MAINARDI vs. BRASIL
Heil, Homer!
‘Homer Simpson está esgoelando seu filho Bart. A troco de nada, ele pergunta:
– Pode haver país pior do que o Brasil?
Bart responde imediatamente:
– Nenhum país é pior do que o Brasil.
Homer Simpson se satisfaz com a resposta e solta a garganta de Bart.
A cena ocorreu num dos últimos episódios de Os Simpsons. O seriado está em sua 18ª temporada. É melhor do que toda a cinematografia americana do período. Martin Scorsese? Tim Burton? Joel e Ethan Cohen? Ninguém é páreo para Os Simpsons. Quem afirmar o contrário merece ser esgoelado.
Homer Simpson entende de Brasil. Ele sabe que Gregory Peck se refugiou em Bertioga e espalhou entre nós cópias geneticamente perfeitas de Hitler. Conheço um monte delas. Homer Simpson sabe também que os brasileiros voltaram ao passado pelo túnel do tempo. Sérgio Buarque de Holanda? Paulo Prado? Gilberto Freyre? Ninguém entende tanto de Brasil quanto Homer Simpson. Heil, Homer!
Se todos os pais esgoelassem seus filhos e os obrigassem a repetir diariamente que nenhum país é pior do que o Brasil, já estariam cumprindo seu papel. Apesar de seus modos rudes, apesar de sua falta de cultura, Homer Simpson educa direitinho o pequeno Bart. Quero educar meus filhos desse mesmo jeito. O único ensinamento que posso lhes dar sem medo de me arrepender é que nenhum lugar é pior do que este. O que a escola ensinará a eles é bem mais incerto. Os pedagogos petistas decidiram distribuir aos alunos uma cartilha ensinando a usar camisinha. A prática é descrita nos seguintes termos: ‘O pirata de barba negra e de um olho só encontra o capuz emborrachado’. A pedagogia petista está mais para Beavis e Butthead do que para Homer Simpson. Se é assim, sugiro recorrer diretamente ao professor Edélsio Tavares, o mestre da imagem elegante: ‘A cobra caolha encapuzada que se aninha junto ao bolso esquerdo dos homens’.
A escola nunca me ensinou a encapuzar o pirata de barba negra ou a cobra caolha. Aprendi fora da escola. Pensando bem, tudo o que eu aprendi – de útil ou de inútil -, aprendi fora da escola, em geral sendo esgoelado por meus pais. Quem argumentou que a gente perde tempo demais na escola foi Charles Murray, aquele da Curva do Sino. Num artigo recente, ele afirmou que 50% dos alunos possuem um QI menor do que 100. Isso significa que, por mais que se empenhem, jamais conseguirão aprender a ler um período mais elaborado, simplesmente porque lhes falta inteligência. Em vez de ensiná-los a ser maus médicos e maus engenheiros, portanto, é melhor ensiná-los a ser bons marceneiros e bons encanadores.
Pelos cálculos de Charles Murray, o ensino superior só faz sentido para quem tem um QI superior a 115. Isso corresponde a 15% do total de alunos. O resto de nós pode se arranjar perfeitamente sem se sacrificar na escola. Charles Murray diz que ninguém descobriu uma maneira para aumentar o QI das pessoas. O que Homer Simpson e eu podemos garantir é que há uma maneira para diminuí-lo. O Brasil é a melhor prova disso.’
MEMÓRIA / ROBERTO CIVITA
100 anos de um visionário
‘Um quarteirão arborizado no bairro de Pinheiros, em São Paulo, tornou-se na semana passada a Praça Victor Civita. Na sexta-feira, foi assinado o termo de cooperação entre a prefeitura de São Paulo e o Grupo Abril para a criação da Praça Victor Civita, que será inaugurada daqui a um ano e também funcionará como um Museu da Sustentabilidade – a arquitetura e o paisagismo do local serão um exemplo de preservação ambiental. A cerimônia teve a presença do governador de São Paulo, José Serra, e do prefeito da cidade, Gilberto Kassab. Ela foi o auge da semana de comemorações do centenário de Victor Civita, fundador da Editora Abril, que publica VEJA. Thomaz Souto Corrêa, membro do Conselho de Administração e do Conselho Editorial do Grupo Abril, veterano colaborador de Victor Civita, disse: ‘Este evento homenageia no dia do centenário do seu nascimento um homem muito especial, um italiano de sangue que adotou o Brasil como pátria e nos deixou uma imensa contribuição com seu trabalho em favor do jornalismo, da cultura, da educação, da livre-iniciativa e da democracia’.
Na quarta-feira, uma emocionante festa na Sala São Paulo reuniu 800 pessoas. Políticos, empresários e artistas se uniram a alguns dos mais antigos colaboradores de Victor Civita. Os convidados viram trechos do documentário Paixão por Fazer, que mostra a trajetória de VC, como ele era chamado na Editora Abril. Para muitos, era ‘seu Victor’, sempre pronto a dar conselhos – alguns enigmáticos, todos muito espirituosos e encorajadores. ‘Você está começando. Se fizer tudo direito terá na Abril recompensas morais e financeiras (pausa)… mais morais do que financeiras’, disse em 1984 a um repórter iniciante que hoje dirige uma revista semanal da Editora Abril.
Na sexta-feira, os Correios lançaram um selo com a efígie de VC. A praça, o selo e o documentário comemoram a história de um empreendedor visionário que, em 1950, fundou em São Paulo uma pequena editora para publicar a revista infantil O Pato Donald e a transformou em um dos maiores e mais influentes grupos de comunicação da América Latina.
‘Ele tinha duas das maiores qualidades de um homem: sonhar com projetos grandiosos e ter a capacidade de realizá-los’, disse a atriz Fernanda Montenegro, apresentadora da festa do centenário. Essa opinião é compartilhada pelos que de alguma forma conviveram com Civita – ou ‘pelos milhões de brasileiros que tiveram sua vida tocada pelo trabalho de VC’, como disse Roberto Civita, seu filho mais velho, presidente do Grupo Abril e editor de VEJA. O entusiasmo de VC pela vida e a persistência para concretizar seus projetos eram inquebrantáveis. ‘Entre as principais coisas que aprendi com ele estão a necessidade de fazer bem-feito qualquer coisa que se faça, de pensar grande e de nunca aceitar um não como resposta’, completa Roberto Civita.
Quando fundou sua pequena editora numa sala do centro da cidade, Victor Civita ouviu de amigos e empresários que sua empreitada era lunática. O Brasil, diziam-lhe, não estava pronto para consumir revistas modernas, com padrão equivalente ao das melhores publicações do mundo. O Brasil, diziam a VC, é um país de analfabetos. Os banqueiros repetiam os mesmos argumentos e fechavam-lhe as portas. ‘Se eu tivesse aceitado a centésima parte dos nãos que ouvi, nenhuma das empresas que fundei existiria’, disse Victor Civita numa conferência em 1986. Se o leitor brasileiro não tinha gosto apurado era simplesmente porque não teve acesso a publicações de qualidade mundial. Se há muitos analfabetos no país é preciso alfabetizá-los… Esse era VC. Transformava desafios em oportunidades.
Victor Civita nasceu em Nova York, filho de pais italianos que dois anos depois de seu nascimento regressaram para o país de origem. Foi criado em Milão até os 20 anos, quando ganhou do pai um talão de cheques, uma passagem para os Estados Unidos e a seguinte ordem: ‘Vire-se’. O futuro empresário perambulou por várias cidades americanas durante quase um ano, visitou fábricas e conheceu os costumes locais. Acabou por voltar a Milão, onde se dedicou aos diversos negócios do pai – entre eles uma firma de representação de máquinas americanas e uma oficina automobilística. Casou-se em 1935 com Sylvana Alcorso. No ano seguinte nascia o primeiro filho do casal, Roberto. O segundo, Richard, viria ao mundo três anos depois.
Em 1939, a família foi morar nos Estados Unidos, onde permaneceu dez anos. Em uma visita ao Brasil, Civita entusiasmou-se com a possibilidade de fazer negócios no país e chamou a mulher e os filhos para se mudarem para São Paulo. No ano seguinte, com o lançamento de O Pato Donald, deu início à construção do que viria a ser o Grupo Abril. Victor Civita morreu de infarto fulminante no fim de agosto de 1990. Até o último dia, em sua sala, demonstrava o entusiasmo que marcou sua personalidade. Suas últimas energias foram direcionadas a colocar de pé a fundação que leva seu nome e que hoje beneficia 25 milhões de alunos das escolas públicas. Sua mensagem definitiva: ‘Quero ter uma idéia nova a cada dia e realizá-la’.’
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