Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Veja

CELEBRIDADE
Veja

Tudo na vida tem preço

‘A inglesa Jade Goody, 27 anos, fez carreira no mundo dos reality shows. Quem já assistiu a um Big Brother entende por quê: é do tipo que nunca ganha a disputa, mas fala pelos cotovelos, tem comportamento inconveniente e não hesita em abrir seus sentimentos mais íntimos, mesmo não tendo muito que mostrar lá dentro. Em suma, não tem censura. Fazendo o personagem que o público adora criticar, Jade garantiu seu lugar no congestionado mundo das celebridades de segunda linha. Assim que ganhou os primeiros dividendos da fama, fez os seios implantados e os lábios precocemente inflados que são quase uma marca registrada da categoria. Suas gafes viraram parte do patrimônio nacional de asneiras. No primeiro Big Brother, em 2002, confundiu Rio de Janeiro, a cidade, com Rio Ferdinand, o jogador de futebol, e achou que pistache fosse o nome de um pintor. No segundo, em 2007, fez comentários de teor racista sobre uma participante indiana e acabou expulsa do programa. A falta de jeito e a exposição sem limites não mudaram, ao contrário, acentuaram-se em agosto passado, quando Jade descobriu, diante das câmeras, que tinha câncer cervical. Desde então, ela vem protagonizando uma espécie de reality show terminal. Diante das câmeras, ela iniciou a quimioterapia. Diante das câmeras, perdeu o cabelo. Diante das câmeras, foi informada de que o câncer se espalhou e que tem pouco tempo de vida. Diante das câmeras, no último dia 22, casou-se. Diante delas, nos próximos dias, pretende batizar os filhos Bobby, 5 anos, e Freddie, 4. Com a mesma naturalidade com que as moças bonitas saem do Big Brother para posar nuas (e os rapazes também, ‘desde que paguem’), Jade admite que está fazendo tudo por dinheiro. ‘Quero deixar dinheiro para a escola dos meus filhos’, declarou em entrevista, paga, naturalmente. Com o show do câncer, Jade amealhou até agora cerca de 1 milhão de libras (3,3 milhões de reais) e a simpatia de famosos e anônimos, que antes riam dela e agora se condoem. Até o primeiro-ministro Gordon Brown, pouco conhecido pela expressão de emoções, manifestou-lhe solidariedade. Jade ri, chora e diz frases do gênero ‘agora já posso ir para o céu’.

O drama da ex-assistente de dentista, gordinha e suburbana, começou em agosto de 2008, quando ela já estava de malinha pronta para entrar no Big Boss, programa nos moldes do Big Brother passado em Mumbai, na Índia (sim, os tais comentários racistas também renderam). Ela sabia que tinha lesões pré-cancerosas, fez exames, viajou e, duas semanas depois, com tudo arranjado para dramatizar a chegada do resultado, recebeu um telefonema informando que o diagnóstico era câncer. A Índia, e em seguida a Inglaterra, acompanhou segundo a segundo seu choro e seu desespero. Jade já estava sob contrato com uma produtora de TV interessada em produzir uma série de programas sobre sua vida. Ela voltou a Londres, e a equipe passou a gravar, e mostrar em uma espécie de seriado, todos os seus momentos importantes: a cirurgia para extrair útero e ovários, as sessões de quimioterapia, a calvície primeiro escondida e depois exposta na TV. O namoro dela com um rapaz de 21 anos, Jack Straw, também teve capítulos movimentados, não obstante ele estivesse momentaneamente fora do circuito, curtindo pena de cadeia por agressão. Há um mês, desabou a notícia dramática de que o câncer havia progredido e ela só teria algumas ‘semanas’ de vida. Em liberdade vigiada, Jack fez o pedido de casamento (ela em cadeira de rodas, um fotógrafo a postos). A festa foi bancada por patrocinadores e as fotos, exclusivas, saíram na revista OK!, que pagou o equivalente a 2,3 milhões de reais pelos direitos. ‘Passei os últimos anos falando da minha vida. A única diferença é que agora falo da minha morte. Tudo bem. Vivi na frente das câmeras. Pode ser que venha a morrer diante delas’, disse Jade.’

 

 

TELEVISÃO
Marcelo Marthe

História sem fim

‘O americano Josh Bernstein é o Indiana Jones dos documentários históricos. O apresentador de As Expedições de Josh Bernstein, uma das maiores audiências do canal Discovery, já fez rapel nos Andes e enfrentou tempestades de areia no Saara para investigar mistérios do passado. Nas palestras que dá nos Estados Unidos, ele desfia datas e nomes, e sopesa teorias conflitantes. Mas o crescente contingente feminino da plateia tem outras preocupações. ‘Elas sempre perguntam se pretendo casar e ter filhos’, disse ele a VEJA. O surgimento de um historiador-galã é emblemático do crescimento desse filão na TV paga – e das transformações por que ele passa. Um canal como o The History Channel, surgido nos Estados Unidos em 1995, transmite 24 horas de programação calcada no passado. A história preenche, ainda, parte da grade do National Geographic e do Discovery (que tem um derivado voltado só para o assunto, o Discovery Civilization).

Os documentários históricos sempre tiveram como alvo principal os buffs, palavra inglesa que designa pessoas obcecadas por uma certa modalidade de conhecimento. Aquele tipo que conhece as especificações técnicas dos rifles usados na II Guerra Mundial é um legítimo buff – e quase sempre do sexo masculino. Homens adultos compõem 70% da audiência do History Channel nos Estados Unidos. Assim como ocorreu com os documentários sobre o mundo animal, contudo, as produções históricas agora lançam mão de uma gama variada de recursos para ampliar seu apelo. A narração monocórdia foi deixada de lado em busca de um ritmo mais veloz. A computação gráfica virou ferramenta essencial para a recriação de cidades da Antiguidade. Recursos da medicina forense, que permitem submeter múmias egípcias a autópsias, levam a pesquisa histórica para meandros antes impensáveis. Não há dúvida de que a presença de um apresentador como Josh Bernstein é um meio de atrair um público mais diversificado (leia-se feminino).

No pacote de inovações dos programas de história há coisas duvidosas. As reconstituições de episódios do passado com atores muitas vezes se avizinham do humor involuntário. A nova fronteira dos programas é o reality show. No ano passado, o History Channel transmitiu História Extrema, em que doze participantes refizeram a trilha do libertador do Chile, general San Martín, nas condições em que a travessia foi feita no século XIX (não valia usar GPS). Em abril, estreia nos Estados Unidos uma produção do canal que vai ainda mais longe. Em Expedition: Stanley and Livingstone – que leva a assinatura do criador da gincana Survivor, Mark Burnett –, cinco pessoas terão de refazer a rota empreendida no século XIX na África pelo explorador Henry Morton Stanley, em sua busca pelo missionário desaparecido David Livingstone. Os programas de Josh Bernstein, que se embrenha em grotões inóspitos para investigar os fatos in loco, também apostam na tendência de viver a história ‘na pele’.

Com formação em antropologia e psicologia, Bernstein caiu nas graças de uma executiva do History Channel quando comandava um treinamento de sobrevivência em condições hostis. Depois de três anos de sucesso no canal, não titubeou em bandear-se para o concorrente mais poderoso (o Discovery atinge 1,5 bilhão de lares no mundo, contra 250 milhões do History Channel). Bernstein, de 38 anos, não se vê só como explorador – ele acredita que sua missão é também educar. ‘Meus programas têm ação e suspense. Mas quem os acompanha sai enriquecido da experiência’, diz. De fato, os canais que produzem sistematicamente documentários históricos zelam pelo rigor de suas informações, valendo-se da assessoria de especialistas. Há uma ou outra licença, como os programas do History Channel sobre óvnis e extraterrestres, mas essa não é a praxe. No sábado 28, por exemplo, o National Geographic programava exibir um especial sobre os últimos dias de Hitler ancorado pelo historiador inglês Antony Beevor, uma autoridade em II Guerra Mundial. Os programas de Bernstein também são lastreados em pesquisas sérias. ‘O engajamento dos estudiosos é fundamental até para a seleção de temas’, diz ele. ‘Na atual temporada, partimos de 100 assuntos promissores para chegar a apenas oito.’’

 

 

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