TECNOLOGIA
O salto da telona
‘Os televisores foram um dos poucos equipamentos eletrônicos a ficar por
longo tempo sem inovações significativas. Eles pouco mudaram nas cinco décadas
posteriores ao advento da cor, nos anos 50. Esse torpor tecnológico é agora
coisa do passado. A mudança começou três anos atrás com a evolução das telas
fininhas, de cristal líquido (LCD) ou plasma. Agora, as novidades têm-se
sucedido num ritmo tão intenso que levaram os especialistas a prever uma
transformação radical desses aparelhos nos próximos cinco anos. Uma antevisão do
futuro pôde ser conferida no início deste mês na IFA, em Berlim, uma das maiores
e mais tradicionais feiras de produtos eletrônicos do mundo. Um dos destaques
foi um protótipo da Samsung, com resolução quatro vezes superior à dos modelos
mais modernos existentes atualmente nas lojas. A tecnologia é chamada de
Quadruple Full High Definition (QFHD). Surpreendente é o tamanho do painel. Tem
82 polegadas, o equivalente a 2,08 metros medidos na diagonal. Trata-se de uma
qualidade de cinema, com cenas constituídas por 8 milhões de pixels, os
minúsculos pontos que formam a imagem. Os aparelhos convencionais têm no máximo
2 milhões de pixels.
O principal desafio tecnológico vencido na produção do protótipo da TV foi
garantir o elevado grau de resolução em uma tela de cristal líquido tão grande.
Quanto maior a área, maior o tempo necessário para a formação de uma imagem. Se
houver lapsos na sucessão de cenas, surgirão borrões e imperfeições evidentes no
monitor. No caso desses eletrônicos, entenda-se por ‘lapsos’ os intervalos de
tempo da ordem de milissegundos. É por isso que o modelo QFHD usa uma taxa de
atualização de imagem de 120 hertz – o equivalente a 120 frames por segundo. Em
um televisor convencional, mesmo com alta definição, esse valor cai pela metade
e pode chegar a somente 30 hertz. Microchips especialmente desenvolvidos para
TVs de LCD são os responsáveis pelo aumento da velocidade da reprodução de
objetos em movimento nesses aparelhos. ‘A tela é tão grande e o ritmo de
atualização tão próximo do real que as pessoas vão assistir aos filmes como se
estivessem realmente neles’, diz Sang Soo Kim, vice-presidente do Centro de
Tecnologia de LCD da Samsung.
Outra inovação da QFHD é a introdução no cristal líquido de pequenas lâmpadas
de LED, a sigla em inglês para diodo emissor de luz. São fabricadas com material
semicondutor, semelhante ao usado nos chips dos computadores. Quando percorridas
pela eletricidade, emitem luz e formam as imagens. Nas cores vermelha, verde e
azul, elas foram colocadas nas bordas da tela de QFHD para realçar o colorido e
a nitidez do televisor.
O mais admirável é que o aparelho da Samsung representa apenas um estágio na
evolução das telonas de TV. A rede japonesa de televisão NHK criou em 2006 a
Ultra-Alta Definição (U-HDTV). Nesse sistema, as imagens são formadas por 33
milhões de pixels (o quádruplo da QFHD). A resolução do equipamento é de 7.680
por 4.320 pixels. O sistema permite a criação de TVs ainda maiores – e mais
perfeitas. Detalhe: o som tem 24 saídas de áudio, contra apenas seis dos atuais
home theaters. A tecnologia da U-HDTV não tem prazo para sair do laboratório. A
estimativa é que isso deva ocorrer somente em 2015. Por enquanto, foram feitas
apenas demonstrações. Numa delas, foi usado um painel de 6,6 metros de largura
por 3,7 metros de altura. O Ministério das Comunicações do Japão já investiu
quase 3 milhões de dólares no projeto. A considerar o atual ritmo das inovações,
o desafio será encontrar nomenclaturas como ‘QFHD’ ou ‘U-HDTV’ ou ‘Full HD’ para
batizar tantas novidades.’
INTERNET
Debaixo do capô do Chrome
‘MULTIPROCESSO
O navegador cria um processo específico para cada página aberta na internet.
Isso evita que a lentidão em um site (por exemplo, no YouTube) afete o
desempenho de outras páginas com mapas, e-mails… O sistema é chamado de
multiprocessador.
A internet nunca foi estável, mas agora passa por um processo de metamorfose
mais acelerado. A rede já não se resume a um gigantesco arquivo ou a uma máquina
planetária de comunicação. Hoje, abriga um crescente número de programas que
podem ser acessados remotamente pelos usuários. São softwares como editores de
texto, planilhas para cálculos e serviços de e-mail. Poucos anos atrás, esse
tipo de ferramenta funcionava somente quando instalado na memória dos
computadores. Paralelamente, aumenta o volume de dados que circula pela web.
Estimativa da consultoria americana TeleGeography aponta um crescimento anual de
50% no fluxo global de informações. Nas conexões entre os Estados Unidos e a
América Latina esse número supera a marca de 100%. A conseqüência direta dessas
mudanças é o surgimento de ferramentas que tentam se adequar à nova realidade do
mundo digital. Na semana passada, foi a vez de o líder do mercado de buscas, o
Google, lançar em mais de 100 países, com versões em 43 línguas, um navegador
próprio, o Chrome.
JAVA, MAS NÃO A ILHA
Testes indicam que o Chrome é o navegador mais rápido da web. Algo
perceptível na apresentação de vídeos (foto acima). Para obter esse desempenho,
os técnicos alteraram o motor do JavaScript (uma linguagem de programação). Esse
mecanismo lê os códigos das áreas de processamento intensivo dos sites.
Ele teve uma acolhida espetacular. Em 24 horas, foram feitos 6,5 milhões de
downloads gratuitos. Nesse espaço de tempo, o produto alcançou uma participação
de 2,7% no mercado de browsers. Ao longo da semana, porém, o ritmo de adesões
diminuiu. Estabilizou-se em 10 milhões. O navegador do Google é minimalista na
aparência – mas só na aparência. Sob o capô estão engrenagens digitais que
chamam atenção. Tecnicamente, é muito leve. Consegue funcionar com eficiência ao
usar linhas de código computacional mais econômicas – à semelhança do texto de
um bom escritor, que em poucas palavras descreve uma cena, um personagem ou uma
paisagem.
O Chrome gerencia as páginas na internet de maneira mais racional. Os
browsers mais utilizados, como o dominante Explorer, da Microsoft, exigem muito
dos processadores dos PCs, quando o usuário abre sites em ‘abas’ diferentes. Uma
fica na tela e as demais, à espera de um clique. Isso, obviamente, afeta a
velocidade dos processos. O Chrome privilegia a aba ativa, e as ações requeridas
para as outras passam a estar em segundo plano. Imagine-se lendo um jornal. Toda
a sua atenção é dedicada à página lida naquele momento, não é isso? É essa
escolha simples e racional de recursos que só o Chrome faz. Mas nenhuma novidade
dura mais que um mês no concorrido mundo dos navegadores da web.
VIGILÂNCIA?
Os navegadores guardam o histórico dos sites visitados na web. Esses dados
são valiosos e servem para definir um perfil do usuário na rede. Com base nessas
informações, o Chrome sugere endereços assim que uma pessoa começa a digitar uma
palavra na barra superior do sistema.
Outra peça de destaque do browser do Google é uma barra na qual se escreve o
endereço do site que se deseja visitar. Quando se digitam poucas letras – duas
ou três –, o Chrome oferece sugestões de sites. Faz isso com base nas escolhas
pregressas do usuário. Ele aprende. Exemplo: um engenheiro aeronáutico, ao
teclar a palavra ‘vôo’, terá mais chance de ser endereçado rapidamente a um site
técnico do que ao de uma companhia aérea. Essa e outras informações sobre os
hábitos de navegação dos usuários se tornam úteis também para os negócios do
próprio Google. O conjunto desses históricos de navegação é um dos bens mais
valiosos da internet. Esse conhecimento permite a construção de serviços e
anúncios talhados para grupos específicos de pessoas. Apesar dessas engrenagens,
desbancar o Explorer, da Microsoft, que domina 70% do setor, é um objetivo
difícil para o Chrome. Mas, tratando-se do Google, toda metamorfose é
possível.’
TELEVISÃO
O riso que fere
‘Na semana passada, o humorístico CQC exibiu uma pegadinha com o político
José Genoíno. Em entrevista ao ator Warley Santana, que faz as vezes de um
assessor de imagem fajuto no programa da Bandeirantes, o deputado petista
envolvido no caso do mensalão expôs seu ‘lado humano’. Convencido de que
participava de um talk-show, ele ouviu dicas do que dizer diante da câmera – e,
na entrevista, repetiu tudo o que o tal assessor lhe soprava, sem saber que esse
bastidor também era gravado. Warley pediu que ele usasse uma frase de John
Lennon. Genoíno obedeceu. Propôs que citasse o líder comunista russo Leon
Trotsky ao comentar os desmandos do PT. Genoíno engoliu a isca mais uma vez – e
a frase ‘errar é humano, perdoar é divino’ nem era de Trotsky. Por fim,
combinou-se que, ao responder qual era seu prato favorito, o entrevistado
enalteceria a moqueca capixaba. Genoíno, claro, virou fã da moqueca capixaba
desde criancinha. A brincadeira entregou o petista de um jeito que CPI alguma
conseguiu. E assim se cumpriu o que se espera da relação dos humoristas com as
figuras públicas: o papel dos primeiros é o de ser implacáveis. Hoje, contudo,
não são só os políticos que sofrem os efeitos disso. Outros ‘poderosos’ também
entraram na mira: as celebridades. O Pânico na TV, que está para completar cinco
anos no ar na RedeTV!, foi a primeira atração a perseguir e ridicularizar a
categoria de forma ostensiva – caminho no qual foi seguido pelo CQC.
Meses atrás, o ator Wagner Moura protestou contra o que considerou uma
agressão. A dupla Silveira e Silveirinha, do Pânico, abordou o ator na saída de
uma festa. Na investida, eles besuntaram de gel seus cabelos. Num artigo no
jornal O Globo, Wagner mostrou-se indignado: ‘O preço da fama? Não engulo essa’.
Em princípio, contudo, personagens como Moura são, sim, alvo legítimo para as
investidas do humor. ‘A história da fama é a história de como os indivíduos
buscaram chamar atenção para si e, com isso, conquistaram poder’, notou o
crítico cultural americano Leo Braudy, numa observação que se aplica tanto a
políticos quanto a artistas. O escárnio, por sua vez, sempre foi uma arma contra
os poderosos. É uma forma de desmontar hierarquias e privilégios. Não é por
outro motivo que fazem sucesso os quadros em que o Pânico e o CQC abordam gente
conhecida nas portas de festas e eventos exclusivos. Eles atuam como porta-vozes
dos ‘sem-acesso’. Como lembrou a VEJA na semana passada Adam McKay,
ex-roteirista do humorístico americano Saturday Night Live, é compreensível que
as pessoas gostem de ver gente conhecida pagando esse mico: ‘É importante saber
que as celebridades e os políticos também têm fragilidades’. Para falar em
termos jurídicos, há também o direito, assegurado pelos países democráticos, à
liberdade de expressão – da qual a crítica às figuras públicas é uma forma
essencial.
Na prática, porém, há uma zona cinzenta em que o direito de zombar entra em
conflito com o direito de manter a dignidade. Ao ‘melecar’ os cabelos de Moura,
o Pânico pisou na linha que separa a molecagem da agressão física. Da mesma
forma, quando a dupla Vesgo e Silvio perseguiu a atriz Carolina Dieckmann a
ponto de botar um guindaste em frente de seu apartamento, não foi só a atriz que
se viu atingida – sua família, que não desfruta a mesma celebridade que ela,
também entrou na mira.
Está em curso uma reação de celebridades que se julgam agredidas por
humoristas. Recém-lançado na internet, o site Morra de Rir é a versão brasileira
do Funny or Die, criado pelo já citado Adam McKay e pelo comediante americano
Will Ferrell. Uma das razões do sucesso do original é que celebridades como o
cantor Justin Timberlake e a patricinha Paris Hilton participam de vídeos em que
caçoam de si próprios. Aqui, duas inimigas do Pânico se propõem a fazer o mesmo
em esquetes que logo estrearão no site. Preta Gil, que está processando o
programa da Rede TV! por ter sido chamada de gorda no ar, se revela uma
devoradora de doces compulsiva no Morra de Rir. ‘Faço piada sem me diminuir’,
diz. Luana Piovani, que também processou o Pânico, surge em vídeos como uma
ladra antipática. ‘A Luana queria pôr em xeque a fama dela de pessoa estourada’,
diz o responsável pelo site, Rodrigo Pitta. ‘O que mais existe são celebridades
querendo mostrar que vêem a si mesmas com senso de humor’, diz McKay. Assim,
elas mantêm o controle da situação. Zombem de mim – mas que seja do meu jeito.’
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