Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Veja


MAINARDI vs PHA
Diogo Mainardi


Que matéria!


‘Paulo Henrique Amorim e eu no Fórum de Pinheiros, em São Paulo. Ele como
acusador, eu como réu. Encontramo-nos na última segunda-feira, na ante-sala da
1ª Vara Criminal. Fui até ele, cumprimentei-o e perguntei:


– Onde está sua bota cor-de-rosa?


Eu me referia ao programa de Tom Cavalcante, na Rede Record. Duas semanas
atrás, Paulo Henrique Amorim participou do quadro B.O.F.E. de Elite, que está
circulando na internet com o título ‘Jornalista de Elite’.


B.O.F.E. de Elite, segundo seus autores, é ‘uma tropa gay, chiquetérrima’. Os
soldados trajam roupas pretas e botas cor-de-rosa. No programa, Paulo Henrique
Amorim desempenhou o papel de um jornalista sério. Em primeiro lugar, perguntou
o que teria de fazer para se tornar ele próprio um membro do B.O.F.E. de Elite.
O aspira 011 (‘Porque 11 é um atrás do outro’) respondeu: ‘Tem de saber segurar
no fuzil com carinho’. Em seguida, o cantor Tiririca, intérprete do aspira 08
(‘Além de macho, ele come biscoito’), soltou o grito de guerra do B.O.F.E. de
Elite (‘Pochete, gilete, agasalhamos o croquete/Me bate, me arranha, me chama de
pira-nha’). Paulo Henrique Amorim curvou-se de tanto rir. Em outra cena, um ator
de filmes pornográficos, Alexandre Frota, mandou o jornalista ficar de costas
para poder ‘analisar melhor a sua matéria’. Paulo Henrique Amorim obedeceu
prontamente, dando um rodopio sensual e recebendo um galanteio do chamado
Capitão Monumento: ‘Que matéria!’.


Esse é um bom resumo de 2007. Se estivéssemos num romance de Chico Buarque,
eu diria que, no instante em que cumprimentei Paulo Henrique Amorim, o ano
inteiro passou diante de meus olhos. O Brasil mergulhou de vez na chanchada. Os
aspectos mais grotescos da nacionalidade eliminaram aquele pingo de pudor que a
gente ainda fingia conservar. Consagrou-se a burrice, a obtusidade, o
descaramento. O lado mais rasteiro do lulismo contaminou o resto da
sociedade.


Paulo Henrique Amorim me processou duas vezes por um comentário sobre seu
blog no iG. O primeiro processo eu ganhei. Na segunda-feira, apresentamos as
testemunhas do segundo. Ele argumenta que, quando eu o acuso de ser a voz do PT,
trata-se de uma calúnia. Quando ele me acusa de ser fascista e caluniador,
trata-se de uma simples opinião. De acordo com ele, minha coluna afetou
seriamente sua imagem. Ele disse à juíza: ‘A senhora confiaria num jornalista
que escreve a soldo? A senhora não deve acreditar no que eu escrevo porque eu
sou um jornalista sem credibilidade’. Pelo contrário: ele tem toda a
credibilidade que se confere a um jornalista do B.O.F.E. de Elite.


Paulo Henrique Amorim saiu enfurecido do tribunal, berrando:’Perdi! Não vou conseguir
metê-lo na cadeia’. Ele tinha uma viagem marcada para Nova York. Perguntei se
ele ficaria em um de seus dois apartamentos na cidade. Ele respondeu que sim.
Perguntei se os dois apartamentos haviam sido declarados ao imposto de renda.
Ele respondeu mais uma vez que sim.


Enquanto Paulo Henrique Amorim se afastava, analisei-o de costas e
pensei:


– Que matéria!’


 


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