Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Veja


MAINARDI vs. PT
Diogo Mainardi


A Bancada do Preso


‘Jilmar Tatto foi acusado por um perueiro de favorecer empresas de transporte
ligadas ao PCC. Isso aconteceu em meados do ano passado. Mesmo assim ele
conseguiu se eleger deputado federal pelo PT. O primeiro projeto de lei que
Jilmar Tatto apresentou ao Congresso Nacional abrirá as portas das cadeias: ele
oferece aos condenados um desconto de pena de um dia para cada oito horas de
estudo. Qualquer tipo de estudo. Até pelo correio. Até pela internet. Se o que
conta é o tempo de estudo, Marcola tem de ser solto imediatamente. Ele é o Ph.D.
do PCC. Como declarou à CPI do Tráfico de Armas, ele estuda o dia inteiro. O
deputado Neucimar Fraga perguntou qual era seu livro preferido:


Marcola: Assim Falou Zaratustra.


Neucimar Fraga: Assim Falou…?


Marcola: Zaratustra.


Nas últimas semanas, os parlamentares de todos os partidos foram obrigados a
aprovar algumas medidas que endurecem o combate ao crime. Os eleitores estavam
de olho neles. Por isso eles aprovaram as medidas. Mas, assim como há uma
Bancada da Bala, há também uma Bancada do Preso. É formada por deputados
federais e senadores que resistem a qualquer mudança nessa área. Quem tenta
reduzir a maioridade penal tem de enfrentar Arlindo Chinaglia, Aloizio
Mercadante, Patrícia Saboya. Quem quer impedir que os crimes sejam prescritos
tem de negociar com Jovair Arantes e o resto do PTB. Quem deseja tornar mais
rigoroso o regime carcerário dos presos de alta periculosidade tem de driblar
Ideli Salvatti, Sérgio Barradas Carneiro e Luiz Couto, além do ministro Tarso
Genro.


O PT sempre foi mole contra o crime. O PSDB também. Cedo ou tarde o assunto
se esgotará. Ninguém está disposto a falar de sangue e de morte todos os dias.
Quando isso ocorrer, a Bancada do Preso poderá amenizar algumas das leis que
acabam de entrar em vigor. Na realidade, o petismo nem encara a criminalidade
como um problema. A segunda linha do partido já está espalhando que a crise de
segurança pública foi inventada pela imprensa. A mesma imprensa golpista que
inventou o valerioduto para derrubar Lula. O site do PT acusou a Rede Globo de
provocar uma ‘histeria fascistizante e autoritária’, argumentando que o ‘caso
João Hélio só se tornou uma comoção nacional por causa de sua exploração mórbida
pelo Jornal Nacional’. E um membro do diretório paulista acrescentou: ‘É mister
denunciar a manipulação feita pela mídia – Marinhos à frente – no sentido de
criar um clima de prendo e arrebento’.


A própria imprensa comprou a impostura do PT. O colunista Fernando de Barros
e Silva, ao comentar a pesquisa do Datafolha em que o crime aparece como o maior
problema do país, disse que ‘há no ar um clima de justiça justiceira, uma
mistura de clamor punitivo com alarmismo social cultivado pela mídia’. Ele pode
ficar calmo. A Bancada do Preso acabará soltando todo mundo. Assim Falou
Diogo.’


TELEVISÃO
Marcelo Marthe


Paraíso com jeito de inferno


‘A gêmea má com o mocinho (à esq.) e Bebel, com o cafetão (à dir.): essas
vilãs foram aprovadas


Na semana passada, um encontro com quarenta donas-de-casa paulistas
monopolizou as atenções da cúpula da Globo. Tratava-se de uma pesquisa para
medir a aceitação da novela Paraíso Tropical. Esse é um termômetro ao qual a
emissora recorre habitualmente para avaliar suas atrações. Mas, no caso do novo
folhetim das 8, ele foi acionado bem antes do previsto. Há menos de um mês no
ar, Paraíso Tropical exibe médias de ibope desconfortáveis para os padrões do
carro-chefe da Globo – não raro, abaixo da marca crítica dos 40 pontos. Uma das
razões foge ao alcance de seus criadores – a estréia foi prejudicada pela
audiência morna dos capítulos finais da sua antecessora, Páginas da Vida. Toda
vez que uma novela se inicia, há o que se chama de luto: os espectadores a
princípio resistem à nova trama. Esse efeito se agrava quando a história sucede
a outra que já não empolgava. A pesquisa mostrou, contudo, que o desinteresse se
deve também à própria novela. Não seria preciso uma sondagem, aliás, para fazer
uma primeira constatação: Paraíso Tropical deixa no ar a sensação de déjà vu.
Assim como Páginas da Vida, ela é fortemente calcada na paisagem da Zona Sul
carioca. Além do cenário batido, vários pontos da trama de Gilberto Braga e
Ricardo Linhares incomodam os espectadores.


Ao contrário do que muitos acreditavam dentro da emissora, a abordagem de um
tema pesado como a prostituição não chega a ser um fator de rejeição. ‘As
entrevistadas mostraram que aceitam que se trate abertamente do assunto, desde
que fique claro que é uma prática condenável’, diz Linhares. O mesmo não se pode
dizer das cenas de alta voltagem sexual da novela. Como se trata de um momento
em que toda a família está diante da TV, as espectadoras se constrangem ao ver
lances fortes ao lado dos filhos ou de pessoas mais velhas. Além disso, há um
certo desajuste de tom. ‘A novela tem tanta maldade que seria melhor rebatizá-la
de Inferno Tropical’, resume um noveleiro da Globo.


Em princípio, contar com uma gama variada de tipos de conduta questionável é
uma vantagem para um folhetim, já que o público costuma se deliciar com eles.
Não por acaso, a garota de programa Bebel (Camila Pitanga) surgiu na enquete
como a personagem mais popular. Ela é uma megera de desenho animado: tão logo
apronta alguma, leva uma bordoada. A trambiqueira Marion (Vera Holtz) também faz
sucesso. Mas, quando se passa ao executivo inescrupuloso Olavo (Wagner Moura), a
coisa muda de figura. O público aceita tudo de vilões mais burlescos, enquanto
se repugna com aqueles que só poderiam ser adequadamente descritos com termos
chulos (e impublicáveis). Olavo pertence a essa categoria. Os espectadores se
incomodam, por exemplo, com suas agressões verbais à mãe. ‘Para reverter isso,
vamos explicar as razões de seu ódio por ela’, diz Linhares.


A essas falhas se soma outra: Paraíso Tropical tem oferecido pouco refresco
ao seu lado sombrio. Falta humor – motivo pelo qual os núcleos mais leves terão
seu espaço ampliado. O lado ‘do bem’ é prejudicado também pelo fato de os
protagonistas não empolgarem. A heroína Paula (Alessandra Negrini) desperta
menos interesse que sua gêmea má. A estratégia para reforçar a imagem dela e do
mocinho Daniel (Fábio Assunção) – o chatonildo-mor da novela – será antecipar o
embate entre ambas. A Globo tem pressa. Com a audiência abaixo do esperado da
trama, o esteio de sua programação passou a ser o Big Brother Brasil. Como o
programa está para terminar, nesta semana Paraíso Tropical pela primeira vez
entrará no ar sem dispor de uma âncora. ‘Aí será a prova dos nove’, diz um
diretor da emissora. Ou das oito.


CORREÇÃO DE ROTA


A Globo fez uma pesquisa com donas-de-casa para detectar os problemas da
novela Paraíso Tropical. Eis as principais conclusões – e os ajustes que estão
sendo feitos


CENÁRIO REPETITIVO


Explorada à exaustão por sua antecessora no horário, a paisagem da Zona Sul
carioca cansou os espectadores. Ela será menos enfatizada – e se cogita até
mudar a abertura da novela


TEMÁTICA FORTE


A abordagem da prostituição e do turismo sexual, em si, não tem causado
repulsa. Mas as cenas fortes de sexo – como aquela em que Bebel (Camila Pitanga)
arrancou o sutiã para um cliente – provocam desconforto e serão evitadas


FALTA DE HUMOR


A sondagem apontou uma deficiência óbvia: a novela tem ação e vilania de
mais, e comédia de menos. Para arejar sua trama, os núcleos com situações leves
e bem-humoradas ganharão mais espaço


EXCESSO DE MALDADE


O público se delicia com os vilões – mas, no caso de Olavo (Wagner Moura), a
maldade passou do tolerável. Decidiu-se baixar o tom do personagem e antecipar
as razões de suas agressões verbais à mãe, que incomodam os espectadores


HEROÍNA APAGADA


Paula (Alessandra Negrini) desperta menos interesse no público que sua irmã
gêmea má. O embate entre elas crescerá antes do previsto, para reforçar a imagem
da heroína – e por empolgar mais que o duelo entre o mocinho Daniel (Fábio
Assunção) e o vilão Olavo’


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