar grampeado.

É o que eu sempre digo aos meus interlocutores. Até mesmo quando se trata da professora de música do meu filho:

– A aula é quarta-feira às 9.

– Meu telefone deve estar grampeado.

– …

– Tome cuidado.

A suspeita de estar sendo grampeado aumentou muito na semana passada. Luiz Gushiken mandou uma carta ao diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, pedindo ‘medidas policiais’ contra mim. O que isso significa? Escutas legais? Escutas ilegais? Quebra do sigilo bancário? Francenildo e Dioguildo?

Meu crime, segundo Luiz Gushiken, foi ter comentado numa coluna o assalto que ele sofreu em Indaiatuba. Isso demonstraria que sou membro de uma rede criminosa especializada em fabricar mentiras a seu respeito. Supostamente, o financiador dessa rede criminosa seria o banqueiro Daniel Dantas. O mesmo Daniel Dantas que eu acusei um monte de vezes de estar metido com o PT.

Mas o caso é ainda mais intrigante. Depois de mandar a carta ao diretor da Polícia Federal, Luiz Gushiken tomou a iniciativa de encaminhá-la a Paulo Henrique Amorim, que prontamente a publicou em sua página no iG, com o consentimento do autor. O petismo é misterioso. Se Luiz Gushiken de fato quisesse que a Polícia Federal investigasse minhas atividades secretas, qual o sentido de me alertar publicamente por meio de um garoto de recados?

Desconfio que seu plano fosse outro. Em meados do ano passado, a magistratura italiana passou a se interessar pelos negócios clandestinos da Pirelli e da Telecom Italia. Muita gente foi parar na cadeia. Algumas das principais testemunhas confessaram que as duas empresas pagaram homens públicos no Brasil. Telefono praticamente todos os dias aos meus informantes italianos, para saber detalhes sobre os pagamentos. Quem recebeu o tutu? Quanto? Quando? Onde?

Um dos envolvidos nessa história é Luiz Roberto Demarco, criador da loja virtual do PT e aliado de Luiz Gushiken na disputa comercial contra Daniel Dantas. É complicado saber o que passa pela cabeça de um petista, ainda mais um petista acuado. Se fosse para arriscar um palpite, eu diria que Luiz Gushiken teme ser associado de alguma maneira às denúncias vindas da Itália. Ao espalhar que eu e outros jornalistas fabricamos mentiras ‘com a finalidade de atingir a honorabilidade de sua pessoa’, ele estaria tentando se antecipar aos eventos. Repito: é só um palpite.

O fato é que Luiz Gushiken acredita estar num estado policial. Para investigar alguém, basta ele querer, basta ele mandar. Talvez seja assim mesmo. O Brasil aceitou o acobertamento de todos os crimes de sua classe política. Se é para acobertar, é para acobertar até o fim. O Dioguildo que se dane.’



WEBTV
Carlos Rydlewski

Conheça a sua próxima TV

‘A televisão será absorvida pela internet em cinco anos. Evidências dessa profecia, feita por Bill Gates na semana passada, são cada vez mais freqüentes. A mais recente foi exibida ao mundo por Janus Friis, de 30 anos, e Niklas Zennström, de 40 – os inovadores que mudaram a indústria fonográfica com o KaZaA e viraram de ponta-cabeça o mercado global de telecomunicações com o Skype. Agora, a dupla lançou um software, batizado de Joost, que permite ao usuário de internet capturar e assistir (como e quando desejar) a programas de televisão dispostos numa espécie de videoteca. Detalhe: não são pequenos vídeos como os do YouTube. São canais completos como o National Geographic, o Warner e a MTV. A nova ferramenta de Friis e Zennström não está sozinha nesse mercado. Quase todas as companhias de telecomunicações do mundo entraram – ou estão prontas para entrar – nesse filão. No fim do ano passado, foi a vez de a AT&T lançar um serviço de televisão pela internet nos Estados Unidos. Ele já atinge uma dezena de cidades. Oferece conteúdo com 400 canais de filmes, shows, esportes e noticiários, alguns ao vivo, sendo que 54 deles com imagens de alta definição. Nesse caso, é a Microsoft que fornece o software. Em 2006, o total de assinantes de serviços de televisão pela web já alcançava a cifra de 5,3 milhões de pessoas em todo o planeta. As consultorias estimam que a audiência de TV pela rede de computadores deva atingir quase 50 milhões de pessoas em 2010 – só na China serão 6 milhões. Ou seja, em quatro anos, a expectativa é de um crescimento da ordem de 840%.

Mas o que isso muda na rotina dos telespectadores? Muita coisa, como demonstram algumas propriedades do Joost. Interativo, o software tem recursos semelhantes aos de comunidades virtuais. Por meio dele o espectador discute e avalia o conteúdo da programação em chats (canais de bate-papo) e ainda pode acessar blogs ou notícias. Tudo isso em ‘janelas’ abertas simultaneamente no monitor do computador ou, com o uso de um decodificador, no aparelho de TV convencional. Pode-se dizer que é o fim da passividade diante da televisão. Nessa nova TV, que usa o protocolo da internet (IPTV, na sigla em inglês), a transferência de dados é feita sem a necessidade de download. É usada uma tecnologia conhecida como streaming, nesse caso a mesma do YouTube. Em tese, não há limite para a oferta de canais na IPTV. Eles são negociados com os fornecedores de conteúdo. Transformadas em bits, essas informações visuais têm um custo de armazenamento cada vez mais irrisório. Assim, com o tempo, o webespectador pode contar com uma oferta de programas quase infinita. O requisito de acesso é a banda larga.

No Brasil, a chegada da IPTV ainda depende de uma decisão regulatória. A oferta desse tipo de serviço está condicionada à aprovação da Anatel. As discussões prometem ser longas por vários motivos, todos associados à mudança de paradigma proporcionada pela televisão na web. A médio prazo, ela vai alterar até a lógica do mercado de publicidade na TV. Em Brasília, a Brasil Telecom já ensaia disponibilizar esse serviço. A empresa lançou um projeto piloto no fim de 2006, em que coloca à disposição dos usuários da internet 300 horas de programação de vídeos on-line sob demanda. Mas não se trata de programas semelhantes aos da TV aberta ou a cabo. É justamente para oferecer esse segundo tipo de programação que a companhia espera por uma eventual autorização da Anatel. E, no momento em que isso ocorrer, empresas como a Telefônica também vão lançar a IPTV no mercado brasileiro. Fora do Brasil, a companhia espanhola já tem 305 000 assinantes desse serviço e ocupa o quarto lugar no ranking mundial de provedores de IPTV. Os otimistas acreditam que o sinal verde da agência reguladora nacional pode ser dado ainda em 2007. Mas esses são os otimistas.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

Terra Magazine

Veja

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